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Papel social de gênero[editar | editar código-fonte]

Na imagem em cima, um homem cuidando de uma criança. Na imagem em baixo, um grupo de mulheres da polícia nacional afegã. Ao longo dos milênios, convencionou-se que mulheres deveriam se focar em tarefas voltadas para a família e homens em assuntos que necessitem força, como serviços militares.


Papel social de gênero é, nas ciências sociais e humanas, um conjunto de comportamentos associados com masculinidade e feminilidade, em um grupo ou sistema social. Todas as sociedades conhecidas possuem um sistema sexo/gênero, ainda que os componentes e funcionamento deste sistema variem bastante de sociedade para sociedade.

Definição[editar | editar código-fonte]

Papéis de gênero referem-se a um conjunto de padrões e expectativas de comportamentos que são aprendidos em sociedade correspondentes aos diferentes gêneros e que conformam as identidades dos indivíduos pertencentes a esses grupos. São a manifestação social ou a representação social do que é ser macho ou fêmea, em diferentes culturas ou mesmo dentro de uma mesma cultura, segundo Miriam Grossi.[1] O processo de produção desses comportamentos não se dá de forma individual, mas depende das posições que esses indivíduos ocupam em uma determinada coletividade e em situações sociais concretas.

A maioria dos pesquisadores reconhece que o comportamento dos indivíduos é uma consequência das regras e valores sociais, e da disposição individual, seja genética, inconsciente, ou consciente. Alguns pesquisadores enfatizam o sistema social e outros enfatizam orientações subjetivas e disposições.

Com o passar do tempo mudanças ocorrem sob regras e valores. Entretanto todos os cientistas sociais reconhecem que culturas e sociedades são dinâmicas e mudam. Há extensos debates em como e o quão rápido estas mudanças ocorrem. Tais debates são especialmente intensos quando envolvem o sistema sexo/gênero, já que as pessoas possuem uma gama de visões diferentes sobre o quanto gênero depende do sexo biológico.

Outro ponto de concordância é a possibilidade de mudança dos padrões de comportamento, na medida em que o comportamento dos indivíduos na sociedade é influenciado pela cultura (regras e valores coletivos) e pela disposição interna de cada um ou cada uma.[1][2][3][4]

A identificação dos diferentes comportamentos de gênero é uma ferramenta de análise fundamental para a compreensão do lugar ocupado pela categoria gênero na escala social e o valor socialmente dado a cada um dos grupos e, a partir daí, foi possível a sua desconstrução e desnaturalização.[3]

É importante também assinalar que esses padrões não são absolutos e homogêneos, o que significa que devemos compreendê-los como expectativas socialmente assumidas pela sociedade, mas que não representam o conjunto de atitudes e comportamentos de todos os indivíduos dos grupos de forma homogênea. Para Iris Marion Young, “dizer que uma pessoa é uma mulher pode antecipar algo sobre os constrangimentos e expectativas em geral com os quais ela precisa lidar. Mas não antecipa qualquer coisa em particular sobre quem ela é, o que ela faz, como ela vivencia sua posição social".[5]

Construção do papel social de gênero e estereótipos[editar | editar código-fonte]

Ver verbete: Estereótipo de Gênero

Joan Scott, em seu trabalho Gênero: categoria útil de análise histórica, destaca a importância do termo gênero, uma vez que ele se refere a estudos sobre os papéis considerados adequados aos homens e às mulheres dentro de um contexto de construções sociais, e tem seu valor dentro de uma categoria de análise histórica da sociedade.[6]

Como argumentado por Alice Eagly em a Teoria do Papel Social, os papéis de gênero podem ser definidos como aquelas expectativas socialmente compartilhadas a respeito dos comportamentos e qualidades apropriados dos indivíduos, uma vez inseridos dentro da caracterização de gênero socialmente definido.[7]

Para a teórica Teresa de Lauretis:

“(...) gênero não é um simples derivado do sexo anatômico ou biológico, mas uma contrução social sociocultural, uma representação ou, melhor ainda, o efeito do cruzamento das representações discursivas e visuais que emanam das diferentes instituições - a família, a religião, o sistema educativo, os meios de comunicação, a medicina ou a legislação -, mas também de fontes menos evidentes, como a linguagem, a arte, a literatura, o cinema, etc.”[8]

