Cristianismo: diferenças entre revisões

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{{Cristianismo}}
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'''Cristianismo''' (do [[Língua grega|grego]] Xριστός, "[[Cristo]]") é uma [[religião]] [[Monoteísmo|monoteísta]]<ref name="Monotheism">O status do cristianismo como religião monoteísta é afirmado, entre outras fontes, na ''[[Catholic Encyclopedia]]'' (artigo "[http://www.newadvent.org/cathen/10499a.htm Monotheism]"); [[William F. Albright]], ''From the Stone Age to Christianity''; [[H. Richard Niebuhr]]; About.com, [http://ancienthistory.about.com/od/monotheisticreligions/ ''Monotheistic Religion resources'']; Kirsch, ''God Against the Gods''; Woodhead, ''An Introduction to Christianity''; [[Columbia Encyclopedia|The Columbia Electronic Encyclopedia]] [http://www.infoplease.com/ce6/society/A0833762.html ''Monotheism'']; The New Dictionary of [[Cultural literacy|Cultural Literacy]], [http://www.bartleby.com/59/5/monotheism.html ''monotheism'']; New Dictionary of Theology, [http://www.ntwrightpage.com/Wright_NDCT_Paul.htm ''Paul''], pp. 496–99; Meconi. "Pagan Monotheism in Late Antiquity". p. 111f.</ref> centrada na vida e nos ensinamentos de [[Jesus de Nazaré]], [[Jesus#Biografia de Jesus pelo Novo Testamento|tais como são apresentados]] no [[Novo Testamento]].<ref>[http://www.bbc.co.uk/religion/religions/christianity/ ''Religion & Ethics - 566, Christianity''], [[BBC]]</ref> A fé cristã acredita essencialmente em Jesus como o [[Cristo]], [[Filho de Deus]], [[Jesus Cristo|Salvador]] e [[Senhor]].<ref name="Briggs">Briggs, Charles A. ''The fundamental Christian faith: the origin, history and interpretation of the Apostles' and Nicene creeds.'' C. Scribner's sons, 1913. Online: http://books.google.com/books?id=VKMPAAAAIAAJ</ref>
'''Cristianismo''' (do [[Língua grega|grego]] Xριστός, "[[Cristo]]") é uma [[religião]] [[Monoteísmo|monoteísta]] <ref name="Monotheism"> O status do cristianismo como religião monoteísta é afirmado, entre outras fontes, na ''[[Catholic Encyclopedia]]'' ([[artigo publicações|artigo]] "[http://www.newadvent.org/cathen/10499a.htm Monotheism]"); [[William F. Albright]], ''From the Stone Age to Christianity''; [[H. Richard Niebuhr]]; About.com, [http://ancienthistory.about.com/od/monotheisticreligions/ ''Monotheistic Religion resources'']; Kirsch, ''God Against the Gods''; Woodhead, ''An Introduction to Christianity''; [[Columbia Encyclopedia|The Columbia Electronic Encyclopedia]] [http://www.infoplease.com/ce6/society/A0833762.html ''Monotheism'']; The New Dictionary of [[Cultural literacy|Cultural Literacy]], [http://www.bartleby.com/59/5/monotheism.html ''monotheism'']; New Dictionary of Theology, [http://www.ntwrightpage.com/Wright_NDCT_Paul.htm ''Paul''], pp. 496–99; Meconi. "Pagan Monotheism in Late Antiquity". p. 111f.</ref> centrada na vida e nos ensinamentos de [[Jesus de Nazaré]], [[Jesus#Biografia de Jesus pelo Novo Testamento|tais como são apresentados]] no [[Novo Testamento]]. <ref>[http://www.bbc.co.uk/religion/religions/christianity/ ''Religion & Ethics - 566, Christianity''], [[BBC]]</ref> A [[]] cristã acredita essencialmente em Jesus como o [[Cristo]], [[Filho de Deus]], [[Jesus Cristo|Salvador]] e [[Senhor]]. <ref name="Briggs">Briggs, Charles A. ''The fundamental Christian faith: the origin, history and interpretation of the Apostles' and Nicene creeds.'' C. Scribner's sons, 1913. Online: http://books.google.com/books?id=VKMPAAAAIAAJ</ref>


A religião cristã tem três vertentes principais: o [[Catolicismo]], a [[Ortodoxia Oriental]] (separada do catolicismo em 1054) e o [[protestantismo]] (que surgiu durante a [[Reforma Protestante]] do século XIV). O protestantismo é dividido em grupos menores chamados de [[Denominação cristã|denominações]]. Os cristãos acreditam que [[Jesus Cristo]] é o Filho de Deus que se tornou homem e o [[salvação|Salvador]] da humanidade, morrendo pelos [[pecados]] do mundo. Geralmente, os cristãos se referem a Jesus como o Cristo ou o [[Messias]].
A religião cristã tem três vertentes principais: o [[Catolicismo]], a [[Ortodoxia Oriental]] (separada do catolicismo em [[1054]] após o [[Grande Cisma do Oriente]]) e o [[protestantismo]] (que surgiu durante a [[Reforma Protestante]] do [[século XVI]]). O protestantismo é dividido em grupos menores chamados de [[Denominação cristã|denominações]]. Os cristãos acreditam que [[Jesus Cristo]] é o Filho de Deus que se tornou [[homem]] e o [[salvação|Salvador]] da [[humanidade]], morrendo pelos [[pecados]] do mundo. Geralmente, os cristãos se referem a Jesus como o Cristo ou o [[Messias]].


Os seguidores do cristianismo, conhecidos como [[cristãos]],<ref name="name">O termo "cristão" (em [[Língua grega|grego]] Χριστιανός, [[Transliteração|transl.]] ''Christianós'') foi usado pela primeira vez para se referir aos [[Discípulo (cristianismo)|discípulos]] de Jesus na cidade de [[Antioquia]] ({{bíblia aberta|livro=Atos|capítulo=11|verso=26}}), por volta de [[44|44 d.C.]], significando "seguidores de Cristo". O primeiro registro do uso do termo "cristianismo" (em grego Χριστιανισμός, ''Christianismós'') foi feito por [[Inácio de Antioquia]], por volta do ano [[100]]. Ver Elwell/Comfort. ''Tyndale Bible Dictionary'', pp. 266, 828</ref> acreditam que Jesus seja o [[Messias]] [[Cristo#O cumprimento das antigas profecias|profetizado]] na [[Bíblia Hebraica]] (a parte das [[Texto religioso|escrituras]] comum tanto ao cristianismo quanto ao [[judaísmo]]). A [[teologia]] cristã [[Ortodoxia|ortodoxa]] alega que Jesus teria sofrido, morrido e [[ressurreição|ressuscitado]] para abrir o caminho para o céu aos humanos;<ref>Sheed, Frank. "Theology and Sanity." (Ignatius Press: San Francisco, 1993), pp. 276.</ref> Os cristãos acreditam que Jesus teria [[Ascensão de Jesus|ascendido aos céus]], e a maior parte das [[Denominação cristã|denominações]] ensina que Jesus irá [[Segunda Vinda|retornar]] para [[Julgamento Final|julgar]] todos os seres humanos, vivos e mortos, e conceder a [[imortalidade]] aos seus seguidores. Jesus também é considerado para os cristãos como modelo de uma vida [[Virtude|virtuosa]], e tanto como o [[Revelação|revelador]] quanto a [[Encarnação (religião)|encarnação]] de [[Deus no cristianismo|Deus]].<ref name="McGrath4">McGrath, ''Christianity: An Introduction'', pp. 4-6.</ref> Os cristãos chamam a mensagem de Jesus Cristo de ''[[Evangelho]]'' ("Boas Novas"), e por isto referem-se aos primeiros relatos de seu ministério como [[Evangelhos canônicos|evangelhos]].
Os seguidores do cristianismo, conhecidos como [[cristãos]], <ref name="name"> O [[termo]] "cristão" (em [[Língua grega|grego]] Χριστιανός, [[Transliteração|transl.]] ''Christianós'') foi usado pela primeira vez para se referir aos [[Discípulo (cristianismo)|discípulos]] de Jesus na cidade de [[Antioquia]] ({{bíblia aberta|livro=Atos|capítulo=11|verso=26}}), por volta de [[44|44 d.C.]], significando "seguidores de Cristo". O primeiro registro do uso do termo "cristianismo" (em grego Χριστιανισμός, ''Christianismós'') foi feito por [[Inácio de Antioquia]], por volta do ano [[100]]. Ver Elwell/Comfort. ''Tyndale Bible Dictionary'', pp. 266, 828 </ref> acreditam que Jesus seja o [[Messias]] [[Cristo#O cumprimento das antigas profecias|profetizado]] na [[Bíblia Hebraica]] (a parte das [[Texto religioso|escrituras]] comum tanto ao cristianismo quanto ao [[judaísmo]]). A [[teologia]] cristã [[Ortodoxia|ortodoxa]] alega que Jesus teria sofrido, morrido e [[ressurreição|ressuscitado]] para abrir o caminho para o céu aos humanos; <ref>Sheed, Frank. "Theology and Sanity." (Ignatius Press: San Francisco, 1993), pp. 276.</ref> Os cristãos acreditam que Jesus teria [[Ascensão de Jesus|ascendido aos céus]], e a maior parte das [[Denominação cristã|denominações]] ensina que Jesus irá [[Segunda Vinda|retornar]] para [[Julgamento Final|julgar]] todos os seres humanos, vivos e mortos, e conceder a [[imortalidade]] aos seus seguidores. Jesus também é considerado para os cristãos como modelo de uma vida [[Virtude|virtuosa]], e tanto como o [[Revelação|revelador]] quanto a [[Encarnação (religião)|encarnação]] de [[Deus no cristianismo|Deus]]. <ref name="McGrath4">McGrath, ''Christianity: An Introduction'', pp. 4-6.</ref> Os cristãos chamam a mensagem de Jesus Cristo de ''[[Evangelho]]'' ("Boas Novas"), e por isto referem-se aos primeiros relatos de seu ministério como [[Evangelhos canônicos|evangelhos]].


O cristianismo se iniciou como uma [[Judaísmo#As seitas da época do Segundo Templo e posterior desenvolvimento do judaísmo|seita judaica]]<ref name="Robinson">Robinson, ''Essential Judaism: A Complete Guide to Beliefs, Customs and Rituals'', p. 229.</ref><ref name="Esler">Esler. ''The Early Christian World''. p. 157f.</ref> e, como tal, da mesma maneira que o próprio [[judaísmo]] ou o [[islamismo]], é classificada como uma [[religião abraâmica]] (''ver também [[judaico-cristão]]'').<ref name="J.Smith98">J.Z.Smith, p. 276.</ref><ref name="Anidjar2001">Anidjar, p. 3.</ref><ref>Fowler, ''World Religions: An Introduction for Students'', p. 131.</ref> Após se originar no [[Mediterrâneo Oriental]], rapidamente se expandiu em abrangência e influência, ao longo de poucas décadas; no [[século IV]] já havia se tornado a religião dominante no [[Império Romano]]. Durante a [[Idade Média]] a maior parte da [[Europa]] foi [[Cristianização|cristianizada]], e os cristãos também seguiram sendo uma significante minoria religiosa no [[Oriente Médio]], [[Norte da África]] e em partes da [[Sírios nasrani-malabar|Índia]].<ref>McManners, ''Oxford Illustrated History of Christianity'', pp. 301-03.</ref> Depois da [[Era das Descobertas]], através de [[Missionário|trabalho missionário]] e da [[colonização]], o cristianismo se espalhou para as [[Américas]] e pelo resto do mundo.
O cristianismo se iniciou como uma [[Judaísmo#As seitas da época do Segundo Templo e posterior desenvolvimento do judaísmo|seita judaica]] <ref name="Robinson">Robinson, ''Essential Judaism: A Complete Guide to Beliefs, Customs and Rituals'', p. 229.</ref> <ref name="Esler">Esler. ''The Early Christian World''. p. 157f.</ref> e, como tal, da mesma maneira que o próprio [[judaísmo]] ou o [[islamismo]], é classificada como uma [[religião abraâmica]] (''ver também [[judaico-cristão]]'').<ref name="J.Smith98">J.Z.Smith, p. 276.</ref><ref name="Anidjar2001">Anidjar, p. 3.</ref><ref>Fowler, ''World Religions: An Introduction for Students'', p. 131.</ref> Após se originar no [[Mediterrâneo Oriental]], rapidamente se expandiu em abrangência e influência, ao longo de poucas décadas; no [[século IV]] já havia se tornado a religião dominante no [[Império Romano]]. Durante a [[Idade Média]] a maior parte da [[Europa]] foi [[Cristianização|cristianizada]], e os cristãos também seguiram sendo uma significante minoria religiosa no [[Oriente Médio]], [[Norte da África]] e em partes da [[Sírios nasrani-malabar|Índia]]. <ref>McManners, ''Oxford Illustrated History of Christianity'', pp. 301-03.</ref> Depois da [[Era das Descobertas]], através de [[Missionário|trabalho missionário]] e da [[colonização]], o cristianismo se espalhou para as [[Américas]] e pelo resto do mundo.


O cristianismo desempenhou um papel de destaque na formação da civilização ocidental pelo menos desde o século IV.<ref name="Orlandis"> Orlandis, A Short History of the Catholic Church (1993), preface.</ref> A primeira nação a adotar o cristianismo como religião oficial foi a [[Arménia|Armênia]], fundando a [[Igreja Apostólica Armênia|Igreja Ortodoxa Armênia]], em [[301]].
O cristianismo desempenhou um papel de destaque na formação da [[civilização ocidental]] pelo menos desde o [[século IV]]. <ref name="Orlandis"> Orlandis, A Short History of the Catholic Church (1993), preface.</ref> A primeira nação a adotar o cristianismo como religião oficial foi a [[Arménia|Armênia]], fundando a [[Igreja Apostólica Armênia|Igreja Ortodoxa Armênia]], em [[301]].


