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Evolução da bandeira do Brasil: diferenças entre revisões

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[[Ficheiro:Flag of Brazil (1889-1960).svg|thumb|{{FIAV|historical}} Primeira versão da atual bandeira nacional, inspirada na bandeira do Império.]]
[[Ficheiro:Flag of Brazil (1889-1960).svg|thumb|{{FIAV|historical}} Primeira versão da atual bandeira nacional, inspirada na bandeira do Império.]]


Uma das primeiras bandeiras republicanas foi proposta por [[José Lopes da Silva Trovão]]. Inspirada na [[bandeira dos Estados Unidos]], ela preservava as treze listras referentes às [[treze colônias]] americanas. Além disso, dispunha vinte estrelas em grupos de cinco, sobre quadrilátero preto, que homenageava a população negra do país. Não estava representado o [[Município Neutro]] nessa primeira versão. Essa bandeira foi içada na [[Câmara Municipal do Rio de Janeiro]] em 15 de novembro de 1889<ref name="RIBEIRO1933_68">[[#RIBEIRO1933|RIBEIRO, 1933]], p. 68.</ref>, hasteada por [[José do Patrocínio]]. Outra versão, criada por [[Ruy Barbosa]], com o quadrado azul em vez de preto, contando vinte e uma estrelas, foi usada no mastro do navio Alagoas, que levou a [[família imperial brasileira]] ao [[exílio]], e também foi hasteada na redação do jornal ''A Cidade do Rio''. Foi essa versão alternativa que o governo provisório republicano adotou por quatro dias.<ref>Cláudio Fragata Lopes. [http://galileu.globo.com/edic/112/rep_republica2.htm «Proclamação ou equívoco?»]. [[Galileu (revista)|''Revista Galileu'']], edição 112. Consultado em 05 de fevereiro de 2017.</ref>
Uma das primeiras bandeiras republicanas foi proposta por [[José Lopes da Silva Trovão]]. Inspirada na [[bandeira dos Estados Unidos]], ela preservava as treze listras referentes às [[treze colônias]] americanas. Além disso, dispunha vinte estrelas em grupos de cinco, sobre quadrilátero preto, que homenageava a população negra do país. Não estava representado o [[Município Neutro]] nessa primeira versão. Essa bandeira foi içada na [[Câmara Municipal do Rio de Janeiro]] em 15 de novembro de 1889<ref name="RIBEIRO1933_68">[[#RIBEIRO1933|RIBEIRO, 1933]], p. 68.</ref>, hasteada por [[José do Patrocínio]]. Outra versão, criada por [[Ruy Barbosa]], com o quadrilátero azul em vez de preto, contendo vinte e uma estrelas, foi usada no mastro do navio Alagoas, que levou a [[família imperial brasileira]] ao [[exílio]], e também foi hasteada na redação do jornal ''A Cidade do Rio''. Foi essa versão alternativa que o governo provisório republicano adotou por quatro dias.<ref>Cláudio Fragata Lopes. [http://galileu.globo.com/edic/112/rep_republica2.htm «Proclamação ou equívoco?»]. [[Galileu (revista)|''Revista Galileu'']], edição 112. Consultado em 05 de fevereiro de 2017.</ref>


Em 19 de novembro de 1889, Lopes Trovão, acompanhado de comitiva, foi à casa de [[Deodoro da Fonseca]] para oficializar o pendão por ele criado. Deodoro, monarquista por toda a vida, considerou a proposta de Trovão muito parecida com a bandeira estadunidense e sugeriu que a nova bandeira fosse igual a bandeira imperial, com a eliminação da coroa imperial que encimava o brasão de armas<ref>MAGALHÃES, Couto de. ''Diario Popular''. São Paulo, 18 de dezembro de 1889.</ref><ref>[[#RIBEIRO1933|RIBEIRO 1933]], p. 70.</ref><ref>{{citar livro|autor=SENNA, Ernesto|título=Subsídeos para a Historia}}</ref>.
Em 19 de novembro de 1889, Lopes Trovão, acompanhado de comitiva, foi à casa de [[Deodoro da Fonseca]] para oficializar o pendão por ele criado. Deodoro, monarquista por toda a vida, considerou a proposta de Trovão muito parecida com a bandeira estadunidense e sugeriu que a nova bandeira fosse igual a bandeira imperial, com a eliminação da coroa imperial que encimava o brasão de armas<ref>MAGALHÃES, Couto de. ''Diario Popular''. São Paulo, 18 de dezembro de 1889.</ref><ref>[[#RIBEIRO1933|RIBEIRO 1933]], p. 70.</ref><ref>{{citar livro|autor=SENNA, Ernesto|título=Subsídeos para a Historia}}</ref>.

