Raça (categorização humana): diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m Foram revertidas as edições de BahYajé e Y4guarEtã para a última revisão de RodsTR, de 20h45min de 25 de outubro de 2023 (UTC)
Etiqueta: Reversão
+ ampliação
Etiqueta: Inserção de predefinição obsoleta
Linha 1: Linha 1:
{{Raça}}
{{Raça}}
{{Antropologia}}
'''Raça''' pode ser entendida como um [[constructo social]], usado para distinguir pessoas em termos de uma ou mais marcas físicas.<ref>{{Citar web|título=Definition of race&nbsp;– ethnic group, anthropology, personal attribute|url=http://oxforddictionaries.com/definition/english/race--2|obra=Oxford Dictionaries|publicado=Oxford University Press|acessodata=5 de outubro de 2012|citação=a group of people sharing the same culture, history, language, etc.}}</ref><ref name="Keita1">{{citar periódico|último =Keita|autor2 =Kittles, Royal, Bonney, Furbert-Harris, Dunston, Rotimi|periódico=Nature|ano=2004|volume=36|número=11s|páginas=S17–S20|doi=10.1038/ng1455|url=http://www.nature.com/ng/journal/v36/n11s/full/ng1455.html|citação=Religious, cultural, social, national, ethnic, linguistic, genetic, geographical and anatomical groups have been and sometimes still are called 'races'|pmid=15507998|título=Conceptualizing human variation|primeiro1 =S O Y|último3 =Royal|primeiro3 =C D M|último4 =Bonney|primeiro4 =G E|último5 =Furbert-Harris|primeiro5 =P|último6 =Dunston|primeiro6 =G M|último7 =Rotimi|primeiro7 =C N}}</ref> Em outras palavras, ''raça'' é uma categoria usada para se referir a um grupo de pessoas cujas marcas físicas são consideradas socialmente significativas. Desse modo, ''raça'' é um importante instrumento analítico para a [[sociologia]], pois entende-se que as percepções e concepções de raça podem afetar e organizar a vida social das pessoas, sendo responsável principalmente pela criação e manutenção de um sistema de desigualdade social.<ref>{{citar livro|nome = Florestan|sobrenome = Fernandes|título = A Integração do Negro na Sociedade de Classes|ano = 1978|isbn = }}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo = Guimarães|primeiro = A. S. A.|titulo = Racismo e Anti-Racismo no Brasil|jornal = |doi = |url = http://novosestudos.org.br/v1/files/uploads/contents/77/20080626_racismo_e_anti_racismo.pdf|acessadoem = |arquivourl = https://web.archive.org/web/20160303202122/http://novosestudos.org.br/v1/files/uploads/contents/77/20080626_racismo_e_anti_racismo.pdf|arquivodata = 2016-03-03|urlmorta = yes}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo = Hasenblag, Silva|primeiro = C., N. V.|titulo = Relações Raciais no Brasil Contemporâneo|jornal = |doi = |url = |acessadoem = }}</ref>
'''Raça''' é uma [[categorização]] de [[Humano|humanos]] baseada em características físicas ([[Fenótipo|fenotípicas]]) e/ou socioculturais compartilhadas por grupos geralmente vistos como distintos dentro de uma determinada [[sociedade]].<ref name="Barnshaw">{{cite book |last=Barnshaw |first=John |editor-last=Schaefer |editor-first=Richard T. |title=Encyclopedia of Race, Ethnicity, and Society |volume=1 |date=2008 |publisher=Sage Publications |isbn=978-1-45-226586-5 |pages=1091–1093 |chapter-url=https://books.google.com/books?id=YMUola6pDnkC&q=race+social+construction&pg=PT1217 |chapter=Race}}</ref> O termo passou a ser de uso comum durante o século XVI, quando era utilizado para se referir a grupos de vários tipos, incluindo aqueles caracterizados por relações estreitas de [[parentesco]].<ref>{{Citar web|ultimo=Roediger|primeiro=David R.|url=https://nmaahc.si.edu/learn/talking-about-race/topics/historical-foundations-race|titulo=Historical Foundations of Race|website=Smithsonian}}</ref> No século XVII, o termo começou a se referir a qualidades físicas e, mais tarde, a afiliações [[Nacionalidade|nacionais]]. A ciência moderna considera que o conceito de "raças humanas" é uma [[construção social]], uma [[identidade]] atribuída com base em regras estabelecidas pela sociedade.<ref name=":8"/><ref name="Malina2021">{{Citar periódico |título=Misrepresenting Race — The Role of Medical Schools in Propagating Physician Bias |data=março de 2021 |periódico=[[The New England Journal of Medicine]] |publicado=Massachusetts Medical Society |número=9 |ultimo=Amutah |primeiro=C. |ultimo2=Greenidge |primeiro2=K. |editor-sobrenome=Malina |editor-nome=D. |paginas=872–878 |doi=10.1056/NEJMms2025768 |issn=1533-4406 |pmid=33406326 |ultimo3=Mante |primeiro3=A. |ultimo4=Munyikwa |primeiro4=M. |ultimo5=Surya |primeiro5=S. L. |ultimo6=Higginbotham |primeiro6=E. |ultimo7=Jones |primeiro7=D. S. |ultimo8=Lavizzo-Mourey |primeiro8=R. |ultimo9=Roberts |primeiro9=D. |volume=384 |doi-access=free}}</ref><ref name="Gannon2016">{{Citar revista|sobrenome=Gannon|primeiro=Megan|data=5 de fevereiro de 2016|título=Race Is a Social Construct, Scientists Argue|url=https://www.scientificamerican.com/article/race-is-a-social-construct-scientists-argue/|urlmorta=live|revista=[[Scientific American]]|issn=0036-8733|arquivourl=https://web.archive.org/web/20230214120609/https://www.scientificamerican.com/article/race-is-a-social-construct-scientists-argue/|arquivodata=14 de fevereiro de 2023|acessodata=1 de março de 2023}}</ref> Embora parcialmente baseada em semelhanças físicas dentro dos grupos, o termo "raça" não tem um significado físico ou biológico inerente na [[espécie humana]].<ref name="Barnshaw"/><ref name="Britannica"/><ref>{{Citar periódico |url=https://www.science.org/doi/10.1126/science.aac4951 |título=Taking race out of human genetics |data=5 de fevereiro de 2016 |periódico=[[Science (journal)|Science]] |publicado=[[American Association for the Advancement of Science]] |número=6273 |ultimo=Yudell |primeiro=M. |ultimo2=Roberts |primeiro2=D. |paginas=564–565 |bibcode=2016Sci...351..564Y |doi=10.1126/science.aac4951 |issn=0036-8075 |pmid=26912690 |ultimo3=DeSalle |primeiro3=R. |ultimo4=Tishkoff |primeiro4=S. |volume=351}}</ref> O conceito de "raça" é fundamental para o [[racismo]], a crença de que os humanos podem ser divididos com base na superioridade de uma raça sobre outra.


As concepções sociais de raça variaram ao longo do tempo, muitas vezes envolvendo [[Taxonomia|taxonomias]] populares que definem tipos essenciais de indivíduos com base em características percebidas. Os cientistas modernos consideram esse [[essencialismo]] biológico obsoleto{{Sfnp|Sober|2000}} e geralmente desencorajam explicações raciais para a diferenciação coletiva em características físicas e comportamentais.<ref name="Lee, Mountain; et al. 2008"/><ref name="aaa"/><ref name="Keita2"/><ref>{{Citar livro|título=Race and Reality|ultimo=Harrison|primeiro=Guy|data=2010|editora=Prometheus Books|localização=Amherst, New York}}</ref><ref>{{Citar livro|título=Fatal Invention|ultimo=Roberts|primeiro=Dorothy|data=2011|editora=The New Press|localização=London / New York}}</ref>
Usado em primeiro lugar para se referir a falantes de uma [[idioma]] comum e, posteriormente, para denotar filiações [[Nação|nacionais.]] No século XVII, iniciou-se o uso do termo para relacionar os [[Fenótipo|traços físicos observáveis]] das pessoas. Tal uso promoveu hierarquias favoráveis ​​a diferentes [[grupos étnicos]]. A partir do século XIX, o termo passou a ser usado frequentemente, em um sentido [[Taxonomia|taxonômico]], para designar as populações humanas geneticamente diferentes, definidas pelo fenótipo. As concepções sociais e agrupamentos de [[raça]]s variaram ao longo do tempo, envolvendo taxonomias populares<ref name="montagu">''See:''
* {{harvnb|Montagu|1962}}
* {{harvnb|Bamshad|Olson|2003}}</ref> que definem tipos essenciais de indivíduos com base em traços observáveis. Os cientistas consideram o [[essencialismo]] biológico obsoleto, e, geralmente, desencorajam explicações raciais para diferenciações coletivas em relação a traços físicos e/ou comportamentais.<ref name="Keita2">{{citar periódico|último =Keita|autor2 =Kittles, Royal, Bonney, Furbert-Harris, Dunston, Rotimi|título= Conceptualizing human variation |periódico=Nature|ano=2004|volume=36|número=11s|páginas=S17–S20|doi=10.1038/ng1455|url=http://www.nature.com/ng/journal/v36/n11s/box/ng1455_BX1.html|pmid=15507998|primeiro1 =S O Y|último3 =Royal|primeiro3 =C D M|último4 =Bonney|primeiro4 =G E|último5 =Furbert-Harris|primeiro5 =P|último6 =Dunston|primeiro6 =G M|último7 =Rotimi|primeiro7 =C N}}</ref><ref name="harrison1">{{citar livro|último =Harrison|primeiro =Guy|título=Race and Reality|ano=2010|publicado=Prometheus Books|local=Amherst}}</ref><ref name="roberts1">{{citar livro|último =Roberts|primeiro =Dorothy|título=Fatal Invention|ano=2011|publicado=The New Press|local=Londres, New York}}</ref>