No início do [[século XXI]] o cristianismo conta com entre 1,5 bilhão<ref>"entre 1.250 e 1.750 milhão de seguidores, dependendo dos critérios usados" (McGrath, ''Christianity: An Introduction'', page xvl.)</ref><ref>"1,5 mil milhões de cristãos" (Hinnells, ''The Routledge Companion to the Study of Religion'', p. 441.)</ref> e 2,1 bilhões de seguidores,<ref>{{cite web|url=http://www.adherents.com/Religions_By_Adherents.html |title=Major Religions Ranked by Size |publisher=Adherents.com |date= |accessdate=5-5-2009}}</ref> representando cerca de um quarto a um terço da população mundial, e é uma das [[Principais religiões do mundo|maiores religiões do mundo]].<ref>Hinnells, ''The Routledge Companion to the Study of Religion'', p. 441.</ref> O cristianismo também é a [[religião de Estado]] de diversos países.<ref>[ver [[Cristianismo#Demografia]] para informações e referências]</ref>
No início do [[século XXI]] o cristianismo conta com entre 1,5 bilhão <ref>"entre 1.250 e 1.750 milhão de seguidores, dependendo dos critérios usados" (McGrath, ''Christianity: An Introduction'', page xvl.)</ref><ref>"1,5 mil milhões de cristãos" (Hinnells, ''The Routledge Companion to the Study of Religion'', p. 441.)</ref> e 2,1 bilhões de seguidores,<ref>{{cite web|url=http://www.adherents.com/Religions_By_Adherents.html |title=Major Religions Ranked by Size |publisher=Adherents.com |date= |accessdate=5-5-2009}}</ref> representando cerca de um quarto a um terço da população mundial, e é uma das [[Principais religiões do mundo|maiores religiões do mundo]].<ref>Hinnells, ''The Routledge Companion to the Study of Religion'', p. 441.</ref> O cristianismo também é a [[religião de Estado]] de diversos países. <ref>[ver [[Cristianismo#Demografia]] para informações e referências]</ref>


== Principais crenças ==
== Principais crenças ==


[[Ficheiro:Bloch-SermonOnTheMount.jpg|thumb|left|O [[Sermão da Montanha]] por [[Carl Heinrich Bloch]], pintor [[Dinamarca|dinamarquês]], d. [[1890]].]]
[[Ficheiro:Bloch-SermonOnTheMount.jpg|thumb|180px|direita|O [[Sermão da Montanha]] por [[Carl Heinrich Bloch]], pintor [[Dinamarca|dinamarquês]], d. [[1890]].]]


Embora existam diferenças entre os cristãos sobre a forma como interpretam certos aspectos da sua [[religião]], é também possível apresentar um conjunto de crenças que são partilhadas pela maioria deles.
Embora existam diferenças entre os cristãos sobre a forma como interpretam certos aspectos da sua [[religião]], é também possível apresentar um conjunto de crenças que são partilhadas pela maioria deles.


=== Monoteísmo ===
=== Monoteísmo ===
O cristianismo herdou do judaísmo a crença na existência de um único [[Deus]], criador do [[universo]] e que pode intervir sobre ele. Os seus atributos mais importantes são por isso a onipotência, a onipresença e onisciência.


O cristianismo herdou do judaísmo a crença na existência de um único [[Deus]], criador do [[universo]] e que pode intervir sobre ele. Os seus atributos mais importantes são por isso a [[onipotência]], a [[onipresença]] e [[onisciência]].
Outro dos atributos mais importantes de Deus, referido várias vezes ao longo do [[Novo Testamento]], é o amor: Deus ama todas as pessoas e estas podem estabelecer uma relação pessoal com ele através da oração.


Outro dos atributos mais importantes de Deus, referido várias vezes ao longo do [[Novo Testamento]], é o [[amor]]: Deus ama todas as pessoas e estas podem estabelecer uma relação pessoal com ele através da [[oração]].
A maioria das denominações cristãs professa crer na [[Santíssima Trindade]], isto é, que Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A maioria das denominações cristãs professa crer na [[Santíssima Trindade]], isto é, que Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o [[Deus, o Pai|Pai]], o [[Filho de Deus|Filho]] e o [[Espírito Santo]].


A doutrina das denominações cristãs difere do monoteísmo judaico visto que no judaísmo não existem três pessoas da Divindade, há apenas um único Deus, e o [[Messias]] que virá será um homem, descendente do rei [[David]]
A doutrina das denominações cristãs difere do monoteísmo judaico visto que no judaísmo não existem três pessoas da Divindade, há apenas um único Deus, e o [[Messias]] que virá será um homem, descendente do rei [[David]]


=== Jesus ===
=== Jesus ===

{{Ver artigos principais|[[Jesus Cristo]], [[Jesus histórico]]}}


[[Ficheiro:Hagiasophia-christ.jpg|right|thumb|Representação de [[Jesus]] na [[Basílica de Santa Sofia]] em [[Istambul]], [[Turquia]].]]
[[Ficheiro:Hagiasophia-christ.jpg|right|thumb|Representação de [[Jesus]] na [[Basílica de Santa Sofia]] em [[Istambul]], [[Turquia]].]]


Outro ponto crucial para os cristãos é o da centralidade da figura de Jesus Cristo. Os cristãos reconhecem a importância dos ensinamentos morais de Jesus, entre os quais salientam o amor a Deus e o amor ao próximo, e consideram a sua vida como um exemplo a seguir. O cristianismo reconhece Jesus como o Filho de Deus que veio à Terra libertar os seres humanos do pecado através da sua morte na cruz e da sua ressurreição, embora variem entre si quanto ao significado desta salvação e como ela se dará. Para a maioria dos cristãos, Jesus é completamente divino e completamente humano. Há no entanto, uma recorrente discussão sobre a divindade de Jesus. Aqueles que questionam a divindade de Cristo argumentam que ele jamais teria afirmado isso expressamente. Os que defendem a divindade de Cristo, por sua vez, valem-se de versículos que, através da postura de Jesus e dentro do próprio contexto cultural judaico da época, deixariam clara sua condição divina<ref>[http://www.suaescolha.com/essay/jesusedeus.html Jesus alguma vez disse ser Deus?]</ref><ref>[http://www.christiananswers.net/portuguese/q-eden/edn-t005p.html Jesus Cristo é Deus?]</ref>.
Outro ponto crucial para os cristãos é o da centralidade da figura de Jesus Cristo. Os cristãos reconhecem a importância dos ensinamentos morais de Jesus, entre os quais salientam o amor a Deus e o amor ao próximo, e consideram a sua vida como um exemplo a seguir. O cristianismo reconhece Jesus como o Filho de Deus que veio à Terra libertar os seres humanos do pecado através da sua morte na cruz e da sua ressurreição, embora variem entre si quanto ao significado desta salvação e como ela se dará. Para a maioria dos cristãos, Jesus é completamente divino e completamente humano.
Há no entanto, uma recorrente discussão sobre a divindade de Jesus. Aqueles que questionam a divindade de Cristo argumentam que ele jamais teria afirmado isso expressamente. Os que defendem a divindade de Cristo, por sua vez, valem-se de [[versículo]]s que, através da postura de Jesus e dentro do próprio contexto cultural judaico da época, deixariam clara sua condição divina <ref>[http://www.suaescolha.com/essay/jesusedeus.html Jesus alguma vez disse ser Deus?]</ref><ref>[http://www.christiananswers.net/portuguese/q-eden/edn-t005p.html Jesus Cristo é Deus?]</ref>.


=== A salvação ===
=== A salvação ===

O cristianismo acredita que a fé em Jesus Cristo proporciona aos seres humanos a salvação e a vida eterna.{{Refbíblia|citação = Pois Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.|livro = João|capítulo = 3|verso = 16|verso_final =}}
{{AP|[[Salvação]]}}

O cristianismo acredita que a fé em Jesus Cristo proporciona aos seres humanos a salvação e a vida eterna. {{Refbíblia|citação = Pois Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.|livro = João|capítulo = 3|verso = 16|verso_final =}}


=== A vida depois da morte ===
=== A vida depois da morte ===

{{Ver artigos principais|[[Imortalidade]], [[Vida após a morte]]}}

A visão de determinadas religiões cristãs sobre a vida depois da morte envolve, de uma maneira geral, a crença no [[céu]] e no [[inferno]]. A [[Igreja Católica]] considera que para além destas duas realidades existe o [[purgatório]], um estado de purificação onde ficam as almas que morreram em estado de graça, mas que cometeram pecados.
A visão de determinadas religiões cristãs sobre a vida depois da morte envolve, de uma maneira geral, a crença no [[céu]] e no [[inferno]]. A [[Igreja Católica]] considera que para além destas duas realidades existe o [[purgatório]], um estado de purificação onde ficam as almas que morreram em estado de graça, mas que cometeram pecados.


=== A Igreja ===
=== A Igreja ===

O cristianismo acredita na ''Igreja'' (ekklesia), palavra de origem grega que significa "assembleia", entendida como a comunidade de todos os cristãos e como [[Corpus Mysticum|corpo místico de Cristo]] presente na Terra e sua continuidade.
O cristianismo acredita na ''Igreja'' (ekklesia), palavra de origem grega que significa "assembleia", entendida como a comunidade de todos os cristãos e como [[Corpus Mysticum|corpo místico de Cristo]] presente na Terra e sua continuidade.
As principais igrejas ligadas ao cristianismo são: a [[Igreja Católica]], as [[Igrejas Protestantes]] e a [[Igreja Ortodoxa]].
As principais igrejas ligadas ao cristianismo são: a [[Igreja Católica]], as [[Igrejas Protestantes]] e a [[Igreja Ortodoxa]].


== Diferenças nas crenças ==
== Diferenças nas crenças ==

=== O Credo de Niceia ===
=== O Credo de Niceia ===

O [[Credo de Niceia]], formulado nos concílios de [[Primeiro Concílio de Niceia|Niceia]] e [[Primeiro Concílio de Constantinopla|Constantinopla]], foi ratificado como credo universal da [[Cristandade]] no [[Concílio de Éfeso]] de [[431]]. Os cristãos ortodoxos orientais não incluem no credo a [[cláusula filioque]], que foi acrescentada pela [[Igreja Católica]] mais tarde.
O [[Credo de Niceia]], formulado nos [[concílio]]s de [[Primeiro Concílio de Niceia|Niceia]] e [[Primeiro Concílio de Constantinopla|Constantinopla]], foi ratificado como [[credo]] universal da [[Cristandade]] no [[Concílio de Éfeso]] de [[431]]. Os cristãos ortodoxos orientais não incluem no credo a [[cláusula filioque]], que foi acrescentada pela [[Igreja Católica]] mais tarde.


As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são:
As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são:
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* Jesus é simultaneamente divino e humano;
* Jesus é simultaneamente divino e humano;
* A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus;
* A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus;
* Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo à Terra;
* Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi [[Crucificação|crucificado]], [[Ressurreição|ressuscitou]], [[Ascensão de Jesus|ascendeu]] ao céu e virá de novo à Terra;
* A remissão dos pecados é possível através do baptismo (br-batismo);
* A remissão dos pecados é possível através do baptismo (br-batismo);
* Os mortos ressuscitarão.
* Os mortos ressuscitarão.


Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente com crenças que seriam consideradas heréticas, como o [[arianismo]], que negava que o Pai e Filho eram da mesma substância, ou o [[gnosticismo]].
Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente com crenças que seriam consideradas [[Heresia|heréticas]], como o [[arianismo]], que negava que o Pai e Filho eram da mesma substância, ou o [[gnosticismo]].


A maior parte das igrejas protestantes partilham com a Igreja Católica a crença no Credo de Niceia.
A maior parte das igrejas protestantes partilham com a Igreja Católica a crença no Credo de Niceia.


=== Outros textos considerados sagrados ===
=== Outros textos considerados sagrados ===

Alguns cristãos consideram que determinados escritos, para além dos que fazem parte da Bíblia, foram divinamente inspirados. Os membros da [[Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias]] atribuem a três livros a qualidade de terem sido inspirados por Deus; esses livros são o [[Livro de Mórmon]], a [[Doutrina e Convénios]] e a [[Pérola de Grande Valor]]. Para os Adventistas do Sétimo Dia os escritos de [[Ellen G. White]] são uma manifestação profética que, contudo, não se encontra ao mesmo nível que a Bíblia.
Alguns cristãos consideram que determinados escritos, para além dos que fazem parte da [[Bíblia]], foram divinamente inspirados. Os membros da [[Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias]] atribuem a três livros a qualidade de terem sido inspirados por Deus; esses livros são o [[Livro de Mórmon]], a [[Doutrina e Convénios]] e a [[Pérola de Grande Valor]]. Para os Adventistas do Sétimo Dia os escritos de [[Ellen G. White]] são uma manifestação profética que, contudo, não se encontra ao mesmo nível que a Bíblia.


