Cubango (província)
Cubango
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|---|---|
Localização do Cuando-Cubango em Angola | |
| Dados gerais | |
| Fundada em | 21 de outubro de 1961 (64 anos) |
| Gentílico | cubanguense[1] |
| Província | Cubango |
| Município(s) | Caiundo, Calai, Chinguanja, Cuangar, Cuchi, Cutato, Longa, Mavengue, Menongue, Nancova e Savate |
| Características geográficas | |
| Área | 199.049 km² |
| População | 601.454[2] hab. (2018) |
| Dados adicionais | |
| Prefixo telefónico | 049 |
| Projecto Angola • Portal de Angola | |
Cubango é uma das 21 províncias de Angola, localizada na região leste do país. Tem como capital a cidade e município de Menongue.[3] Até 2024 conservou o nome de "Cuando-Cubango", quando parte de seu território foi cedido para formar a província de Cuando.[4]
Segundo as projeções populacionais de 2018, elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística, conta com uma população de 601.454 habitantes e com uma dimensão de 199 049 km², sendo a província mais populosa de Angola depois de Luanda.[2]
É constituída pelos municípios de Caiundo, Calai, Chinguanja, Cuangar, Cuchi, Cutato, Longa, Mavengue, Menongue, Nancova e Savate.
História
[editar | editar código]Antes do domínio colonial Português a região ficou sob zona de influência de diversas entidades nacionais africanas, com destaque para o Império Monomotapa, que dominou o comércio e as aldeias locais até meados do século XVI, e; o Império Lunda, até o último quarto do século XVII. Com a fragmentação dos lundas e a formação do Estado Lunda-Chócue, os povos ganguelas, principalmente na figura do País dos Ganguelas, entraram em acordo de confederação com os chócues, tratado que perdurou até o início do século XIX.
Formação política dos ganguelas e guerras contra Portugal
[editar | editar código]No século XIX, o País dos Ganguelas passou a tomar mais autonomia para si, principalmente após a subida ao trono ganguela de Muene Vunongue. Durante o reinado deste houve grande prosperidade econômica.[5]
A conferência de Berlim, entretanto, sacramentou a divisão dos territórios ao longo das bacias do Cuito Cuanavale, Cunene e Cubango entre os alemães, portugueses e britânicos, cabendo aos colonizadores a ocupação definitiva das áreas.[5]
Esta política colocou o País dos Ganguelas em rota de colisão com as potências europeias, levando a vários combates contra os invasores portugueses, alemães e britânicos durante o século XIX.[5]
Embora sem material bélico suficiente, os conflitos e revoltas lideradas pelo rei Muene Vunongue causaram importantes baixas aos inimigos. Em outro aspecto, o País dos Ganguelas construiu aliança militar com os reinos Cuvango e Cuanhama.[5]
Em 1886 o rei Muene Vunongue foi ferido mortalmente em batalha contra as tropas portuguesas. O rei conseguiu fugir até Menongue, a capital, mas morreu dias depois devido infecção.[5]
A fortificação colonial e as incursões alemãs
[editar | editar código]Portugal agiu rápido após a morte de Muene Vunongue e enviou uma missão de exploração chefiada pelo major Alexandre Serpa Pinto, que acabou construindo o Forte Muene Vunongue, marcando o fim da autonomia dos ganguelas.[5][6]
Em 31 de outubro de 1914, durante a Campanha de Cubango-Cunene, na Campanha do Sudoeste da África, as tropas alemãs invadiram o Forte de Cuangar, no território da província, e massacraram as tropas portuguesas ali estacionadas. A batalha ficou conhecida como o Massacre do Cuangar. Em 1915 os portugueses expulsariam os alemães do Cunene e do Cuando-Cubango.