Embora exista amplo [[consenso científico]] de que as concepções essencialistas e tipológicas de "raças humanas" são insustentáveis,<ref>{{Citar web|ultimo=Fuentes|primeiro=Agustín|url=http://www.psychologytoday.com/blog/busting-myths-about-human-nature/201204/race-is-real-not-in-the-way-many-people-think|titulo=Race Is Real, but not in the way Many People Think|data=9 de abril de 2012|website=Psychology Today}}</ref><ref>{{Citar vídeo|url=https://www.youtube.com/watch?v=VXfaXpUE2T8|titulo=The Royal Institution - panel discussion - What Science Tells us about Race and Racism|data=16 de março de 2016|arquivourl=https://ghostarchive.org/varchive/youtube/20211211/VXfaXpUE2T8|arquivodata=11 de dezembro de 2021|urlmorta=live}}</ref><ref name=":4">{{Citar periódico |título=Genetic variation, classification, and 'race' |data=2004 |periódico=[[Nature]] |publicado=Nature Research |número=11 Suppl |ultimo=Jorde |primeiro=Lynn B. |ultimo2=Wooding |primeiro2=Stephen P. |paginas=S28–S33 |doi=10.1038/ng1435 |issn=1476-4687 |pmid=15508000 |volume=36 |doi-access=free}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=White|primeiro=Michael|url=https://psmag.com/environment/why-your-race-isnt-genetic-82475|titulo=Why Your Race Isn't Genetic|acessodata=13 de dezembro de 2014|website=[[Pacific Standard]]}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://www.cell.com/ajhg/pdf/S0002-9297(14)00476-5.pdf |título=The Genetic Ancestry of African Americans, Latinos, and European Americans across the United States |data=8 de janeiro de 2015 |acessodata=1 de junho de 2022 |periódico=American Journal of Human Genetics |publicado=Cell Press em nome da Sociedade Americana de Genética Humana]] |número=1 |ultimo=Bryc |primeiro=Katarzyna |ultimo2=Durand |primeiro2=Eric Y. |paginas=37–53 |doi=10.1016/j.ajhg.2014.11.010 |issn=0002-9297 |pmc=4289685 |pmid=25529636 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20220510161110/https://www.cell.com/ajhg/pdf/S0002-9297(14)00476-5.pdf |arquivodata=10 de maio de 2022 |ultimo3=Macpherson |primeiro3=Michael |ultimo4=Reich |primeiro4=David |ultimo5=Mountain |primeiro5=Joanna L. |volume=96}}</ref><ref>{{Citar jornal|ultimo=Zimmer|primeiro=Carl|url=https://www.nytimes.com/2014/12/25/science/23andme-genetic-ethnicity-study.html|titulo=White? Black? A Murky Distinction Grows Still Murkier|data=24 de dezembro de 2014|acessodata=24 de dezembro de 2014|website=[[The New York Times]]}}</ref> cientistas de todo o mundo continuam a descrever o conceito de "raça" de maneiras muito diferentes.<ref name="nih10" /> Enquanto alguns pesquisadores continuam a utilizar o conceito de raça para fazer distinções entre conjuntos confusos de características ou diferenças observáveis no comportamento, outros na comunidade científica sugerem que a ideia de raça é inerentemente ingênua<ref name="Lee, Mountain; et al. 2008"/> ou simplista.<ref name="Graves 2001"/> Outros ainda argumentam que, entre os humanos, a raça não tem significado taxonômico porque todos os humanos vivos pertencem à mesma [[Taxonomia humana|subespécie]], o ''[[Taxonomia humana|Homo sapiens sapiens]]''.<ref name="Keita2004"/><ref name="AAPA"/>
Mesmo que haja um amplo consenso científico de que conceituações essencialistas e tipológicas de [[raça]] em humanos sejam insustentáveis​, cientistas de todo o mundo continuam a conceituar o termo "raça" de maneiras muito diferentes, algumas das quais com implicações essencialistas.<ref name="nih10">{{citar periódico|último1 =Lieberman|primeiro1 =L. |último2 =Kaszycka|primeiro2 =K. A. |último3 =Martinez Fuentes|primeiro3 =A. J. |último4 =Yablonsky|primeiro4 =L. |último5 =Kirk|primeiro5 =R. C. |último6 =Strkalj|primeiro6 =G. |último7 =Wang|primeiro7 =Q. |último8 =Sun|primeiro8 =L. |volume=28 |número=2 |título=The race concept in six regions: variation without consensus |data=Dezembro de 2004 |periódico=Coll Antropol |páginas=907–21 |pmid=15666627|url=http://hrcak.srce.hr/5624}}</ref> Embora, por vezes, alguns pesquisadores usem o conceito de "raça" para fazer distinções entre conjuntos difusos de traços físicos, outros na [[comunidade científica]] sugerem que a ideia de ''raça'' muitas vezes é usada de uma maneira ingênua<ref name="Lee, Mountain, et al.">{{harvnb|Lee|Mountain|Koenig|Altman|2008}}</ref> ou simplista
<ref name="Graves 2001">{{harvnb|Graves|2001}}{{page needed|date=September 2015}}</ref> e argumentam que, entre os seres humanos, o termo não tem importância taxonômica, apontando que todos os humanos vivos pertencem à mesma [[espécie]] (''[[Homo sapiens]]'') e [[subespécie]] (''[[Homo sapiens sapiens]]'').<ref name="Keita2004">{{harvnb|Keita|Kittles|Royal|Bonney|2004}}</ref><ref name="AAPA">{{harvnb|AAPA|1996}} "Pure races, in the sense of genetically homogeneous populations, do not exist in the human species today, nor is there any evidence that they have ever existed in the past." p. 714</ref>


Desde a segunda metade do século XX, o conceito de "raças humanas" tem sido associado a teorias desacreditadas de [[racismo científico]] e tem sido cada vez mais visto como um sistema de classificação em grande parte [[Pseudociência|pseudocientífico]]. Embora o termo ainda seja usado em contextos gerais, tem sido frequentemente substituído por termos menos ambíguos e/ou carregados, como ''[[População (biologia)|populações]]'', ''[[povo]](s)'', ''[[Etnicidade|grupos étnicos]]'', ou ''[[Comunidade|comunidades]]'', dependendo do contexto.<ref name="Oxford Dict. race2">{{Citar web|url=http://oxforddictionaries.com/definition/english/race--2|titulo=Race<sup>2</sup>|acessodata=5 de outubro de 2012|website=Oxford Dictionaries|publicado=Oxford University Press|arquivourl=https://web.archive.org/web/20150906051022/http://www.oxforddictionaries.com/definition/english/race|arquivodata=6 de setembro de 2015|urlmorta=dead}} Provides 8 definitions, from biological to literary; only the most pertinent have been quoted.</ref><ref name="Keita3"/> Seu uso em genética foi formalmente renunciado pelas [[Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina]] dos Estados Unidos em 2023.<ref name=":7">{{Citar jornal|ultimo=Zimmer|primeiro=Carl|url=https://www.nytimes.com/2023/03/14/science/race-genetics-research-national-academies.html|titulo=Guidelines Warn Against Racial Categories in Genetic Research|data=14 de março de 2023|acessodata=17 de abril de 2023|website=The New York Times|issn=0362-4331}}</ref>
Desde a segunda metade do século XX, as associações do conceito de raça com ideologias e teorias que se desenvolveram a partir do trabalho de antropólogos e fisiologistas do século XIX, tornou o uso da palavra "raça" em si problemático. Apesar de ainda ser usado em contextos gerais, a palavra ''raça'' tem sido muitas vezes substituída por outras palavras que são menos ambíguas e emocionalmente carregadas, como populações, [[povo]]s, [[grupos étnicos]] ou [[comunidade]]s, dependendo do contexto<ref>"race". ''Oxford Dictionaries''. April 2010. Oxford University Press. http://oxforddictionaries.com/definition/english/race--2 (accessed July 31, 2012).</ref><ref name="Keita3">{{citar periódico|último =Keita|autor2 =Kittles, Royal, Bonney, Furbert-Harris, Dunston, Rotimi|periódico=Nature|ano=2004|volume=36|número=11s|páginas=S17–S20|doi=10.1038/ng1455|url=http://www.nature.com/ng/journal/v36/n11s/full/ng1455.html|citação=Many terms requiring definition for use describe demographic population groups better than the term 'race' because they invite examination of the criteria for classification.|pmid=15507998|título=Conceptualizing human variation|primeiro1 =S O Y|último3 =Royal|primeiro3 =C D M|último4 =Bonney|primeiro4 =G E|último5 =Furbert-Harris|primeiro5 =P|último6 =Dunston|primeiro6 =G M|último7 =Rotimi|primeiro7 =C N}}</ref>

