Axé (gênero musical): diferenças entre revisões

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Retirei título sobre a "guinada para o frevo", porque a existência de tal movimento é questionável.
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|origens estilísticas = ''[[Samba-reggae]]'', [[frevo]], ''[[reggae]]'', [[merengue]], deboche, [[forró]], [[Ijexá#Ritmo africano|ijexá]], [[Samba Duro|samba duro]], ritmos de [[Candomblé]], ''[[pop rock]]'', ritmos afro-brasileiros e afro-latinos.
|origens estilísticas = ''[[Samba-reggae]]'', [[frevo]], ''[[reggae]]'', [[merengue]], deboche, [[forró]], [[Ijexá#Ritmo africano|ijexá]], [[Samba Duro|samba duro]], ritmos de [[Candomblé]], ''[[pop rock]]'', ritmos afro-brasileiros e afro-latinos.
|contexto cultural = [[Década de 1980]], [[Salvador (Bahia)|Salvador]]
|contexto cultural = [[Década de 1980]], [[Salvador (Bahia)|Salvador]]
|instrumentos = [[Guitarra]], [[guitarra elétrica]]
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|popularidade = [[Bahia]], [[Minas Gerais]], [[Sergipe]], [[Brasil]]
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|outros tópicos = ''[[Samba-reggae]]'', [[pagode baiano]], [[arrocha]], ''[[black semba]]'', [[forró elétrico]]
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O '''axé, '''ou '''''axé music''''', é um [[gênero musical]] que surgiu no estado da [[Bahia]] na [[década de 1980]] durante as manifestações populares do [[Carnaval de Salvador]], misturando o [[Ijexá#Ritmo africano|ijexá]],<ref>PEREIRA, Ianá Souza. ''Axé-axé: o megafenômeno baiano''. Revista África e Africanidades, Rio de Janeiro, ano 2, n. 8, fev. 2010, p.03</ref> ''[[samba-reggae]]'',<ref name="CASTRO, A. A.">CASTRO, A. A. ''Axé music: mitos, verdades e world music''. Per Musi, Belo Horizonte, n.22, 2010, p.205.</ref> [[frevo]], [[reggae]], [[merengue]], [[forró]], [[Samba Duro|samba duro]],<ref name="CASTRO, A. A." /> ritmos do [[candomblé]],<ref>ARAÚJO FILHO, Antonio Neves de. ''PROTESTOS E MANIFESTAÇÕES AFRO-BRASILEIRAS NA MÚSICA NEGRA BAIANA NOS ANOS DE 1980''. UFRN, Caicó, 2016, p.17.</ref> ''[[pop rock]]'',<ref>PEREIRA, Ianá Souza. ''Axé-axé: o megafenômeno baiano''. Revista África e Africanidades, Rio de Janeiro, ano 2, n. 8, fev. 2010, p.02</ref><ref>CASTRO, A. A. ''Axé music: mitos, verdades e world music''. Per Musi, Belo Horizonte, n.22, 2010, p.204-205.</ref> bem como outros ritmos afro-brasileiros e afro-latinos.<ref>[http://www.cultura.pe.gov.br/canal/fig2014/do-fricote-que-esquenta-garanhuns/ Do fricote que esquenta Garanhuns]. Portal Cultura PE.</ref><ref name="ref_livro">{{Citar livro|autor=SANTANNA, Marilda |título=As donas do canto |subtítulo=o sucesso das estrelas-intérpretes no carnaval de Salvador |idioma= |edição= |local=Salvador |editora=Edufba |ano=2009 |páginas= |volumes= |isbn=8523208852 }}</ref><ref name="ref_livro.2">{{Citar livro|url= |autor=DINIZ, André |coautor= |título=Almanaque do carnaval |subtítulo=A história do carnaval, o que ouvir, o que ler, onde curtir |idioma= |edição= |local=Rio de Janeiro |editora=Jorge Zahar Editor |ano=2008 |página=180 |páginas= |isbn=9788537800478 |acessodata= }}</ref><ref>SYLLOS, Gilberto de. e MONTANHAUR, Ramon. ''Bateria e Contrabaixo na Música Popular Brasileira''. 3ª edição. Rio de Janeiro: Lumiar,2002, (p. 65).</ref>
[[Imagem:Daniela Mercury.jpg|miniatura|O álbum ''[[O Canto da Cidade (álbum)|O Canto da Cidade]]'' de [[Daniela Mercury]] (foto) é considerado o responsável por levar o axé ao público brasileiro.<ref name="25 anos">[http://www.diariodopara.com.br/impressao.php?idnot=79286 O sucesso do Axé music, 25 anos depois]. Diário do Pará.</ref> Sendo o álbum [[Feijão com Arroz]] reconhecido como o seu melhor trabalho<ref>NICKSON, Chris. [http://www.allmusic.com/album/feij%C3%A3o-com-arroz-mw0000020542 Feijão com Arroz - Daniela Mercury | Songs, Reviews, Credits, Awards]. AllMusic.</ref> e o ápice estético da axé music.]]
[[Imagem:IveteSangalo.jpg|miniatura|[[Ivete Sangalo]] é uma das cantoras de maior sucesso da música brasileira atualmente.]]
[[Imagem:The opening ceremony of the FIFA World Cup 2014 07.jpg|miniatura|A cantora fluminense [[Claudia Leitte]] ganhou fama na banda [[Babado Novo]], na Bahia, e adotou o axé.]]
[[Imagem:Canaval 2010 - Margareth Menezes no trio Afropopbrasileiro.jpg|miniatura|180px|esquerda|[[Margareth Menezes]] uniu o axé com ritmos afro-brasileiros em suas músicas.]]
O '''axé, '''ou '''axé ''music''''', é um [[gênero musical]] que surgiu no estado da [[Bahia]] na [[década de 1980]] durante as manifestações populares do [[Carnaval de Salvador]], misturando o [[Ijexá#Ritmo africano|ijexá]],<ref>PEREIRA, Ianá Souza. Axé-axé: o megafenômeno baiano. Revista África e Africanidades, Rio de Janeiro, ano 2, n. 8, fev. 2010, p.03</ref> ''[[samba-reggae]]'',<ref name="CASTRO, A. A.">CASTRO, A. A. ''Axé music: mitos, verdades e world music''. Per Musi, Belo Horizonte, n.22, 2010, p.205.</ref> [[frevo]], [[reggae]], [[merengue]], [[forró]], [[Samba Duro|samba duro]],<ref name="CASTRO, A. A." /> ritmos do [[Candomblé]],<ref>ARAÚJO FILHO, Antonio Neves de. ''PROTESTOS E MANIFESTAÇÕES AFRO-BRASILEIRAS NA MÚSICA NEGRA BAIANA NOS ANOS DE 1980''. UFRN, Caicó, 2016, p.17.</ref> ''[[pop rock]]'',<ref>PEREIRA, Ianá Souza. Axé-axé: o megafenômeno baiano. Revista África e Africanidades, Rio de Janeiro, ano 2, n. 8, fev. 2010, p.02</ref><ref>CASTRO, A. A. ''Axé music: mitos, verdades e world music''. Per Musi, Belo Horizonte, n.22, 2010, p.204-205.</ref> bem como outros ritmos afro-brasileiros e afro-latinos.<ref>[http://www.cultura.pe.gov.br/canal/fig2014/do-fricote-que-esquenta-garanhuns/ Do fricote que esquenta Garanhuns]. Portal Cultura PE.</ref><ref name="ref_livro">{{Citar livro|autor=SANTANNA, Marilda |título=As donas do canto |subtítulo=o sucesso das estrelas-intérpretes no carnaval de Salvador |idioma= |edição= |local=Salvador |editora=Edufba |ano=2009 |páginas= |volumes= |isbn=8523208852 }}</ref><ref name="ref_livro.2">{{Citar livro|url= |autor=DINIZ, André |coautor= |título=Almanaque do carnaval |subtítulo=A história do carnaval, o que ouvir, o que ler, onde curtir |idioma= |edição= |local=Rio de Janeiro |editora=Jorge Zahar Editor |ano=2008 |página=180 |páginas= |isbn=9788537800478 |acessodata= }}</ref><ref>SYLLOS, Gilberto de. e MONTANHAUR, Ramon. '''Bateria e Contrabaixo na Música Popular Brasileira'''. 3ª edição. Rio de Janeiro: Lumiar,2002, (p. 65).</ref>