== Origem ==
== Origem ==

{{Artigo principal|[[História do cristianismo]]}}
{{Artigo principal|[[História do cristianismo]]}}


Segundo a [[judaísmo|religião judaica]], o [[Messias]], um descendente do [[Rei Davi]], iria um dia aparecer e restaurar o Reino de Israel. Na Palestina, por volta de 26 d.C., [[Jesus Cristo]], nascido na cidade de [[Belém (Cisjordânia)|Belém]] na [[Galileia]] começou a pregar uma nova doutrina e atrair seguidores, sendo aclamado por alguns como o Messias. Jesus foi rejeitado, tido por apóstata pelas autoridades judaicas. Foi condenado por blasfémia e executado pelos romanos como um líder rebelde. Seus seguidores enfrentaram dura oposição político-religiosa, tendo sido perseguidos e martirizados, pelos líderes religiosos judeus, e, mais tarde, pelo Estado Romano.
Segundo a [[judaísmo|religião judaica]], o [[Messias]], um descendente do [[Rei Davi]], iria um dia aparecer e restaurar o [[Reino de Israel]]. Na Palestina, por volta de 26 d.C., [[Jesus Cristo]], nascido na cidade de [[Belém (Cisjordânia)|Belém]] na [[Galileia]] começou a pregar uma nova doutrina e atrair seguidores, sendo aclamado por alguns como o Messias. Jesus foi rejeitado, tido por [[apóstata]] pelas autoridades judaicas. Foi condenado por [[blasfémia]] e executado pelos romanos como um líder rebelde. Seus seguidores enfrentaram dura oposição político-religiosa, tendo sido perseguidos e [[Mártir|martirizados]], pelos líderes religiosos judeus, e, mais tarde, pelo Estado Romano.


Com a morte e ressurreição de Jesus, os [[apóstolos]], principais testemunhas da sua vida, reúnem-se numa comunidade religiosa composta essencialmente por judeus e centrada na cidade de [[Jerusalém]]. Esta comunidade praticava a comunhão dos bens, celebrava a "partilha do pão" em memória da última refeição tomada por Jesus e administrava o [[batismo]] aos novos convertidos. A partir de Jerusalém, os apóstolos partiram para pregar a nova mensagem, anunciando a nova religião inclusive aos que eram rejeitados pelo judaísmo oficial. Assim, Filipe prega aos [[Samaritanos]], o eunuco da rainha da Etiópia é baptizado, bem como o centurião Cornélio. Em [[Antioquia]], os discípulos abordam pela primeira vez os pagãos e passam a ser conhecidos como cristãos.
Com a morte e [[ressurreição de Jesus]], os [[apóstolos]], principais testemunhas da sua vida, reúnem-se numa comunidade religiosa composta essencialmente por judeus e centrada na cidade de [[Jerusalém]]. Esta comunidade praticava a comunhão dos bens, celebrava a "partilha do pão" em memória da última refeição tomada por Jesus e administrava o [[batismo]] aos novos convertidos. A partir de Jerusalém, os apóstolos partiram para pregar a nova mensagem, anunciando a nova religião inclusive aos que eram rejeitados pelo judaísmo oficial. Assim, [[Filipe, o Evangelista|Filipe]] prega aos [[Samaritanos]], o [[eunuco]] da rainha da [[Etiópia]] é baptizado, bem como o [[centurião]] [[Cornélio (Bíblia)|Cornélio]]. Em [[Antioquia]], os discípulos abordam pela primeira vez os pagãos e passam a ser conhecidos como cristãos.


[[Paulo de Tarso]] não se contava entre os apóstolos originais, ele era um judeu [[fariseu]] que perseguiu inicialmente os primeiros cristãos. No entanto, ele tornou-se depois um cristão e um dos seus maiores, senão o maior missionário depois de Jesus Cristo. Boa parte do [[Novo Testamento]] foi escrito ou por ele (as epístolas) ou por seus cooperadores (o evangelho de Lucas e os actos dos apóstolos). Paulo afirmou que a salvação dependia da fé em Cristo. Entre [[44]] e [[58]] ele fez três grandes viagens missionárias que levaram a nova doutrina aos gentios e judeus da Ásia Menor e de vários pontos da Europa, entre eles Roma.
[[Paulo de Tarso]] não se contava entre os apóstolos originais, ele era um judeu [[fariseu]] que perseguiu inicialmente os primeiros cristãos. No entanto, ele tornou-se depois um cristão e um dos seus maiores, senão o maior [[missionário]] depois de Jesus Cristo. Boa parte do [[Novo Testamento]] foi escrito ou por ele (as [[Epístolas paulinas]]) ou por seus cooperadores (o [[evangelho de Lucas]] e os [[actos dos apóstolos]]). Paulo afirmou que a salvação dependia da fé em Cristo. Entre [[44]] e [[58]] ele fez três grandes viagens missionárias que levaram a nova doutrina aos [[gentio]]s e judeus da [[Ásia Menor]] e de vários pontos da [[Europa]], entre eles [[Roma Antiga|Roma]].


Nas primeiras comunidades cristãs a coabitação entre os cristãos oriundos do paganismo e os oriundos do judaísmo gerava por vezes conflitos. Alguns dos últimos permaneciam fiéis às restrições alimentares e recusavam-se a sentar-se à mesa com os primeiros. Na Assembleia de Jerusalém, em [[48]], decide-se que os cristãos ex-pagãos não serão sujeitos à circuncisão, mas para se sentarem à mesa com os cristãos de origem judaica devem abster-se de comer carne com sangue ou carne sacrificada aos ídolos. Consagra-se assim a primeira ruptura com o judaísmo.
Nas primeiras comunidades cristãs a coabitação entre os cristãos oriundos do [[paganismo]] e os oriundos do judaísmo gerava por vezes conflitos. Alguns dos últimos permaneciam fiéis às restrições alimentares e recusavam-se a sentar-se à mesa com os primeiros. Na Assembleia de Jerusalém ([[Concílio de Jerusalém]]), em [[48]], decide-se que os cristãos ex-pagãos não serão sujeitos à [[circuncisão]], mas para se sentarem à mesa com os cristãos de origem judaica devem abster-se de comer carne com sangue ou carne sacrificada aos [[ídolo]]s. Consagra-se assim a primeira ruptura com o judaísmo.


[[Ficheiro:Ichthus.svg|right|thumb|Peixe - Símbolo Cristão Primitivo, 2.º Século d.C. - Hoje símbolo principal das denominações da [[Igreja Evangélica]]]]
[[Ficheiro:Ichthus.svg|right|thumb|Peixe - Símbolo Cristão Primitivo, 2.º Século d.C. - Hoje símbolo principal das denominações da [[Igreja Evangélica]]]]


Na época, a visão de mundo [[monoteísmo|monoteísta]] do judaísmo era atrativa para alguns dos cidadãos do mundo romano, mas costumes como a [[circuncisão]], as regras de alimentação incômodas, e a forte identificação dos judeus como um grupo étnico (e não apenas religioso) funcionavam como barreiras dificultando a conversão dos homens. Através da influência de [[Paulo de Tarso|Paulo]], o cristianismo simplificou os costumes judaicos aos quais os gentios não se habituavam enquanto manteve os motivos de atração. Alguns autores defendem que essa mudança pode ter sido um dos grandes motivos da rápida expansão do cristianismo.
Na época, a visão de mundo [[monoteísmo|monoteísta]] do judaísmo era atrativa para alguns dos cidadãos do mundo romano, mas costumes como a circuncisão, as regras de alimentação incômodas, e a forte identificação dos judeus como um [[grupo étnico]] (e não apenas religioso) funcionavam como barreiras dificultando a [[Conversão (religião)|conversão]] dos homens. Através da influência de [[Paulo de Tarso|Paulo]], o cristianismo simplificou os costumes judaicos aos quais os gentios não se habituavam enquanto manteve os motivos de atração. Alguns autores defendem que essa mudança pode ter sido um dos grandes motivos da rápida expansão do cristianismo.


Outros autores entendem a ruptura com os ritos judaicos mais como uma consequência da expansão do cristianismo entre os não-judeus do que como sua causa. Estes invocam outros fatores e características como causa da expansão cristã, por exemplo: a natureza da fé cristã que propõe que a mensagem de Deus destina-se a toda a humanidade e não apenas ao seu povo escolhido; a fuga da perseguição religiosa empreendida inicialmente por judeus conservadores, e posteriormente pelo Estado Romano; o espírito missionário dos primeiros cristãos com sua determinação em divulgar o que Cristo havia ensinado a tantas pessoas quantas conseguissem.
Outros autores entendem a ruptura com os [[rito]]s judaicos mais como uma consequência da expansão do cristianismo entre os não-judeus do que como sua causa. Estes invocam outros fatores e características como causa da expansão cristã, por exemplo: a natureza da fé cristã que propõe que a mensagem de Deus destina-se a toda a humanidade e não apenas ao seu povo escolhido; a fuga da perseguição religiosa empreendida inicialmente por judeus conservadores, e posteriormente pelo Estado Romano; o espírito missionário dos primeiros cristãos com sua determinação em divulgar o que Cristo havia ensinado a tantas pessoas quantas conseguissem.


A narrativa da perseguição religiosa, da dispersão dela decorrente, da expansão do cristianismo entre não-judeus e da subsequente abolição da obrigatoriedade dos ritos judaicos pode ser lida no livro de [[Atos dos Apóstolos]]. De resto, os cristãos adotam as regras e os princípios do [[Antigo Testamento]], livro sagrado dos [[Judeus]].
A narrativa da perseguição religiosa, da dispersão dela decorrente, da expansão do cristianismo entre não-judeus e da subsequente abolição da obrigatoriedade dos ritos judaicos pode ser lida no livro de [[Atos dos Apóstolos]]. De resto, os cristãos adotam as regras e os princípios do [[Antigo Testamento]], livro sagrado dos [[Judeus]].


Em Junho do ano [[66]] inicia-se a revolta judaica. Em Setembro do mesmo ano a comunidade cristã de Jerusalém decide separar-se dos judeus insurrectos, seguindo a advertência dada por Jesus de que quando Jerusalém fosse cercada por exércitos a desolação dela estaria próxima, e exila-se em Pela, na Transjordânia, o que representa o segundo momento de ruptura com o judaísmo.
Em Junho do ano [[66]] inicia-se a revolta judaica. Em Setembro do mesmo ano a comunidade cristã de Jerusalém decide separar-se dos judeus insurrectos, seguindo a advertência dada por Jesus de que quando Jerusalém fosse cercada por exércitos a desolação dela estaria próxima, e exila-se em Pela, na [[Transjordânia]], o que representa o segundo momento de ruptura com o judaísmo.


Após a derrota dos judeus em [[70]], cristãos e outros grupos judeus trilham caminhos cada vez mais separados. Para o cristianismo o período que se abre em 70 e que segue até aproximadamente [[135]] caracteriza-se pela definição da moral e fé cristã, bem como de organização da hierarquia e da liturgia. No Oriente, estabelece-se o episcopado monárquico: a comunidade é chefiada por um bispo, rodeado pelo seu presbitério e assistido por diáconos.
Após a derrota dos judeus em [[70]], cristãos e outros grupos judeus trilham caminhos cada vez mais separados. Para o cristianismo o período que se abre em 70 e que segue até aproximadamente [[135]] caracteriza-se pela definição da [[moral]] e fé cristã, bem como de organização da [[hierarquia]] e da [[liturgia]]. No [[Oriente]], estabelece-se o [[episcopado]] monárquico: a comunidade é chefiada por um [[bispo]], rodeado pelo seu [[presbitério]] e assistido por [[diácono]]s.
Gradualmente, o sucesso do cristianismo junto das elites romanas fez deste um rival da religião estabelecida. Embora desde [[64]], quando [[Nero]] mandou supliciar os cristãos de Roma, se tivessem verificado perseguições ao cristianismo, estas eram irregulares. As perseguições organizadas contra os cristãos surgem a partir do século II: em [[112]] [[Trajano]] fixa o procedimento contra os cristãos. Para além de Trajano, as principais perseguições foram ordenadas pelos imperadores [[Marco Aurélio]], [[Décio]], [[Valeriano]] e [[Diocleciano]]. Os cristãos eram acusados de superstição e de ódio ao género humano. Se fossem cidadãos romanos eram decapitados; se não, podiam ser atirados às feras ou enviados para trabalhar nas minas.
Gradualmente, o sucesso do cristianismo junto das elites romanas fez deste um rival da religião estabelecida. Embora desde [[64]], quando [[Nero]] mandou supliciar os cristãos de Roma, se tivessem verificado perseguições ao cristianismo, estas eram irregulares. As perseguições organizadas contra os cristãos surgem a partir do século II: em [[112]] [[Trajano]] fixa o procedimento contra os cristãos. Para além de Trajano, as principais perseguições foram ordenadas pelos imperadores [[Marco Aurélio]], [[Décio]], [[Valeriano]] e [[Diocleciano]]. Os cristãos eram acusados de superstição e de ódio ao género humano. Se fossem cidadãos romanos eram decapitados; se não, podiam ser atirados às feras ou enviados para trabalhar nas minas.


Durante a segunda metade do século II assiste-se também ao desenvolvimento das primeiras heresias. [[Tatiano]], um cristão de origem síria convertido em Roma, cria uma seita gnóstica que reprova o casamento e que celebrava a eucaristia com água em vez de vinho. [[Marcião]] rejeitava o Antigo Testamento, opondo o Deus vingador dos judeus, ao Deus bondoso do Novo Testamento, apresentado por Cristo; ele elaborou um Livro Sagrado feito a partir de passagens retiradas do Evangelho de Lucas e das epístolas de Paulo. À medida que o cristianismo criava raízes mais fortes na parte ocidental do Império Romano, o latim passa a ser usado como língua sagrada (nas comunidades do Oriente usava-se o grego).
Durante a segunda metade do [[século II]] assiste-se também ao desenvolvimento das primeiras [[heresia]]s. [[Tatiano]], um cristão de origem síria convertido em Roma, cria uma seita gnóstica que reprova o [[casamento]] e que celebrava a [[eucaristia]] com [[água]] em vez de [[vinho]]. [[Marcião]] rejeitava o Antigo Testamento, opondo o Deus vingador dos judeus, ao Deus bondoso do Novo Testamento, apresentado por Cristo; ele elaborou um Livro Sagrado feito a partir de passagens retiradas do [[Evangelho de Lucas]] e das epístolas de Paulo. À medida que o cristianismo criava raízes mais fortes na parte ocidental do Império Romano, o [[latim]] passa a ser usado como língua sagrada (nas comunidades do Oriente usava-se o [[grego]]).


