Soledad Viedma
Soledad Viedma | |
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Nome completo | Soledad Barret Viedma |
Nascimento | 6 de janeiro de 1945 Laureles, Ñeembucú, Paraguai |
Morte | 8 de janeiro de 1973 (28 anos) Paulista, Pernambuco, Brasil |
Nacionalidade | ![]() |
Ocupação | guerrilheira e militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) |
Soledad Barret Viedma (Laureles, 6 de janeiro de 1945 — Paulista, 7 de janeiro de 1973[1]) foi uma guerrilheira e militante comunista paraguaia, de ascendência espanhola e judaica, integrante da organização de extrema-esquerda Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)[2] que fazia a luta armada contra a ditadura militar brasileira. Foi assassinada pelas forças de segurança do regime em 1973, aos 28 anos e grávida de quatro meses, com mais quatro companheiros, no episódio conhecido como Massacre da Chácara São Bento, em Pernambuco.
Biografia[editar | editar código-fonte]
Soledad Barret Viedma nasceu em 1945, no Paraguai, filha de Alejandro Rafael Barrett López, filho único do escritor anarquista espanhol Rafael Barrett. O avô de Soledad chegou ao Paraguai em 1904 e ficou conhecido por denunciar as injustiças sociais que presenciava, em especial o regime de escravidão dos trabalhadores mais pobres.[3][4]
Sua irmã, Nanny Barrett, disse que seu avô e seu pai foram perseguidos por suas ideias políticas e denúncias. Quando Soledad tinha apenas 3 meses, sua família precisou se exilar na Argentina, onde moraram por cinco anos e depois retornaram ao Paraguai. Sua adolescência foi inquieta, período no qual começou a militar em vários grupos políticos juvenis vinculados à Frente Juvenil-Estudiantil de Asunción.[3][5]
Por conta da militância da família, eles precisaram novamente se mudar devido à repressão da ditadura, desta vez para Montevidéu, no Uruguai. Lá Soledad se destacou no canto e na dança, tornando-se um símbolo da juventude paraguaia, sempre comparecendo em atos de solidariedade a seu país. Mas em 6 de julho de 1962, quando tinha 17 anos, ela foi sequestrada por um comando neonazista uruguaio, Los Salvajes,[6] que marcou em suas coxas a suástica nazista por ela se negar a repetir a frase "Viva Hitler, Abaixo Fidel!".[4][5] Estes grupos associavam o antissemitismo com antissocialismo e Soledad tinha ancestralidade judaica por parte de mãe.[7]
Por volta dessa época, Soledad viaja para Moscou, para estudar na escola do Komsomol por um ano. Estabelece-se na Argentina, militando pelo Partido Comunista Paraguaio. Em 1967, decide viajar a Cuba, onde recebe treinamento militar com a guerrilha, onde conheceu o brasileiro José Maria Ferreira de Araújo. Iniciaram um namoro e foram morar juntos após poucos meses juntos. Eles tiveram uma filha, chamada Ñasaindy Barret de Araújo, nascida em 1968, em Havana. A menina passou a ser criada pelos avós maternos no Paraguai, devido aos riscos que a mãe corria em sua vida de guerrilheira. A criança chegou ao Brasil aos onze anos de idade, onde foi criada pela família paterna.[3]
Em julho de 1970, José Maria precisou se separar de Soledad, pois foi convidado para voltar ao Brasil para ir se juntar à luta armada. Soledade tentou ir junto, mas devido a alta periculosidade, ele pediu que ela ficasse e cuidasse da filha dos dois no Paraguai. Assim que chegou ao Brasil, José foi capturado e assassinado por militares inimigos. Soledad mandava cartas, mas não obtinha notícias. Ela só soube de sua morte apenas no ano seguinte, quando veio ao país para tentar encontrá-lo, sofrendo muito por seu falecimento. Assim, Soledad passou a estudar a política brasileira, e decidiu ficar no país, e se filiou a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), um movimento brasileiro para se opôr à ditadura militar. A VPR, então, a enviou para atuar em Recife, com outros combatentes, onde ela conheceu José Anselmo dos Santos, "o cabo Anselmo",[8] que usava o nomecodinome de Daniel, que militou junto de José Maria. Cabo Anselmo foi dirigente da Associação de Marinheiros quando o golpe de estado contra João Goulart aconteceu e ficou conhecido como herói pelos companheiros. No entanto, na ditadura instaurada no Brasil em 1964, ele passou a atuar como agente duplo para poder delatar seus companheiros. Por sua função de agente duplo, ele se envolveu profissionalmente com Soledad, muito respeitada pela VPR, e juntos se estabeleceram em Olinda, Pernambuco, em 1972. Em pouco tempo de amizade, começaram um relacionamento amoroso.[3][4]
Traição e morte[editar | editar código-fonte]
Soledad, grávida de 4 meses na época, foi traída por seu noivo Anselmo em 8 de janeiro de 1973, quando ele, por dinheiro, a entregou aos militares, junto de outros membros da VPR: Pauline Reichstul, Eudaldo Gómez da Silva, Jarbas Pereira Márquez, José Manoel da Silva e Evaldo Luiz Ferreira[3] em uma emboscada.[9] Segundo a polícia, eles foram mortos em confronto na chácara São Bento, evento que passou a ser chamado de “Chacina da Chácara de São Bento”.[10] Porém os delatados por Anselmo foram separados e encarcerados em diferentes cidades de Pernambuco, e em seguida, assassinados.[11][12] Foi nesta chácara, na cidade de Abreu e Lima, nos arredores de Recife, que seus corpos foram encontrados.