No entanto, o termo "axé" é utilizado erroneamente para designar todos os ritmos de raízes africanas ou o estilo de música de qualquer banda ou artista que provém da [[Bahia]].<ref>[http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL1485868-7085,00-G+LISTA+MUSICAS+PARA+ENTENDER+O+AXE+E+O+CARNAVAL+BAIANO.html G1 lista 15 músicas para entender o axé e o carnaval baiano]</ref> Sabe-se hoje, que nem toda música baiana é axé, pois lá há o ''[[samba-reggae]]'',<ref>{{Citar periódico| autor = [[Margareth Menezes]] | ano = 2014 | mes = abril | titulo = A música para divulgar valores | jornal = [[Revista Raça Brasil]] | numero = 186 | editora = Editora Minuano | url = http://racabrasil.uol.com.br/colunistas/a-musica-para-divulgar-valores/1929/}}</ref> representado principalmente pelo bloco afro [[Olodum]], o [[samba de roda]], o [[ijexá]] — tocado com variações diversas por bandas percussivas de blocos afro como [[Filhos de Ghandi]], [[Cortejo Afro]], [[Ilê Aiyê]], e [[Muzenza]], entre outros —, o [[pagode baiano]] e até uma variação de frevo, bem como o [[Sertanejo (estilo musical)|sertanejo]] e [[forró]] etc.<ref name="25 anos" /><ref name="ref_livro" /><ref name="ref_livro.2" /><ref name="pdf">http://www.tecap.uerj.br/pdf/v81/rafael_guarato.pdf</ref>
No entanto, o termo "axé" é utilizado erroneamente para designar todos os ritmos de raízes africanas ou o estilo de música de qualquer banda ou artista que provém da [[Bahia]].<ref>[http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL1485868-7085,00-G+LISTA+MUSICAS+PARA+ENTENDER+O+AXE+E+O+CARNAVAL+BAIANO.html G1 lista 15 músicas para entender o axé e o carnaval baiano]</ref> Sabe-se hoje, que nem toda música baiana é axé, pois lá há o ''[[samba-reggae]]'',<ref>{{Citar periódico| autor = [[Margareth Menezes]] | ano = 2014 | mes = abril | titulo = A música para divulgar valores | jornal = [[Revista Raça Brasil]] | numero = 186 | editora = Editora Minuano | url = http://racabrasil.uol.com.br/colunistas/a-musica-para-divulgar-valores/1929/}}</ref> representado principalmente pelo bloco afro [[Olodum]], o [[samba de roda]], o [[ijexá]] — tocado com variações diversas por bandas percussivas de blocos afro como [[Filhos de Ghandi]], [[Cortejo Afro]], [[Ilê Aiyê]], e [[Muzenza]], entre outros —, o [[pagode baiano]] e até uma variação de frevo, bem como o [[Sertanejo (estilo musical)|sertanejo]] e [[forró]] etc.<ref name="25 anos" /><ref name="ref_livro" /><ref name="ref_livro.2" /><ref name="pdf">http://www.tecap.uerj.br/pdf/v81/rafael_guarato.pdf</ref>
[[Imagem:Daniela Mercury.jpg|thumb|180px|esquerda|O álbum ''[[O Canto da Cidade (álbum)|O Canto da Cidade]]'' de [[Daniela Mercury]] (foto) é considerado o responsável por levar o axé ao público brasileiro.<ref name="25 anos">[http://www.diariodopara.com.br/impressao.php?idnot=79286 O sucesso do Axé music, 25 anos depois]. Diário do Pará.</ref> Sendo o álbum [[Feijão com Arroz]] reconhecido como o seu melhor trabalho<ref>NICKSON, Chris. [http://www.allmusic.com/album/feij%C3%A3o-com-arroz-mw0000020542 Feijão com Arroz - Daniela Mercury | Songs, Reviews, Credits, Awards]. AllMusic.</ref> e o ápice [[estética|estético]] da ''axé music''.]]

A palavra "axé" é uma saudação religiosa usada no [[candomblé]], que significa energia positiva.<ref name="pdf" /><ref name="ref_livro.3">{{Citar livro|url= |autor=GUERREIRO, Almerinda |coautor= |título=A trama dos tambores |subtítulo=a música afro-pop de Salvador |idioma= |edição= |local= |editora=Editora 34 |ano=2000 |página= |páginas= |isbn=9788573261752 |acessodata= }}</ref> Expressão corrente no circuito musical soteropolitano, ela foi anexada à palavra em inglês "''[[wikt:music|music]]''" pelo jornalista Hagamenon Brito em 1987 para formar um termo que designaria pejorativamente aquela música dançante com aspirações internacionais.<ref name="ref_livro.2" /><ref name="ref_livro.3" />
A palavra "axé" é uma saudação religiosa usada no [[candomblé]], que significa energia positiva.<ref name="pdf" /><ref name="ref_livro.3">{{Citar livro|url= |autor=GUERREIRO, Almerinda |coautor= |título=A trama dos tambores |subtítulo=a música afro-pop de Salvador |idioma= |edição= |local= |editora=Editora 34 |ano=2000 |página= |páginas= |isbn=9788573261752 |acessodata= }}</ref> Expressão corrente no circuito musical soteropolitano, ela foi anexada à palavra em inglês "''[[wikt:music|music]]''" pelo jornalista Hagamenon Brito em 1987 para formar um termo que designaria pejorativamente aquela música dançante com aspirações internacionais.<ref name="ref_livro.2" /><ref name="ref_livro.3" />