Pensando a construção social de papel de gênero que designa modos apropriados de pensar e agir relacionados à masculinidade ou à feminilidade, dentro de uma lógica binarista e relacional sexo/gênero, toda uma variedade de expectativas são criadas desde o momento no qual a criança, ainda na barriga da mãe, é identificada como sendo do sexo masculino ou feminino. Nesse contexto, tipos de brinquedos, cores de roupas, modos de agir, entre outros fatores, começam a ser impostos a esses seres, configurando-os para uma mentalidade pré-destinada e aceita socialmente.[9]

Uma vez que as culturas diferem de país para país, é possível argumentar que existem pluralidades de masculinidade e feminilidade, já que elas são socialmente construídas dentro de contextos específicos. No entanto, o papel inferior designado à mulher, dentro da construção de uma ideia de sujeito submisso, pode ser visto como um estereótipo de gênero universal e compartilhado, em uma dinâmica de poder que costuma favorecer o homem e a heteronormatividade, ameaçando o pleno exercício da mulher como sujeito de direitos.[10]

Na Europa, a partir do séc. XVIII, ensaios e estudos criaram uma sistemática de oposições, onde sexo masculino e feminino eram considerados completamente diferentes, dentro de uma necessidade de se estabelecer uma “hierarquia político-anatômica”, de acordo com Paul B. Preciado.[11] Diversas teorias, fundadas em aspectos biológicos com supostos vínculos com a ciência, procuravam provar que as mulheres eram intelectualmente inferiores e infantis em sua natureza.[12] Natureza essa que tinha muito pouco a ver com questões biológicas e diretamente relacionada às construções sociais que melhor convinham para manter as estruturas de poder do homem hétero branco.[12]

A mulher, tomando-se como base análises equivocadas de características biológicas, entre elas a pouca força física e até mesmo o menor peso do cérebro, era considerada o sexo frágil, justificando assim a necessidade dela ficar em casa, ocupando-se de afazeres domésticos e dos filhos. Tudo dentro de uma lógica que procurava legitimar desigualdades sociais e explicar, dentro da construção do papel social de gênero de masculinidade, que homens eram de uma natureza forte, e por causa disso considerados superiores, e suas esposas e filhos considerados suas propriedades.[13]

No Brasil, no final do século XIX e início do século XX, era entendido pela sociedade que sendo o homem aquele que trabalhava para garantir o sustento da família, ele tornava-se o gestor legal dos bens familiares, dentro de um pensamento hierárquico e patriarcal. As mulheres, por sua vez, sustentadas pelos maridos, deveriam ficar em casa cuidando dos afazeres domésticos e dos filhos. Aquelas que quisessem trabalhar fora de casa eram obrigadas por lei a pedir autorização e, quando conseguiam, eram vistas, dentro das construções sociais de gênero impostas, como desviantes e inadequadas.[14]

Angela Davis, em sua obra Mulheres, Raça e Classe, relata que durante os movimentos sufragistas no qual as mulheres brancas norte-americanas eram debatidas pelos homens na questão do direito ao voto, a maioria dos argumentos contrários eram de que mulheres não deveriam relacionar-se com assuntos sobre política e direitos sociais, uma vez que dentro da construção social de feminilidade da época, a mulher devia ficar dentro de casa, ser submissa e não emitir opiniões. Davis chama atenção, no entanto, para o fato de que a feminilidade era apenas aplicada à mulher branca e de classe média, ao que o feminismo negro vai dar o nome de interseccionalidade. A mulher negra há muito tempo já estava trabalhando fora de casa, buscando sustento para os seus, mas a lógica do racismo que não as via como seres incluídos na sociedade, as excluía das conversas do sufrágio feminino e das convenções sociais de gênero.[15]

No período da Segunda Guerra Mundial várias dessas construções sociais foram colocadas em questionamento, uma vez que com os homens longe de casa as mulheres começaram a ocupar diversas posições até então vistas socialmente como masculinas.[12]

Com a introdução e o aumento da prática dos estudos de gênero, popularização do assunto, mobilização social e mudanças de mentalidade, transformações e expectativas socialmente criadas para os gêneros masculino e feminino foram sendo modificadas.[16]

O modo de se vestir das pessoas, escolhas profissionais antes consideradas apropriadas para homens ou para mulheres, compartilhamento dos afazeres domésticos entre o casal, foram algumas das mudanças que hoje encontram-se mais aceitas e até incentivadas. No entanto, questões como agressões físicas à mulheres, comportamentos sexuais questionados, capacidade intelectual, entre outros, continuam sendo tratados dentro de uma lógica diferenciada.[17]

Transgeneridade[editar | editar código-fonte]