Revisão das 16h53min de 6 de fevereiro de 2017

 Nota: Se procura pelas bandeiras históricas de Portugal, veja Evolução da bandeira de Portugal.
Ficheiro:Patria-bruno.jpg
"Pátria" (1919), de Pedro Bruno, idealiza a confecção da nova bandeira do Brasil, com um casal de idosos ao fundo representando a monarquia.

A Bandeira Nacional do Brasil tem um longo histórico de evolução em seu desenho. A extensão e importância estratégica daquilo que foi, inicialmente, um território ultramarinho do Império Português, logo justificariam a adoção de sinais distintivos. A manutenção do sistema monárquico, encabeçado por um regente português, favoreceria a perpetuação de símbolos já usados. Mesmo após a proclamação da República, muito se manteve do pavilhão do antigo regime.

América Portuguesa (1500–1816)

Bandeira histórica, não oficial actualmente Bandeira portuguesa da navegação para o Brasil.

Os territórios da América Portuguesa — correspondentes, aproximadamente, ao que é hoje o Brasil — nunca tiveram bandeira própria, uma vez que a tradição portuguesa era a de hastear a Bandeira do Reino, em todos os territórios da Coroa de Portugal. Assim, as unidades administrativas que constituíram a América Portuguesa (capitanias, Estado do Brasil e Estado do Maranhão) nunca tiveram bandeiras próprias.

Podem-se considerar como as primeiras representações vexilológicas brasileiras, as bandeiras marítimas privativas, usadas pelos navios mercantes portugueses, que navegavam para o Brasil.

Até 1692, era usada uma bandeira com listras verdes e brancas.[carece de fontes?] As cores verde e branca, deveriam-se referir às cores da Casa de Bragança, sendo consideradas, igualmente, as cores nacionais de Portugal até 1797.[carece de fontes?] Em 1692, esta bandeira deixou de ser usada pelos navios que navegavam para o Brasil, passando a ser a bandeira das embarcações mercantes costeiras de Portugal.

Provavelmente, em 1692, foi introduzida uma nova bandeira para as embarcações na navegação para o Brasil. Esta nova bandeira era branca com uma esfera armilar dourada. A esfera armilar era, inicialmente, o emblema pessoal do Rei D. Manuel I. Durante o seu reinado ela foi amplamente usada nas bandeiras hasteadas nos navios portugueses, acabando por se tornar um emblema nacional de Portugal e, mais especificamente, do Império Português. Na mesma época, foi introduzida uma bandeira para as embarcações portuguesas que navegavam para a Índia, muito semelhante, mas com a esfera armilar vermelha.[carece de fontes?]

Apesar da esfera armilar representar todo o Ultramar Português, ela começou a ser usada mais intensivamente no Brasil - o seu maior e mais desenvolvido território da época - não só em bandeiras marítimas, mas também em moedas e em outros suportes. Por isso, acabou por se tornar o emblema oficioso do Brasil.

A bandeira com a esfera armilar dourada é considerada, em alguns trabalhos sobre vexilologia, como sendo o pavilhão privativo do Príncipe do Brasil - título do príncipe herdeiro do trono de Portugal, a partir do reinado de D. João IV. No entanto, aparentemente, nunca foi usada como tal, sendo apenas uma das bandeiras marítimas portuguesas.[carece de fontes?]