Durante o [[século III]], com o relaxamento da [[perseguição aos cristãos|intolerância aos cristãos]], a Igreja havia conseguido muitos donativos e bens<ref name="History Channel">''Roma: Ascensão E Queda De Um Império'' (no original em inglês: ''Ancient Rome: The Rise and The Faal of An Empire''). Episódio 5: Constantino. Apresentado pelo ''[[The History Channel]]''. [[2009]].</ref>. Porém com o fortalecimento da perseguição pelo imperador [[Diocleciano]], esses bens foram confiscados.<ref name="History Channel"/> Posteriormente com a derrota de Diocleciano e a ascensão do imperador romano [[Constantino I|Constantino]], o cristianismo foi legalizado pelo [[Édito de Milão]] de [[313]], e os bens da Igreja devolvidos.<ref name="History Channel"/>
Durante o [[século III]], com o relaxamento da [[perseguição aos cristãos|intolerância aos cristãos]], a Igreja havia conseguido muitos donativos e bens <ref name="History Channel">''Roma: Ascensão E Queda De Um Império'' (no original em inglês: ''Ancient Rome: The Rise and The Faal of An Empire''). Episódio 5: Constantino. Apresentado pelo ''[[The History Channel]]''. [[2009]].</ref>. Porém com o fortalecimento da perseguição pelo imperador [[Diocleciano]], esses bens foram confiscados. <ref name="History Channel"/> Posteriormente com a derrota de Diocleciano e a ascensão do imperador romano [[Constantino I|Constantino]], o cristianismo foi legalizado pelo [[Édito de Milão]] de [[313]], e os bens da Igreja devolvidos. <ref name="History Channel"/>


A questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é uma tema de profundo debate entre os historiadores, mas em geral aceita-se que a sua conversão ocorreu gradualmente. Como maneira de fazer [[penitência]]<ref name="History Channel"/><ref>Constantino havia ordenado o assassinato de sua família por questões políticas.</ref>, Constantino ordenou a construção de diversas [[basílica]]s e outros [[templo]]s e as doou à Igreja<ref name="History Channel"/>. Dentre elas, uma basílica em Roma no local onde, segundo a [[Tradição católica|Tradição]], o [[Túmulo de São Pedro|apóstolo Pedro estava sepultado]] e, influenciado pela sua mãe, a imperatriz Helena, ordena a construção em Jerusalém da [[Santo Sepulcro|Basílica do Santo Sepulcro]] e da Igreja da Natividade em Belém.
A questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é uma tema de profundo debate entre os [[historiador]]es, mas em geral aceita-se que a sua conversão ocorreu gradualmente. Como maneira de fazer [[penitência]] <ref name="History Channel"/> <ref>Constantino havia ordenado o assassinato de sua família por questões políticas.</ref>, Constantino ordenou a construção de diversas [[basílica]]s e outros [[templo]]s e as doou à Igreja <ref name="History Channel"/>. Dentre elas, uma basílica em Roma no local onde, segundo a [[Tradição católica|Tradição]], o [[Túmulo de São Pedro|apóstolo Pedro estava sepultado]] e, influenciado pela sua mãe, a imperatriz Helena, ordena a construção em Jerusalém da [[Santo Sepulcro|Basílica do Santo Sepulcro]] e da [[Basílica da Natividade]] em Belém.


Para evitar mais divisões na Igreja, Constantino convocou o [[Primeiro Concílio de Niceia]] em [[325]], onde se definiu o [[Credo Niceno]], uma manifestação mínima da crença partilhada pelos [[bispo]]s cristãos.<ref name="History Channel"/>
Para evitar mais divisões na Igreja, Constantino convocou o [[Primeiro Concílio de Niceia]] em [[325]], onde se definiu o [[Credo Niceno]], uma manifestação mínima da crença partilhada pelos [[bispo]]s cristãos. <ref name="History Channel"/>


Mais tarde, nos anos de [[391]] e [[392]], o imperador [[Teodósio I]] combate o paganismo, proibindo o seu culto e proclamando o cristianismo religião oficial do Império Romano.
Mais tarde, nos anos de [[391]] e [[392]], o imperador [[Teodósio I]] combate o paganismo, proibindo o seu culto e proclamando o cristianismo religião oficial do [[Império Romano]].


O lado ocidental do Império cairia em [[476]], ano da deposição do último imperador romano pelo "bárbaro" germânico [[Odoacro]], mas o cristianismo permaneceria triunfante em grande parte da Europa, até porque alguns bárbaros já estavam convertidos ao cristianismo ou viriam a converter-se nas décadas seguintes. O Império Romano teve desta forma um papel instrumental na expansão do cristianismo.
O lado ocidental do Império cairia em [[476]], ano da deposição do último imperador romano pelo "bárbaro" germânico [[Odoacro]], mas o cristianismo permaneceria triunfante em grande parte da Europa, até porque alguns bárbaros já estavam convertidos ao cristianismo ou viriam a converter-se nas décadas seguintes. O Império Romano teve desta forma um papel instrumental na expansão do cristianismo.
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Do mesmo modo, o cristianismo teve um papel proeminente na manutenção da civilização europeia. A Igreja, única organização que não se desintegrou no processo de dissolução da parte ocidental do império, começou lentamente a tomar o lugar das instituições romanas ocidentais, chegando mesmo a negociar a segurança de Roma durante as invasões do [[século V]]. A Igreja também manteve o que restou de força intelectual, especialmente através da [[mosteiro|vida monástica]].
Do mesmo modo, o cristianismo teve um papel proeminente na manutenção da civilização europeia. A Igreja, única organização que não se desintegrou no processo de dissolução da parte ocidental do império, começou lentamente a tomar o lugar das instituições romanas ocidentais, chegando mesmo a negociar a segurança de Roma durante as invasões do [[século V]]. A Igreja também manteve o que restou de força intelectual, especialmente através da [[mosteiro|vida monástica]].


Embora fosse unida linguisticamente, a parte ''ocidental'' do Império Romano jamais obtivera a mesma coesão da parte oriental (grega). Havia nele um grande número de culturas diferentes que haviam sido assimiladas apenas de maneira incompleta pela cultura romana. Mas enquanto os bárbaros invadiam, muitos passaram a comungar da fé cristã. Por volta dos séculos [[Século IV|IV]] e [[Século X|X]], todo o território que antes pertencera ao ocidente romano havia se convertido ao cristianismo e era liderado pelo [[Papa]]. Missionários cristãos avançaram ainda mais ao norte da Europa, chegando a terras jamais conquistadas por Roma, obtendo a integração definitiva dos povos germânicos e eslavos.
Embora fosse unida linguisticamente, a parte ''ocidental'' do Império Romano jamais obtivera a mesma coesão da parte oriental (grega). Havia nele um grande número de culturas diferentes que haviam sido assimiladas apenas de maneira incompleta pela cultura romana. Mas enquanto os [[bárbaros]] invadiam, muitos passaram a comungar da fé cristã. Por volta dos séculos [[Século IV|IV]] e [[Século X|X]], todo o território que antes pertencera ao ocidente romano havia se convertido ao cristianismo e era liderado pelo [[Papa]]. Missionários cristãos avançaram ainda mais ao norte da Europa, chegando a terras jamais conquistadas por Roma, obtendo a integração definitiva dos povos [[germânicos]] e [[eslavos]].


== Denominações cristãs ==
== Denominações cristãs ==

{{Artigo principal|[[Denominações cristãs]]}}
{{Artigo principal|[[Denominações cristãs]]}}

{{Denominações cristãs}}


No cristianismo existem numerosas tradições e denominações, que reflectem diferenças doutrinais por vezes relacionadas com a cultura e os diferentes contextos locais em que estas se desenvolveram. Segundo a edição de 2001 da ''World Christian Encyclopedia'' existem 33 830 denominações cristãs. Desde a [[Reforma]] o cristianismo é dividido em três grandes ramos:
No cristianismo existem numerosas tradições e denominações, que reflectem diferenças doutrinais por vezes relacionadas com a cultura e os diferentes contextos locais em que estas se desenvolveram. Segundo a edição de 2001 da ''World Christian Encyclopedia'' existem 33 830 denominações cristãs. Desde a [[Reforma]] o cristianismo é dividido em três grandes ramos:

* '''[[Catolicismo]]''': composto pela [[Igreja Católica Apostólica]] e que hoje congrega o maior número de fiéis;
* '''[[Catolicismo]]''': composto pela [[Igreja Católica Apostólica]] e que hoje congrega o maior número de fiéis;

* '''[[Ortodoxia]]''': originária do grande [[Cisma do Oriente]] (séc. XI) e é constituída por duas grandes Igrejas ortodoxas - [[Igreja Ortodoxa Grega|a grega]] e [[Igreja Ortodoxa Russa|a russa]] - que apresentam algumas diferenças entre si, nomeadamente a língua usada na [[liturgia]].
* '''[[Ortodoxia]]''': originária do grande [[Cisma do Oriente]] (séc. XI) e é constituída por duas grandes Igrejas ortodoxas - [[Igreja Ortodoxa Grega|a grega]] e [[Igreja Ortodoxa Russa|a russa]] - que apresentam algumas diferenças entre si, nomeadamente a língua usada na [[liturgia]].

* '''[[Protestantismo]]''': originária da segunda grande cisma cristã ([[Reforma Protestante]]) de [[Martinho Lutero]], no [[século XVI]], e engloba grande número de movimentos e denominações distintas. Atualmente a [[Igreja Protestante]] (também chamada Igreja Evangélica) pode ser dividida em três vertentes:
* '''[[Protestantismo]]''': originária da segunda grande cisma cristã ([[Reforma Protestante]]) de [[Martinho Lutero]], no [[século XVI]], e engloba grande número de movimentos e denominações distintas. Atualmente a [[Igreja Protestante]] (também chamada Igreja Evangélica) pode ser dividida em três vertentes:
** '''Denominações históricas''': resultado directo da reforma protestante. Destacam-se nesta vertente os [[luteranos]], [[anglicanos]] , [[presbiterianos]], [[metodistas]] e [[batistas]].
** '''Denominações históricas''': resultado directo da reforma protestante. Destacam-se nesta vertente os [[luteranos]], [[anglicanos]] , [[presbiterianos]], [[metodistas]] e [[batistas]].
** '''[[Igrejas pentecostais|Denominações pentecostais]]''': originárias em movimento do início do século XX é baseando na crença na presença do [[Batismo no Espírito Santo|Espírito Santo]] na vida do crente através de sinais, denominados por estes como dons do Espírito Santo, tais como falar em línguas estranhas ([[glossolalia]]), curas, milagres, visões etc. Destacam-se nesta vertente [[Assembleias de Deus (desambiguação)|Assembleia de Deus]],[[Igreja Presbiteriana Renovada]], [[O Brasil para Cristo]], [[Congregação Cristã]], [[Igreja Cristã Maranata]] e a [[Igreja do Evangelho Quadrangular]].
** '''[[Igrejas pentecostais|Denominações pentecostais]]''': originárias em movimento do início do [[século XX]] é baseando na crença na presença do [[Batismo no Espírito Santo|Espírito Santo]] na vida do crente através de sinais, denominados por estes como dons do Espírito Santo, tais como falar em línguas estranhas ([[glossolalia]]), curas, [[milagre]]s, visões etc. Destacam-se nesta vertente [[Assembleias de Deus (desambiguação)|Assembleia de Deus]],[[Igreja Presbiteriana Renovada]], [[O Brasil para Cristo]], [[Congregação Cristã]], [[Igreja Cristã Maranata]] e a [[Igreja do Evangelho Quadrangular]].
** '''[[Igrejas Neopentecostais|Denominações neopentecostais]]''': originárias na segunda metade do século XX de avanço das igrejas pentecostais, não configuram uma categoria homogênea possuindo muita variedade nesse meio. Algumas possuem aceitação de músicas de vários estilos, outras adquiriram o formato G-12. Destacam-se nesta vertente a [[Igreja Universal do Reino de Deus]], [[Igreja Apostólica Renascer em Cristo]],[[Igreja Apostólica Fonte da Vida]],[[Igreja Internacional da Graça de Deus]], [[Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra]], [[Igreja Evangélica Cristo Vive]], [[Ministério Internacional da Restauração]], [[Igreja de Nova Vida]], [[Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo]], [[Igreja Bola de Neve]] e a [[Igreja Unida]]. O grande crescimento deste segmento religioso deve-se principalmente pela pregação do Paraíso na terra, como a satisfação por bens materiais. Nesta linha, podemos citar principalmente a [[Igreja Universal do Reino de Deus]] onde ensina que Deus é obrigado a dar conforto material e nao somente conforto espiritual.
** '''[[Igrejas Neopentecostais|Denominações neopentecostais]]''': originárias na segunda metade do século XX de avanço das igrejas pentecostais, não configuram uma categoria homogênea possuindo muita variedade nesse meio. Algumas possuem aceitação de músicas de vários estilos, outras adquiriram o formato [[G12]]. Destacam-se nesta vertente a [[Igreja Universal do Reino de Deus]], [[Igreja Apostólica Renascer em Cristo]], [[Igreja Apostólica Fonte da Vida]], [[Igreja Internacional da Graça de Deus]], [[Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra]], [[Igreja Evangélica Cristo Vive]], [[Ministério Internacional da Restauração]], [[Igreja de Nova Vida]], [[Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo]], [[Igreja Bola de Neve]] e a [[Igreja Unida]]. O grande crescimento deste segmento religioso deve-se principalmente pela pregação do [[Paraíso]] na terra, como a satisfação por bens materiais. Nesta linha, podemos citar principalmente a [[Igreja Universal do Reino de Deus]] onde ensina que Deus é obrigado a dar conforto material e nao somente conforto espiritual.