Formação administrativa
[editar | editar código]Em 1920 Portugal resolve criar o distrito do Cubango, tornando, somente em 1921, a povoação de Serpa Pinto em vila, fato que permitiria que a mesma tomasse o estatuto de capital distrital. Em 1934 o distrito sofre revés administrativo, sendo extinto.[7]
Em 21 de outubro de 1961, pelo diploma legislativo ministerial nº 51, recria-se o distrito do Cuando-Cubango, estabelecendo Serpa Pinto como sua capital, que, nesta mesma data, foi elevada à categoria da cidade.[7]
Período das guerras
[editar | editar código]No final da década de 1960 o MPLA é o primeiro movimento a remover a presença portuguesa da região, com a formação da "Frente Leste". A vitoriosa III Região Militar consegue pressionar tanto Portugal, quanto a UNITA até 1973, quando o movimento perde o controle da região.
A partir de 1973, alguns municípios como Mavinga, Dirico, Cuchi e Cuito Cuanavale, serviram como bases de apoio à guerrilha da UNITA, sendo por isso esta província designada pelos apoiantes daquele movimento, como "terras livres de Angola". Durante este período, Cuando-Cubango serviu como a primeira base da UNITA, liderada por Jonas Savimbi. O movimento rebelde recebia apoio dos EUA e da África do Sul como parte da Guerra Fria contra o MPLA, que recebia apoio, principalmente, da União Soviética e de Cuba.
A província do Cuando-Cubango principalmente os municípios de Mavinga e Cuito Cuanavale, foram os principais palcos de grandes combates durante a guerra civil, de 1975 a 1991. Neste último município ocorreu a histórica batalha de Cuito Cuanavale, ponto chave da virada da guerra em favor do MPLA.[8]
A UNITA manteve sua base clandestina nas redondezas da vila de Jamba do Cuando, que era protegido por armas anti-aéreas. A UNITA só abandonou completamente estes territórios no final de 2001, quando da ofensiva das Forças Armadas Angolanas.[8]
Pós-guerras a atualidade
[editar | editar código]Até 2024 conservou o nome de "Cuando-Cubango", quando parte de seu território foi cedido para formar a província de Cuando.[4]
Geografia
[editar | editar código]A província tem um tamanho comparável ao de países como Quirguistão ou Senegal. É limitada a norte pelas províncias do Bié e Moxico, a leste pela província de Moxico Leste, a sul pela República da Namíbia e a oeste pelas províncias do Cunene e Huíla.
Clima
[editar | editar código]Segundo a classificação climática de Köppen-Geiger, predomina no Cuando-Cubango o clima subtropical úmido (Cwa), enquanto o clima semiárido quente (BSh) é característico do extremo sul provincial.[9]
Demografia
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A população desta província é a menos estudada das populações de Angola. A sua composição étnica básica foi estabelecida, embora de maneira algo preliminar, no fim da era colonial.[10] Compõe-se majoritariamente dos grupos ganguelas, chócues e xindongas, e minoritariamente de ovambos e coissãs.[11] Nos grandes centros urbanos provinciais há frações de migrantes de hereros, nhaneca-humbes, ambundos e ovimbundos, e de origens miscigenadas, como luso-angolanos.[12]
As suas características da província incluem as de ter um peso demográfico muito fraco e de consistir de grupos relativamente pequenos e dispersos, com uma notável mobilidade geográfica (que inclui a Namíbia, o Botsuana e a Zâmbia), e a frequente junção ou divisão destes grupos. Estas características mantiveram-se desde antes da ocupação colonial e continuam depois do acesso de Angola à independência.[13]
Ecologia, flora e fauna