Outra bandeira marítima portuguesa ligada ao Brasil, usada durante o século XVIII, era a chamada "Bandeira para converter a América", que incluía as Armas Reais de Portugal, a esfera armilar em ouro com o zodíaco em vermelho[1] e um frade segurando uma cruz na mão direita, tudo assente sobre um campo branco. Esta bandeira destinava-se a ser hasteada nas embarcações portuguesas envolvidas no comércio com a Região das Missões, do Sul do Brasil.[2][3]

Bandeira da Ordem de Cristo (1319-1651)

Bandeira histórica, não oficial actualmenteBandeira da Ordem de Cristo (1319-1651).

Em março de 1312, o papa Clemente V (1305-1314), pressionado por Felipe IV da França, extinguiu a Ordem Militar dos Templários, cujo patrimônio foi confiscado pelo rei gaulês.[4]

Dom Diniz (1279-1325), monarca português, solicitou ao papa a confiança dos bens patrimoniais da ordem suprimida, que existiam em Portugal, à monarquia portuguesa, sob a alegação de que era vassalo da Santa Sé e que com o rendimento do patrimônio o Reino de Portugal seria o país fundador de uma nova ordem de cavalaria para defender e ampliar a extensão territorial de Portugal.[4]

O papa seguinte João XXII (1316-1334), pela bula Ad ea exquibus cultis augeautur divinus, em 14 de março de 1319, foi o papa criador da Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Cristo, indicando como seu mestre Gil Martins, sendo o papa doador da totalidade dos bens que foram pertencentes à Ordem dos Templários e mais a vila de Castro Marim, sede da nova ordem. Dessa forma, a Ordem de Cristo, como é de conhecimento comum, sucedeu a Ordem dos Templários em Portugal.[4]

A descrição heráldica da bandeira é a essa: em campo de prata, cruz de goles (vermelho) carregada de cruz latina de prata.[4]

Pero Vaz de Caminha, na carta enviada ao rei Manuel I de Portugal relata:[5]

Ali era com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saiu de Belém, a qual esteve sempre levantada, da parte do Evangelho, quando no domingo de Pascoela pela manhã, veio ouvir missa e pregação.
 

Continua:[5]

Acabada a pregação, voltou o Capitão, com todos nós, para os batéis, com nossa bandeira alta. (...) E hoje, que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra, em nossa bandeira...
 

A bandeira da Ordem de Cristo veio com estampas nas velas das caravelas que navegaram os oceanos Atlântico e Índico, embarcações demandadas à Calecute, Mais tarde, quando o sertão brasileiro foi desbravado, os bandeirantes eram os portadores da bandeira da Ordem de Cristo, sendo alargado dessa forma o território. Era o símbolo nacional dos portugueses.[4]

É observado que os marcos que plantaram-se no Brasil eram da Ordem de Cristo, portanto contiveram de um lado o escudo das quinas de Portugal e do outro a cruz de Cristo, cujo significado são as terras de conquista que eram pertencentes ao rei de Portugal, para difundir a crença religiosa.[4]

Bandeira Real (1500-1521)

Bandeira histórica, não oficial actualmenteBandeira Real (1500-1521)

Quem criou a Bandeira Real, a segunda bandeira histórica do Brasil, foi João II de Portugal, "O Rei das Estradas" (1481-1495), que intitulava-se "Rei de Portugal e dos Algarves, de Aquém e de Além, Senhor da Guiné".[6]

Junto com a bandeira da Ordem de Cristo, as caravelas contiveram o estandarte real branco com o brasão de armas de Portugal.[6]

Sua descrição heráldica é essa: Em campo de prata (branco), a cruz de Cristo sobreposta às armas portuguesas, constituídas de cinco escudetes de blau em cruz, carregados de cinco besantes; com bordadura de goles (vermelho) carregada de sete castelos de ouro.[6]

É primeiramente que essas peças reúnem-se, sendo formado o escudo português. Os 12 castelos das bandeiras anteriores à bandeira real marítima portuguesa reduziram-se para sete.[6]

Bandeira de Dom João III (1521-1616)

Bandeira histórica, não oficial actualmenteBandeira de João III de Portugal (1521-1616).

