Benedita da Silva

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Benedita da Silva
Benedita da Silva
Bené em 2024
Deputada Federal pelo Rio de Janeiro
Período 2°: 1º de fevereiro de 2011
até a atualidade

1°: 1° de fevereiro de 1987
até 1º de fevereiro de 1995

Secretária de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro
Período 1º de janeiro de 2007
até 31 de março de 2010
Governador Sérgio Cabral Filho
Ministra da Assistência e Promoção Social do Brasil
Período 1º de janeiro de 2003
até 1º de janeiro de 2007
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
59.º Governadora do Rio de Janeiro
Período 6 de abril de 2002
até 1º de janeiro de 2003
Vice-governador Nenhum
Antecessor(a) Anthony Garotinho
Sucessor(a) Rosinha Garotinho
Vice-Governadora do Rio de Janeiro
Período 1º de janeiro de 1999
até 6 de abril de 2002
Governador Anthony Garotinho
Antecessor(a) Luiz Paulo Corrêa da Rocha
Sucessor(a) Luiz Paulo Conde
Senadora pelo Rio de Janeiro
Período 1º de fevereiro de 1995
até 17 de dezembro de 1998
Vereadora do Rio de Janeiro
Período 1º de janeiro de 1983
até 14 de março de 1986
Dados pessoais
Nascimento 26 de abril de 1942 (82 anos)
Rio de Janeiro, DF
Nacionalidade brasileira
Primeiro-cavalheiro Antônio Pitanga
Cônjuge Antônio Pitanga (1992-atual)
Partido PT (1980-presente)
Religião Protestantismo[1]
Profissão servidora pública, professora, auxiliar de enfermagem e assistente social

Benedita Sousa da Silva Sampaio (Rio de Janeiro, 26 de abril de 1942) é uma servidora pública, professora, auxiliar de enfermagem, assistente social e política brasileira filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT).[2][3] Foi a 59ª governadora do Rio de Janeiro e atualmente é deputada federal (2023-2026).[4] É esposa do ator Antônio Pitanga e madrasta da atriz Camila Pitanga e do ator Rocco Pitanga.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeira senadora negra do Brasil, também sendo ativista política do Movimento Negro e assumidamente feminista, Benedita Sousa da Silva nasceu no dia 26 de abril de 1942, no Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio de Janeiro. Filha da lavadeira Maria da Conceição Sousa da Silva, e do pedreiro e lavador de carro José Tobias da Silva. A família era de baixa renda e residia na favela da Praia do Pinto, no Leblon. Esta comunidade não existe mais, pois foi completamente destruída nos anos 1960 por um incêndio.[5]

Ainda recém-nascida, foi morar na favela do Chapéu-Mangueira, no Leme, onde foi criada. Com uma família numerosa de 14 irmãos, todos precisaram interromper os estudos para ajudar nas despesas do lar. Benedita, apelidada de Bené, passou a trabalhar ainda na infância, vendendo limões e amendoins pelas ruas da cidade. Na adolescência foi trabalhar como tecelã em uma fábrica de tecidos, e em casa ajudava sua mãe a lavar, passar e entregar as roupas dos clientes.[5]

Por ocasião das comemorações do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, em 1965, e também por seu ativismo político desde muito cedo, foi indicada como representante do bairro de Copacabana, no concurso de mulheres sambistas promovido pela Prefeitura, tendo sido eleita a Miss IV Centenário. Em 1968 batizou-se nas águas, convertendo-se ao evangelismo, no seguimento Assembleia de Deus.[5]

Foi nas décadas de 1960-70, tempos de agitação social devido ao regime militar, que Benedita e sua amiga Marcela reuniram diversas mulheres do Chapéu-Mangueira para enfrentar a situação precária da comunidade, saindo às ruas em protestos e cobrando melhorias, resistindo também às investidas da polícia. Com ajuda da comunidade, fundou o Departamento Feminino da Associação de Moradores do Chapéu-Mangueira.[5]