Além desses três ramos majoritários, ainda existem outros segmentos minoritários do cristianismo. Em geral se enquadram em uma das seguintes categorias:
Além desses três ramos majoritários, ainda existem outros segmentos minoritários do cristianismo. Em geral se enquadram em uma das seguintes categorias:

* '''[[Restauracionismo]]''': são doutrinas surgidas após a Reforma Protestante cujas bases derrogam as de todas as outras tradições cristãs, basicamente tendo como ponto em comum apenas a crença em Jesus Cristo. A maioria deles não se considera propriamente "protestante" ou "evangélico" por possuírem grandes divergências teológicas. Nesta categoria estão enquadradas a [[Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias]], a [[Igreja Adventista do Sétimo Dia]] e as [[Testemunhas de Jeová]], entre outras denominações. Quanto às [[Testemunhas de Jeová]], embora afirmem ser cristãs, também não se consideram parte do protestantismo. As Testemunhas aceitam a Jesus como criatura, de natureza divina, seu líder e resgatador, rejeitando, no entanto a crença na Trindade e ensinando que Cristo é o filho do único Deus, [[Jeová]], não crendo que Jesus é Deus.
* '''[[Restauracionismo]]''': são doutrinas surgidas após a Reforma Protestante cujas bases derrogam as de todas as outras tradições cristãs, basicamente tendo como ponto em comum apenas a crença em Jesus Cristo. A maioria deles não se considera propriamente "protestante" ou "evangélico" por possuírem grandes divergências teológicas. Nesta categoria estão enquadradas a [[Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias]], a [[Igreja Adventista do Sétimo Dia]] e as [[Testemunhas de Jeová]], entre outras denominações. Quanto às [[Testemunhas de Jeová]], embora afirmem ser cristãs, também não se consideram parte do protestantismo. As Testemunhas aceitam a Jesus como criatura, de natureza divina, seu líder e resgatador, rejeitando, no entanto a crença na Trindade e ensinando que Cristo é o filho do único Deus, [[Jeová]], não crendo que Jesus é Deus.

* '''[[Igrejas não-calcedonianas|Cristianismo não-calcedoniano]]''': são as Igrejas que negam as decisões do [[Concílio de Calcedónia]] (realizado em [[451]]), por exemplo, a [[Igreja Ortodoxa Copta]], [[Igreja Apostólica Armênia|Igreja Ortodoxa Armênia]]; e a [[Igreja Assíria do Oriente]] (Nestoriana).
* '''[[Igrejas não-calcedonianas|Cristianismo não-calcedoniano]]''': são as Igrejas que negam as decisões do [[Concílio de Calcedónia]] (realizado em [[451]]), por exemplo, a [[Igreja Ortodoxa Copta]], [[Igreja Apostólica Armênia|Igreja Ortodoxa Armênia]]; e a [[Igreja Assíria do Oriente]] ([[Nestorianismo|Nestoriana]]).
* '''[[Cristianismo esotérico]]''': é a parte mística do cristianismo, e compreende as escolas cristãs de mistérios e [[sincretismo]] religioso. A este ramo pertence o [[Gnosticismo]] que é uma crença com raízes antecedentes ao próprio cristianismo e que tem características da ciência egípcia e da filosofia grega. O [[Rosacrucianismo]] também se enquadra nessa vertente sendo uma ciência oculta cristã que ressalta as boas ações por meio da fraternidade.

* '''[[Cristianismo esotérico]]''': é a parte [[Misticismo|mística]] do cristianismo, e compreende as escolas cristãs de mistérios e [[sincretismo]] religioso. A este ramo pertence o [[Gnosticismo]] que é uma crença com raízes antecedentes ao próprio cristianismo e que tem características da ciência egípcia e da [[filosofia grega]]. O [[Rosacrucianismo]] também se enquadra nessa vertente sendo uma ciência oculta cristã que ressalta as boas ações por meio da [[fraternidade]].

* '''[[Espiritismo]]''': algumas vezes é contestado como sendo uma vertente do cristianismo. Os espíritas não acreditam que uma pessoa ou ser, como Jesus Cristo, pode redimir "os pecados" de uma outra, contudo para a maior parte dos adeptos do espiritismo a obra de [[Allan Kardec]] constitui uma nova forma de cristianismo, ou então um resgate do cristianismo primitivo, que não inclui os dogmas adicionados pela Igreja Católica em seus diversos [[Concílio]]s. Inclusive, um dos seus livros fundantes é denominado de ''O Evangelho Segundo o Espiritismo''. Esse livro apresenta uma reinterpretação de aspectos da filosofia e moral cristã, crendo em parte na [[Bíblia]] Sagrada.
* '''[[Espiritismo]]''': algumas vezes é contestado como sendo uma vertente do cristianismo. Os espíritas não acreditam que uma pessoa ou ser, como Jesus Cristo, pode redimir "os pecados" de uma outra, contudo para a maior parte dos adeptos do espiritismo a obra de [[Allan Kardec]] constitui uma nova forma de cristianismo, ou então um resgate do cristianismo primitivo, que não inclui os dogmas adicionados pela Igreja Católica em seus diversos [[Concílio]]s. Inclusive, um dos seus livros fundantes é denominado de ''O Evangelho Segundo o Espiritismo''. Esse livro apresenta uma reinterpretação de aspectos da filosofia e moral cristã, crendo em parte na [[Bíblia]] Sagrada.

{{Denominações cristãs}}


== Concepções religiosas e filosóficas ==
== Concepções religiosas e filosóficas ==

{{AP|[[Filosofia cristã]]}}

O cristianismo prega o amor a Deus e ao próximo como o seu fundamento espiritual. De facto estas atitudes não constituem dois mandamentos separados (1º a Deus e 2º ao próximo), mas sim um só em que nenhuma das partes pode ser excluída. A salvação espiritual é oferecida gratuitamente a quem deseja aceitá-la buscando a Deus na figura de seu filho Jesus e que a busca de Deus é uma experiência transformadora da natureza humana.
O cristianismo prega o amor a Deus e ao próximo como o seu fundamento espiritual. De facto estas atitudes não constituem dois mandamentos separados (1º a Deus e 2º ao próximo), mas sim um só em que nenhuma das partes pode ser excluída. A salvação espiritual é oferecida gratuitamente a quem deseja aceitá-la buscando a Deus na figura de seu filho Jesus e que a busca de Deus é uma experiência transformadora da natureza humana.


Podemos considerar três períodos que definem a concepção e filosofia do cristianismo:
Podemos considerar três períodos que definem a concepção e filosofia do cristianismo:

# Cristianismo primitivo: caracterizado por uma heterogeneidade de concepções;
# [[Cristianismo primitivo]]: caracterizado por uma heterogeneidade de concepções;
# Patrística: ocorrida no período entre os [[século II|séculos II]] e [[século VIII|VIII]], com a transformação da nova religião em uma Igreja oficial do [[Império Romano]] fundada por [[Constantino I|Constantino]] e a formação de um clero institucionalizado, e cujo doutrinário expoente foi [[Santo Agostinho]];

# Escolástica: a partir do [[século VIII]] e cujo expoente foi [[São Tomás de Aquino]], que afirmou que fé e razão podem ser conciliadas, sendo a razão um meio de entender a fé.
# [[Patrística]]: ocorrida no período entre os [[século II|séculos II]] e [[século VIII|VIII]], com a transformação da nova religião em uma Igreja oficial do [[Império Romano]] fundada por [[Constantino I|Constantino]] e a formação de um clero institucionalizado, e cujo doutrinário expoente foi [[Santo Agostinho]];

# [[Escolástica]]: a partir do [[século VIII]] e cujo expoente foi [[São Tomás de Aquino]], que afirmou que fé e [[razão]] podem ser conciliadas, sendo a razão um meio de entender a fé.


A partir do [[Reforma Protestante|protestantismo]], é necessário fazer uma diferenciação entre a história e concepção da [[Igreja Católica]] e das diversas denominações evangélicas que se formaram.
A partir do [[Reforma Protestante|protestantismo]], é necessário fazer uma diferenciação entre a história e concepção da [[Igreja Católica]] e das diversas denominações evangélicas que se formaram.


== Formas de culto ==
== Formas de culto ==

As formas de culto do cristianismo envolvem oração, leitura alternada de salmos ou de passagens bíblicas tais como as de livros do Antigoestamento, os Evangelhos, as Espitolas e/ou o Apocalipse. Cantam-se hinos a Deus, o Pai, Jesus ou ao Espirito Santo e aos anjos e santos entre catolicos romanos, episcopais e ortodoxos. A cerimónia da eucaristia e' praticada diariamente ou semanalmente por católicos, luteranos, episcopais ou anglicanos e ortodoxos). Ja' a equivalente Ceia do Senhor pratica-se mensal, trimensal ou anualmente por diversas igrejas entre os protestantes. Sermoes sao pregados pelo sacerdote, anciao, ministro ou outros lideres. A maioria das denominações cristãs consagra o [[Domingo]] como dia de culto. Há denominacoes que consideram o [[Sábado]] dia santo de guarda, entre elas Baptistas do Setimo Dia, Adventistas, Igrejas de Deus (7.o dia) e Judeus Messianicos. A devoção e oração individual ou em grupo nos outros dias da semana também sao encorajadas.
As formas de culto do cristianismo envolvem oração, leitura alternada de [[salmo]]s ou de passagens bíblicas tais como as de livros do Antigo Testamento, os [[Evangelhos]], as Espitolas e/ou o [[Apocalipse]]. Cantam-se hinos a Deus, o Pai, Jesus ou ao Espirito Santo e aos [[anjo]]s e [[santo]]s entre catolicos romanos, episcopais e ortodoxos. A cerimónia da eucaristia é praticada diariamente ou semanalmente por católicos, luteranos, episcopais ou anglicanos e ortodoxos).

Já a equivalente [[Ceia do Senhor]] pratica-se mensal, trimensal ou anualmente por diversas igrejas entre os protestantes. Sermoes sao pregados pelo [[sacerdote]], [[Pastor (religião)|pastor]], [[ancião]], ministro ou outros lideres. A maioria das denominações cristãs consagra o [[Domingo]] como dia de culto. Há denominacoes que consideram o [[Sábado]] dia santo de guarda, entre elas Baptistas do Setimo Dia, Adventistas, Igrejas de Deus (7.o dia) e [[Judaísmo messiânico|Judeus Messiânicos]]. A devoção e oração individual ou em grupo nos outros dias da semana também sao encorajadas.


Os católicos romanos e os ortodoxos aceitam sete [[Sacramento (cristianismo)|sacramentos]] como dispensadores de graças divinas:
Os católicos romanos e os ortodoxos aceitam sete [[Sacramento (cristianismo)|sacramentos]] como dispensadores de graças divinas:

* [[Batismo]]
* [[Batismo]]

* [[Eucaristia]]
* [[Eucaristia]]

* [[Casamento religioso|Matrimónio]]
* [[Casamento religioso|Matrimónio]]

* Confirmação ou [[crisma]]
* Confirmação ou [[crisma]]

* [[Penitência]]
* [[Penitência]]

* Extrema unção ou [[Unção dos enfermos]]
* Extrema unção ou [[Unção dos enfermos]]

* [[Ordem sacerdotal|Ordem]]
* [[Ordem sacerdotal|Ordem]]


Protestantes geralmente so' aceitam dois sacramentos a que chamam de ordenancas:
Protestantes geralmente aceitam dois sacramentos a que chamam de ordenanças:

* [[Batismo]] (para a maioria das denominações, apenas em adultos);
* [[Batismo]] (para a maioria das denominações, apenas em adultos);

* [[Santa Ceia]] (não aceitando a eucaristia, voltando ao padrão bíblico "PÃO" E "VINHO", ambos aceitos apenas como símbolos).
* [[Santa Ceia]] (não aceitando a eucaristia, voltando ao padrão bíblico "PÃO" E "VINHO", ambos aceitos apenas como símbolos).

Igrejas como a Luterana, a Metodista, a Presbiteriana e a Episcopal/Anglicana que administram batismo a recem-nascidos tambem adotam a confirmacao quando a crianca tem mais entendimento para assumir a responsabilidade pela sua relisiosidade. Batistas, Adventistas, Pentecostais e outros optam por uma dedicacao do bebe' ao Senhor e so' batizam quem e' maduro o suficiente para decidir por si mesmo que querem realmente abracar a fe'.
Igrejas como a Luterana, a Metodista, a Presbiteriana e a Episcopal/Anglicana que administram batismo a recem-nascidos tambem adotam a confirmação quando a crianca tem mais entendimento para assumir a responsabilidade pela sua relisiosidade. Batistas, Adventistas, Pentecostais e outros optam por uma dedicacao do bebê ao Senhor e só batizam quem é maduro o suficiente para decidir por si mesmo que querem realmente abracar a fe'.


== Símbolos ==
== Símbolos ==

[[Ficheiro:Meister des Mausoleums der Galla Placidia in Ravenna 002.jpg|thumb|200px|''O Bom Pastor'', mausoléu de Galla Placidia, [[Ravenna|Ravena]], [[Itália]]. Início do [[século V]] d.C..]]
[[Ficheiro:Meister des Mausoleums der Galla Placidia in Ravenna 002.jpg|thumb|200px|''O Bom Pastor'', mausoléu de Galla Placidia, [[Ravenna|Ravena]], [[Itália]]. Início do [[século V]] d.C..]]
O símbolo mais reconhecido do cristianismo é sem dúvida a cruz, que pode apresentar uma grande variedade de formas de acordo com a denominação: [[crucifixo]] para os católicos, a cruz de oito braços para os ortodoxos e uma simples cruz latina para os protestantes evangélicos. Alguns grupos preferem nao adotar nenhum simbolo e consideram a cruz de origem pagan, comparando a reverencia a objetos como idolatria, condenada pelos mandamentos divinos.