Essa bandeira nacional portuguesa entre 1521 e 1616 utilizou-se na época do passado luso-brasileiro de colonização experiente de Martim Afonso de Souza (1530), das Capitanias Hereditárias (1534), da criação dos Governos Gerais (1549) e da partição do território brasileiro em ambos os governos (1572).[7]

Na bandeira cuja criação é de autoria de Dom João III, "O Inquisitorial" (1521-1557), suprimiu-se a cruz de Cristo da bandeira de João II, tendo como timbre do brasão de armas de Portugal uma coroa real de ouro. As proporções da bandeira eram medidas em 16 x 13 módulos (módulo é proporção arbitária).[7]

Bandeira Real do Século XVII (1600-1700)

Bandeira Real do Século XVII (1600-1700).

O Brasil usou essa bandeira nas terras que os lusos descobriram a pouco tempo até a metade do século XVII. Era composto de um fundo de prata, o brasão de Portugal com coroa real, permanecendo o escudo sob circundação de uma corrente de ouro que termina com a cruz da Ordem de Cristo em goles (vermelho).[7]

Bandeira do Domínio Espanhol (1616-1640)

Bandeira histórica, não oficial actualmenteBandeira do Domínio Espanhol (1616-1640).

Na época em que Portugal foi dominado pela Espanha (reis Filipe I, II e III de Portugal e II, III e IV da Espanha, em respectivo), mantinha-se a bandeira portuguesa com o escudo com a coroa real, ladeado de cinco ramos de sinople (verde) de cada lado. As proporção da bandeira do Domínio Espanhol era de 20 x 14 módulos.[7]

Bandeira da Restauração (1640-1656)

Bandeira histórica, não oficial actualmenteBandeira da Restauração (1640-1656).

Depois de restaurada a independência de Portugal (final do domínio espanhol e renascimento do Reino de Portugal), quando Filipe IV da Espanha deixou o trono, Dom João IV, "O Maior Senhor" (1640-1656), foi o monarca instituidor da nova bandeira tremulada no Brasil. Alterou-se a bandeira de Dom João III, que constituía-se de campo de prata (branco) com orla azul, mantendo o brasão de armas de Portugal, que agora centralizou-se, com uma cruz de ouro e sendo encimada a coroa de ouro em vermelho. A cor azul e a cruz eram as figuras representativas da veneração à Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal.[8]

Bandeira do Principado do Brasil (1645-1816)

Em 1645, Dom João IV concedeu a seu filho Teodósio o título de "Príncipe do Brasil", título que todos os herdeiros presuntivos da coroa começaram a usar. Nessa situação, o Brasil elevara-se à categoria de principado, cuja bandeira retangular recebida teve no lado esquerdo do campo de prata a esfera armilar de ouro, cujo timbre era um globo terrestre de blau (azul) com banda de prata e uma cruz cristã de goles (vermelho). Essa bandeira seria a primeira flâmula adotada exclusivamente pelo Brasil.[9]

Reino do Brasil (1815–1822)

Bandeira histórica, não oficial actualmenteReino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Bandeira histórica, não oficial actualmente Hipotética bandeira armorial do Reino do Brasil.