Soledad foi espancada, estuprada e morta com quatro tiros na cabeça. Seu corpo foi encontrado dentro de um barril em meio a uma poça de sangue, com o feto de deu filho, um menino, aos seus pés. Seu corpo nunca foi entregue para sua família, e ninguém sabe onde ele está sepultado.[3][13]
Referências
- ↑ MOTA, Urariano (2009). Soledad no Recife. São Paulo: Boitempo. p. 120. ISBN 978-85-7559-138-3
- ↑ Corral, Francisco (n.d.). «Recordando a Soledad Barrett - La nieta del escritor Rafael Barrett fue asesinada en 1973». Bitacora (em espanhol). Consultado em 4 de janeiro de 2014
- ↑ a b c d e f «Hace 43 años asesinaron en Brasil a la paraguaya Soledad Barrett». Última hora. Consultado em 1 de julho de 2017
- ↑ a b c Carta Maior (ed.). «Soledad, a mulher do Cabo Anselmo». Direitos Humanos. Consultado em 1 de julho de 2017
- ↑ a b Memórias da Ditadura (ed.). «Soledad Barret Viedma». Memórias da Ditadura. Consultado em 1 de julho de 2017
- ↑ «Brasil pide perdón por un crimen». ABC Color. Consultado em 15 de julho de 2017
- ↑ Broquetas, Magdalena. «A propósito de las repercusiones del "caso Eichmann". Antisemitismo y anticomunismo en Uruguay (1960-1962)» (PDF). Encuentros Uruguayos. Consultado em 4 de abril de 2017
- ↑ Alvaro Magalhães (ed.). «Exclusivo: espião da ditadura, Cabo Anselmo diz que foi traído por chefe da repressão após entregar namorada». R7. Consultado em 1 de julho de 2017
- ↑ Mota, Urariano (17 de outubro de 2011). «Soledad, a mulher do Cabo Anselmo». Carta Capital. Consultado em 4 de janeiro de 2014.
Sem remorso e sem dor, o Cabo Anselmo a entregou grávida para a execução. Com mais cinco militantes contra a ditadura, no que se convencionou chamar “O massacre da granja São Bento”.
- ↑ ALUIZIO PALMAR (ed.). «Sobrevivente da "Chacina da Chácara de São Bento" reaparece e revela fatos novos sobre o caso». Documentos Revelados. Consultado em 1 de julho de 2017
- ↑ Veiga, Gustavo. «El regreso del viejo cabo Anselmo». Página 12. Consultado em 1 de julho de 2017
- ↑ Capriglione, Laura. «Filha de guerrilheiros quer resgatar memória dos pais». Folha de S.Paul. Consultado em 1 de julho de 2017
- ↑ Capriglione, Laura (20 de maio de 2012). «Filha de guerrilheiros quer resgatar memória dos pais». Folha de S.Paulo. Consultado em 4 de janeiro de 2014
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- «Documentos Revelados». www.documentosrevelados.com.br
- «Blogue "Política Nada Imparcial"». politicanadaimparcial.blogs*