== Conceito de raça==


== Definição ==
Alguns estudiosos argumentam que embora "raça" seja um conceito taxonômico válido em outras espécies, não pode ser aplicada a [[humano]]s.<ref>S O Y Keita, R A Kittles, C D M Royal, G E Bonney, P Furbert-Harris, G M Dunston & C N Rotimi, 2004 "Conceptualizing human variation" in ''Nature Genetics'' 36, S17 - S20 [http://www.nature.com/ng/journal/v36/n11s/full/ng1455.html Conceitualizando a variedade humana]</ref> Muitos cientistas têm argumentado que definições de raça são imprecisas, arbitrárias, oriundas do [[costume]], possuem muitas exceções, têm muitas gradações e que o número de raças descritas varia de acordo com a cultura que está fazendo as diferenciações raciais; assim, rejeitaram a noção de que qualquer definição de raça pertinente a humanos possa ter rigor taxonômico e validade.<ref>Por exemplo, esta declaração que expressa o ponto de vista oficial da ''American Anthropological Association'' em [http://www.aaanet.org/stmts/racepp.htm seu websítio]: "Evidências obtidas com a análise genética (p.ex., DNA) indicam que a maioria das variações físicas originam-se dentro dos assim chamados grupos 'raciais'. Isto significa que há uma variação muito maior dentro de grupos 'raciais' do que entre eles."</ref> Hoje em dia, a maioria dos cientistas estudam as variações [[genótipo|genotípicas]] e [[fenótipo|fenotípicas]] humanas usando conceitos tais como "população" e "[[gradação clinal]]". Muitos antropólogos debatem se enquanto os aspectos nos quais as caracterizações raciais são feitas podem ser baseados em fatores genéticos, a ideia de raça em si, e a divisão real de pessoas em grupos de características hereditárias selecionadas, seriam [[construção social|construções sociais]].<ref name="Society in Focus">{{citar livro|último = Thompson |primeiro = William |autorlink = |coautor= Joseph Hickey |ano= 2005 |título= Society in Focus |publicado= Pearson |local= Boston, MA| id = 0-205-41365-X}}</ref><ref>Daniel A. Segal ''[http://links.jstor.org/sici?sici=0268-540X%28199110%297%3A5%3C7%3A%27EAORP%3E2.0.CO%3B2-7&size=LARGE&origin=JSTOR-enlargePage 'The European': Allegories of Racial Purity]'' Anthropology Today, Vol. 7, No. 5 (Out., 1991), pp. 7-9 doi:10.2307/3032780</ref><ref>Bindon, Jim. University of Alabama. "[http://www.as.ua.edu/ant/bindon/ant275/presentations/POST_WWII.PDF#search=%22stanley%20marion%20garn%22 Post World War II"]. 2005. [[28 de Agosto]] de [[2006]].</ref>
Alguns estudiosos argumentam que embora "raça" seja um conceito taxonômico válido em outras espécies, não pode ser aplicada a [[humano]]s.<ref>S O Y Keita, R A Kittles, C D M Royal, G E Bonney, P Furbert-Harris, G M Dunston & C N Rotimi, 2004 "Conceptualizing human variation" in ''Nature Genetics'' 36, S17 - S20 [http://www.nature.com/ng/journal/v36/n11s/full/ng1455.html Conceitualizando a variedade humana]</ref> Muitos cientistas têm argumentado que definições de raça são imprecisas, arbitrárias, oriundas do [[costume]], possuem muitas exceções, têm muitas gradações e que o número de raças descritas varia de acordo com a cultura que está fazendo as diferenciações raciais; assim, rejeitaram a noção de que qualquer definição de raça pertinente a humanos possa ter rigor taxonômico e validade.<ref>Por exemplo, esta declaração que expressa o ponto de vista oficial da ''American Anthropological Association'' em [http://www.aaanet.org/stmts/racepp.htm seu websítio]: "Evidências obtidas com a análise genética (p.ex., DNA) indicam que a maioria das variações físicas originam-se dentro dos assim chamados grupos 'raciais'. Isto significa que há uma variação muito maior dentro de grupos 'raciais' do que entre eles."</ref> Hoje em dia, a maioria dos cientistas estudam as variações [[genótipo|genotípicas]] e [[fenótipo|fenotípicas]] humanas usando conceitos tais como "população" e "[[gradação clinal]]". Muitos antropólogos debatem se enquanto os aspectos nos quais as caracterizações raciais são feitas podem ser baseados em fatores genéticos, a ideia de raça em si, e a divisão real de pessoas em grupos de características hereditárias selecionadas, seriam [[construção social|construções sociais]].<ref name="Society in Focus">{{citar livro|último = Thompson |primeiro = William |autorlink = |coautor= Joseph Hickey |ano= 2005 |título= Society in Focus |publicado= Pearson |local= Boston, MA| id = 0-205-41365-X}}</ref><ref>Daniel A. Segal ''[http://links.jstor.org/sici?sici=0268-540X%28199110%297%3A5%3C7%3A%27EAORP%3E2.0.CO%3B2-7&size=LARGE&origin=JSTOR-enlargePage 'The European': Allegories of Racial Purity]'' Anthropology Today, Vol. 7, No. 5 (Out., 1991), pp. 7-9 doi:10.2307/3032780</ref><ref>Bindon, Jim. University of Alabama. "[http://www.as.ua.edu/ant/bindon/ant275/presentations/POST_WWII.PDF#search=%22stanley%20marion%20garn%22 Post World War II"]. 2005. [[28 de Agosto]] de [[2006]].</ref>
{{quote|Um antropólogo que propusesse usar a raça como uma maneira séria de descrever a variabilidade humana seria ridicularizado pela profissão - não por razões de correção política, mas porque a ideia mostra uma evidente ignorância da biologia. Há mais de 60 anos, M. F. Ashley Montagu demoliu o conceito de "raça" em seu livro O Mito Mais Perigoso do Homem: A Falácia da Raça (1945). No entanto, como muitas más ideias, persiste a noção de que existe algum propósito útil em classificar a humanidade em cinco, seis ou uma dúzia de raças. Mas persiste à margem da antropologia, entre os livros de ciências populares e na imaginação não científica. Os seres humanos compartilham um ancestral comum muito recente para que haja muitas diferenças biológicas profundas entre nós. Do ponto de vista evolutivo, somos todos africanos.<ref name="article">[https://www.americanscientist.org/article/is-race-real Is Race Real?]</ref>}}
[[Imagem:Passing of the Great Race - Map 2.jpg|right|thumb|250px|A subdivisão racial da [[Europa]] em nórdicos, alpinos e mediterrâneos, segundo a desacreditada teoria eugenista de [[Madison Grant]], no livro ''The Passing of the Great Race'' (1916).]]
:Um antropólogo que propusesse usar a raça como uma maneira séria de descrever a variabilidade humana seria ridicularizado pela profissão - não por razões de correção política, mas porque a ideia mostra uma evidente ignorância da biologia. Há mais de 60 anos, M. F. Ashley Montagu demoliu o conceito de "raça" em seu livro O Mito Mais Perigoso do Homem: A Falácia da Raça (1945). No entanto, como muitas más ideias, persiste a noção de que existe algum propósito útil em classificar a humanidade em cinco, seis ou uma dúzia de raças. Mas persiste à margem da antropologia, entre os livros de ciências populares e na imaginação não científica. Os seres humanos compartilham um ancestral comum muito recente para que haja muitas diferenças biológicas profundas entre nós. Do ponto de vista evolutivo, somos todos africanos.<ref name="article">[https://www.americanscientist.org/article/is-race-real Is Race Real?]</ref>