Na sequência da elevação do Brasil a Reino Unido ao de Portugal e Algarves, em 1815, por Carta de Lei de 13 de maio de 1816 foram criadas armas para o novo Reino, que passaram a estar incluídas nas armas do novo Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.[10]

A Carta de Lei de 1816 refere Que o Reino do Brasil tenha por Armas uma Esfera Armilar de Ouro em campo azul. A mesma carta de lei refere que o Escudo Real Português (representando Portugal e Algarve) assente sobre a dita Esfera Armilar de Ouro em campo azul (representando o Brasil), com uma Coroa sobreposta passasse a constituir as Armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

A Carta de Lei não se refere a modelos específicos de bandeiras, mas refere que os emblemas então criados passassem a ser usados em todos os estandartes, bandeiras, selos reais, cunhagens de moedas e nas demais utilizações como se tinha feito, até então, das armas antecedentes.[11]

Tem-se especulado sobre a existência de uma bandeira armorial brasileira, que reproduziria as armas atribuídas ao Reino do Brasil, usada entre 1816 e 1822. Essa bandeira teria uma esfera armilar dourada sobre um campo azul. Na verdade, é muito pouco provável que essa bandeira tenha, alguma vez, existido.[carece de fontes?] O uso limitado que era feito das bandeiras na época – basicamente apenas um uso militar e naval – indica que só tenham sido usadas as armas completas do Reino Unido. O que aconteceu foi a diminuição do uso da esfera armilar sozinha, já que os suportes onde ela era usada assim – por exemplo, nas moedas em curso no Brasil – passaram também a ostentar o escudo português assente sobre a esfera.[carece de fontes?]

Por outro lado, se, eventualmente, foi feito um uso restrito de uma bandeira exclusivamente brasileira, ela seria provavelmente de campo branco, com o azul a ocupar apenas a base da esfera armilar, como acontecia na Bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.[3]

Império do Brasil (1822–1889)

Bandeira histórica, não oficial actualmente Pavilhão pessoal dos príncipes reais, adaptado com bandeira do Reino do Brasil de setembro a dezembro de 1822.
Bandeira histórica, não oficial actualmente Bandeira do Império do Brasil durante o Primeiro Reinado (19 estrelas).
Bandeira histórica, não oficial actualmente Bandeira do Império do Brasil durante o Segundo Reinado (20 estrelas).

A bandeira imperial do Brasil foi criada, originalmente, como pavilhão pessoal do Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, a pedido de D. Pedro de Alcântara, ainda como príncipe-regente. Seu autor foi Jean-Baptiste Debret, ainda que fontes divirjam sobre um possível coautor: alguns afirmam ter sido José Bonifácio de Andrada e Silva, outros, D. Leopoldina[carece de fontes?]. O fato é que, entre setembro e dezembro de 1822, o pavilhão passou a ser utilizado para representar a nação após sua independência, ainda considerada um reino. Apenas com a sagração de D. Pedro I como imperador é que foi substituída a coroa real do brasão pela imperial.

A nova bandeira ainda preservava muitos dos elementos do antigo reino e seu brasão, como a esfera armilar e a cruz da Ordem de Cristo, era muito semelhante ao da bandeira cisplatina. Novos elementos foram introduzidos: a combinação auriverde e a ordenação de três figuras no campo, presentes até hoje na bandeira, bem como os ramos de café e tabaco, ainda utilizados como suportes do brasão nacional. Sobre os significados dos elementos, contudo, muito se especula, uma vez que nada consta no decreto que instituiu o pavilhão[12].

Outro decreto, que institui o laço nacional do Brasil e que também é datado de 18 de setembro de 1822, assim determina as cores escolhidas: "(…) será composto das cores emblemáticas – verde de primavera e amarelo d'ouro"[12][13]. Por coincidência ou não, as cores verde e amarela haviam sido as inicialmente propostas em 1821, pelo deputado Manuel Gonçalves de Miranda, às Cortes Constituintes Portuguesas, para o novo laço nacional do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Estas cores haviam sido preteridas por serem consideradas cores maçônicas, tendo as Cortes preferido as cores azul e branca. [14] Ainda, em 29 de setembro de 1823, um agente diplomático do Brasil junto à corte de Viena teria descrito a nova bandeira a Metternich, explicando ser a cor verde em referência à casa de Bragança, da qual fazia parte D. Pedro I, ao passo que a amarela simbolizaria a casa de Habsburgo, da qual fazia parte D. Leopoldina[13]. D. Pedro I teria possivelmente escolhido o verde para representar sua casa em decorrência de ser essa a cor do dragão, figura heráldica associada aos Braganças[13]. O dragão, como divisa dinástica, seria explorado em diferentes objetos durante o Primeiro Reinado. Os ramos de café e tabaco, colocados como suportes, representavam as duas culturas que passavam a destacar-se na produção nacional. As estrelas, dezenove, representavam as províncias de então, inclusive a Cisplatina. O brasão apresenta elementos já utilizados para simbolizar o Brasil desde, pelo menos, o século XVI (a cruz e a esfera armilar).

