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Essência floral

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Mulher olhando para produtos homeopáticos e essências florais.

Essência floral, elixir floral ou florais de Bach é um tipo de tratamento pseudocientífico que utiliza soluções de brandy ou álcool e água contendo diluições extremas/extratos de flores ou outras partes de plantas, criados pelo médico e homeopata britânico Edward Bach (1886-1936) na década de 1930.[1]

Os preparados normalmente se administram por via oral e não apresentam toxicidade para as doses habituais. Revisões sistemáticas de ensaios clínicos de soluções florais de Bach não encontraram evidência de eficácia.

As soluções das essências florais, chamadas de essência mãe, contém uma mistura de aproximadamente 50:50 de água e brandy.[2] Frascos de estoque, que são os produtos vendidos em lojas, são diluições da essência mãe em outro líquido, normalmente em uma parte da essência mãe para algumas centenas de partes de brandy, resultando em uma graduação alcoólica entre 25 e 40%, embora existam preparações sem álcool.[3] Estas soluções não apresentam nada do aroma ou sabor característicos da planta utilizada devido à forma como estes produtos são preparados. O processo de extração do princípio ativo resulta em água com algumas impurezas, e o processo de diluição praticado, semelhante ao da homeopatia, resulta em uma probabilidade estatística de que reste, em média, menos de uma molécula do princípio ativo em uma dose do produto. Proponentes desta forma de terapia afirmam que os remédios contém algo de natureza energética ou vibracional da flor e que isto promove resultados curativos,[4] e florais são comumente chamados de essências vibracionais,[5] o que indica que se baseiam no conceito pseudocientífico de memória da água.

As essências florais não são reconhecidas pela comunidade médica internacional como uma forma de tratamento médico, e nem os cursos de medicina ministram esta matéria. A preponderância da evidência científica sugere que estes produtos não possuem eficácia além do efeito placebo.[4]

Em uma revisão da base de dados de ensaios randomizados, Edzard Ernst concluiu que:

A hipótese de que essências florais estão associadas com efeitos além do placebo não se suporta pelos dados de ensaios clínicos rigorosos.[6]

Produtos à venda na rede Drogasil em Ilhéus, BA, 2022.

Nesta revisão,[6] verificou-se que os poucos estudos que apresentaram resultados positivos apresentavam falhas metodológicas sérias, como a ausência de grupo controle e vieses de seleção, não servindo portanto como evidências científicas favoráveis à terapia.

Todos os estudos duplos-cegos randomizados, tanto os que apresentaram resultado positivo como negativo, sofreram de tamanho pequeno de coorte, mas os estudos metodologicamente mais adequados não encontraram resultado superior ao de um placebo.[7][8]

Uma revisão sistemática publicada em 2009 concluiu que:

A maioria da evidência disponível sobre e eficácia e segurança dos florais de Bach apresenta alto risco de viés. Concluímos que, com base nos efeitos adversos relatados nestes seis ensaios, florais são provavelmente seguros. Poucos ensaios prospectivos de florais para problemas psicológicos e dor existem. Nossa análise dos quatro ensaios controlados de florias para ansiedade devido a provas e TDAH indica que não há evidência de benefício em comparação com a intervenção placebo.[4]

Uma nova revisão sistemática publicada por Ernst em 2010 concluiu que:

Todos os ensaios controlados por placebo foram incapazes de demonstrar eficácia. Conclui-se que os ensaios clínicos mais confiáveis não mostram nenhuma diferença entre florais e placebos.[9]

O mecanismo de ação mais provável para os florais é como placebos, amplificado pela introspecção sobre o estado emocional do paciente, ou simplesmente por ser ouvido pelo terapeuta. O ato de selecionar e tomar um remédio pode agir como um ritual calmante.[6]

Bach acreditava que as doenças eram causadas por um conflito entre os propósitos da alma e as ações e atitudes da personalidade. Esta guerra interior, conforme acreditava Bach, leva a humores negativos e a "bloqueios energéticos", supostamente levando à falta de "harmonia", e que a cura seria atingida ao se atingir esta harmonia entre alma e mente, o que erradicaria a própria causa básica das doenças.[10]

As soluções foram desenvolvidas por Bach de forma intuitiva[11] e com base na sua crença de possuir conexões psíquicas com as plantas, em vez de através de pesquisas baseadas em metodologias confiáveis.[12] Se Bach sentisse uma emoção negativa, ele poria sua mão acima de diferentes plantas, e quando achava que uma delas causava algum tipo de alívio, ele atribuía o poder de curar aquele problema emocional àquela planta. Bach imaginou que a luz do sol matinal passando através de gotas de orvalho sobre as pétalas das flores transferia o poder durativo das flores para a água.[13] então ele passou a coletar as gotas de orvalho das plantas e a preservá-lo com uma parte igual de brandy para produzir a essência mãe, que seria diluída antes do uso.[14] Posteriormente, ao perceber que a quantidade de orvalho coletada era insuficiente, ele passou a suspender as flores em água de nascente e deixá-las expostas ao sol. Quando isto não era possível, por falta de luz solar ou outros motivos, ele escreveu que as flores podiam ser fervidas.[13]

