Carlos Nicolau Danielli

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Carlos Nicolau Danielli
Carlos Nicolau Danielli
Carlos Nicolau Danielli
Nascimento 14 de setembro de 1929
Niterói, Brasil
Morte 30 de dezembro de 1972 (44 anos)
São Paulo, Brasil
Nacionalidade Brasil brasileiro
Ocupação guerrilheiro

Carlos Nicolau Danielli (Niterói, 14 de setembro de 1928São Paulo, 30 de dezembro de 1972) foi um militante comunista brasileiro, um dos dirigentes do Partido Comunista do Brasil durante o período da ditadura civil-militar brasileira. Também teve atuação importante auxiliando com preparativos da Guerrilha do Araguaia, movimento guerrilheiro que ocorreu entre o fim da década de 1960 e começo da década de 1970, região amazônica, ao longo do rio Araguaia.[1]

É um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, colegiado instituído pelo governo brasileiro responsável por apurar mortes e desaparecimentos no país entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 e com foco na ditadura militar brasileira (1964-1985).

Biografia[editar | editar código-fonte]

Danielli nasceu na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, em 14 de setembro de 1929. Filho de Pascoal Egídio Danielli, filho de um imigrante italiano de tendências anarquistas,[2] e Virgínia Sílvia Chaves, começou a trabalhar ainda jovem, aos quinze anos, em estaleiros de construção naval da cidade de São Gonçalo. Nesse período, teve contato com o movimento operário, filiando-se à Juventude Comunista em 1946. Dois anos depois, em 1948, Danielli passou a fazer parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB), sendo eleito para o Comitê Central do PCB em 1954.

Em 1962, Danielli viajou para Cuba durante a crise dos mísseis. No mesmo ano, participou da criação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), juntamente a outros dissidentes do PCB. No novo PCdoB, assumiu a edição do jornal do partido, A Classe Operária. Danielli teve participação significativa no envio de recursos e militantes para a Guerrilha do Araguaia,[1] atuando como elo entre a direção do PCdoB e a guerrilha.

Morte[editar | editar código-fonte]

Carlos Nicolau Danielli morreu em 30 de dezembro de 1972. Originalmente, a versão da morte divulgada pelo Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo dava como causa o envolvimento em um tiroteio com policiais. O relato oficial divulgado à época afiramava que Danielli tentara escapar dos captores quando era levado ao encontro de um companheiro. O laudo de necrópsia, assinado pelos médicos legistas Isaac Abramovitch e Paulo Augusto Queiroz Rocha, confirmava a versão divulgada pelos órgãos de segurança. No entanto, em posteriores, mais precisamente, 40 anos depois[3], os depoimentos prestados por Maria Amélia e César Teles, revelou-se que Danielli, na verdade, fora assassinado dentro das dependências do DOI-CODI, no II Exército de São Paulo.

Nicolau Danielli foi submetido a sessões de tortura por três dias seguidos, da prisão, no dia 28 de dezembro, até o dia 30 de dezembro de 1972, quando morreu, não resistindo aos ferimentos decorrentes das torturas praticadas. Foi enterrado como indigente pelos agentes do DOI-CODI no Cemitério D. Bosco, em Perus, na cidade de São Paulo. Posteriormente, em 11 de abril de 1980, devido à promulgação da Lei da Anistia, os restos de Carlos Nicolau Danielli foram sepultados em Niterói, sua cidade natal.[1][4]

Prisão e tortura[editar | editar código-fonte]

No dia 28 de dezembro de 1972, Danielli foi preso por agentes do DOI-CODI na cidade de São Paulo, na rua Loefgreen, localizada no bairro da Vila Mariana,[4] juntamente com Maria Amélia de Almeida Teles e César Augusto Teles, também militantes do PCdoB.[1][5] O grupo iria se encontrar com a guerrilheira Criméia Alice Almeida, enviada por Maurício Grabois para restabelecer contato entre o comando da guerrilha e a direção do partido.[6]