A única alteração efetuada na bandeira imperial ocorreria já no Segundo Reinado, quando, por volta de 1870, D. Pedro II resolveu acrescentar a vigésima estrela para adequar o pavilhão à organização territorial do país, ato que careceu de instrumentação jurídica formal: a perda da Cisplatina foi compensada pela criação de duas províncias: Amazonas e Paraná, resultado da divisão das províncias do Grão-Pará e de São Paulo respectivamente[carece de fontes?]. Ainda que seus significados tenham mudado, muitos dos elementos da bandeira imperial permaneceram após o advento da República.

Projeto de Dom João VI

Foi relevante a descoberta, nos anos de 1940, de projeto de bandeira atribuído a Debret por encomenda de D. João VI, em 1820, e que se encontrava no arquivo pessoal do rei, em Lisboa. O achado, efetuado pelo historiador português Augusto de Lima Júnior, suscita ainda mais questões sobre a verdadeira coautoria e as finalidades originais do pavilhão brasileiro, cujos elementos perduram até hoje.[15]

O esboço do artista francês apresenta um desenho já muito parecido com o que viria a ser o pavilhão do príncipe real: em campo verde, um losango amarelo sobre o qual pousava um brasão muito parecido com aquele que viria a ser o dos Braganças brasileiros: uma cruz da Ordem de Cristo sob uma esfera armilar, circundada por dezenove estrelas, tendo como suporte um ramo de cana de açúcar e outro de fumo e encimado por uma coroa real.

Não há certezas sobre as intenções do monarca ao pedir o estudo a Debret – se para criar o estandarte pessoal dos príncipes reais, um novo pavilhão para o Reino do Brasil ou mesmo a bandeira de uma futura nação independente – nem os motivos pelos quais o projeto ficou esquecido por, pelo menos, um ano – quando D. Pedro encomendaria a confecção de estandarte similar para o título de príncipe real. Seja como for, é uma indicação contundente de que a bandeira nacional brasileira antecede em muito a Independência.

República do Brasil (1889–atual)

Charge da proclamação da República, com José do Patrocínio em primeiro plano.
Bandeira histórica, não oficial actualmente Proposta de bandeira criada por José Lopes da Silva Trovão.
Bandeira histórica, não oficial actualmente Versão alternativa do projeto de Lopes Trovão, criada por Ruy Barbosa, adotada pelo governo provisório por quatro dias.
Bandeira histórica, não oficial actualmente Primeira versão da atual bandeira nacional, inspirada na bandeira do Império.

Uma das primeiras bandeiras republicanas foi proposta por José Lopes da Silva Trovão. Inspirada na bandeira dos Estados Unidos, ela preservava as treze listras referentes às treze colônias americanas. Além disso, dispunha vinte estrelas em grupos de cinco, sobre quadrilátero preto, que homenageava a população negra do país. Não estava representado o Município Neutro nessa primeira versão. Essa bandeira foi içada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro em 15 de novembro de 1889[16], hasteada por José do Patrocínio. Outra versão, criada por Ruy Barbosa, com o quadrilátero azul em vez de preto, contendo vinte e uma estrelas, foi usada no mastro do navio Alagoas, que levou a família imperial brasileira ao exílio, e também foi hasteada na redação do jornal A Cidade do Rio. Foi essa versão alternativa que o governo provisório republicano adotou por quatro dias.[17]

Em 19 de novembro de 1889, Lopes Trovão, acompanhado de comitiva, foi à casa de Deodoro da Fonseca para oficializar o pendão por ele criado. Deodoro, monarquista por toda a vida, considerou a proposta de Trovão muito parecida com a bandeira estadunidense e sugeriu que a nova bandeira fosse igual a bandeira imperial, com a eliminação da coroa imperial que encimava o brasão de armas[18][19][20].