Com o impulso da [[mídia]], o axé ''music'' rapidamente se espalhou por todo o país (com a realização de carnavais fora de época, as chamadas [[micareta]]s), e fortaleceu-se como potencial mercadológico, produzindo sucessos durante todo o ano, tendo como alguns dos maiores nomes [[Daniela Mercury]], [[Márcia Freire]], [[Ivete Sangalo]], [[Claudia Leitte]], [[Margareth Menezes]], [[Asa de Águia]], [[Chiclete com Banana]], entre outros.<ref name="ref_livro" /><ref name="ref_livro.2" /><ref name="ref_livro.3" />
Com o impulso da [[mídia]], o axé ''music'' rapidamente se espalhou por todo o país (com a realização de carnavais fora de época, as chamadas [[micareta]]s), e fortaleceu-se como potencial mercadológico, produzindo sucessos durante todo o ano, tendo, como alguns dos maiores nomes, [[Daniela Mercury]], [[Márcia Freire]], [[Ivete Sangalo]], [[Claudia Leitte]], [[Margareth Menezes]], [[Asa de Águia]], [[Chiclete com Banana]], entre outros.<ref name="ref_livro" /><ref name="ref_livro.2" /><ref name="ref_livro.3" />


Os pioneiros do gênero foram os músicos da renomada banda [[Acordes Verdes]], que acompanhava [[Luiz Caldas]] e eram músicos de estúdio da W.R, em Salvador. O principal arranjador do estúdio, na altura, era o compositor [[Alfredo Moura]].<ref name="ref_livro" />
Os pioneiros do gênero foram os músicos da renomada banda [[Acordes Verdes]], que acompanhava [[Luiz Caldas]] e eram músicos de estúdio da W.R, em Salvador. O principal arranjador do estúdio, na altura, era o compositor [[Alfredo Moura]].<ref name="ref_livro" />
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== História ==
== História ==
=== Origens e ascensão ===
=== Origens e ascensão ===
As origens do [[carnaval da Bahia]] como conhecemos hoje estão na [[década de 1950]], quando [[Antonio Adolfo Nascimento|Dodô]] e [[Osmar Álvares de Macêdo|Osmar]] começaram a tocar o [[frevo]] [[Pernambuco|pernambucano]] em [[guitarra]]s elétricas de produção própria — batizadas de [[guitarra baiana|guitarras baianas]] — em cima de uma fobica (um Ford 1929). Nascia o [[trio elétrico]], atração do carnaval baiano para a qual [[Caetano Veloso]] chamou a atenção do país em [[1975]] na canção "Atrás do Trio Elétrico". Mais tarde, [[Moraes Moreira]], dos [[Novos Baianos]], teria a ideia de subir num trio (que era apenas instrumental) para cantar — foi o marco zero da tradição de grandes cantores "puxando" os [[trios elétricos]]. A partir da década de 1960, paralelamente ao movimento dos trios, aconteceu o da proliferação dos [[bloco afro|blocos afro]]: [[Filhos de Gandhi]] (do qual [[Gilberto Gil]] faz parte), [[Badauê]], [[Ilê Aiyê]], [[Muzenza]], [[Araketu]] e [[Olodum]]. Eles tocavam ritmos afro como o ijexá e o samba (utilizando alguns instrumentos musicais da percussão, comuns nas baterias das [[Desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro|escolas de samba do Rio de Janeiro]]).
As origens do [[carnaval da Bahia]] como conhecemos hoje estão na [[década de 1950]], quando [[Dodô e Osmar]] começaram a tocar o [[frevo]] [[Pernambuco|pernambucano]] em [[guitarra]]s elétricas de produção própria — batizadas de [[guitarra baiana|guitarras baianas]] — em cima de uma fobica (um Ford 1929). Nascia o [[trio elétrico]], atração do carnaval baiano para a qual [[Caetano Veloso]] chamou a atenção do país em [[1975]] na canção "Atrás do Trio Elétrico". Mais tarde, [[Moraes Moreira]], dos [[Novos Baianos]], teria a ideia de subir num trio (que era apenas instrumental) para cantar — foi o marco zero da tradição de grandes cantores "puxando" os [[trios elétricos]]. A partir da década de 1960, paralelamente ao movimento dos trios, aconteceu o da proliferação dos [[bloco afro|blocos afro]]: [[Filhos de Gandhi]] (do qual [[Gilberto Gil]] faz parte), [[Badauê]], [[Ilê Aiyê]], [[Muzenza]], [[Araketu]] e [[Olodum]]. Eles tocavam ritmos afro como o ijexá e o samba (utilizando alguns instrumentos musicais da percussão, comuns nas baterias das [[Desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro|escolas de samba do Rio de Janeiro]]).
[[Imagem:IveteSangalo.jpg|thumb|180px|[[Ivete Sangalo]] é uma das cantoras de maior sucesso da música brasileira atualmente.]]


Nascido no estúdio WR, no bairro da [[Graça (Salvador)|Graça]], em Salvador, com a formação de um grupo de músicos jovens que viria a substituir a banda residente, comandada por Toninho Lacerda (irmão do pianista Carlos Lacerda). O primeiro, da nova leva, a ser contratado foi o baterista Cesinha. Depois dele, o compositor, pianista e arranjador [[Alfredo Moura]], que na época estudava composição e regência na escola de música da [[Universidade Federal da Bahia]], tendo, como professores: Lindembergue Cardoso, Ernst Widmer, Jamary Oliveira, Paulo Costa Lima, entre outros. Luiz Caldas veio em seguida, trazendo o percussionista Tony Mola. [[Carlinhos Brown]] foi o último, dessa leva, a entrar, tendo sido submetido a uma audição e sendo aprovado já por Alfredo Moura, na altura o principal arranjador do estúdio.<ref name="interpretes">SANTANNA, Marilda. [http://www.ppgcs.ufba.br/site/db/trabalhos/142013101509.pdf ''As donas e as vozes: uma interpretação sociológica do sucesso das estrelas- intérpretes no carnaval de Salvador'']. UFBA.</ref>
A ''axé music'' propriamente dita nasceu no estúdio WR, no bairro da [[Graça (Salvador)|Graça]], em [[Salvador (Bahia)|Salvador]], com a formação de um grupo de músicos jovens que viria a substituir a banda residente, comandada por Toninho Lacerda (irmão do pianista Carlos Lacerda). O primeiro, da nova leva, a ser contratado foi o baterista Cesinha. Depois dele, o compositor, pianista e arranjador [[Alfredo Moura]], que na época estudava composição e regência na escola de música da [[Universidade Federal da Bahia]], tendo, como professores: Lindembergue Cardoso, Ernst Widmer, Jamary Oliveira, Paulo Costa Lima, entre outros. Luiz Caldas veio em seguida, trazendo o percussionista Tony Mola. [[Carlinhos Brown]] foi o último, dessa leva, a entrar, tendo sido submetido a uma audição e sendo aprovado já por Alfredo Moura, na altura o principal arranjador do estúdio.<ref name="interpretes">SANTANNA, Marilda. [http://www.ppgcs.ufba.br/site/db/trabalhos/142013101509.pdf ''As donas e as vozes: uma interpretação sociológica do sucesso das estrelas- intérpretes no carnaval de Salvador'']. UFBA.</ref>
[[Imagem:The opening ceremony of the FIFA World Cup 2014 07.jpg|thumb|esquerda|180px|A cantora fluminense [[Claudia Leitte]] ganhou fama na banda [[Babado Novo]], na Bahia, e adotou o axé.]]