Logo depois do renascimento do movimento feminista carioca em 1975, essa pioneira associação de mulheres da comunidade procurou o Centro da Mulher Brasileira, para articular um trabalho em conjunto, promovendo uma troca de experiências entre estratos sociais diferentes.[5]

Trabalhou como faxineira enquanto estudava para as aulas do colegial e posteriormente do pré vestibular. Formou-se em um curso de auxiliar de enfermagem, conseguindo um trabalho em um hospital. Em 1982, formou-se em serviço social.[5]

Sua atuação nos movimentos de favela, no movimento negro e de mulheres foi o início para sua candidatura como vereadora nas eleições municipais de 1982 pela legenda do Partido dos Trabalhadores. Foi a única mulher afro-brasileira eleita para o cargo de deputada federal constituinte, reeleita para um segundo mandato em 1990, sendo eleita senadora em 1994, com mais de 2 milhões e 400 mil votos, e vice-governadora no pleito de 1998.[5]

Seus mandatos foram marcados pela defesa das minorias sociais. É de sua autoria o projeto que inscreveu Zumbi dos Palmares no panteão dos heróis nacionais; Instituiu o dia 20 de novembro como o “Dia Nacional da Consciência Negra”, além de outros projetos que propõem a inclusão de negros nas produções das emissoras de televisão, filmes e peças publicitárias. Também criou delegacias especiais para apurar crimes raciais, cota mínima em instituições de ensino superior, obrigatoriedade do quesito etnia em documentos oficiais, assinou a lei contra o assédio e a favor dos direitos trabalhistas extensivos às empregadas domésticas.[5]

Bené teve sua iniciação política no movimento comunitário da favela e afirmava: “A militância política do pobre começa no berço, no bairro, e não no partido. Foi na rua que aprendi que preciso lutar pela igualdade social para os homens e as mulheres!”[5]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Casou-se em 1962 com seu primeiro namorado, o pedreiro Nilton Aldano da Silva. Eles começaram a namorar em 1960. Juntos, tiveram dois filhos: Pedro Paulo Sousa da Silva Aldano, nascido em 1964, e Nilcéa Sousa da Silva Aldano, nascida em 1966. Em 1981 ficou viúva. Em 1982 conheceu o líder comunitário Aguinaldo Bezerra dos Santos, e em 1983 casaram-se. Benedita ficou novamente viúva em 1988. Em 1990 conheceu e iniciou um relacionamento afetivo com o ator e político Antônio Pitanga. Benedita casou-se pela terceira vez em 1992, e até hoje está junto de seu marido. Com o matrimônio, tornou-se madrasta dos atores Rocco Pitanga e Camila Pitanga.[5]

Carreira política[editar | editar código-fonte]

Benedita em pronunciamento na Constituinte.

Em 1980 tomou parte na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), mas iniciou sua carreira política ao se eleger vereadora do Rio de Janeiro em 1982, após militância na Associação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro. Em 1986, foi eleita deputada federal, e se reelegeu para este cargo em 1990.[6]

Na Legislatura de 1987-91, Benedita participou da Assembleia Nacional Constituinte, onde atuou como titular da Subcomissão dos Negros, das Populações Indígenas e Minorias. Em seguida, passou à Comissão de Ordem Social e da Comissão dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher.

Em 1992, foi candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) a prefeitura do Rio de Janeiro. Terminou o primeiro turno em primeiro lugar, mas foi derrotada no segundo turno por César Maia, candidato do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Em 1994, Benedita da Silva foi eleita com expressiva votação (2.248.861 votos) para o Senado Federal, a câmara alta do Poder Legislativo brasileiro. Alguns anos mais tarde, Benedita largaria o Senado para disputar o Governo do Estado do Rio de janeiro, numa aliança política inédita que reuniu todos os partidos progressistas do país.