O símbolo mais reconhecido do cristianismo é sem dúvida a [[cruz]], que pode apresentar uma grande variedade de formas de acordo com a denominação: [[crucifixo]] para os católicos, a cruz de oito braços para os ortodoxos e uma simples cruz latina para os protestantes evangélicos. Alguns grupos preferem nao adotar nenhum simbolo e consideram a cruz de origem pagã, comparando a reverencia a objetos como [[idolatria]], condenada pelos mandamentos divinos.
Outro símbolo cristão, que remonta aos começos da religião. é o ''Ichthys'' ou peixe estilizado (a palavra Ichthys significa peixe em [[língua grega|grego]], sendo também um [[acrónimo]] de ''Iesus Christus Theou Yicus Soter'', "Jesus Cristo filho de Deus Salvador"), hoje sempre visto no protestantismo. Outros símbolos do cristianismo primitivo, por vezes ainda utilizados, eram o Alfa e o Ómega (primeira e última letras do [[alfabeto grego]], em referência a Cristo como princípio e fim de todas as coisas), a [[âncora]] (representando a salvação da alma que alcancou o bom porto) e o "Bom Pastor," a representação de Cristo como o dedicado [[pastor]] das [[ovelha]]s.

Outro símbolo cristão, que remonta aos começos da religião. é o ''Ichthys'' ou [[peixe]] estilizado (a palavra Ichthys significa peixe em [[língua grega|grego]], sendo também um [[acrónimo]] de ''Iesus Christus Theou Yicus Soter'', "Jesus Cristo filho de Deus Salvador"), hoje sempre visto no protestantismo. Outros símbolos do cristianismo primitivo, por vezes ainda utilizados, eram o [[Alfa]] e o [[Ómega]] (primeira e última [[letra]]s do [[alfabeto grego]], em referência a Cristo como princípio e fim de todas as coisas), a [[âncora]] (representando a salvação da alma que alcancou o bom porto) e o "Bom Pastor," a representação de Cristo como o dedicado [[pastor]] das [[ovelha]]s.


== Calendário litúrgico e festividades ==
== Calendário litúrgico e festividades ==

Os cristãos atribuem a determinado dias do calendário uma importância religiosa. Estes dias estão ligados à vida de Jesus Cristo ou à história dos primórdios do movimento cristão.
Os cristãos atribuem a determinado dias do [[calendário]] uma importância religiosa. Estes dias estão ligados à vida de Jesus Cristo ou à história dos primórdios do movimento cristão.


O calendário litúrgico cristão inclui as seguintes festas:
O calendário litúrgico cristão inclui as seguintes festas:

* [[Advento]]: período constituído pelas quatro semanas antes do Natal, entendidas como época de preparação para a celebração do nascimento de Jesus Cristo;
* [[Advento]]: período constituído pelas quatro semanas antes do [[Natal]], entendidas como época de preparação para a celebração do nascimento de Jesus Cristo;

* [[Natal]]: celebração do nascimento de Jesus;
* [[Natal]]: celebração do nascimento de Jesus;

* [[Epifania]]: para os católicos, celebra a adoração de Jesus Cristo pelos [[Reis Magos]], enquanto que para os cristãos ortodoxos o seu baptismo. Acontece doze dias após o Natal;
* [[Epifania]]: para os católicos, celebra a adoração de Jesus Cristo pelos [[Reis Magos]], enquanto que para os cristãos ortodoxos o seu baptismo. Acontece doze dias após o Natal;

* [[Sexta-feira Santa]]: morte de Jesus,
* [[Sexta-feira Santa]]: morte de Jesus,

* [[Domingo de Páscoa]]: ressurreição de Jesus;
* [[Domingo de Páscoa]]: ressurreição de Jesus;

* Ascensão: ascensão de Jesus ao céu. Acontece quarenta dias após o Domingo de Páscoa;
* Ascensão: [[ascensão de Jesus]] ao céu. Acontece quarenta dias após o Domingo de Páscoa;

* [[Pentecostes]]: celebração do aparecimento do Espírito Santo aos cristãos. Ocorre cinquenta dias após o Domingo de Páscoa.
* [[Pentecostes]]: celebração do aparecimento do Espírito Santo aos cristãos. Ocorre cinquenta dias após o Domingo de Páscoa.


Alguns dias têm uma data fixa no calendário (como o [[Natal]], celebrado a [[25 de Dezembro]]), enquanto que outros se movem ao longo de várias datas. O período mais importante do calendário litúrgico é a [[Páscoa]], que é uma festa móvel. Nem todas denominações cristãs concordam em relação a que datas atribuir importância. Por exemplo, o [[Dia de Todos-os-Santos]] é celebrado pela [[Igreja Católica]] e pela [[Igreja Anglicana]] a 1 de Novembro, enquanto que para a [[Igreja Ortodoxa]] a data é celebrada no primeiro Domingo depois do [[Pentecostes]]; outras denominações cristãs não celebram sequer este dia. De igual forma, alguns grupos protestantes recusam celebrar o Natal uma vez que consideram ter origens [[paganismo|pagãs]].
Alguns dias têm uma data fixa no calendário (como o [[Natal]], celebrado a [[25 de Dezembro]]), enquanto que outros se movem ao longo de várias datas. O período mais importante do calendário litúrgico é a [[Páscoa]], que é uma festa móvel. Nem todas denominações cristãs concordam em relação a que datas atribuir importância. Por exemplo, o [[Dia de Todos-os-Santos]] é celebrado pela [[Igreja Católica]] e pela [[Igreja Anglicana]] a [[1 de Novembro]], enquanto que para a [[Igreja Ortodoxa]] a data é celebrada no primeiro Domingo depois do [[Pentecostes]]; outras denominações cristãs não celebram sequer este dia. De igual forma, alguns grupos protestantes recusam celebrar o Natal uma vez que consideram ter origens [[paganismo|pagãs]].


== O cristianismo no mundo de hoje ==
== O cristianismo no mundo de hoje ==
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No início do [[século XX]], a maioria dos cristãos estava concentrada na [[Europa]]; por volta da década de setenta do século XX, tinha diminuído consideravelmente o número de cristãos na Europa, sendo actualmente a [[América Latina]] e [[África]] os dois centros mundiais do cristianismo.
No início do [[século XX]], a maioria dos cristãos estava concentrada na [[Europa]]; por volta da década de setenta do século XX, tinha diminuído consideravelmente o número de cristãos na Europa, sendo actualmente a [[América Latina]] e [[África]] os dois centros mundiais do cristianismo.


O cristianismo chegou ao continente americano com as conquistas espanholas e portuguesas do [[século XVI]]. Os primeiros missionários católicos na América, preocupados com a conversão das populações, não se importaram com as culturas locais indígenas, que foram devastadas. No [[século XIX]] a independência dos países latino-americanos em relação a Espanha e Portugal, foi acompanhada de uma redução gradual da influência da Igreja Católica. Contudo, durante o século XX o catolicismo desempenhou um papel político na América Latina, detectável em movimentos como a [[Teologia da Libertação]]. Actualmente, o catolicismo perde terreno na América Latina a favor de movimentos protestantes de carácter [[pentecostalismo|pentecostalista]].
O cristianismo chegou ao [[Américas|continente americano]] com as conquistas espanholas e portuguesas do [[século XVI]]. Os primeiros missionários católicos na América, preocupados com a conversão das populações, não se importaram com as culturas locais indígenas, que foram devastadas. No [[século XIX]] a independência dos países latino-americanos em relação a [[Espanha]] e [[Portugal]], foi acompanhada de uma redução gradual da influência da Igreja Católica. Contudo, durante o século XX o catolicismo desempenhou um papel político na América Latina, detectável em movimentos como a [[Teologia da Libertação]]. Actualmente, o catolicismo perde terreno na América Latina a favor de movimentos protestantes de carácter [[pentecostalismo|pentecostalista]].


Na África o cristianismo tem raízes mais antigas. Antes do surgimento do islão no [[século VII]], o norte de África estava religiosamente integrado na esfera cristã. O islão e o cristianismo tiveram dificuldades em penetrar completamente na [[África Negra]]. Foi, sobretudo no século XIX, com o estabelecimento de missões protestantes (anglicanas e metodistas) em África, que o cristianismo penetrou no continente. Na segunda metade do século XX seria a vez do catolicismo. Hoje em dia, o catolicismo é a denominação com maior número de adeptos na maioria dos países africanos, com uma população de mais de 150 milhões de pessoas. No continente africano também surgiram igrejas cristãs independentes das tradições europeias, que misturam elementos do cristianismo com elementos da cultura local, como o culto dos antepassados, a [[feitiçaria]] e a [[poligamia]].
Na África o cristianismo tem raízes mais antigas. Antes do surgimento do [[islão]] no [[século VII]], o [[norte de África]] estava religiosamente integrado na esfera cristã. O islão e o cristianismo tiveram dificuldades em penetrar completamente na [[África Negra]]. Foi, sobretudo no século XIX, com o estabelecimento de missões protestantes (anglicanas e metodistas) em África, que o cristianismo penetrou no continente. Na segunda metade do século XX seria a vez do catolicismo. Hoje em dia, o catolicismo é a denominação com maior número de adeptos na maioria dos países africanos, com uma população de mais de 150 milhões de pessoas. No continente africano também surgiram igrejas cristãs independentes das tradições europeias, que misturam elementos do cristianismo com elementos da cultura local, como o culto dos antepassados, a [[feitiçaria]] e a [[poligamia]].


== {{Bibliografia}} ==
== {{Ver também}} ==
* CAIRNS Earle E., '''O Cristianismo através dos séculos: Uma história da Igreja Cristã''', Edições Vida Nova, São Paulo, ISBN 8527503853
* GONZALES Justo L., '''Uma História ilustrada do Cristianismo''', coleção em 10 volumes, Edições Vida Nova, São Paulo - ISBN 8527500395 (Volume 1)
* LEBRUN, François (dir.), '''As Grandes Datas do Cristianismo'''. Lisboa: Editorial Notícias, 1990.


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== {{Ver também}} ==
{{correlatos
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|wikiquote=Cristianismo
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|commons=Jesus
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}}
}}

* [[Anticristianismo]]
* [[Anticristianismo]]
* [[Apologética]]
* [[Bandeira Cristã]]
* [[Bandeira Cristã]]
* [[Cátaros]]
* [[Cátaros]]
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* [[Testimonium Flavianum]] - passagens do historiador judeu Flávio Josefo.
* [[Testimonium Flavianum]] - passagens do historiador judeu Flávio Josefo.
* [[Visão de mundo cristã]]
* [[Visão de mundo cristã]]

== {{Bibliografia}} ==

* CAIRNS Earle E., '''O Cristianismo através dos séculos: Uma história da Igreja Cristã''', Edições Vida Nova, São Paulo, ISBN 8527503853
* GONZALES Justo L., '''Uma História ilustrada do Cristianismo''', coleção em 10 volumes, Edições Vida Nova, São Paulo - ISBN 8527500395 (Volume 1)
* LEBRUN, François (dir.), '''As Grandes Datas do Cristianismo'''. Lisboa: Editorial Notícias, 1990.

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== {{Ligações externas}} ==
== {{Ligações externas}} ==

Revisão das 17h40min de 3 de janeiro de 2011

Cristianismo (do grego Xριστός, "Cristo") é uma religião monoteísta [1] centrada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como são apresentados no Novo Testamento. [2] A cristã acredita essencialmente em Jesus como o Cristo, Filho de Deus, Salvador e Senhor. [3]

A religião cristã tem três vertentes principais: o Catolicismo, a Ortodoxia Oriental (separada do catolicismo em 1054 após o Grande Cisma do Oriente) e o protestantismo (que surgiu durante a Reforma Protestante do século XVI). O protestantismo é dividido em grupos menores chamados de denominações. Os cristãos acreditam que Jesus Cristo é o Filho de Deus que se tornou homem e o Salvador da humanidade, morrendo pelos pecados do mundo. Geralmente, os cristãos se referem a Jesus como o Cristo ou o Messias.

Os seguidores do cristianismo, conhecidos como cristãos, [4] acreditam que Jesus seja o Messias profetizado na Bíblia Hebraica (a parte das escrituras comum tanto ao cristianismo quanto ao judaísmo). A teologia cristã ortodoxa alega que Jesus teria sofrido, morrido e ressuscitado para abrir o caminho para o céu aos humanos; [5] Os cristãos acreditam que Jesus teria ascendido aos céus, e a maior parte das denominações ensina que Jesus irá retornar para julgar todos os seres humanos, vivos e mortos, e conceder a imortalidade aos seus seguidores. Jesus também é considerado para os cristãos como modelo de uma vida virtuosa, e tanto como o revelador quanto a encarnação de Deus. [6] Os cristãos chamam a mensagem de Jesus Cristo de Evangelho ("Boas Novas"), e por isto referem-se aos primeiros relatos de seu ministério como evangelhos.

O cristianismo se iniciou como uma seita judaica [7] [8] e, como tal, da mesma maneira que o próprio judaísmo ou o islamismo, é classificada como uma religião abraâmica (ver também judaico-cristão).[9][10][11] Após se originar no Mediterrâneo Oriental, rapidamente se expandiu em abrangência e influência, ao longo de poucas décadas; no século IV já havia se tornado a religião dominante no Império Romano. Durante a Idade Média a maior parte da Europa foi cristianizada, e os cristãos também seguiram sendo uma significante minoria religiosa no Oriente Médio, Norte da África e em partes da Índia. [12] Depois da Era das Descobertas, através de trabalho missionário e da colonização, o cristianismo se espalhou para as Américas e pelo resto do mundo.