Essa banda que se formou do encontro de músicos contratados originaria a banda Acordes Verdes, que daria início ao movimento. Os [[Arranjo (música)|arranjo]]s de Alfredo Moura mostrariam ser fundamentais para o estabelecimento do novo estilo musical, pois encontrou um tipo de linguagem popular e altamente comunicativa que possibilitou a divulgação dessa nova música nas rádios e televisões por todo o Brasil.<ref name="interpretes">SANTANNA, Marilda. [http://www.ppgcs.ufba.br/site/db/trabalhos/142013101509.pdf ''As donas e as vozes: uma interpretação sociológica do sucesso das estrelas- intérpretes no carnaval de Salvador'']. UFBA.</ref> Nos arranjos notam-se elementos vindos de diversas culturas musicais e que interagiam de forma homogênea apesar da diversidade da origem. A música tinha características baianas e fazia referências ao passado enquanto se posicionava com o presente.
Essa banda que se formou do encontro de músicos contratados originaria a banda Acordes Verdes, que daria início ao movimento. Os [[Arranjo (música)|arranjo]]s de Alfredo Moura mostrariam ser fundamentais para o estabelecimento do novo estilo musical, pois encontrou um tipo de linguagem popular e altamente comunicativa que possibilitou a divulgação dessa nova música nas rádios e televisões por todo o Brasil.<ref name="interpretes">SANTANNA, Marilda. [http://www.ppgcs.ufba.br/site/db/trabalhos/142013101509.pdf ''As donas e as vozes: uma interpretação sociológica do sucesso das estrelas- intérpretes no carnaval de Salvador'']. UFBA.</ref> Nos [[Arranjo (música)|arranjos]], notam-se elementos vindos de diversas culturas musicais e que interagiam de forma homogênea apesar da diversidade da origem. A música tinha características baianas e fazia referências ao passado enquanto se posicionava com o presente.


O movimento adquiriu força e os arranjos e a estética original foram intensamente copiados, evoluindo para novas leituras e estilos, tendo uma durabilidade impressionante em termos de [[música popular brasileira]].<ref name="interpretes" />
O movimento adquiriu força e os arranjos e a estética original foram intensamente copiados, evoluindo para novas leituras e estilos, tendo uma durabilidade impressionante em termos de [[música popular brasileira]].<ref name="interpretes" />


Era criado um polo criador, um centro musical poderoso, onde o estilo, concebido por Alfredo Moura, com a ajuda dos músicos da banda Acordes Verdes, principalmente o Carlinhos Brown, se tornaria referência para as próximas três gerações vindouras, colocando a música da Bahia num cenário pioneiro, dinâmico, e inovador.<ref name="25 anos" /><ref name="interpretes" />
Estava criado, então, um polo criador, um centro musical poderoso, e o estilo, concebido por Alfredo Moura com a ajuda dos músicos da banda Acordes Verdes, principalmente [[Carlinhos Brown]], se tornaria referência para as três gerações vindouras, colocando a música da Bahia num cenário pioneiro, dinâmico, e inovador.<ref name="25 anos" /><ref name="interpretes" />