A categoria gênero também inclui a transgeneridade (ou transexualidade). Hoje sabemos que a sociedade não possui apenas dois gêneros, embora possua dois sexos, e é fundamental identificar o conjunto de gêneros em determinado agrupamento social. Há ainda cientistas que identificam os papéis de gênero com a categoria sexo – homem e mulher, mas mesmo esses assumem que os papéis considerados masculinos ou femininos são socialmente determinados pelo conjunto de regras e valores de um determinado agrupamento humano.[2]

As pessoas rompem as barreiras das identidades de gênero, o que não invalida a sua compreensão enquanto ferramenta de análise. Isso porque a categoria “identidade de gênero” não é a única que descreve o comportamento de um determinado grupo. Individualmente as pessoas são marcadas em seu comportamento de forma diferente e a vida em sociedade nos faz pertencer não somente a uma estrutura social (gênero), mas a um conjunto de estruturas sociais que, da mesma forma, também influenciam seus comportamentos e atitudes e, por consequência, os papéis que cada grupo joga na sociedade, tais como classe social ou fração de classe a que pertence, vivência com relação ao pertencimento de raça, etnia, orientação sexual, etc.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b GROSSI, Miriam Pillar. «Identidade de gênero e sexualidade» (PDF). Consultado em 14 de outubro de 2013 
  2. a b MEAD, Margaret (1988). Sexo e temperamento em três sociedades primitivas. São Paulo: Perspectiva 
  3. a b SCOTT, Joan (1990). «Gênero: uma categoria útil de análise histórica» (PDF). Revista Educação e Realidade. Porto Alegre. Consultado em 14 de outubro de 2013 
  4. BIROLI, Flávia (2013). «Autonomia, opressão e identidades: a ressignificação da experiência na teoria política feminista» (PDF). Revista Estudos Feministas. Florianópolis. Consultado em 14 de outubro de 2013 
  5. YOUNG, Iris Marion; BIROLI, Flávia (2013). «Autonomia, opressão e identidades: a ressignificação da experiência na teoria política feminista» (PDF). Revista Estudos Feministas. Florianópolis. p. 89. Consultado em 14 de outubro de 2013 
  6. SCOTT, Joan. Gênero: Uma Categoria Útil De Análise Histórica. Educação & Realidade, v.lS, n.2, jul./dez. 1990.
  7. DOS SANTOS, Jean Carlos. Masculinidades, feminilidades e androginia: uma análise interpretativa sobre a construção social de gêneros e suas implicações para o exercício de liderança no Poder Judiciários de Rondônia. 2013, Porto Alegre.
  8. PRECIADO, Paul B. Texto Junkie - Sexo, dorgas e biopolítica na era farmacopornográfica. n-1 edições, 2018.
  9. D'Amorim, Maria Alice (dezembro de 1997). «Estereótipos de gênero e atitudes acerca da sexualidade em estudos sobre jovens brasileiros». Temas em Psicologia (3): 121–134. ISSN 1413-389X. Consultado em 30 de junho de 2022 
  10. D'Amorim, Maria Alice (dezembro de 1997). «Estereótipos de gênero e atitudes acerca da sexualidade em estudos sobre jovens brasileiros». Temas em Psicologia (3): 121–134. ISSN 1413-389X. Consultado em 30 de junho de 2022 
  11. PRECIADO, Paul B. Texto Junkie - Sexo, dorgas e biopolítica na era farmacopornográfica. n-1 edições, 2018.
  12. a b c Appignanesi, Lisa (2011). Tristes, loucas e más - A história das mulheres e seus médicos. São Paulo: Record; 1ª edição 
  13. APPIGNANESI, Lisa. Nervos. In: Tristes, loucas e más - A história das mulheres e seus médicos.
  14. «Gênero: você entende o que significa?». Politize!. 20 de maio de 2021. Consultado em 26 de junho de 2022 
  15. DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
  16. D'Amorim, Maria Alice (dezembro de 1997). «Estereótipos de gênero e atitudes acerca da sexualidade em estudos sobre jovens brasileiros». Temas em Psicologia (3): 121–134. ISSN 1413-389X. Consultado em 30 de junho de 2022 
  17. D'Amorim, Maria Alice (dezembro de 1997). «Estereótipos de gênero e atitudes acerca da sexualidade em estudos sobre jovens brasileiros». Temas em Psicologia (3): 121–134. ISSN 1413-389X. Consultado em 26 de junho de 2022  Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1997000300010&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 25 de jul. 2021.
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