Levado para as dependências do DOI-CODI no II Exército de São Paulo, Danielli foi submetido a sessões de tortura, sob ordem do Delegado de Polícia Aparecido Laerte Calandra (também conhecido como "Capitão Ubirajara"), do capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirillo, e do chefe do DOI-CODI do II Exército, major (à época) Ustra.[1][4] Três equipes diferentes, designadas por B, A, e C, foram responsáveis pelas sessões de tortura a Danielli, iniciadas no dia 28 e terminando no dia 30 de dezembro de 1972, resultando na morte do militante. Apesar de ter sido submetido à tortura, relatos dão conta de que Danielli não revelou informações que os militares buscavam descobrir.[1][4][5]

Diante das investigações realizadas pela Comissão Nacional da Verdade, conclui-se que Carlos Nicolau Danielli foi torturado e morto por agentes do Estado brasileiro, sendo forjada sua morte por tiroteio.

Sua morte revela sistemáticas violações de direitos humanos promovido pela Ditadura Militar, implantada no país em 1964.[7]

Carlos Alberto Brilhante Ustra[editar | editar código-fonte]

Em síntese, por ser comandante do Destacamento de Operações de Informações do II Exército (DOI),Ustra era quem dava todas as ordens aos demais militares, e com eles realizava reuniões diárias, para que lhe fossem repassadas as informações que haviam extraído dos presos políticos, por meio da prática de tortura. Sua tarefa era extrair o maior número de informações dos presos políticos que eram contrários ao regime militar, e que lá eram simultaneamente interrogados e torturados, muitos deles, até a morte. O que, com a Comissão da Verdade o fez ser responsável por 10 desaparecimentos e mais de 30 mortes.[8] Em alguns casos, Ustra fazia questão de torturar os presos, sendo que foi o torturador de personalidades como Dilma Roussef. Em 2008, por decisão em primeira instância do juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo, o coronel Ustra tornou-se o primeiro oficial condenado em ação declaratória por sequestro e tortura, mais de trinta anos depois de fatos ocorridos durante a ditadura militar.

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Carlos Nicolau Danielli, foi homenageado com uma placa no cemitério de Dom Bosco juntamente com outros 53 guerrilheiros da época da Ditadura Militar, como Dimas Antônio Casemiro e Gastone Lúcia Carvalho Beltrão.

Além disso, seu nome foi dado à duas ruas, uma em Santa Bárbara, Niterói, no Rio de Janeiro[9], e outra no Residencial Aruanã, em Campinas, São Paulo[10].

Referências

  1. a b c d e f http://www.comissaodaverdade.org.br/caso_integra.php?id=46
  2. Bertolino, Osvaldo (2002). Testamento de Luta: A Vida de Carlos Danielli. Universidade do Texas: Instituto Maurício Grabois. 183 páginas. ISBN 9788572770378 
  3. «Carlos Nicolau Danielli». Memórias da ditadura. Consultado em 15 de outubro de 2019 
  4. a b c d http://www.dhnet.org.br/dados/dossiers/dh/br/dossie64/br/dossmdp.pdf
  5. a b http://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=334668
  6. Carlos Nicolau Danielli, acesso em 01 de abril de 2017.
  7. «Carlos Nicolau Danielli». Memórias da ditadura. Consultado em 7 de outubro de 2019 
  8. [file:///C:/Users/aniel/Downloads/DENUNCIA%20Helcio%20Pereira%20Fortes_1_1.pdf «Procedimento Investigatório Criminal Nº1.34.001.007797/2011-93 DENÚNCIA nº /2014»] Verifique valor |url= (ajuda) (PDF). 2014. Consultado em 16 de outubro de 2019  line feed character character in |titulo= at position 37 (ajuda)
  9. «Rua Carlos Nicolau Danielle, Santa Bárbara - Niterói RJ - CEP 24141-460». www.consultarcep.com.br. Consultado em 18 de outubro de 2019 
  10. «Rua Carlos Nicolau Danielli, Residencial Aruanã - Campinas SP - CEP 13054-454». www.consultarcep.com.br. Consultado em 18 de outubro de 2019 


Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Carlos Nicolau Danielli, Mortos e Desaparecidos Políticos

Ver também[editar | editar código-fonte]

Anexo:Lista de mortos e desaparecidos políticos na ditadura militar brasileira