{{quote|O estilo nasceu com carga pejorativa e sem saber a que servia. Hoje, ainda há polêmica na hora de definir a quais músicas o termo se aplica, mas todos fazem coro num ponto: seu papel foi o de fundar um novo mercado musical.|<ref name="revista época">ARANHA, Ana. [ttp://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT904129-1661,00.htm. Vinte anos de baianidade]. '''[[Revista Época]]''' [on line], Edição 351. [S. I.]: 07 fevereiro 2005. Último acesso em 15 setembro 2012.</ref>}}
{{quote|O estilo nasceu com carga pejorativa e sem saber a que servia. Hoje, ainda há polêmica na hora de definir a quais músicas o termo se aplica, mas todos fazem coro num ponto: seu papel foi o de fundar um novo mercado musical.|<ref name="revista época">ARANHA, Ana. [ttp://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT904129-1661,00.htm. Vinte anos de baianidade]. ''[[Revista Época]] [on line]''. Edição 351. [S. I.]: 07 fevereiro 2005. Último acesso em 15 setembro 2012.</ref>}}
Sob a influência das letras e canções de [[Bob Marley]] nos ouvidos, surgiu, no Olodum - sob a batuta do mestre [[Neguinho do Samba]] -, um ritmo que misturava ''[[reggae]]'' e [[samba]], num estilo com forte caráter de afirmação da [[negritude]], que fez sucesso em Salvador a partir da [[década de 1980]]: o ''[[samba-reggae]]''. Posteriormente, artistas como [[Gerônimo]], [[Banda Reflexus]] e a [[Banda Mel]] aderiram a essa novidade rítmica, lançando canções que chegavam ao [[Sudeste do Brasil|Sudeste]] em discos na bagagem dos que lá passavam férias. Em meados da década de 1980, mais precisamente em [[1985]], [[Luiz Caldas]] e [[Paulinho Camafeu]] compuseram juntos o primeiro sucesso nacional daquela cena musical de Salvador: "Fricote (Nega do cabelo duro)", gravado por Luiz Caldas. O ritmo era o ''deboche'', criado por [[Alfredo Moura]] e [[Carlinhos Brown]]. O arranjo inovador e de alta qualidade técnica foi marcante para que a canção (de apenas dois acordes) se tornasse um dos maiores sucessos brasileiros. A canção imediatamente tornou-se um ''[[Hit single|hit]]'' e espalhou-se por todo o país, virando um marco para o axé.<ref name="25 anos" /> Com uma introdução épica, onde os [[Teclado (instrumento musical)|teclados]] simulando [[metais]] eram precedidos por uma [[percussão]] dançante, a canção traduzia a necessidade de afirmação de uma geração de músicos que não queria ficar no ostracismo causado pela fuga de artistas para o [[eixo Rio–São Paulo]].
Sob a influência das letras e canções de [[Bob Marley]] nos ouvidos, surgiu, no [[Olodum]] - sob a batuta do mestre [[Neguinho do Samba]] -, um ritmo que misturava ''[[reggae]]'' e [[samba]], num estilo com forte caráter de afirmação da [[negritude]], que fez sucesso em Salvador a partir da [[década de 1980]]: o ''[[samba-reggae]]''. Posteriormente, artistas como [[Gerônimo (músico)|Gerônimo]], [[Banda Reflexu's]] e a [[Bamdamel|Banda Mel]] aderiram a essa novidade rítmica, lançando canções que chegavam ao [[Região Sudeste do Brasil|Sudeste]] em discos na bagagem dos que lá passavam férias. Em meados da década de 1980, mais precisamente em [[1985]], [[Luiz Caldas]] e [[Paulinho Camafeu]] compuseram juntos o primeiro sucesso nacional daquela cena musical de Salvador: "[[Fricote]] (Nega do cabelo duro)", gravado por Luiz Caldas. O ritmo era o ''deboche'', criado por [[Alfredo Moura]] e [[Carlinhos Brown]]. O arranjo inovador e de alta qualidade técnica foi marcante para que a canção (de apenas dois [[acorde]]s) se tornasse um dos maiores sucessos brasileiros. A canção imediatamente tornou-se um ''[[Hit single|hit]]'' e espalhou-se por todo o país, virando um marco para o axé.<ref name="25 anos" /> Com uma introdução épica, onde os [[Teclado (instrumento musical)|teclados]] simulando [[metais]] eram precedidos por uma [[percussão]] dançante, a canção traduzia a necessidade de afirmação de uma geração de músicos que não queria ficar no ostracismo causado pela fuga de artistas para o [[eixo Rio–São Paulo]].
[[Imagem:Canaval 2010 - Margareth Menezes no trio Afropopbrasileiro.jpg|thumb|180px|direita|[[Margareth Menezes]] uniu o axé com ritmos afro-brasileiros em suas músicas.]]
Uma nova geração de estrelas aparecia para o Brasil: [[Banda Reflexu's]] (do sucesso "Madagascar Olodum"), [[Sarajane]] (do clássico "A Roda"), [[Cid Guerreiro]] (do "[[Ilariê]], gravado por [[Xuxa]]), [[Chiclete com Banana]] (que vinha de uma tradição de bandas de baile), banda [[Cheiro de Amor]] (com [[Márcia Freire]]) e [[Margareth Menezes]] (a primeira a engatilhar carreira internacional, com a bênção do líder da banda americana de ''rock'' [[Talking Heads]], [[David Byrne]]). No início da década de 1990, o [[Olodum]] foi convidado pelo cantor e compositor americano [[Paul Simon]] para gravar participação no disco ''The Rhythm of The Saints''. Posteriormente, tocou com [[Michael Jackson]] no [[videoclipe]] da canção "[[They Don't Care About Us]]" nas ruas do [[Pelourinho (Salvador)|Pelourinho]] e teve outras parcerias com artistas internacionais e nacionais, que aumentaram a visibilidade do grupo.<ref>[http://mais.uol.com.br/view/ao2o41d5alx2/they-dont-care-about-us--michael-jackson-04023560CCB15346? "They Don't Care About Us" - Michael Jackson]. ''UOL Mais''.</ref> A modernidade das guitarras se encontrava com a tradição dos tambores em mistura de alta octanagem.


Aquela nova música baiana avançaria mais ainda na direção do pop em [[1992]], quando o [[Araketu]] resolveu injetar eletrônica nos tambores, e o resultado foi o disco homônimo [[Ara Ketu (álbum de 1992)|Araketu]], gravado pelo selo inglês independente Seven Gates, e lançado apenas na Europa. No mesmo ano, [[Daniela Mercury]] lançaria ''[[O Canto da Cidade (álbum)|O Canto da Cidade]]'', e o Brasil se renderia de vez ao axé. Aberta a porta, vieram [[Asa de Águia]], [[Banda Eva]] (que nasceu do Bloco Eva e revelou [[Ivete Sangalo]]), [[Banda Mel]] (que depois assinaria como [[Bamdamel]]), [[Banda Cheiro de Amor]], [[Ricardo Chaves]], [[Babado Novo]] (que revelou [[Claudia Leitte]]) etc. A explosão comercial do axé passou, no entanto, longe da unanimidade. [[Dorival Caymmi]] reprovou suas qualidades artísticas, [[Caetano Veloso]] as endossou. Das tentativas de incorporar o repertório das bandas de ''[[pop rock]]'', nasceu a marcha-frevo, que transformou sucessos como "Eva" ([[Rádio Táxi]]) e "Me Chama" ([[Lobão (músico)|Lobão]]) em mais combustível para a folia.
Uma nova geração de estrelas aparecia para o Brasil: [[Banda Reflexus]] (do sucesso "Madagascar Olodum"), [[Sarajane]] (do clássico "A Roda"), [[Cid Guerreiro]] (do "[[Ilariê]], gravado por [[Xuxa]]), [[Chiclete com Banana]] (que vinha de uma tradição de bandas de baile), banda [[Cheiro de Amor]] (com [[Márcia Freire]]) e [[Margareth Menezes]] (a primeira a engatilhar carreira internacional, com a bênção do líder da banda americana de ''rock'' [[Talking Heads]], [[David Byrne]]). No início da década de 1990, o [[Olodum]] foi convidado pelo cantor e compositor americano [[Paul Simon]] para gravar participação no disco ''The Rhythm of The Saints'' e posteriormente tocou com [[Michael Jackson]] no clipe da canção "[[They Don't Care About Us]]" nas ruas do [[Pelourinho (Salvador)|Pelourinho]] e outras parcerias com artistas internacionais e nacionais, que aumentaram a visibilidade do grupo.<ref>[http://mais.uol.com.br/view/ao2o41d5alx2/they-dont-care-about-us--michael-jackson-04023560CCB15346? "They Don't Care About Us" - Michael Jackson]. ''UOL Mais''.</ref> A modernidade das guitarras se encontrava com a tradição dos tambores em mistura de alta octanagem.