Raças e etnias são uma construção social, que são inventadas e manipuladas, dependendo dos interesses de determinada sociedade.<ref>[https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/physis/v14n2/v14n2a03.pdf O Uso da Variável “Raça” na Pesquisa em Saúde]</ref><ref>[https://med.stanford.edu/news/all-news/2018/09/luigi-luca-cavalli-sforza-a-giant-in-population-genetics-dies-at-96.html Luigi Luca Cavalli-Sforza, a giant in population genetics and professor emeritus, dies at 96]</ref><ref>[https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2017/07/racas-nao-existem-trata-se-de-um-conceito-inventado-garante-o-geneticista-sergio-pena-9835374.html "Raças não existem. Trata-se de um conceito inventado", garante o geneticista Sérgio Pena]</ref><ref>[https://www.americanscientist.org/article/is-race-real Is Race Real?]</ref><ref>The Origins and Demise of the Concept of Race Charles Hirschman
Raças e etnias são uma construção social, que são inventadas e manipuladas, dependendo dos interesses de determinada sociedade.<ref>[https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/physis/v14n2/v14n2a03.pdf O Uso da Variável “Raça” na Pesquisa em Saúde]</ref><ref>[https://med.stanford.edu/news/all-news/2018/09/luigi-luca-cavalli-sforza-a-giant-in-population-genetics-dies-at-96.html Luigi Luca Cavalli-Sforza, a giant in population genetics and professor emeritus, dies at 96]</ref><ref>[https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2017/07/racas-nao-existem-trata-se-de-um-conceito-inventado-garante-o-geneticista-sergio-pena-9835374.html "Raças não existem. Trata-se de um conceito inventado", garante o geneticista Sérgio Pena]</ref><ref>[https://www.americanscientist.org/article/is-race-real Is Race Real?]</ref><ref>The Origins and Demise of the Concept of Race Charles Hirschman
Population and Development Review Vol. 30, No. 3 (Sep., 2004), pp. 385-415</ref> Exemplo disso é que a quantidade de raças humanas existentes varia no decorrer do tempo. Até meados do [[século XX]], os europeus eram divididos em diferentes sub-raças: [[Raça nórdica|nórdicos]] predominando no Norte, [[Raça alpina|alpinos]] no Centro e [[Raça mediterrânea|mediterrâneos]] mais ao Sul. Em 1916, no livro ''The Passing of the Great Race'' (A extinção da grande raça), o eugenista [[Madison Grant]] escrevia que os casamentos entre os nórdicos "superiores" e os alpinos e mediterrâneos "inferiores" debilitavam a raça superior através da mestiçagem. Essa divisão racial dos europeus influenciou o Congresso dos Estados Unidos que, em 1924, aprovou uma lei restritiva de imigração (lei de quotas), a qual favorecia a entrada de nórdicos e limitava a entrada de imigrantes oriundos do Sul e do Leste da Europa, como italianos, gregos, eslavos e judeus, conforme Madison Grant desejava. Posteriormente, essa subdivisão racial dos europeus caiu em desuso.<ref>John P. Jackson, Nadine M. Weidman. Race, Racism, and Science: Social Impact and Interaction. Rutgers University Press; None edition (September 29, 2005)</ref>
Population and Development Review Vol. 30, No. 3 (Sep., 2004), pp. 385-415</ref> Exemplo disso é que a quantidade de raças humanas existentes varia no decorrer do tempo. Até meados do [[século XX]], os europeus eram divididos em diferentes sub-raças: [[Raça nórdica|nórdicos]] predominando no Norte, [[Raça alpina|alpinos]] no Centro e [[Raça mediterrânea|mediterrâneos]] mais ao Sul. Em 1916, no livro ''The Passing of the Great Race'' (A extinção da grande raça), o eugenista [[Madison Grant]] escrevia que os casamentos entre os nórdicos "superiores" e os alpinos e mediterrâneos "inferiores" debilitavam a raça superior através da mestiçagem. Essa divisão racial dos europeus influenciou o Congresso dos Estados Unidos que, em 1924, aprovou uma lei restritiva de imigração (lei de quotas), a qual favorecia a entrada de nórdicos e limitava a entrada de imigrantes oriundos do Sul e do Leste da Europa, como italianos, gregos, eslavos e judeus, conforme Madison Grant desejava. Posteriormente, essa subdivisão racial dos europeus caiu em desuso.<ref>John P. Jackson, Nadine M. Weidman. Race, Racism, and Science: Social Impact and Interaction. Rutgers University Press; None edition (29 de setembro de 2005)</ref>


Classificações raciais são frequentemente feitas com base em características físicas escolhidas arbitrariamente, como [[cor da pele]] e textura do [[cabelo]].<ref name="article"/> Porém, nos Estados Unidos, pelo menos até meados do século XX, uma pessoa de pele branca, olhos azuis e cabelos loiros, poderia ser considerada "negra", caso tivesse alguma ascendência africana publicamente conhecida. Isso deve-se à imposição da [[regra de uma gota]] pelo governo americano, quando passou a ser necessário definir quem era negro, com o advento da [[segregação racial]] com as [[Leis de Jim Crow]].<ref name=historical>[https://escholarship.org/content/qt91g761b3/qt91g761b3.pdf Historical Origins of the One-Drop Racial Rule in the United States]</ref><ref name=skin>Evelyn Glenn. Shades of Difference: Why Skin Color Matters. Stanford University Press; 1 edição (2009)</ref><ref>[https://www.commentarymagazine.com/articles/wilfred-reilly/the-tragedy-of-the-one-drop-rule/ The Tragedy of the One-Drop Rule]</ref> Já no Brasil e no resto da [[América Latina]], classificações raciais sempre foram mais fluidas e fortemente baseadas na cor da pele, havendo, entre o branco e o negro, uma enorme gradação de cores de pele.<ref name=skin/> Por sua vez, na [[Europa]], historicamente a população é dividida muito mais em termos de [[religião]], [[idioma]] ou [[nacionalidade]] do que em termos de aparência física.<ref>Bruce Baum. The Rise and Fall of the Caucasian Race: A Political History of Racial Identity</ref> No [[Continente Africano]], as divisões são fortemente feitas com base em grupos tribais<ref>[https://www.culturalsurvival.org/publications/cultural-survival-quarterly/nation-tribe-and-ethnic-group-africa NATION, TRIBE AND ETHNIC GROUP IN AFRICA]</ref> e na [[Índia]] em [[Sistema de castas na Índia|castas]].<ref name="magnoli">MAGNOLI, Demétrio. ''Uma Gota de Sangue'', Editora Contexto 2008 (2008)</ref>
Classificações raciais são frequentemente feitas com base em características físicas escolhidas arbitrariamente, como [[cor da pele]] e textura do [[cabelo]].<ref name="article"/> Porém, nos Estados Unidos, pelo menos até meados do século XX, uma pessoa de pele branca, olhos azuis e cabelos loiros, poderia ser considerada "negra", caso tivesse alguma ascendência africana publicamente conhecida. Isso deve-se à imposição da [[regra de uma gota]] pelo governo americano, quando passou a ser necessário definir quem era negro, com o advento da [[segregação racial]] com as [[Leis de Jim Crow]].<ref name=historical>[https://escholarship.org/content/qt91g761b3/qt91g761b3.pdf Historical Origins of the One-Drop Racial Rule in the United States]</ref><ref name=skin>Evelyn Glenn. Shades of Difference: Why Skin Color Matters. Stanford University Press; 1 edição (2009)</ref><ref>[https://www.commentarymagazine.com/articles/wilfred-reilly/the-tragedy-of-the-one-drop-rule/ The Tragedy of the One-Drop Rule]</ref> Já no Brasil e no resto da [[América Latina]], classificações raciais sempre foram mais fluidas e fortemente baseadas na cor da pele, havendo, entre o branco e o negro, uma enorme gradação de cores de pele.<ref name=skin/> Por sua vez, na [[Europa]], historicamente a população é dividida muito mais em termos de [[religião]], [[idioma]] ou [[nacionalidade]] do que em termos de aparência física.<ref>Bruce Baum. The Rise and Fall of the Caucasian Race: A Political History of Racial Identity</ref> No [[Continente Africano]], as divisões são fortemente feitas com base em grupos tribais<ref>[https://www.culturalsurvival.org/publications/cultural-survival-quarterly/nation-tribe-and-ethnic-group-africa NATION, TRIBE AND ETHNIC GROUP IN AFRICA]</ref> e na [[Índia]] em [[Sistema de castas na Índia|castas]].<ref name="magnoli">MAGNOLI, Demétrio. ''Uma Gota de Sangue'', Editora Contexto 2008 (2008)</ref>
Linha 24: Linha 20:
Raça é influenciada inclusive pela condição socioeconômia do indivíduo. Em muitas partes da América Latina, ser branco é mais uma questão de status socioeconômico do que características fenotípicas específicas, e costuma-se dizer que na América Latina "o dinheiro embranquece".<ref>Levine-Rasky, Cynthia. 2002. "Working through whiteness: international perspectives. SUNY Press (p. 73) " 'Money whitens' If any phrase encapsulates the association of whiteness and the modern in Latin America, this is it. It is a cliché formulated and reformulated throughout the region, a truism dependent upon the social experience that wealth is associated with whiteness, and that in obtaining the former one may become aligned with the latter (and vice versa)."</ref> Porém, esse fenômeno não é exclusivo da América Latina. Nos Estados Unidos da segregação racial, mestiços de [[pele morena]], mas bem vestidos e que falassem bem, conseguiam passar-se por descendentes de [[italianos]] ou [[portugueses]], enquanto eles seriam classificados como negros se aparentassem ser pobres e falassem com um dialeto rural. Essa tática era denominada [[Passing (identidade racial)|passing]].<ref name=paper>Emily Nix, Nancy Qian .The Fluidity of Race: "Passing" in the United States, 1880-1940. NBER WORKING PAPER SERIES. 2015.</ref>
Raça é influenciada inclusive pela condição socioeconômia do indivíduo. Em muitas partes da América Latina, ser branco é mais uma questão de status socioeconômico do que características fenotípicas específicas, e costuma-se dizer que na América Latina "o dinheiro embranquece".<ref>Levine-Rasky, Cynthia. 2002. "Working through whiteness: international perspectives. SUNY Press (p. 73) " 'Money whitens' If any phrase encapsulates the association of whiteness and the modern in Latin America, this is it. It is a cliché formulated and reformulated throughout the region, a truism dependent upon the social experience that wealth is associated with whiteness, and that in obtaining the former one may become aligned with the latter (and vice versa)."</ref> Porém, esse fenômeno não é exclusivo da América Latina. Nos Estados Unidos da segregação racial, mestiços de [[pele morena]], mas bem vestidos e que falassem bem, conseguiam passar-se por descendentes de [[italianos]] ou [[portugueses]], enquanto eles seriam classificados como negros se aparentassem ser pobres e falassem com um dialeto rural. Essa tática era denominada [[Passing (identidade racial)|passing]].<ref name=paper>Emily Nix, Nancy Qian .The Fluidity of Race: "Passing" in the United States, 1880-1940. NBER WORKING PAPER SERIES. 2015.</ref>