O cristianismo desempenhou um papel de destaque na formação da civilização ocidental pelo menos desde o século IV. [13] A primeira nação a adotar o cristianismo como religião oficial foi a Armênia, fundando a Igreja Ortodoxa Armênia, em 301.

No início do século XXI o cristianismo conta com entre 1,5 bilhão [14][15] e 2,1 bilhões de seguidores,[16] representando cerca de um quarto a um terço da população mundial, e é uma das maiores religiões do mundo.[17] O cristianismo também é a religião de Estado de diversos países. [18]

Principais crenças

O Sermão da Montanha por Carl Heinrich Bloch, pintor dinamarquês, d. 1890.

Embora existam diferenças entre os cristãos sobre a forma como interpretam certos aspectos da sua religião, é também possível apresentar um conjunto de crenças que são partilhadas pela maioria deles.

Monoteísmo

O cristianismo herdou do judaísmo a crença na existência de um único Deus, criador do universo e que pode intervir sobre ele. Os seus atributos mais importantes são por isso a onipotência, a onipresença e onisciência.

Outro dos atributos mais importantes de Deus, referido várias vezes ao longo do Novo Testamento, é o amor: Deus ama todas as pessoas e estas podem estabelecer uma relação pessoal com ele através da oração.

A maioria das denominações cristãs professa crer na Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A doutrina das denominações cristãs difere do monoteísmo judaico visto que no judaísmo não existem três pessoas da Divindade, há apenas um único Deus, e o Messias que virá será um homem, descendente do rei David

Jesus

Ver artigo principal: Jesus Cristo, Jesus histórico
Representação de Jesus na Basílica de Santa Sofia em Istambul, Turquia.

Outro ponto crucial para os cristãos é o da centralidade da figura de Jesus Cristo. Os cristãos reconhecem a importância dos ensinamentos morais de Jesus, entre os quais salientam o amor a Deus e o amor ao próximo, e consideram a sua vida como um exemplo a seguir. O cristianismo reconhece Jesus como o Filho de Deus que veio à Terra libertar os seres humanos do pecado através da sua morte na cruz e da sua ressurreição, embora variem entre si quanto ao significado desta salvação e como ela se dará. Para a maioria dos cristãos, Jesus é completamente divino e completamente humano.

Há no entanto, uma recorrente discussão sobre a divindade de Jesus. Aqueles que questionam a divindade de Cristo argumentam que ele jamais teria afirmado isso expressamente. Os que defendem a divindade de Cristo, por sua vez, valem-se de versículos que, através da postura de Jesus e dentro do próprio contexto cultural judaico da época, deixariam clara sua condição divina [19][20].

A salvação

Ver artigo principal: Salvação

O cristianismo acredita que a fé em Jesus Cristo proporciona aos seres humanos a salvação e a vida eterna. «Pois Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.» (João 3:16)

A vida depois da morte

Ver artigo principal: Imortalidade, Vida após a morte

A visão de determinadas religiões cristãs sobre a vida depois da morte envolve, de uma maneira geral, a crença no céu e no inferno. A Igreja Católica considera que para além destas duas realidades existe o purgatório, um estado de purificação onde ficam as almas que morreram em estado de graça, mas que cometeram pecados.

A Igreja

O cristianismo acredita na Igreja (ekklesia), palavra de origem grega que significa "assembleia", entendida como a comunidade de todos os cristãos e como corpo místico de Cristo presente na Terra e sua continuidade. As principais igrejas ligadas ao cristianismo são: a Igreja Católica, as Igrejas Protestantes e a Igreja Ortodoxa.

Diferenças nas crenças

O Credo de Niceia

O Credo de Niceia, formulado nos concílios de Niceia e Constantinopla, foi ratificado como credo universal da Cristandade no Concílio de Éfeso de 431. Os cristãos ortodoxos orientais não incluem no credo a cláusula filioque, que foi acrescentada pela Igreja Católica mais tarde.

As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são:

  • A crença na Trindade;
  • Jesus é simultaneamente divino e humano;
  • A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus;
  • Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo à Terra;
  • A remissão dos pecados é possível através do baptismo (br-batismo);
  • Os mortos ressuscitarão.

Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente com crenças que seriam consideradas heréticas, como o arianismo, que negava que o Pai e Filho eram da mesma substância, ou o gnosticismo.

A maior parte das igrejas protestantes partilham com a Igreja Católica a crença no Credo de Niceia.

Outros textos considerados sagrados

Alguns cristãos consideram que determinados escritos, para além dos que fazem parte da Bíblia, foram divinamente inspirados. Os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias atribuem a três livros a qualidade de terem sido inspirados por Deus; esses livros são o Livro de Mórmon, a Doutrina e Convénios e a Pérola de Grande Valor. Para os Adventistas do Sétimo Dia os escritos de Ellen G. White são uma manifestação profética que, contudo, não se encontra ao mesmo nível que a Bíblia.

Origem

Ver artigo principal: História do cristianismo

Segundo a religião judaica, o Messias, um descendente do Rei Davi, iria um dia aparecer e restaurar o Reino de Israel. Na Palestina, por volta de 26 d.C., Jesus Cristo, nascido na cidade de Belém na Galileia começou a pregar uma nova doutrina e atrair seguidores, sendo aclamado por alguns como o Messias. Jesus foi rejeitado, tido por apóstata pelas autoridades judaicas. Foi condenado por blasfémia e executado pelos romanos como um líder rebelde. Seus seguidores enfrentaram dura oposição político-religiosa, tendo sido perseguidos e martirizados, pelos líderes religiosos judeus, e, mais tarde, pelo Estado Romano.

Com a morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos, principais testemunhas da sua vida, reúnem-se numa comunidade religiosa composta essencialmente por judeus e centrada na cidade de Jerusalém. Esta comunidade praticava a comunhão dos bens, celebrava a "partilha do pão" em memória da última refeição tomada por Jesus e administrava o batismo aos novos convertidos. A partir de Jerusalém, os apóstolos partiram para pregar a nova mensagem, anunciando a nova religião inclusive aos que eram rejeitados pelo judaísmo oficial. Assim, Filipe prega aos Samaritanos, o eunuco da rainha da Etiópia é baptizado, bem como o centurião Cornélio. Em Antioquia, os discípulos abordam pela primeira vez os pagãos e passam a ser conhecidos como cristãos.

Paulo de Tarso não se contava entre os apóstolos originais, ele era um judeu fariseu que perseguiu inicialmente os primeiros cristãos. No entanto, ele tornou-se depois um cristão e um dos seus maiores, senão o maior missionário depois de Jesus Cristo. Boa parte do Novo Testamento foi escrito ou por ele (as Epístolas paulinas) ou por seus cooperadores (o evangelho de Lucas e os actos dos apóstolos). Paulo afirmou que a salvação dependia da fé em Cristo. Entre 44 e 58 ele fez três grandes viagens missionárias que levaram a nova doutrina aos gentios e judeus da Ásia Menor e de vários pontos da Europa, entre eles Roma.

Nas primeiras comunidades cristãs a coabitação entre os cristãos oriundos do paganismo e os oriundos do judaísmo gerava por vezes conflitos. Alguns dos últimos permaneciam fiéis às restrições alimentares e recusavam-se a sentar-se à mesa com os primeiros. Na Assembleia de Jerusalém (Concílio de Jerusalém), em 48, decide-se que os cristãos ex-pagãos não serão sujeitos à circuncisão, mas para se sentarem à mesa com os cristãos de origem judaica devem abster-se de comer carne com sangue ou carne sacrificada aos ídolos. Consagra-se assim a primeira ruptura com o judaísmo.

Peixe - Símbolo Cristão Primitivo, 2.º Século d.C. - Hoje símbolo principal das denominações da Igreja Evangélica

Na época, a visão de mundo monoteísta do judaísmo era atrativa para alguns dos cidadãos do mundo romano, mas costumes como a circuncisão, as regras de alimentação incômodas, e a forte identificação dos judeus como um grupo étnico (e não apenas religioso) funcionavam como barreiras dificultando a conversão dos homens. Através da influência de Paulo, o cristianismo simplificou os costumes judaicos aos quais os gentios não se habituavam enquanto manteve os motivos de atração. Alguns autores defendem que essa mudança pode ter sido um dos grandes motivos da rápida expansão do cristianismo.

Outros autores entendem a ruptura com os ritos judaicos mais como uma consequência da expansão do cristianismo entre os não-judeus do que como sua causa. Estes invocam outros fatores e características como causa da expansão cristã, por exemplo: a natureza da fé cristã que propõe que a mensagem de Deus destina-se a toda a humanidade e não apenas ao seu povo escolhido; a fuga da perseguição religiosa empreendida inicialmente por judeus conservadores, e posteriormente pelo Estado Romano; o espírito missionário dos primeiros cristãos com sua determinação em divulgar o que Cristo havia ensinado a tantas pessoas quantas conseguissem.

A narrativa da perseguição religiosa, da dispersão dela decorrente, da expansão do cristianismo entre não-judeus e da subsequente abolição da obrigatoriedade dos ritos judaicos pode ser lida no livro de Atos dos Apóstolos. De resto, os cristãos adotam as regras e os princípios do Antigo Testamento, livro sagrado dos Judeus.

Em Junho do ano 66 inicia-se a revolta judaica. Em Setembro do mesmo ano a comunidade cristã de Jerusalém decide separar-se dos judeus insurrectos, seguindo a advertência dada por Jesus de que quando Jerusalém fosse cercada por exércitos a desolação dela estaria próxima, e exila-se em Pela, na Transjordânia, o que representa o segundo momento de ruptura com o judaísmo.

Após a derrota dos judeus em 70, cristãos e outros grupos judeus trilham caminhos cada vez mais separados. Para o cristianismo o período que se abre em 70 e que segue até aproximadamente 135 caracteriza-se pela definição da moral e fé cristã, bem como de organização da hierarquia e da liturgia. No Oriente, estabelece-se o episcopado monárquico: a comunidade é chefiada por um bispo, rodeado pelo seu presbitério e assistido por diáconos.

Gradualmente, o sucesso do cristianismo junto das elites romanas fez deste um rival da religião estabelecida. Embora desde 64, quando Nero mandou supliciar os cristãos de Roma, se tivessem verificado perseguições ao cristianismo, estas eram irregulares. As perseguições organizadas contra os cristãos surgem a partir do século II: em 112 Trajano fixa o procedimento contra os cristãos. Para além de Trajano, as principais perseguições foram ordenadas pelos imperadores Marco Aurélio, Décio, Valeriano e Diocleciano. Os cristãos eram acusados de superstição e de ódio ao género humano. Se fossem cidadãos romanos eram decapitados; se não, podiam ser atirados às feras ou enviados para trabalhar nas minas.

Durante a segunda metade do século II assiste-se também ao desenvolvimento das primeiras heresias. Tatiano, um cristão de origem síria convertido em Roma, cria uma seita gnóstica que reprova o casamento e que celebrava a eucaristia com água em vez de vinho. Marcião rejeitava o Antigo Testamento, opondo o Deus vingador dos judeus, ao Deus bondoso do Novo Testamento, apresentado por Cristo; ele elaborou um Livro Sagrado feito a partir de passagens retiradas do Evangelho de Lucas e das epístolas de Paulo. À medida que o cristianismo criava raízes mais fortes na parte ocidental do Império Romano, o latim passa a ser usado como língua sagrada (nas comunidades do Oriente usava-se o grego).

Durante o século III, com o relaxamento da intolerância aos cristãos, a Igreja havia conseguido muitos donativos e bens [21]. Porém com o fortalecimento da perseguição pelo imperador Diocleciano, esses bens foram confiscados. [21] Posteriormente com a derrota de Diocleciano e a ascensão do imperador romano Constantino, o cristianismo foi legalizado pelo Édito de Milão de 313, e os bens da Igreja devolvidos. [21]

A questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é uma tema de profundo debate entre os historiadores, mas em geral aceita-se que a sua conversão ocorreu gradualmente. Como maneira de fazer penitência [21] [22], Constantino ordenou a construção de diversas basílicas e outros templos e as doou à Igreja [21]. Dentre elas, uma basílica em Roma no local onde, segundo a Tradição, o apóstolo Pedro estava sepultado e, influenciado pela sua mãe, a imperatriz Helena, ordena a construção em Jerusalém da Basílica do Santo Sepulcro e da Basílica da Natividade em Belém.

Para evitar mais divisões na Igreja, Constantino convocou o Primeiro Concílio de Niceia em 325, onde se definiu o Credo Niceno, uma manifestação mínima da crença partilhada pelos bispos cristãos. [21]

Mais tarde, nos anos de 391 e 392, o imperador Teodósio I combate o paganismo, proibindo o seu culto e proclamando o cristianismo religião oficial do Império Romano.

O lado ocidental do Império cairia em 476, ano da deposição do último imperador romano pelo "bárbaro" germânico Odoacro, mas o cristianismo permaneceria triunfante em grande parte da Europa, até porque alguns bárbaros já estavam convertidos ao cristianismo ou viriam a converter-se nas décadas seguintes. O Império Romano teve desta forma um papel instrumental na expansão do cristianismo.

Do mesmo modo, o cristianismo teve um papel proeminente na manutenção da civilização europeia. A Igreja, única organização que não se desintegrou no processo de dissolução da parte ocidental do império, começou lentamente a tomar o lugar das instituições romanas ocidentais, chegando mesmo a negociar a segurança de Roma durante as invasões do século V. A Igreja também manteve o que restou de força intelectual, especialmente através da vida monástica.