Enquanto o ''axé music'' se fortalecia, alguns nomes buscavam alternativas criativas para a música baiana. O mais significativo deles foi a [[Timbalada]], grupo de percussionistas e vocalistas liderado por [[Carlinhos Brown]] (cuja música "''Meia Lua Inteira''" tinha estourado na voz de Caetano Veloso em 1989), veio com a proposta de resgatar o som dos [[timbal]]es, que há muito tempo estavam restritos à percussão dos [[terreiro (religião)|terreiros]] de [[candomblé]]. Paralelamente à Timbalada, Brown lançou dois discos solo – [[Alfagamabetizado]] ([[1996]]) e [[Omelete Man]] ([[1998]]), arranjados por Alfredo Moura. Com sua incorporação de várias tendências do [[música pop|pop]] e da [[MPB]] à música baiana, Brown obteve grande reconhecimento no exterior. Além disso, ele desenvolveu um trabalho social e cultural de alta relevância entre a população da comunidade carente do Candeal, no bairro de [[Brotas (Salvador)|Brotas]], em [[Salvador (Bahia)|Salvador]], com a criação do espaço cultural Candyall Guetho Square, o grupo de percussão Lactomia (para formar uma nova geração de instrumentistas) e a escola de música Pracatum.
=== Guinada para o frevo e ''pop-rock'' ===
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Aquela nova música baiana avançaria mais ainda na direção do pop em [[1992]], quando o [[Araketu]] resolveu injetar eletrônica nos tambores, e o resultado foi o disco homônimo [[Ara Ketu (álbum de 1992)|Araketu]], gravado pelo selo inglês independente Seven Gates, e lançado apenas na Europa. No mesmo ano, [[Daniela Mercury]] lançaria ''[[O Canto da Cidade (álbum)|O Canto da Cidade]]'', e o Brasil se renderia de vez ao axé. Aberta a porta, vieram [[Asa de Águia]], [[Banda Eva]] (que nasceu do Bloco Eva e revelou [[Ivete Sangalo]]), [[Banda Mel]] (que depois assinaria como [[Bamdamel]]), [[Banda Cheiro de Amor]], [[Ricardo Chaves]], [[Babado Novo]] (que revelou [[Claudia Leitte]]) etc. A explosão comercial do axé passou longe da unanimidade. [[Dorival Caymmi]] reprovou suas qualidades artísticas, [[Caetano Veloso]] as endossou. Das tentativas de incorporar o repertório das bandas de ''[[pop rock]]'', nasceu a marcha-frevo, que transformou sucessos como "Eva" ([[Rádio Táxi]]) e "Me Chama" ([[Lobão (músico)|Lobão]]) em mais combustível para a folia.

Enquanto o axé ''music'' se fortalecia, alguns nomes buscavam alternativas criativas para a música baiana. O mais significativo deles foi a [[Timbalada]], grupo de percussionistas e vocalistas liderado por [[Carlinhos Brown]] (cuja música "''Meia Lua Inteira''" tinha estourado na voz de Caetano Veloso em 1989), veio com a proposta de resgatar o som dos [[timbau]]s, que há muito tempo estavam restritos à percussão dos terreiros de [[candomblé]]. Paralelamente à Timbalada, Brown lançou dois discos solo – [[Alfagamabetizado]] ([[1996]]) e [[Omelete Man]] ([[1998]]), arranjados por Alfredo Moura, que com sua autoral incorporação de várias tendências do pop e da MPB à música baiana, obteve grande reconhecimento no exterior. Além disso, ele desenvolveu um trabalho social e cultural de alta relevância entre a população da comunidade carente do Candeal, em [[Salvador (Bahia)|Salvador]], com a criação do espaço cultural Candyall Guetho Square, o grupo de percussão Lactomia (para formar uma nova geração de instrumentistas) e a escola de música Pracatum.


Enquanto isso, os nomes de sucesso da música baiana multiplicavam-se: aos então conhecidos Banda Eva, Bamdamel, Araketu, [[Chiclete com Banana]] e [[Cheiro de Amor]], juntaram-se o ex-[[Banda Beijo|Beijo]] [[Netinho (cantor)|Netinho]] e os grupos [[Jammil e Uma Noites]] e [[Pimenta N'ativa]].
Enquanto isso, os nomes de sucesso da música baiana multiplicavam-se: aos então conhecidos Banda Eva, Bamdamel, Araketu, [[Chiclete com Banana]] e [[Cheiro de Amor]], juntaram-se o ex-[[Banda Beijo|Beijo]] [[Netinho (cantor)|Netinho]] e os grupos [[Jammil e Uma Noites]] e [[Pimenta N'ativa]].
===Perspectivas para o futuro===
===Perspectivas para o futuro===
Muitos críticos avaliam que nos últimos anos o Axé tem estado em declínio, não devido a queda de popularidade, mas sim porque novas canções de novos grupos musicais não têm a mesma força que as antigas. Os principais grupos de axé do país continuam sendo os mesmos da década da 1990, com novos grupos musicais não alcançando o mesmo nível de expressão dos grupos musicais mais antigos. Isso gera a preocupação de que o ritmo baiano não possa se renovar com uma nova geração e perca sua relevância quando os grupos musicais mais antigos gradualmente encerrarem suas atividades.
Muitos [[crítica|críticos]] avaliam que, nos últimos anos, o axé tem estado em declínio, não devido a queda de popularidade, mas sim porque novas canções de novos grupos musicais não têm a mesma força que as antigas. Os principais grupos de axé do país continuam sendo os mesmos da década da 1990, com novos grupos musicais não alcançando o mesmo nível de expressão dos grupos musicais mais antigos. Isso gera a preocupação de que o ritmo baiano não possa se renovar com uma nova geração e perca sua relevância quando os grupos musicais mais antigos gradualmente encerrarem suas atividades.
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Revisão das 20h46min de 10 de junho de 2017

 Nota: Para a conotação religiosa, veja Axé.
Axé
Origens estilísticas Samba-reggae, frevo, reggae, merengue, deboche, forró, ijexá, samba duro, ritmos de Candomblé, pop rock, ritmos afro-brasileiros e afro-latinos.
Contexto cultural Década de 1980, Salvador
Instrumentos típicos Guitarra elétrica, baixo elétrico, percussão
Popularidade Brasil
Outros tópicos
Samba-reggae, pagode baiano, arrocha, black semba, forró elétrico

O axé, ou axé music, é um gênero musical que surgiu no estado da Bahia na década de 1980 durante as manifestações populares do Carnaval de Salvador, misturando o ijexá,[1] samba-reggae,[2] frevo, reggae, merengue, forró, samba duro,[2] ritmos do candomblé,[3] pop rock,[4][5] bem como outros ritmos afro-brasileiros e afro-latinos.[6][7][8][9]

No entanto, o termo "axé" é utilizado erroneamente para designar todos os ritmos de raízes africanas ou o estilo de música de qualquer banda ou artista que provém da Bahia.[10] Sabe-se hoje, que nem toda música baiana é axé, pois lá há o samba-reggae,[11] representado principalmente pelo bloco afro Olodum, o samba de roda, o ijexá — tocado com variações diversas por bandas percussivas de blocos afro como Filhos de Ghandi, Cortejo Afro, Ilê Aiyê, e Muzenza, entre outros —, o pagode baiano e até uma variação de frevo, bem como o sertanejo e forró etc.[12][7][8][13]

O álbum O Canto da Cidade de Daniela Mercury (foto) é considerado o responsável por levar o axé ao público brasileiro.[12] Sendo o álbum Feijão com Arroz reconhecido como o seu melhor trabalho[14] e o ápice estético da axé music.