Raças podem ser inventadas e extintas, conforme interesses políticos. Na [[Bolívia]], o presidente [[Evo Morales]] mandou eliminar a categoria "[[mestiço]]" do censo de 2012, para, segundo os críticos, forçar um maior número de bolivianos a identificarem-se como "indígenas" e, assim, aumentar a legitimidade do seu governo pautado por um discurso indigenista.<ref name="mara"/><ref name="bolivia">[https://www.usatoday.com/story/news/world/2012/11/21/bolivias-census-omits-mestizo-category/1719939/ Bolivia's census omits 'mestizo' as category]</ref> No Brasil, grupos [[Racialismo|racialista]]s tentaram inúmeras vezes eliminar a categoria intermediária "[[Pardos|parda]]" dos censos, mas não conseguiram, devido às reações contrárias.<ref name="mara">Mara Loveman. National Colors: Racial Classification and the State in Latin America. Oxford University Press; 1 edition (July 7, 2014)</ref><ref name="riserio">Antonio Risério. A utopia brasileira e os movimentos negros. Editora: Editora 34; Edição: 2 (1 de janeiro de 2012)</ref> Nos Estados Unidos, a categoria "[[mulato]]" foi eliminada a partir de 1910, para forçar todas as pessoas de sabida ascendência africana a identificarem-se como negras. Curiosamente, estabeleceu-se uma exceção para a ascendência indígena, para abarcar as família ricas da [[Virgínia]] que afirmavam descender da índia [[Pocahontas]]: definiu-se que eram "brancos" aqueles que tivessem 1/16 de sangue indígena ou menos, mas qualquer gota de sangue negro impedia o status de ser branco.<ref name="Pocahontas">[http://www.virginiaplaces.org/population/onedrop.html The "One-Drop" Rule and Racial Identification By Whites, Blacks, and Native Americans]</ref> Também nos Estados Unidos, foi inventada a categoria étnica "[[hispânico]] ou latino", que abarca sob uma mesma categoria pessoas de países com demografias tão diferentes entre si quanto [[Argentina]], [[República Dominicana]] ou [[Guatemala]], e até mesmo europeus da [[Espanha]] às vezes são tratados como "pessoas de cor".<ref>[https://www.pri.org/stories/2015-10-28/im-white-barcelona-los-angeles-im-hispanic I'm white in Barcelona but in Los Angeles I'm Hispanic?]</ref><ref>[https://www.npr.org/2020/02/09/803809670/why-labeling-antonio-banderas-a-person-of-color-triggers-such-a-backlash Why Labeling Antonio Banderas A 'Person Of Color' Triggers Such A Backlash]</ref>
Raças podem ser inventadas e extintas, conforme interesses políticos. Na [[Bolívia]], o presidente [[Evo Morales]] mandou eliminar a categoria "[[mestiço]]" do censo de 2012, para, segundo os críticos, forçar um maior número de bolivianos a identificarem-se como "indígenas" e, assim, aumentar a legitimidade do seu governo pautado por um discurso indigenista.<ref name="mara"/><ref name="bolivia">[https://www.usatoday.com/story/news/world/2012/11/21/bolivias-census-omits-mestizo-category/1719939/ Bolivia's census omits 'mestizo' as category]</ref> No Brasil, grupos [[Racialismo|racialista]]s tentaram inúmeras vezes eliminar a categoria intermediária "[[Pardos|parda]]" dos censos, mas não conseguiram, devido às reações contrárias.<ref name="mara">Mara Loveman. National Colors: Racial Classification and the State in Latin America. Oxford University Press; 1 edition (7 de julho de 2014)</ref><ref name="riserio">Antonio Risério. A utopia brasileira e os movimentos negros. Editora: Editora 34; Edição: 2 (1 de janeiro de 2012)</ref> Nos Estados Unidos, a categoria "[[mulato]]" foi eliminada a partir de 1910, para forçar todas as pessoas de sabida ascendência africana a identificarem-se como negras. Curiosamente, estabeleceu-se uma exceção para a ascendência indígena, para abarcar as família ricas da [[Virgínia]] que afirmavam descender da índia [[Pocahontas]]: definiu-se que eram "brancos" aqueles que tivessem 1/16 de sangue indígena ou menos, mas qualquer gota de sangue negro impedia o status de ser branco.<ref name="Pocahontas">[http://www.virginiaplaces.org/population/onedrop.html The "One-Drop" Rule and Racial Identification By Whites, Blacks, and Native Americans]</ref> Também nos Estados Unidos, foi inventada a categoria étnica "[[hispânico]] ou latino", que abarca sob uma mesma categoria pessoas de países com demografias tão diferentes entre si quanto [[Argentina]], [[República Dominicana]] ou [[Guatemala]], e até mesmo europeus da [[Espanha]] às vezes são tratados como "pessoas de cor".<ref>[https://www.pri.org/stories/2015-10-28/im-white-barcelona-los-angeles-im-hispanic I'm white in Barcelona but in Los Angeles I'm Hispanic?]</ref><ref>[https://www.npr.org/2020/02/09/803809670/why-labeling-antonio-banderas-a-person-of-color-triggers-such-a-backlash Why Labeling Antonio Banderas A 'Person Of Color' Triggers Such A Backlash]</ref>


Na [[França]], devido ao trauma das políticas raciais [[nazista]]s durante a [[II Guerra Mundial]], quando muitos [[judeu]]s franceses foram mortos em [[campos de concentração]], o governo não conta a população por raça ou etnia desde 1978, quando foi aprovada uma lei que impede que os franceses sejam enumerados por essas categorias sem o seu consentimento ou a isenção do comitê estadual. Em parte, essa tendência pode ser explicada pelas tradições revolucionárias e republicanas francesas de tratar todos os cidadãos de forma igual perante a lei.<ref name = "francerace">{{citar web|url=https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:vLz6pnq_4oAJ:www.brookings.edu/fp/cusf/analysis/laurence.pdf+france+census+race+ethnicity+1872+law&hl=en&gl=us&pid=bl&srcid=ADGEESiJ1dyvouY6Ibx8dja6tnv8e0sqVHvda_pLjbRRf94-Opttxtn4eBTEDpPHnM5A8uyb_RcxB4IVVPWJTc2M_cKtnshQHFZFpIqG53wsjVbhXtoCwZiQaEGMKL3olzpyzvf33sLa&sig=AHIEtbTLE-kOeESgjIHxqg6u_5kmCZk6yQ |título=Powered by Google Docs |data= |acessodata=2012-09-21}}</ref><ref name=autogenerated24>{{citar web|último =Bleich |primeiro =Erik |url=http://www.brookings.edu/research/articles/2001/05/france-bleich |título=Race Policy in France &#124; Brookings Institution |publicado=Brookings.edu |data=2001-05-01 |acessodata=2013-03-21}}</ref><ref>[https://www.brookings.edu/articles/race-policy-in-france/#:~:text=France%20therefore%20collects%20no%20census,that%20race%20and%20ethnicity%20matter. Race Policy in France]</ref>
Na [[França]], devido ao trauma das políticas raciais [[nazista]]s durante a [[II Guerra Mundial]], quando muitos [[judeu]]s franceses foram mortos em [[campos de concentração]], o governo não conta a população por raça ou etnia desde 1978, quando foi aprovada uma lei que impede que os franceses sejam enumerados por essas categorias sem o seu consentimento ou a isenção do comitê estadual. Em parte, essa tendência pode ser explicada pelas tradições revolucionárias e republicanas francesas de tratar todos os cidadãos de forma igual perante a lei.<ref name = "francerace">{{citar web|url=https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:vLz6pnq_4oAJ:www.brookings.edu/fp/cusf/analysis/laurence.pdf+france+census+race+ethnicity+1872+law&hl=en&gl=us&pid=bl&srcid=ADGEESiJ1dyvouY6Ibx8dja6tnv8e0sqVHvda_pLjbRRf94-Opttxtn4eBTEDpPHnM5A8uyb_RcxB4IVVPWJTc2M_cKtnshQHFZFpIqG53wsjVbhXtoCwZiQaEGMKL3olzpyzvf33sLa&sig=AHIEtbTLE-kOeESgjIHxqg6u_5kmCZk6yQ |título=Powered by Google Docs |data= |acessodata=2012-09-21}}</ref><ref name=autogenerated24>{{citar web|último =Bleich |primeiro =Erik |url=http://www.brookings.edu/research/articles/2001/05/france-bleich |título=Race Policy in France &#124; Brookings Institution |publicado=Brookings.edu |data=2001-05-01 |acessodata=2013-03-21}}</ref><ref>[https://www.brookings.edu/articles/race-policy-in-france/#:~:text=France%20therefore%20collects%20no%20census,that%20race%20and%20ethnicity%20matter. Race Policy in France]</ref>
Linha 30: Linha 26:
Já outros países têm pesquisas que perguntam a sua população a que raça ou etnia ela pertence. O número de raças e etnias varia enormemente de país para país. Em [[Cuba]], por exemplo, o censo tem apenas três opções (branco, negro e mulato ou mestiço). No [[Brasil]], há cinco opções (branco, preto, pardo, amarelo e indígena), ao passo que no [[Peru]] há catorze e, na [[Bolívia]], há 40 opções de etnias e raças.<ref name="bolivia"/>
Já outros países têm pesquisas que perguntam a sua população a que raça ou etnia ela pertence. O número de raças e etnias varia enormemente de país para país. Em [[Cuba]], por exemplo, o censo tem apenas três opções (branco, negro e mulato ou mestiço). No [[Brasil]], há cinco opções (branco, preto, pardo, amarelo e indígena), ao passo que no [[Peru]] há catorze e, na [[Bolívia]], há 40 opções de etnias e raças.<ref name="bolivia"/>