Foi eleita vice-governadora do Rio de Janeiro em 1998, na chapa de Anthony Garotinho. Para assumir o cargo, renunciou ao mandato de Senadora, que só terminaria em 2002 - assumiu o suplente Geraldo Cândido. Em 2001, presidiu a Conferência Nacional de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, que reuniu mais de dez mil pessoas de todo país, entre lideranças de ONGs e governos.

Benedita e o deputado Miro Teixeira.

Com a renúncia de Anthony Garotinho para concorrer à Presidência da República em abril de 2002, assumiu o governo do estado do Rio de Janeiro. Seu governo de nove meses, foi marcado por forte crise financeira no estado do Rio de Janeiro e pelo andamento de obras paralisadas no governo de Anthony Garotinho como o emissário da Barra da Tijuca, a despoluição da Baía de Guanabara e as obras da estação Siqueira Campos, da linha 1 do metrô do Rio de Janeiro.

Seu governo também foi marcado por troca de acusações entre ela e seu antecessor pela responsabilidade nos rombos do governo, o TCE-RJ reprovou as contas do exercício de 2002.[7]

Candidata a reeleição ao governo do Rio de Janeiro nas eleições de 2002, foi preterida pelas classes menos abastadas da população, reduto eleitoral do PT, onde Rosinha Garotinho (PSB) alcançou expressivas votações, Benedita teve seus melhores resultados entre as classes A e B (onde Garotinho e seu grupo político possuem alta rejeição) e por isso não conseguiu um novo mandato obtendo 1.954.379 votos (24,44%).

Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, assumiu em janeiro de 2003 o Ministério da Assistência e Promoção Social.[8] Deixou o governo sob polêmica, após usar recursos públicos em um evento religioso na Argentina. Devolveu o valor das diárias e das passagens após o caso ser divulgado pela imprensa.[9]

Assumiu em janeiro de 2007, a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, no Governo Sérgio Cabral Filho. Foi em 2010 eleita para mais um mandato de deputada federal pelo Rio de Janeiro com 71.036 votos (0,89%), e reeleita em 2014 e 2018, com 48.163 (0,63%) e 44.804 votos (0,58%), respectivamente.[10][11]

Por sua luta contra o racismo, em 2017 foi homenageada na Exposição "Lembre-se da Escravidão" na ONU. Em junho de 2020, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), em nome da ONG Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), questionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a possibilidade de haver cota nos partidos políticos para candidatos negros e para o financiamento e tempo de propaganda eleitoral de suas campanhas. Em agosto, por 6 votos favoráveis e um contrário, o TSE acatou o pedido e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, determinou a aplicação das regras já no pleito de 2020.

Benedita no exercício do mandato em Brasília.

Benedita da Silva foi autora da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, no contexto da pandemia de COVID-19 no Brasil.[12]

Foi candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) a prefeitura do Rio de Janeiro, nas eleições de 2020. Seu partido oficializou sua pré-candidatura em 3 de julho, após Marcelo Freixo (PSOL) desistir de concorrer às eleições. Os dois formariam uma chapa.[13] Benedita concorreu com o apoio do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que indicou a deputada estadual Rejane de Almeida para a vice. Benedita não passou para o 2° turno, ficando em 4° lugar atrás dos candidatos Eduardo Paes (Democratas), Marcelo Crivella (Republicanos) e Martha Rocha (PDT).[14] Recebeu 11,27% (296.847) dos votos, cerca de 900 atrás da candidata do PDT.[15] Benedita ficou neutra no 2° turno, não apoiando Paes ou Crivella.

Em 2022 foi eleita deputada federal (PT) pelo Rio de Janeiro com 113.831 votos.[4]

Denúncias de improbidade administrativa[editar | editar código-fonte]

Em 2003, a deputada recebeu denúncias por improbidade administrativa pela Procuradoria da República no Distrito Federal. O órgão apontava enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e violação aos princípios da administração pública, em razão de supostas irregularidades em viagens que fizeram em 2003.[16][17]

As acusações estavam associadas a viagens aparentemente de compromisso oficial utilizadas para emprestar legalidade a viagens pessoais bancada com recursos públicos.