A palavra "axé" é uma saudação religiosa usada no candomblé, que significa energia positiva.[13][15] Expressão corrente no circuito musical soteropolitano, ela foi anexada à palavra em inglês "music" pelo jornalista Hagamenon Brito em 1987 para formar um termo que designaria pejorativamente aquela música dançante com aspirações internacionais.[8][15]

Com o impulso da mídia, o axé music rapidamente se espalhou por todo o país (com a realização de carnavais fora de época, as chamadas micaretas), e fortaleceu-se como potencial mercadológico, produzindo sucessos durante todo o ano, tendo, como alguns dos maiores nomes, Daniela Mercury, Márcia Freire, Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Margareth Menezes, Asa de Águia, Chiclete com Banana, entre outros.[7][8][15]

Os pioneiros do gênero foram os músicos da renomada banda Acordes Verdes, que acompanhava Luiz Caldas e eram músicos de estúdio da W.R, em Salvador. O principal arranjador do estúdio, na altura, era o compositor Alfredo Moura.[7]

História

Origens e ascensão

As origens do carnaval da Bahia como conhecemos hoje estão na década de 1950, quando Dodô e Osmar começaram a tocar o frevo pernambucano em guitarras elétricas de produção própria — batizadas de guitarras baianas — em cima de uma fobica (um Ford 1929). Nascia o trio elétrico, atração do carnaval baiano para a qual Caetano Veloso chamou a atenção do país em 1975 na canção "Atrás do Trio Elétrico". Mais tarde, Moraes Moreira, dos Novos Baianos, teria a ideia de subir num trio (que era apenas instrumental) para cantar — foi o marco zero da tradição de grandes cantores "puxando" os trios elétricos. A partir da década de 1960, paralelamente ao movimento dos trios, aconteceu o da proliferação dos blocos afro: Filhos de Gandhi (do qual Gilberto Gil faz parte), Badauê, Ilê Aiyê, Muzenza, Araketu e Olodum. Eles tocavam ritmos afro como o ijexá e o samba (utilizando alguns instrumentos musicais da percussão, comuns nas baterias das escolas de samba do Rio de Janeiro).

Ivete Sangalo é uma das cantoras de maior sucesso da música brasileira atualmente.

A axé music propriamente dita nasceu no estúdio WR, no bairro da Graça, em Salvador, com a formação de um grupo de músicos jovens que viria a substituir a banda residente, comandada por Toninho Lacerda (irmão do pianista Carlos Lacerda). O primeiro, da nova leva, a ser contratado foi o baterista Cesinha. Depois dele, o compositor, pianista e arranjador Alfredo Moura, que na época estudava composição e regência na escola de música da Universidade Federal da Bahia, tendo, como professores: Lindembergue Cardoso, Ernst Widmer, Jamary Oliveira, Paulo Costa Lima, entre outros. Luiz Caldas veio em seguida, trazendo o percussionista Tony Mola. Carlinhos Brown foi o último, dessa leva, a entrar, tendo sido submetido a uma audição e sendo aprovado já por Alfredo Moura, na altura o principal arranjador do estúdio.[16]

A cantora fluminense Claudia Leitte ganhou fama na banda Babado Novo, na Bahia, e adotou o axé.

Essa banda que se formou do encontro de músicos contratados originaria a banda Acordes Verdes, que daria início ao movimento. Os arranjos de Alfredo Moura mostrariam ser fundamentais para o estabelecimento do novo estilo musical, pois encontrou um tipo de linguagem popular e altamente comunicativa que possibilitou a divulgação dessa nova música nas rádios e televisões por todo o Brasil.[16] Nos arranjos, notam-se elementos vindos de diversas culturas musicais e que interagiam de forma homogênea apesar da diversidade da origem. A música tinha características baianas e fazia referências ao passado enquanto se posicionava com o presente.

O movimento adquiriu força e os arranjos e a estética original foram intensamente copiados, evoluindo para novas leituras e estilos, tendo uma durabilidade impressionante em termos de música popular brasileira.[16]

Estava criado, então, um polo criador, um centro musical poderoso, e o estilo, concebido por Alfredo Moura com a ajuda dos músicos da banda Acordes Verdes, principalmente Carlinhos Brown, se tornaria referência para as três gerações vindouras, colocando a música da Bahia num cenário pioneiro, dinâmico, e inovador.[12][16]

O estilo nasceu com carga pejorativa e sem saber a que servia. Hoje, ainda há polêmica na hora de definir a quais músicas o termo se aplica, mas todos fazem coro num ponto: seu papel foi o de fundar um novo mercado musical.
[17]

Sob a influência das letras e canções de Bob Marley nos ouvidos, surgiu, no Olodum - sob a batuta do mestre Neguinho do Samba -, um ritmo que misturava reggae e samba, num estilo com forte caráter de afirmação da negritude, que fez sucesso em Salvador a partir da década de 1980: o samba-reggae. Posteriormente, artistas como Gerônimo, Banda Reflexu's e a Banda Mel aderiram a essa novidade rítmica, lançando canções que chegavam ao Sudeste em discos na bagagem dos que lá passavam férias. Em meados da década de 1980, mais precisamente em 1985, Luiz Caldas e Paulinho Camafeu compuseram juntos o primeiro sucesso nacional daquela cena musical de Salvador: "Fricote (Nega do cabelo duro)", gravado por Luiz Caldas. O ritmo era o deboche, criado por Alfredo Moura e Carlinhos Brown. O arranjo inovador e de alta qualidade técnica foi marcante para que a canção (de apenas dois acordes) se tornasse um dos maiores sucessos brasileiros. A canção imediatamente tornou-se um hit e espalhou-se por todo o país, virando um marco para o axé.[12] Com uma introdução épica, onde os teclados simulando metais eram precedidos por uma percussão dançante, a canção traduzia a necessidade de afirmação de uma geração de músicos que não queria ficar no ostracismo causado pela fuga de artistas para o eixo Rio–São Paulo.

Margareth Menezes uniu o axé com ritmos afro-brasileiros em suas músicas.