== História das classificações raciais ==
A tabela abaixo mostra as categorias raciais e étnicas escolhidas nos censos de alguns países:
{{AP|História do conceito de raça|Racismo científico}}
[[Ficheiro:Egyptian races.jpg|thumb|upright=1.2|Um [[Líbia antiga|líbio]], um [[Núbia|núbio]], um [[Síria|sírio]] e um [[Antigo Egito|egípcio]], representados por um artista desconhecido em um mural na tumba de [[Seti I]].]]
[[Ficheiro:Meyers b11 s0476a.jpg|thumb|upright=1.2|As "três grandes raças" segundo ''[[Meyers Konversations-Lexikon]]'' de 1885–90.
Os subtipos são:
{{blist|[[Mongolóide]], em tons de amarelo e laranja
|[[Caucasóide]], em tons de cinza e azul
|[[Negróide]], em tons de marrom
|[[Dravidianos]] e [[cingaleses]], em [[verde oliva]] e sua classificação é descrita como incerta}}
A raça mongolóide tem a mais ampla distribuição geográfica, incluindo todas as [[Américas]], [[Norte da Ásia]], [[Leste da Ásia]], [[Sudeste Asiático]], e todo o habitado [[Ártico]] como bem como a maior parte da [[Ásia Central]] e das [[Ilhas do Pacífico]].]]
Os grupos de humanos sempre se identificaram como distintos dos grupos vizinhos, mas tais diferenças nem sempre foram entendidas como naturais, imutáveis e globais. Desta forma, a ideia de raça tal como a entendemos hoje surgiu durante o processo histórico de [[Colonialismo|exploração e conquista]] que colocou os [[europeus]] em contato com grupos de diferentes continentes, e da ideologia da classificação e tipologia encontrada nas [[ciências naturais]].<ref name="Marks 2008" /> O termo ''raça'' foi frequentemente usado em um [[Raça (biologia)|sentido taxonômico biológico]] geral,<ref name="Oxford Dict. race2">{{Citar web|url=http://oxforddictionaries.com/definition/english/race--2|titulo=Race<sup>2</sup>|acessodata=5 de outubro de 2012|website=Oxford Dictionaries|publicado=Oxford University Press|arquivourl=https://web.archive.org/web/20150906051022/http://www.oxforddictionaries.com/definition/english/race|arquivodata=6 de setembro de 2015|urlmorta=dead}} Provides 8 definitions, from biological to literary; only the most pertinent have been quoted.</ref> a partir do século XIX, para denotar [[População (biologia)|populações]] humanas geneticamente diferenciadas definidas pelo [[fenótipo]].<ref name="Lie; Thompson; et al." /><ref name="Keita1"/>


O conceito moderno de raça surgiu como produto dos [[impérios coloniais]] das potências europeias dos séculos XVI a XVIII, que identificavam as raças pela [[cor da pele]] e por diferenças físicas. A autora Rebecca F. Kennedy argumenta que os [[Grécia Antiga|gregos]] e [[Roma Antiga|romanos antigos]] teriam achado tais conceitos confusos em relação aos seus próprios sistemas de classificação de pessoas.<ref name="Kennedy Intro">{{Citar livro|título=Race and Ethnicity in the Classical world: An Anthology of Primary Sources in Translation|ultimo=Kennedy|primeiro=Rebecca F.|data=2013|editora=Hackett Publishing Company|capitulo=Introduction|isbn=9781603849944}}</ref> De acordo com Bancel [[Et al.|''et al''.]], o momento epistemológico em que o conceito moderno de raça foi inventado e racionalizado situa-se entre 1730 e 1790.<ref name="Invent Race Intro">{{Citar livro|título=The Invention of Race: Scientific and Popular Representations.|data=23 de maio de 2019|editora=[[Routledge]]|editor-sobrenome=Bancel|capitulo=Introduction: The Invention of Race: Scientific and Popular Representations of Race from Linnaeus to the Ethnic Shows|isbn=9780367208646|editor-sobrenome2=David|editor-nome2=Thomas|editor-sobrenome3=Thomas|editor-nome3=Dominic}}</ref>


=== Colonialismo ===
{|class="wikitable sortable" font-size:75%"
[[Ficheiro:Passing of the Great Race - Map 2.jpg|upright=1.2|thumb|A subdivisão racial da [[Europa]] em nórdicos, alpinos e mediterrâneos, segundo a desacreditada teoria eugenista de [[Madison Grant]], no livro ''The Passing of the Great Race'' (1916).]]
|+'''"Raças" e etnias nos censos de diferentes países'''
|-
!Brasil<ref>[https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv63405.pdf Características Étnico-Raciais da População.]</ref>||Estados Unidos<ref>[https://www.census.gov/topics/population/race/about.html United States Census Bureau]</ref>||Cuba<ref>[http://www.onei.gob.cu/sites/default/files/informe_nacional_censo_0.pdf Informe Nacional]</ref>||Reino Unido<ref>[https://www.ethnicity-facts-figures.service.gov.uk/uk-population-by-ethnicity/national-and-regional-populations/population-of-england-and-wales/latest Population of England and Wales]</ref>||África do Sul<ref>[http://www.statssa.gov.za/publications/P0302/P03022010.pdf Mid-year population estimates
2010]</ref>||Peru<ref>[https://www.inei.gob.pe/media/MenuRecursivo/publicaciones_digitales/Est/Lib1539/libro.pdf Perú: perfil Sociodemográfico]</ref>
|-
|Branco
|Branco
|Branco
|Branco
|Branco
|Branco
|-
|Preto
|Negro
ou afro-americano
|Negro
|Negro
|Africano
|Afrodescendente
|-
|Pardo
|Índio americano
ou nativo do Alaska
|[[Mulato]] ou mestiço
|Mestiço
|[[Coloured]]
|Mestiço
|-
|Amarelo
|Asiático
|
|Asiático
|Indiano / Asiático
|[[Quíchuas|Quéchua]]
|-
|Indígena
|Nativo do Havaí
ou de outras ilhas do Pacífico
|
|Outro
|
|[[Aimarás|Aimará]]
|-
|
|[[Hispânico]] ou latino
|
|
|
|Nativo ou indígena
da [[Amazônia]]
|-
|
|
|
|
|
|Parte de outro povo
indígena ou originário
|-
|
|
|
|
|
|Asháninka
|-
|
|
|
|
|
|Shipibo Konibo
|-
|
|
|
|
|
|[[Nikkei]]
|-
|
|
|
|
|
|Awajún
|-
|
|
|
|
|
|Tusan
|-
|
|
|
|
|
|Outro
|-
|
|
|
|
|
|Não sabe
|}