A primeira proposta de bandeira republicana serviu de base para, primeiramente, a bandeira do Estado de Goiás, apesar de outras bandeiras estaduais serem semelhantes, como as dos estados de Sergipe e do Piauí.

Outra bandeira republicana vetada foi a que atualmente representa o estado de São Paulo, criada em 1888 pelo abolicionista Júlio Ribeiro. Foi hasteada no palácio do governo nos primeiros dias da República[16]. A bandeira de Ribeiro, porém, ficaria caracterizada como a bandeira do Estado de São Paulo, sendo seu uso cívico consolidado apenas com a Revolução de 1932.

Cabe ressaltar que, durante os primeiros anos da República, não houve uma total uniformização do estandarte pelo território, havendo diversos exemplares com pequenas imprecisões ou mesmo outras bandeiras completamente diferentes, criadas de maneira informal. Dentre as versões alternativas, as que mais foram usadas apresentavam uma estrela vermelha de cinco pontas – símbolo republicano – sobre o brasão imperial ou tomando todo o centro do losango amarelo.

A atual bandeira nacional mantém, embora um pouco modificado, o campo verde e o losango amarelo da bandeira imperial. Substituiu-se o brasão de armas imperial pelo círculo que, como a anterior, também representa a esfera celeste; a faixa eclíptica pela faixa azimutal e a cruz da Ordem de Cristo pelo Cruzeiro do Sul.

A ideia da atual bandeira foi desenvolvida por um grupo formado pelo positivista Raimundo Teixeira Mendes, vice-diretor do Apostolado Positivista do Brasil, por Miguel Lemos, diretor do Apostolado Positivista do Brasil, e por Manuel Pereira Reis, catedrático de astronomia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. O desenho do disco azul foi executado pelo pintor Décio Vilares e, por indicação de Benjamin Constant, acrescentou-se em meio às estrelas a constelação do Cruzeiro do Sul, com as estrelas Acrux e Gacrux equilibradas no instante 13 sideral.

Embora não houvesse mais modificações quanto às dimensões e as suas formas, a bandeira adotada pelo decreto n.° 4, de 19 de novembro de 1889, permanece intacta até hoje, à parte o acréscimo de algumas estrelas, no círculo azul, representativas dos novos Estados.

Evolução da bandeira republicana

Número de
estrelas
Desenho Unidades federativas representadas pelas novas estrelas Em vigor Duração
21 Amazonas, Pará, Mato Grosso, Goiás, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais,
Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal
01889-11-19 19 de novembro de 1889

01960-04-16 16 de abril de 1960[21]
70 anos
22 Guanabara[1] 01960-04-16 16 de abril de 1960

01968-05-28 28 de maio de 1968[22]
8 anos
23 Acre 01968-05-28 28 de maio de 1968

01992-05-11 11 de maio de 1992
23 anos
27 Amapá, Roraima, Rondônia e Tocantins 01992-05-11 11 de maio de 1992

atual
33 anos
(presente)

A estrela que representava a Guanabara — α Hydrae — passou a simbolizar o Mato Grosso do Sul a partir de 1992.