Bach ficou satisfeito com este método, por causa da sua simplicidade, e porque envolvia um processo que combinava os quatro elementos:

A terra para nutrir a planta, o ar do qual esta se alimenta, o sol ou fogo para transferir seu poder, e a água para coletar e se enriquecer com seu poder curativo magnético.[15]

Legislação brasileira

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No Brasil, as essências florais não são consideradas medicamentos, drogas ou insumos farmacêuticos, não sendo regulamentados pela ANVISA. Essa classificação exime esses preparados de apresentarem comprovações de eficácia em tratamentos, mas também não permite que sejam apresentadas indicações terapêuticas, com finalidades preventivas ou curativas.[5]

Em março de 2018, as terapias florais foram inseridas na lista de práticas integrativas oferecidas pelo Sistema Único de Saúde como parte da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares.[16]

Referências

  1. Daniel, Salles; dos Santos, Alexandre Carvalho (8 de abril de 2018). «Como funcionam os florais de Bach?». Revista Super interessante. Consultado em 17 de junho de 2021 
  2. Weeks, Nora; Bullen, Victor (1990). Bach Flower Remedies: Illustrations and Preparations [Florais de Bach:Ilustrações e preparos] (em inglês) 2nd edition ed. [S.l.]: The CW Daniel Co. ISBN 978-0852072059 
  3. «FAQ: Do your essences contain alcohol?» [Suas essências contém álcool?]. feelbach.com. Consultado em 4 de março de 2019 
  4. a b c Thaler, Kylie; Kaminski, Angela; Chapman, Andrea; Langley, Tessa; Gartlehner, Gerald (26 de maio de 2009). «Bach Flower Remedies for psychological problems and pain: a systematic review». BMC complementary and alternative medicine. 9. 16 páginas. ISSN 1472-6882. PMID 19470153. doi:10.1186/1472-6882-9-16 
  5. a b «Consolidado de respostas aos questionamentos recebidos pela COFID em 2014». 23 de janeiro de 2015. Consultado em 4 de março de 2019. Cópia arquivada em 4 de março de 2019 
  6. a b c Ernst E (2002). «"Flower remedies": a systematic review of the clinical evidence» ["Remédios florais": uma revisão sistemática da evidência clínica] 23–24 ed. Wiener Klinische Wochenschrift. 114: 963–6. PMID 12635462 
  7. Walach H; Rilling C; Engelke U (2001). «Efficacy of Bach-flower remedies in test anxiety: a double-blind, placebo-controlled, randomized trial with partial crossover» [Eficácia de florais de Bach em ansiedade devido a provas: um ensaio duplo cego, controlado por placebo, parcialmente cruzado] 4 ed. J Anxiety Disord. 15: 359–66. PMID 11474820. doi:10.1016/S0887-6185(01)00069-X 
  8. Pintov S; Hochman M; Livne A; Heyman E; Lahat E (2005). «Bach flower remedies used for attention deficit hyperactivity disorder in children: a prospective double blind controlled study» [Florais de Bach usados para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: um estudo prospectivo duplo cego controlado] 6 ed. European Journal of Paediatric Neurology. 9: 395–8. PMID 16257245. doi:10.1016/j.ejpn.2005.08.001. 16257245 
  9. Edzard Ernst (2010). «Bach flower remedies: a systematic review of randomised clinical trials» [Florais de Bach: uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados]. Swiss Medical Weekly. 140: w13079. PMID 20734279. doi:10.4414/smw.2010.13079 
  10. Bach, Edward (1931). Heal thyself : an explanation of the real cause and cure of disease [Cura-te a ti mesmo] (PDF). London: C.W. Daniel. OCLC 16651016 
  11. Graham, Helen (1999). Complementary Therapies in Context: The Psychology of Healing [Terapias complementares em contexto: A psicologia da cura]. [S.l.]: Jessica Kingsley Publishers. 254 páginas. ISBN 1-85302-640-9 
  12. Wood, Matthew (2000). Vitalism: The History of Herbalism, Homeopathy and Flower Essences [Vitalismo: A história do herbalismo, homeopatia e essências florais]. Richmond, Califórnia: North Atlantic Books. ISBN 1-55643-340-9 
  13. a b Larimore Walt; O'Mathuna Donal (2007). Alternative medicine: The Christian handbook, updated and expanded [Medicina alternativa: O livreto cristão, atualizado e expandido]. Grand Rapids, Michigan: Zondervan. 293 páginas. ISBN 0-310-26999-7 
  14. Robson, Terry (2004). An introduction to complementary medicine [Introdução à medicina complementar]. [S.l.]: Allen & Unwin Academic. pp. 184–5. ISBN 1-74114-054-4 
  15. Barnard, Julian (2004). Bach Flower Remedies. Great Barrington, MA: Lindisfarne Books. 64 páginas. ISBN 1-58420-024-3 
  16. «Ministério da Saúde inclui 10 novas práticas integrativas no SUS». 12 de março de 2018. Consultado em 4 de março de 2019