Smedley e Marks argumentam o conceito europeu de "raças humanas", juntamente com muitas das ideias agora associadas ao termo, surgiu na época da [[Revolução Científica]], que introduziu e privilegiou o estudo das espécies naturais, e na era do [[Imperialismo|imperialismo europeu]] e da [[colonização]] que estabeleceu relações políticas entre europeus e povos com [[Tradição|tradições]] culturais e políticas distintas.<ref name="Marks 2008" /><ref name="Smedley 1999" /> À medida que os europeus encontravam pessoas de diferentes partes do [[mundo]], especulavam sobre as diferenças físicas, sociais e culturais entre os vários grupos humanos. A ascensão do [[comércio de escravos no Atlântico]] criou um incentivo adicional para categorizar grupos humanos, a fim de justificar a subordinação dos [[Escravatura|escravos]] [[africanos]].<ref name="meltzer" />
== Histórico ==
{{mais fontes|Esta seção|data=abril de 2014}}


Com base em fontes da [[Antiguidade Clássica|antiguidade clássica]] e em suas próprias interações internas – por exemplo, a hostilidade entre [[ingleses]] e [[irlandeses]] influenciou fortemente o pensamento europeu inicial sobre as diferenças entre as pessoas<ref name="takaki" /> – os europeus começaram a classificar-se a si mesmos e aos outros em grupos com base na aparência física e a atribuir aos indivíduos pertencentes a esses grupos comportamentos e capacidades que se afirmavam estarem profundamente enraizados e fixas. Um conjunto de crenças populares se consolidou e vinculou diferenças físicas herdadas entre grupos a qualidades [[Raça e inteligência|intelectuais]], [[Comportamento|comportamentais]] e [[Moral (literatura)|morais]] herdadas.<ref name="banton" /> Ideias semelhantes podem ser encontradas em outras culturas,<ref name="Lewis; Dikötter" /> por exemplo na [[China]], onde um conceito frequentemente traduzido como "raça" foi associado a uma suposta descendência comum do [[Huangdi|Imperador Amarelo]] e é usado para enfatizar a unidade de grupos étnicos chineses. Conflitos brutais entre diferentes etnias existiram ao longo da história e em todo o mundo.<ref name="REGWG" />
=== Antiguidade ===
[[Imagem:Egyptian races.jpg|thumb|Um [[Líbia antiga|líbio]], um [[Núbia|núbio]], um [[Síria|sírio]] e um [[Antigo Egito|egípcio]], representados por um artista desconhecido em um mural na tumba de [[Seti I]].]]
A primeira diferenciação conhecida de grupos [[humano]]s fundamentada em suas características físicas aparentes é, sem dúvida, a dos [[Egito antigo|antigos egípcios]]: Os ''Rot'' ou ''Egípcios'', com cabelo crespo e pintados em vermelho (em hebraico אדום podendo significar, ou aparecer em literatura antiga ruivo, como David); os ''Namou'', amarelos com nariz aquilino; os ''Nashu'', negros com cabelos crespos; os ''Tamahou'', loiros de olhos azuis. Mas esta classificação só se aplicava às populações vizinhas ao Egito.


=== Modelos taxonômicos iniciais ===
O [[Antigo Testamento]] dividia os homens em filhos de [[Cam]], filhos de [[Sem]] e filhos de [[Jafé]]. Aqui também só se trata dos povos que eram conhecidos pelos [[judeus]]. É entretanto nessas três categorias que durante a [[Idade Média]] tentou-se encaixar todos os homens que os viajantes identificavam existir na face da [[Terra]].
A primeira classificação pós-[[Mundo greco-romano|greco-romana]] de "raças humanas" que se tem registro é a obra ''Nouvelle division de la terre par les différents espèces ou races qui l'habitent ("Nova divisão da Terra pelas diferentes espécies ou raças que a habitam")'' de [[François Bernier]], publicada em 1684.<ref name="todorov" /> No século XVIII, as diferenças entre os grupos populacionais humanos tornaram-se um foco de [[investigação científica]]. No entanto, a classificação científica da variação fenotípica foi frequentemente associada a ideias racistas sobre predisposições inatas de diferentes grupos, atribuindo sempre as características mais desejáveis à [[raça branca]] [[europeia]] e organizando as outras raças ao longo de um ''continuum'' de atributos progressivamente indesejáveis. A classificação de 1735 de [[Lineu|Carl Linnaeus]], inventor da taxonomia zoológica, dividiu a espécie humana ''[[Humano|Homo sapiens]]'' em variedades continentais, como ''europaeus'', ''asiaticus'', ''americanus'' e ''afer'', cada uma associada a um [[Humorismo|humor]] diferente: [[Sanguínea|sanguíneo]], [[Melancolia|melancólico]], [[Teoria humoral|colérico]] e [[Teoria humoral|fleumático]], respectivamente.<ref name="brace2" />{{Sfn|Slotkin|1965|p=177}} ''O Homo sapiens europaeus'' era descrito como ativo, perspicaz e aventureiro, enquanto ''o Homo sapiens afer'' era considerado astuto, preguiçoso e descuidado.<ref name="Graves 2001 p. 39" />


O tratado de 1775 intitulado "As variedades naturais da humanidade", de [[Johann Friedrich Blumenbach]], propôs cinco divisões raciais principais: [[Raça caucasiana|caucasóide]], [[Amarelos|mongolóide]], [[Raça etíope|etíope]] (mais tarde denominada ''[[Negróide|negroide]]''), [[Povos ameríndios|indígena americana]] e malaia, mas não sugeriu qualquer tipo de hierarquia entre elas.<ref name="Graves 2001 p. 39" /> Blumenbach também notou a transição gradativa nas aparências de um grupo para grupos adjacentes e sugeriu que "uma variedade da humanidade passa de forma tão sensata para a outra, que não é possível delimitar os limites entre eles".<ref name="Marks 1995" />
Entre os [[Grécia antiga|gregos da antiguidade]] as divisões entre povos existiam, mas não eram fundamentadas em critérios biológicos absolutos. Assim, o que faz a diferença entre um grego e um [[bárbaro]] não é sua origem, mas sim seu conhecimento da cultura e língua gregas. Existem por exemplos filósofos gregos de origem semítica (como [[Zenão de Cítio]], descrito como um homem de pele morena), sem que isso tenha levado à discriminação (por mais que os gregos zombassem dos erros no uso de sua língua).


Dos séculos XVII ao XIX, a fusão das crenças populares com explicações científicas produziu o que Smedley chamou de "[[ideologia]] da raça".<ref name="Smedley 1999" /> Segundo esta ideologia, as raças são primordiais, naturais, duradouras e distintas. Argumentou-se ainda que alguns grupos podem ser o resultado da mistura entre populações anteriormente diferentes, mas que um estudo cuidadoso poderia distinguir as raças ancestrais que se combinaram para produzir grupos mestiços.<ref name="REGWG" /> Classificações influentes subsequentes de [[Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon|Georges Buffon]], [[Petrus Camper]] e [[Christoph Meiners]] classificaram os "negros" como inferiores aos europeus.<ref name="Graves 2001 p. 39" /> Nos [[Estados Unidos|Estados Unidos,]] as teorias raciais de [[Thomas Jefferson]] eram influentes. Apesar de descrever os [[Povos ameríndios|nativos americanos]] como iguais aos brancos, ele considerava os africanos como inferiores aos brancos, especialmente no que diz respeito ao seu intelecto, e imbuídos de apetites sexuais não naturais.<ref name="Graves 2001 pp. 43–43" />
=== Era clássica ===
No final do [[século XV]] o fim da ''[[reconquista]]'' na [[Península Ibérica]] vê o surgimento da ideia de uma "[[limpieza de sangre|pureza de sangue]]" (''limpieza de sangre'') que deveria ser protegida da "sujeira" dos descendentes de [[Sefarditas|judeus sefaraditas]], e [[Mouros|mouros árabes]]. Outro debate surge ainda na época da descoberta das Américas, particularmente na [[controvérsia de Valladolid]]: onde encaixar, nas teorias existentes, os indígenas do [[novo mundo]]? As primeiras "justificativas" da ideia de diferenças, físicas e de civilização, levadas a uma inferiorização do estrangeiro, consistiriam em sustentar que eles não teriam [[alma]], e por conseguinte, não seriam seres humanos. O mesmo seria dito a seguir para justificar o [[tráfico negreiro]].