Projetos republicanos rejeitados

Inúmeros projetos foram criados para o estandarte nacional, estando aqui listados os mais conhecidos. Nota-se que predominou, entre as primeiras alternativas à bandeira imperial, a combinação tricolor rubro-alvinegra, inspirada na tese histórica de Carl Friedrich Philipp von Martius de que os povos fundadores do Brasil seriam os das etnias indígena, europeia e africana.[23]


Notas

Referências

  1. OLIVEIRA, 1908, p. 97.
  2. «Pavilhões Navais Portugueses, Associação Nacional de Cruzeiros» 
  3. a b «SOBRAL, J., Armas e Bandeiras do Reino do Brasil, Audaces, 2009» 
  4. a b c d e f STRAUBE 2002, p. 48-49.
  5. a b «Carta de Pero Vaz de Caminha». Historiadobrasil.net. Consultado em 7 de setembro de 2015 
  6. a b c d STRAUBE 2002, p. 49.
  7. a b c d STRAUBE 2002, p. 51.
  8. STRAUBE 2002, p. 52-53.
  9. STRAUBE 2002, p. 53.
  10. RIBEIRO, 1933, p. 43.
  11. «Carta de Lei de 13 de Maio de 1816 em Código Brasiliense na Jonh Carter Brown Library» 
  12. a b «Decreto de 18 de setembro de 1822». 18 de setembro de 1822. Consultado em 12 de agosto de 2013 
  13. a b c Luz, Milton (2005). A História dos Símbolos Nacionais. Brasília: Ed. do Senado Federal. p. 21 
  14. Collecção dos Decretos, Resoluções e Ordens das Côrtes Gerais, Extraordinarias e Constituintes da Nação Portugueza, pág 182
  15. POLIANO, 1986, p. 226.
  16. a b RIBEIRO, 1933, p. 68.
  17. Cláudio Fragata Lopes. «Proclamação ou equívoco?». Revista Galileu, edição 112. Consultado em 05 de fevereiro de 2017.
  18. MAGALHÃES, Couto de. Diario Popular. São Paulo, 18 de dezembro de 1889.
  19. RIBEIRO 1933, p. 70.
  20. SENNA, Ernesto. Subsídeos para a Historia. [S.l.: s.n.] 
  21. BRASIL. Decreto nº 48124, de 16 de abril de 1960. Publicado no Diário Oficial da União de 16 de abril 1960.
  22. BRASIL. Lei nº 5443, de 28 de maio de 1968. Publicado no Diário Oficial da União de 30 de maio de 1968.
  23. MARTIUS, p. 381.

Bibliografia

  • COIMBRA, Raimundo Olavo (2000). A bandeira do Brasil: raízes histórico-culturais 3 ed. Rio de Janeiro: IBGE 
  • CORREIA FILHO, Virgílio. Ata da Terceira Sessão Ordinária em 20 de junho de 1938 (Sessão 1646). Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. vol. 173. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1940. p. 737-746.
  • GÓIS, Eurico de (1908). Os symbolos nacionaes. São Paulo: Escolas Profissionaes Salesianas. 278 páginas 
  • LUZ, Milton (2005). A História dos Símbolos Nacionais (PDF). Brasília: Senado Federal. 210 páginas 
  • MARTIUS, Carl Friedrich Philipp von (1991). Como se deve escrever a história do Brasil. Rio de Janeiro: [s.n.] 
  • OLIVEIRA, José Feliciano de (1908). A bandeira nacional. São Paulo: Typ. Augusto Biqueira & Comp. 103 páginas 
  • POLIANO, Luís Marques (1986). Heráldica. Rio de Janeiro: GRD 
  • PRADO, Eduardo (1903). A bandeira nacional. São Paulo: Escola Typographica Salesiana. 89 páginas 
  • RIBEIRO, Clóvis (1933). Brazões e Bandeiras do Brasil. São Paulo: São Paulo Editora 
  • SEYSSEL, Ricardo. Um estudo histórico perceptual: a bandeira brasileira sem Brasil. 206. 186 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2006.
  • STRAUBE, Ernani Costa (2002). Símbolos: Brasil, Paraná e Curitiba. Curitiba: Instituto Histórico e Geográfico do Paraná 

Ver também

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O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Evolução da bandeira do Brasil
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A Wikisource contém fontes primárias relacionadas com Decreto de setembro de 1822
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A Wikisource contém fontes primárias relacionadas com Decreto de dezembro de 1822
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A Wikisource contém fontes primárias relacionadas com Decreto 4 de 1889

Ligações externas

Legislação
Outros

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