[editar | editar código]Domina a maior parte da paisagem da província, isto é, o centro, o norte e o oeste cubanguense, a ecorregião das "florestas de miombo angolanas",[14] com flora de savana de folha larga decídua úmida e floresta com domínio de miombo, além de pastagens abertas.[15] No extremo-leste e extremo-sudeste da província, ao longo das planícies alagadiças e vales dos rios Cuando e Cubango, predominam as "pastagens inundadas da Zambézia", com flora típica de pradarias, savanas e bosques de miombo e mopane sazonalmente inundados, além de manchas de pântano com vegetação de pastagem.[16] Na faixa sul predominam as "florestas Zambezianas de Baikiaea", com matagais e pastagens numa floresta decídua seca dominada pela árvore Baikiaea plurijuga.[17]
Sua imensa rede hidrográfica atrái uma enorme diversidade de fauna, podendo aí encontrar-se a palanca-negra-gigante, a palanca-vermelha, o elefante-da-savana, o rinoceronte-negro, o hipopótamo-comum, o leão-angolano, a hiena-malhada, o lobo-da-terra (ou protelo), a onça-africana, o búfalo-africano, o gato-bravo-de-patas-negras, a avestruz-de-pescoço-preto (ou avestruz do cabo), a girafa-do-cabo, a girafa-de-angola[18] e outras aves e répteis variados. O destaque fica para a ave endémica francolim-de-listras-cinzentas (Francolinus griseostriatus).[19]
Patrimônio natural
[editar | editar código]A província de Cubango têm partes do seu território preservado por parques nacionais e reservas ambientais, principalmente localizadas no leste. Destaca-se o Parque Nacional do Luengue, que é uma das componentes da Área de Conservação Transfronteiriça Cubango-Zambeze.[20]
Hidrografia
[editar | editar código]Os principais cursos d'água da província correm num sentido noroeste a sudeste baseando-se em duas principais bacias: a do Calaári, que têm como principal rio o Cubango, com afluentes importantes nos rios Cuchi, Cuebe, Cueio, Cuatir, Chissombo, Dungo, Cafuma, Caquene, Cafulo e Cuito; e a pequena fração da bacia do Cuvelai-Etosha, no sudoeste cubanguense, baseado principalmente no rio Cubati-Lupangue. Outros importantes reservatórios de água são os lagos Uamba Fuca, Lupango, Chivalela, Muonga, Machive, Lituto, Chieque, Muchova, Bezi-Bezi, Dinde, Caonda e Vinjunda, além de uma miríade de menores lagos e lagoas das planícies da bacia do Zambeze, ao leste.[21]
Relevo
[editar | editar código]A província sofre influência do Planalto Central de Angola (ou Planalto do Bié) na sua formação fisiológica. Embora o território não esteja efetivamente neste planalto, está nas extensões deste, ou seja, nos altiplanos das Areias Húmidas e das Areias Secas e nas Escarpas do Bié.[22] Conforme segue para o sul, o terreno vai ficando mais plano formando a Planície Arenosa do Cuíto-Cubango[23] (ou Planície das Terras do Fim do Mundo), terreno suscetível a alagamentos nas cheias dos rios.[24]
Economia
[editar | editar código]Agropecuária e extrativismo
[editar | editar código]A província cubanguense produz para subsistência e para excedente, em lavoura temporária, o milho, o massango, a massambala, o feijão, a mandioca, amendoim, a batata doce, a cana-de-açúcar, a soja, o tabaco, o trigo, o vielo e as hortícolas.[25] Já nas lavouras permanentes, encontra-se registo do café.[25]
A pesca artesanal é outro meio de sustento para os habitantes da província, sendo realizada largamente no rio Cubango, e nos rios Cuito, Cuanavale, Longa, Cuatir e Cuando.[25] O excedente da pesca é vendido majoritariamente para a Namíbia. No extrativismo vegetal, a província é a grande produtora e exportadora nacional de recursos madeireiros.[25]
Na criação de animais, para carne, leite e peles, existem consideráveis rebanhos de pecuária de bovinos e de caprinos. Há também criação de galináceos para carne e ovos. Os rebanhos são destaque no município de Longa.[25]
Indústria e mineração
[editar | editar código]O grande parque industrial provincial está concentrado nas áreas próximas da cidade de Menongue, trabalhando com o beneficiamento agroindustrial de carnes e derivados de leites, além do semi-beneficiamento de frutas, ovos, óleos e produtos da terra.[25] Outros itens produzidos são bebidas e alimentos secos, além de materiais de construção.[25]