Uma nova geração de estrelas aparecia para o Brasil: Banda Reflexu's (do sucesso "Madagascar Olodum"), Sarajane (do clássico "A Roda"), Cid Guerreiro (do "Ilariê, gravado por Xuxa), Chiclete com Banana (que vinha de uma tradição de bandas de baile), banda Cheiro de Amor (com Márcia Freire) e Margareth Menezes (a primeira a engatilhar carreira internacional, com a bênção do líder da banda americana de rock Talking Heads, David Byrne). No início da década de 1990, o Olodum foi convidado pelo cantor e compositor americano Paul Simon para gravar participação no disco The Rhythm of The Saints. Posteriormente, tocou com Michael Jackson no videoclipe da canção "They Don't Care About Us" nas ruas do Pelourinho e teve outras parcerias com artistas internacionais e nacionais, que aumentaram a visibilidade do grupo.[18] A modernidade das guitarras se encontrava com a tradição dos tambores em mistura de alta octanagem.

Aquela nova música baiana avançaria mais ainda na direção do pop em 1992, quando o Araketu resolveu injetar eletrônica nos tambores, e o resultado foi o disco homônimo Araketu, gravado pelo selo inglês independente Seven Gates, e lançado apenas na Europa. No mesmo ano, Daniela Mercury lançaria O Canto da Cidade, e o Brasil se renderia de vez ao axé. Aberta a porta, vieram Asa de Águia, Banda Eva (que nasceu do Bloco Eva e revelou Ivete Sangalo), Banda Mel (que depois assinaria como Bamdamel), Banda Cheiro de Amor, Ricardo Chaves, Babado Novo (que revelou Claudia Leitte) etc. A explosão comercial do axé passou, no entanto, longe da unanimidade. Dorival Caymmi reprovou suas qualidades artísticas, Caetano Veloso as endossou. Das tentativas de incorporar o repertório das bandas de pop rock, nasceu a marcha-frevo, que transformou sucessos como "Eva" (Rádio Táxi) e "Me Chama" (Lobão) em mais combustível para a folia.

Enquanto o axé music se fortalecia, alguns nomes buscavam alternativas criativas para a música baiana. O mais significativo deles foi a Timbalada, grupo de percussionistas e vocalistas liderado por Carlinhos Brown (cuja música "Meia Lua Inteira" tinha estourado na voz de Caetano Veloso em 1989), veio com a proposta de resgatar o som dos timbales, que há muito tempo estavam restritos à percussão dos terreiros de candomblé. Paralelamente à Timbalada, Brown lançou dois discos solo – Alfagamabetizado (1996) e Omelete Man (1998), arranjados por Alfredo Moura. Com sua incorporação de várias tendências do pop e da MPB à música baiana, Brown obteve grande reconhecimento no exterior. Além disso, ele desenvolveu um trabalho social e cultural de alta relevância entre a população da comunidade carente do Candeal, no bairro de Brotas, em Salvador, com a criação do espaço cultural Candyall Guetho Square, o grupo de percussão Lactomia (para formar uma nova geração de instrumentistas) e a escola de música Pracatum.

Enquanto isso, os nomes de sucesso da música baiana multiplicavam-se: aos então conhecidos Banda Eva, Bamdamel, Araketu, Chiclete com Banana e Cheiro de Amor, juntaram-se o ex-Beijo Netinho e os grupos Jammil e Uma Noites e Pimenta N'ativa.

Perspectivas para o futuro

Muitos críticos avaliam que, nos últimos anos, o axé tem estado em declínio, não devido a queda de popularidade, mas sim porque novas canções de novos grupos musicais não têm a mesma força que as antigas. Os principais grupos de axé do país continuam sendo os mesmos da década da 1990, com novos grupos musicais não alcançando o mesmo nível de expressão dos grupos musicais mais antigos. Isso gera a preocupação de que o ritmo baiano não possa se renovar com uma nova geração e perca sua relevância quando os grupos musicais mais antigos gradualmente encerrarem suas atividades.

Commons
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Referências

  1. PEREIRA, Ianá Souza. Axé-axé: o megafenômeno baiano. Revista África e Africanidades, Rio de Janeiro, ano 2, n. 8, fev. 2010, p.03
  2. a b CASTRO, A. A. Axé music: mitos, verdades e world music. Per Musi, Belo Horizonte, n.22, 2010, p.205.
  3. ARAÚJO FILHO, Antonio Neves de. PROTESTOS E MANIFESTAÇÕES AFRO-BRASILEIRAS NA MÚSICA NEGRA BAIANA NOS ANOS DE 1980. UFRN, Caicó, 2016, p.17.
  4. PEREIRA, Ianá Souza. Axé-axé: o megafenômeno baiano. Revista África e Africanidades, Rio de Janeiro, ano 2, n. 8, fev. 2010, p.02
  5. CASTRO, A. A. Axé music: mitos, verdades e world music. Per Musi, Belo Horizonte, n.22, 2010, p.204-205.
  6. Do fricote que esquenta Garanhuns. Portal Cultura PE.
  7. a b c d SANTANNA, Marilda (2009). As donas do canto. o sucesso das estrelas-intérpretes no carnaval de Salvador. Salvador: Edufba. ISBN 8523208852 
  8. a b c d DINIZ, André (2008). Almanaque do carnaval. A história do carnaval, o que ouvir, o que ler, onde curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. p. 180. ISBN 9788537800478 
  9. SYLLOS, Gilberto de. e MONTANHAUR, Ramon. Bateria e Contrabaixo na Música Popular Brasileira. 3ª edição. Rio de Janeiro: Lumiar,2002, (p. 65).
  10. G1 lista 15 músicas para entender o axé e o carnaval baiano
  11. Margareth Menezes (abril de 2014). «A música para divulgar valores». Editora Minuano. Revista Raça Brasil (186) 
  12. a b c d O sucesso do Axé music, 25 anos depois. Diário do Pará.
  13. a b http://www.tecap.uerj.br/pdf/v81/rafael_guarato.pdf
  14. NICKSON, Chris. Feijão com Arroz - Daniela Mercury | Songs, Reviews, Credits, Awards. AllMusic.
  15. a b c GUERREIRO, Almerinda (2000). A trama dos tambores. a música afro-pop de Salvador. [S.l.]: Editora 34. ISBN 9788573261752 
  16. a b c d SANTANNA, Marilda. As donas e as vozes: uma interpretação sociológica do sucesso das estrelas- intérpretes no carnaval de Salvador. UFBA.
  17. ARANHA, Ana. [ttp://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT904129-1661,00.htm. Vinte anos de baianidade]. Revista Época [on line]. Edição 351. [S. I.]: 07 fevereiro 2005. Último acesso em 15 setembro 2012.
  18. "They Don't Care About Us" - Michael Jackson. UOL Mais.

Ver também

Ligações externas