Embora fosse unida linguisticamente, a parte ocidental do Império Romano jamais obtivera a mesma coesão da parte oriental (grega). Havia nele um grande número de culturas diferentes que haviam sido assimiladas apenas de maneira incompleta pela cultura romana. Mas enquanto os bárbaros invadiam, muitos passaram a comungar da fé cristã. Por volta dos séculos IV e X, todo o território que antes pertencera ao ocidente romano havia se convertido ao cristianismo e era liderado pelo Papa. Missionários cristãos avançaram ainda mais ao norte da Europa, chegando a terras jamais conquistadas por Roma, obtendo a integração definitiva dos povos germânicos e eslavos.

Denominações cristãs

Ver artigo principal: Denominações cristãs

No cristianismo existem numerosas tradições e denominações, que reflectem diferenças doutrinais por vezes relacionadas com a cultura e os diferentes contextos locais em que estas se desenvolveram. Segundo a edição de 2001 da World Christian Encyclopedia existem 33 830 denominações cristãs. Desde a Reforma o cristianismo é dividido em três grandes ramos:

Além desses três ramos majoritários, ainda existem outros segmentos minoritários do cristianismo. Em geral se enquadram em uma das seguintes categorias:

  • Restauracionismo: são doutrinas surgidas após a Reforma Protestante cujas bases derrogam as de todas as outras tradições cristãs, basicamente tendo como ponto em comum apenas a crença em Jesus Cristo. A maioria deles não se considera propriamente "protestante" ou "evangélico" por possuírem grandes divergências teológicas. Nesta categoria estão enquadradas a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a Igreja Adventista do Sétimo Dia e as Testemunhas de Jeová, entre outras denominações. Quanto às Testemunhas de Jeová, embora afirmem ser cristãs, também não se consideram parte do protestantismo. As Testemunhas aceitam a Jesus como criatura, de natureza divina, seu líder e resgatador, rejeitando, no entanto a crença na Trindade e ensinando que Cristo é o filho do único Deus, Jeová, não crendo que Jesus é Deus.
  • Espiritismo: algumas vezes é contestado como sendo uma vertente do cristianismo. Os espíritas não acreditam que uma pessoa ou ser, como Jesus Cristo, pode redimir "os pecados" de uma outra, contudo para a maior parte dos adeptos do espiritismo a obra de Allan Kardec constitui uma nova forma de cristianismo, ou então um resgate do cristianismo primitivo, que não inclui os dogmas adicionados pela Igreja Católica em seus diversos Concílios. Inclusive, um dos seus livros fundantes é denominado de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Esse livro apresenta uma reinterpretação de aspectos da filosofia e moral cristã, crendo em parte na Bíblia Sagrada.
Quadro sintético da relação histórica dos principais ramos do Cristianismo

Concepções religiosas e filosóficas

Ver artigo principal: Filosofia cristã

O cristianismo prega o amor a Deus e ao próximo como o seu fundamento espiritual. De facto estas atitudes não constituem dois mandamentos separados (1º a Deus e 2º ao próximo), mas sim um só em que nenhuma das partes pode ser excluída. A salvação espiritual é oferecida gratuitamente a quem deseja aceitá-la buscando a Deus na figura de seu filho Jesus e que a busca de Deus é uma experiência transformadora da natureza humana.

Podemos considerar três períodos que definem a concepção e filosofia do cristianismo:

  1. Cristianismo primitivo: caracterizado por uma heterogeneidade de concepções;
  1. Patrística: ocorrida no período entre os séculos II e VIII, com a transformação da nova religião em uma Igreja oficial do Império Romano fundada por Constantino e a formação de um clero institucionalizado, e cujo doutrinário expoente foi Santo Agostinho;
  1. Escolástica: a partir do século VIII e cujo expoente foi São Tomás de Aquino, que afirmou que fé e razão podem ser conciliadas, sendo a razão um meio de entender a fé.

A partir do protestantismo, é necessário fazer uma diferenciação entre a história e concepção da Igreja Católica e das diversas denominações evangélicas que se formaram.

Formas de culto

As formas de culto do cristianismo envolvem oração, leitura alternada de salmos ou de passagens bíblicas tais como as de livros do Antigo Testamento, os Evangelhos, as Espitolas e/ou o Apocalipse. Cantam-se hinos a Deus, o Pai, Jesus ou ao Espirito Santo e aos anjos e santos entre catolicos romanos, episcopais e ortodoxos. A cerimónia da eucaristia é praticada diariamente ou semanalmente por católicos, luteranos, episcopais ou anglicanos e ortodoxos).

Já a equivalente Ceia do Senhor pratica-se mensal, trimensal ou anualmente por diversas igrejas entre os protestantes. Sermoes sao pregados pelo sacerdote, pastor, ancião, ministro ou outros lideres. A maioria das denominações cristãs consagra o Domingo como dia de culto. Há denominacoes que consideram o Sábado dia santo de guarda, entre elas Baptistas do Setimo Dia, Adventistas, Igrejas de Deus (7.o dia) e Judeus Messiânicos. A devoção e oração individual ou em grupo nos outros dias da semana também sao encorajadas.

Os católicos romanos e os ortodoxos aceitam sete sacramentos como dispensadores de graças divinas:

Protestantes geralmente só aceitam dois sacramentos a que chamam de ordenanças:

  • Batismo (para a maioria das denominações, apenas em adultos);
  • Santa Ceia (não aceitando a eucaristia, voltando ao padrão bíblico "PÃO" E "VINHO", ambos aceitos apenas como símbolos).

Igrejas como a Luterana, a Metodista, a Presbiteriana e a Episcopal/Anglicana que administram batismo a recem-nascidos tambem adotam a confirmação quando a crianca tem mais entendimento para assumir a responsabilidade pela sua relisiosidade. Batistas, Adventistas, Pentecostais e outros optam por uma dedicacao do bebê ao Senhor e só batizam quem é maduro o suficiente para decidir por si mesmo que querem realmente abracar a fe'.

Símbolos

O Bom Pastor, mausoléu de Galla Placidia, Ravena, Itália. Início do século V d.C..

O símbolo mais reconhecido do cristianismo é sem dúvida a cruz, que pode apresentar uma grande variedade de formas de acordo com a denominação: crucifixo para os católicos, a cruz de oito braços para os ortodoxos e uma simples cruz latina para os protestantes evangélicos. Alguns grupos preferem nao adotar nenhum simbolo e consideram a cruz de origem pagã, comparando a reverencia a objetos como idolatria, condenada pelos mandamentos divinos.

Outro símbolo cristão, que remonta aos começos da religião. é o Ichthys ou peixe estilizado (a palavra Ichthys significa peixe em grego, sendo também um acrónimo de Iesus Christus Theou Yicus Soter, "Jesus Cristo filho de Deus Salvador"), hoje sempre visto no protestantismo. Outros símbolos do cristianismo primitivo, por vezes ainda utilizados, eram o Alfa e o Ómega (primeira e última letras do alfabeto grego, em referência a Cristo como princípio e fim de todas as coisas), a âncora (representando a salvação da alma que alcancou o bom porto) e o "Bom Pastor," a representação de Cristo como o dedicado pastor das ovelhas.

Calendário litúrgico e festividades

Os cristãos atribuem a determinado dias do calendário uma importância religiosa. Estes dias estão ligados à vida de Jesus Cristo ou à história dos primórdios do movimento cristão.

O calendário litúrgico cristão inclui as seguintes festas:

  • Advento: período constituído pelas quatro semanas antes do Natal, entendidas como época de preparação para a celebração do nascimento de Jesus Cristo;
  • Natal: celebração do nascimento de Jesus;
  • Epifania: para os católicos, celebra a adoração de Jesus Cristo pelos Reis Magos, enquanto que para os cristãos ortodoxos o seu baptismo. Acontece doze dias após o Natal;
  • Pentecostes: celebração do aparecimento do Espírito Santo aos cristãos. Ocorre cinquenta dias após o Domingo de Páscoa.

Alguns dias têm uma data fixa no calendário (como o Natal, celebrado a 25 de Dezembro), enquanto que outros se movem ao longo de várias datas. O período mais importante do calendário litúrgico é a Páscoa, que é uma festa móvel. Nem todas denominações cristãs concordam em relação a que datas atribuir importância. Por exemplo, o Dia de Todos-os-Santos é celebrado pela Igreja Católica e pela Igreja Anglicana a 1 de Novembro, enquanto que para a Igreja Ortodoxa a data é celebrada no primeiro Domingo depois do Pentecostes; outras denominações cristãs não celebram sequer este dia. De igual forma, alguns grupos protestantes recusam celebrar o Natal uma vez que consideram ter origens pagãs.

O cristianismo no mundo de hoje

Ficheiro:Christian distribution.png
Cristianismo por percentagem da população em cada país.
Nações com o cristianismo como religião do estado:

O cristianismo é atualmente a religião com maior número de adeptos, seguida do islão. Presente em todos os continentes, apresenta tendências de desenvolvimento diferente em cada um deles.

No início do século XX, a maioria dos cristãos estava concentrada na Europa; por volta da década de setenta do século XX, tinha diminuído consideravelmente o número de cristãos na Europa, sendo actualmente a América Latina e África os dois centros mundiais do cristianismo.

O cristianismo chegou ao continente americano com as conquistas espanholas e portuguesas do século XVI. Os primeiros missionários católicos na América, preocupados com a conversão das populações, não se importaram com as culturas locais indígenas, que foram devastadas. No século XIX a independência dos países latino-americanos em relação a Espanha e Portugal, foi acompanhada de uma redução gradual da influência da Igreja Católica. Contudo, durante o século XX o catolicismo desempenhou um papel político na América Latina, detectável em movimentos como a Teologia da Libertação. Actualmente, o catolicismo perde terreno na América Latina a favor de movimentos protestantes de carácter pentecostalista.

Na África o cristianismo tem raízes mais antigas. Antes do surgimento do islão no século VII, o norte de África estava religiosamente integrado na esfera cristã. O islão e o cristianismo tiveram dificuldades em penetrar completamente na África Negra. Foi, sobretudo no século XIX, com o estabelecimento de missões protestantes (anglicanas e metodistas) em África, que o cristianismo penetrou no continente. Na segunda metade do século XX seria a vez do catolicismo. Hoje em dia, o catolicismo é a denominação com maior número de adeptos na maioria dos países africanos, com uma população de mais de 150 milhões de pessoas. No continente africano também surgiram igrejas cristãs independentes das tradições europeias, que misturam elementos do cristianismo com elementos da cultura local, como o culto dos antepassados, a feitiçaria e a poligamia.

Ver também

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  • CAIRNS Earle E., O Cristianismo através dos séculos: Uma história da Igreja Cristã, Edições Vida Nova, São Paulo, ISBN 8527503853
  • GONZALES Justo L., Uma História ilustrada do Cristianismo, coleção em 10 volumes, Edições Vida Nova, São Paulo - ISBN 8527500395 (Volume 1)
  • LEBRUN, François (dir.), As Grandes Datas do Cristianismo. Lisboa: Editorial Notícias, 1990.

Referências

  1. O status do cristianismo como religião monoteísta é afirmado, entre outras fontes, na Catholic Encyclopedia (artigo "Monotheism"); William F. Albright, From the Stone Age to Christianity; H. Richard Niebuhr; About.com, Monotheistic Religion resources; Kirsch, God Against the Gods; Woodhead, An Introduction to Christianity; The Columbia Electronic Encyclopedia Monotheism; The New Dictionary of Cultural Literacy, monotheism; New Dictionary of Theology, Paul, pp. 496–99; Meconi. "Pagan Monotheism in Late Antiquity". p. 111f.
  2. Religion & Ethics - 566, Christianity, BBC
  3. Briggs, Charles A. The fundamental Christian faith: the origin, history and interpretation of the Apostles' and Nicene creeds. C. Scribner's sons, 1913. Online: http://books.google.com/books?id=VKMPAAAAIAAJ
  4. O termo "cristão" (em grego Χριστιανός, transl. Christianós) foi usado pela primeira vez para se referir aos discípulos de Jesus na cidade de Antioquia (Atos 11:26), por volta de 44 d.C., significando "seguidores de Cristo". O primeiro registro do uso do termo "cristianismo" (em grego Χριστιανισμός, Christianismós) foi feito por Inácio de Antioquia, por volta do ano 100. Ver Elwell/Comfort. Tyndale Bible Dictionary, pp. 266, 828
  5. Sheed, Frank. "Theology and Sanity." (Ignatius Press: San Francisco, 1993), pp. 276.
  6. McGrath, Christianity: An Introduction, pp. 4-6.
  7. Robinson, Essential Judaism: A Complete Guide to Beliefs, Customs and Rituals, p. 229.
  8. Esler. The Early Christian World. p. 157f.
  9. J.Z.Smith, p. 276.
  10. Anidjar, p. 3.
  11. Fowler, World Religions: An Introduction for Students, p. 131.
  12. McManners, Oxford Illustrated History of Christianity, pp. 301-03.
  13. Orlandis, A Short History of the Catholic Church (1993), preface.
  14. "entre 1.250 e 1.750 milhão de seguidores, dependendo dos critérios usados" (McGrath, Christianity: An Introduction, page xvl.)
  15. "1,5 mil milhões de cristãos" (Hinnells, The Routledge Companion to the Study of Religion, p. 441.)
  16. «Major Religions Ranked by Size». Adherents.com. Consultado em 5 de maio de 2009 
  17. Hinnells, The Routledge Companion to the Study of Religion, p. 441.
  18. [ver Cristianismo#Demografia para informações e referências]
  19. Jesus alguma vez disse ser Deus?
  20. Jesus Cristo é Deus?
  21. a b c d e f Roma: Ascensão E Queda De Um Império (no original em inglês: Ancient Rome: The Rise and The Faal of An Empire). Episódio 5: Constantino. Apresentado pelo The History Channel. 2009.
  22. Constantino havia ordenado o assassinato de sua família por questões políticas.

Ligações externas

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