A extração mineral industrial encontra relevo no ouro,[25] no cobre[25] e no minério de ferro (particularmente no Cutato[26]).[27] Neste último mineral extraído, há o beneficiamento siderúrgico para produção de ferro-gusa[26] em Cuchi.[27]
Comércio e serviços
[editar | editar código]No comércio, Cubango têm como principal referência a cidade de Menongue, dado que é o mais populoso município provincial, servindo como um dos mais importantes centros atacadistas do sudeste de Angola. Outros centros de destacado relevo são Calai e Cuangar, dado que servem como postos fronteiriços com a Namíbia.[25]
Nos serviços, Menongue concentra atividades financeiras, educacionais, de saúde, administrativas e de entretenimento, enquanto que os outros centros de serviços, as cidades de Calai, Cuangar e Nancova, tem especialização para o subsetor turístico, voltado para os importantes patrimônios naturais cubanguenses.[25][26] Inclusive, no setor ecoturístico, destacam-se os cânions e as corredeiras do rio Cuchi, respectivamente em Cuchi e Chinguanja, atrativos naturais formados pela erosão das rochas e pelas atividades geotectônicas.[28]
Outros serviços muito relevantes estão relacionados às atividades de logística, nomeadamente ferroviária.[25]
Referências
- ↑ Francisco Chitali Cassinda Vicente (Maio de 2015). Topónimos dos Municípios e Comunas do Cuando Cubango: Proposta de Harmonização de Grafia (PDF). Lisboa: Universidade Nova de Lisboa
- ↑ a b Aurelio Schmitt (3 de fevereiro de 2018). «Município de Angola: Censo 2014 e Estimativa de 2018». Revista Conexão Emancipacionista
- ↑ «Censo Nacional de Angola» (PDF). 22 de março de 2016. Arquivado do original (PDF) em 6 de maio de 2016
- ↑ a b «Lei n.° 14/24 de 5 de Setembro» (PDF). Imprensa Nacional de Angola. Diário da República (171): 9800–10505. 5 de setembro de 2024. Consultado em 29 de dezembro de 2024
- ↑ a b c d e f «Mwene Vunongue». Fortalezas.org. 25 de setembro de 2017
- ↑ Cuando-Cubango: Terra de História e de Futuro. Luanda Nightlife. 15 de fevereiro de 2017.
- ↑ a b Cuando Cubango: Criadas condições para as festas da cidade de Menongue. Portal Angop. 17 de outubro de 2016.
- ↑ a b Leal, Marcelo Mesquita. A campanha Militar de Cuito Cuanavale (1987-1988): uma análise baseada na Teoria da Guerra de Clausewitz. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011.
- ↑ Clima: Cuando-Cubango. Climage-data.org. 2022.
- ↑ José Redinha, Etnias e culturas de Angola, Luanda: Instituto de Investigação Científica de Angola, 1975.
- ↑ Angola ethnic groups. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
- ↑ Jover, Estefanía.; Pintos, Anthony Lopes.; Marchand, Alexandra. (setembro de 2012). Angola: Private Sector Country Profile. (PDF). Reino Unido: Printech Europe/Banco Africano de Desenvolvimento
- ↑ Maria Fisch, The Mbukushu in Angola (1730-2002): A history of migration, flight and royal rainmaking, Colónia: Rüdiger Köppe, 2005, ISBN 3-89645-350-5.
- ↑ Angola Vegetation. Perry-Castañeda Library Map Collection. University of Texas, 1973.
- ↑ World Wildlife Fund, ed. (2001). «Angolan Miombo woodlands». WildWorld Ecoregion Profile. [S.l.]: National Geographic Society. Cópia arquivada em 8 de março de 2010
- ↑ Zambezian flooded savannas. Terrestrial Ecoregions. World Wildlife Fund.
- ↑ Chevalier, M & Cheddadi, Rachid & Chase, Brian. (2014). Chevalier et al 2014 CoP 10 CREST.
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- ↑ a b c d e f g h i j k l Cuando-Cubango. Portal São Francisco. 2018.
- ↑ a b c Palma-Ferreira, João. Angola reativa gigante do ferro e procura investidores portugueses. O Jornal Económico. 16 de agosto de 2021.
- ↑ a b Quem somos. CSC. 2021.
- ↑ «O rio Cuchi ao pôr do sol». AIB. 2015
Ligações externas
[editar | editar código]- Embassy of Angola UK (em inglês)