De acordo com a mesma ação, também há indícios de irregularidades na viagem da ministra ao participar, em Washington, no mês de setembro, do encontro "Mulheres no Governo: Impacto na Governabilidade Democrática", promovido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. Segundo os procuradores, a deputada e a gerente de projetos do Ministério da Assistência e Promoção Social, Valéria Vieira de Moraes, tinham antecipado, na época, a viagem para Nova York acarretaram um gasto adicional de R$ 9 mil aos cofres públicos.[16]

Na mesma denúncia, havia uma terceira viagem, também considerada irregular pelos procuradores. Essa denuncia aponta irregularidades numa viagem, sob a alcunha de oficial, utilizada para acobertar o que foi na verdade um compromisso religioso, com a servidora Ellen Márcia, no encontro "12º Café da Manhã Anual de Orações", em setembro, na Argentina.[16][17]

Em 2015, a Quinta Promotoria de justiça determinou quebra de sigilo bancário da deputada por, novamente, improbidade administrativa. A justiça tinha apontado irregularidades nos projetos sociais “Mulheres da Paz”, “Projeto” e “Peus - Espaços Urbanos Seguros, entre os períodos de 2008 e 2011, todos executados pela deputada.[18]

Referências

  1. «Sessão: 195.3.54.O». Câmara dos Deputados. 4 de julho de 2013. Consultado em 3 de fevereiro de 2016 
  2. «Benedita da Silva». Câmara dos Deputados. Consultado em 12 de novembro de 2019 
  3. Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «Benedita Sousa da Silva». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 23 de junho de 2021 
  4. a b «Veja quem são os 46 deputados federais eleitos pelo RJ; Daniela do Waguinho, do União, foi a mais votada». G1. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  5. a b c d e f g h i j Barsotti, Adriana (25 de outubro de 1999). «Benedita da Silva entre a favela e o palácio». IstoÉ - Gente. Consultado em 12 de novembro de 2019 
  6. «Benedita Sousa da Silva». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 23 de junho de 2021 
  7. «RJTV» 🔗. RJTV. Globo 
  8. «Pesquisa». IN 
  9. «MP faz mira nos ministros». Jornal de Brasília. 22 de abril de 2008. Consultado em 1 de dezembro de 2020. Cópia arquivada em 22 de abril de 2008 
  10. «Benedita da Silva». Eleições 2014. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  11. «Benedita da Silva». Eleições 2018. Consultado em 21 de outubro de 2018 
  12. «Bolsonaro sanciona Lei Aldir Blanc, que dará R$ 3 bilhões de auxílio emergencial para a cultura». O Globo. 29 de junho de 2020. Consultado em 19 de julho de 2020 
  13. «Benedita da Silva será a candidata do PT à prefeitura do Rio». Poder 360. 5 de junho de 2020. Consultado em 5 de junho de 2020 
  14. «Resultado das Eleições e Apuração Rio de Janeiro-RJ no 2º Turno». G1 eleições. Consultado em 1 de janeiro de 2021 
  15. «Resultado das Eleições e Apuração Rio de Janeiro-RJ no 2º Turno». G1 eleições. Consultado em 1 de janeiro de 2021 
  16. a b c «Benedita da Silva é acionada por improbidade administrativa». Consultor Jurídico. Consultado em 26 de dezembro de 2021 
  17. a b «Folha de S.Paulo - Ministra no fogo: Procuradoria aciona Benedita por 3 viagens - 12/12/2003». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 26 de dezembro de 2021 
  18. «Benedita da Silva é acusada de improbidade administrativa». Agência Brasil. 2 de abril de 2015. Consultado em 26 de dezembro de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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Governadora do Rio de Janeiro
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Sucedido por
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