=== Poligenismo ''vs'' monogenismo ===
Na era clássica a noção de "raça" faz sua aparição no discurso da "guerra de raças" estudado por [[Michel Foucault]] em sua obra ''Em defesa da sociedade'' (1975-1976). [[Henri de Boulainvilliers]] (''Essai sur la noblesse de France'' -- ''Ensaio sobre a nobreza da França'' -- [[1732]]) é um de seus representantes. Este discurso se distingue amplamente do racismo biológico do [[século XIX]] pois concebe a "raça" como um dado histórico e não essencial. Além disso ele opõe no seio da nação francesa duas raças, os Galo-Romanos (franceses do Sul e Sudoeste) e os Francos (franceses do Norte e Nordeste). Membros da aristocracia, estes últimos reinariam na França em virtude do direito de conquista, e a história da França seria a história do enfrentamento dessas duas raças, uma autóctone (os Galo-Romanos, considerados uma raça inferior), a outra alóctone (os Francos, considerados superiores).
Nas últimas duas décadas do século XVIII, a teoria do [[poligenismo]], a crença de que diferentes raças evoluíram separadamente em cada continente e não compartilharam nenhum [[ancestral comum]],<ref name="stocking" /> era defendida na Inglaterra pelo historiador Edward Long e pelo anatomista [[Charles White]], na [[Alemanha]] pelos etnógrafos [[Christoph Meiners]] e [[Georg Forster]], na [[França]] por [[Julien-Joseph Virey]] e nos Estados Unidos por [[Samuel George Morton]], Josiah Nott e [[Louis Agassiz]]. O poligenismo foi popular e mais difundido no século XIX, culminando com a fundação da Sociedade Antropológica de Londres (1863), que, durante o período da [[Guerra Civil Americana]], rompeu com a Sociedade Etnológica de Londres e sua postura monogênica por conta da chamada "questão negra": uma visão racista substancial por parte da primeira{{Referências múltiplas|Hunt1863_3}} e uma visão mais liberal sobre raça por parte do última.{{Referências múltiplas|Desmond09_332}}


== Ciência moderna ==
O termo "raça" era usado então de forma metafórica para designar uma ou outra população específica. Assim como em [[Pierre Corneille|Corneille]] ao escrever de futuras gerações nas suas ''[[Stances à Marquise]]'':


=== Modelos de evolução humana ===
:''Chez cette '''race''' nouvelle
{{AP|Evolução multirregional|Hipótese da origem única}}
:''Où j'aurai quelque crédit
Atualmente, todos os [[humanos]] são classificados como pertencentes à espécie ''[[Homo sapiens]]''. No entanto, esta não é a primeira espécie de [[Homininae|hominídeos]]: a primeira espécie do gênero ''[[Homo]]'', o ''[[Homo habilis]]'', evoluiu na [[África Oriental]] há pelo menos 2 milhões de anos e membros desta espécie povoaram diferentes partes da África num tempo relativamente curto. ''O [[Homo erectus]]'' evoluiu há mais de 1,8 milhão de anos e, há 1,5 milhão de anos, já havia se espalhado pela Europa e pela Ásia. Praticamente todos os [[Antropologia física|antropólogos físicos]] concordam que ''o [[Homo sapiens arcaico]]'' (um grupo que inclui as possíveis espécies ''[[Homo heidelbergensis|H. heidelbergensis]]'', ''[[Homo rhodesiensis|H. rhodesiensis]]'' e ''[[Homem de Neandertal|H. neanderthalensis]]'') evoluiu a partir do ''H. erectus'' africano (''{{Lang|la|[[sensu lato]]}}'') ou do ''[[Homo ergaster|H. ergaster]]''.<ref>{{Citar livro|título=Human Evolution Trails from the Past|ultimo=Cela-Conde|primeiro=Camilo J.|ultimo2=Ayala|primeiro2=Francisco J.|data=2007|editora=[[Oxford University Press]]}}</ref><ref>{{Citar livro|título=Human Evolution an illustrated introduction|ultimo=Lewin|primeiro=Roger|data=2005|editora=Blackwell Publishing|edição=Fifth}}</ref> Os antropólogos apoiam a ideia de que os [[Humano anatomicamente moderno|humanos anatomicamente modernos]] (''Homo sapiens'') evoluíram no [[Norte de África|Norte]] ou no [[Leste da África]] a partir de uma espécie [[Homo sapiens arcaico|humana arcaica]] como o ''H. heidelbergensis'' e depois migraram para fora da África, misturando-se e substituindo as populações de ''H. heidelbergensis'' e ''H. neanderthalensis'' em toda a Europa e Ásia e populações ''de H. rhodesiensis'' na África Subsaariana (uma combinação dos modelos da [[Hipótese da origem única|origem única]] e [[Evolução multirregional|multirregional]]).<ref name="StringerSurvivors">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/lonesurvivorshow0000stri|título=Lone Survivors: How We Came to Be the Only Humans on Earth|ultimo=Stringer|primeiro=Chris|data=2012|editora=Times Books|localização=Londres|isbn=9780805088915|autorlink=Chris Stringer}}</ref> 
:''Vous ne passerez pour belle
:''Qu'autant que je l'aurai dit.<ref>''Em meio a esta nova '''raça''''' / ''Onde terei algum crédito'' / ''Você só será vista como bela'' / ''Quando eu o disser''. (Tradução livre)</ref>


=== Era moderna ===
=== Classificação biológica ===
{{AP|Raça (biologia)|Espécie|Subespécie|Sistemática|Filogenia|Cladística}}
[[Imagem:Carl von Linné.jpg|thumb|[[Lineu]], [[século XVII]].]]
As diferenças visíveis entre diferentes tipos físicos dentre os grupos humanos, descendentes do [[Homo sapiens]] produziram, na era da ciência moderna—correspondente à descoberta do "novo mundo" onde foram descobertas novas populações—tentativas que visavam classificar a espécie humana em função de "raças", descritas geralmente segundo a [[cor da pele]]. Outros critérios apareceriam progressivamente, com a emergência da [[antropologia física]], da [[antropometria]], etc.


No início do século XX, muitos [[Antropologia|antropólogos]] ensinavam que o conceito de raça era um fenômeno inteiramente biológico e fundamental para o comportamento e a identidade de uma pessoa, uma posição comumente chamada de essencialismo racial.<ref name="cravens" /> Isto, juntamente com a crença de que grupos [[Linguística|linguísticos]], culturais e sociais existiam fundamentalmente de acordo com linhas raciais, formaram a base do que atualmente é chamado de [[racismo científico]].<ref name="currell" /> Após o programa de [[eugenia nazista]] durante a Segunda Guerra Mundial, juntamente com a ascensão dos movimentos [[Descolonização|anticoloniais]] no pós-guerra, o essencialismo racial perdeu popularidade.<ref>{{Citar periódico |título=The Origins and Demise of the Concept of Race |data=2004 |periódico=Population and Development Review |número=3 |ultimo=Hirschman |primeiro=Charles |paginas=385–415 |doi=10.1111/j.1728-4457.2004.00021.x |issn=1728-4457 |volume=30}}</ref> Novos estudos sobre a [[cultura]] e o incipiente campo da [[genética populacional]] minaram a posição científica do essencialismo racial, levando os antropólogos raciais a rever as suas conclusões sobre as fontes da variação fenotípica.<ref name="cravens" /> Um número significativo de antropólogos e [[Biólogo|biólogos]] modernos ocidentais passou a ver o conceito de "raças humanas" como uma designação genética ou biológica inválida.<ref name="Cravens; Angier; et al." />
As ciências naturais se iniciam pelo estabelecimento das [[classificação|classificações]], a fim de catalogar e depois comparar os seres vivos. No [[século XVIII]], [[Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon|Buffon]] e [[Carl von Linné|Lineu]] eram os principais naturalistas. Os seres vivos eram classificados por [[espécie]]s e [[sub espécie]]s, [[família (biologia)|famílias]], [[gênero (biologia)|gêneros]], mas trata-se apenas do estudo das plantas e animais, e se mais tarde usariam a palavra "raça", ela fica reservada apenas aos animais domésticos.


Os primeiros a desafiar o conceito de raça em bases empíricas foram os [[Antropologia|antropólogos]] [[Franz Boas]], que forneceu evidências da plasticidade fenotípica devido a fatores ambientais,<ref name="Smedley; Boas" /> e [[Ashley Montagu]], que se baseou em evidências genéticas.<ref name="Marks; Montagu" /> O biólogo estadunidense [[Edward Osborne Wilson|E. O. Wilson]] também desafiou o conceito da perspectiva da sistemática geral dos animais e rejeitou ainda a afirmação de que “raças” eram equivalentes a “subespécies”.<ref name="wilson" />
Com [[Lineu]] aparece pela primeira vez uma classificação com orientação "científica". Na décima edição de seu ''[[Systema naturae]]'' ([[1758]]), a que embasa todas as questões de nomenclatura, o estudioso sueco divide o homo sapiens em quatro grupos fundamentais.


A [[variação genética humana]] é predominantemente entre as "raças", contínua e de estrutura complexa, o que é inconsistente com o conceito de "raças humanas genéticas".<ref name="goodman">{{Citar periódico |título=Why genes don't count (for racial differences in health) |data=novembro de 2000 |periódico=American Journal of Public Health |número=11 |ultimo=Goodman |primeiro=A. H. |paginas=1699–1702 |doi=10.2105/ajph.90.11.1699 |issn=0090-0036 |pmc=1446406 |pmid=11076233 |volume=90}}</ref> De acordo com o antropólogo biológico Jonathan Marks,<ref name="Marks 2008" />
Ainda que no passado os homens, sensíveis às diferenças visíveis entre os seres humanos os tenham classificado em grupos usando essencialmente a divisão por cor da pele, a noção de "raça", entendida em termos [[biologia|biológicos]], é bastante tardia. Pertence a um período inicial da ciência moderna e deriva da prática de classificação em espécies e subespécies, que inicialmente só era aplicada a vegetais e animais (Lineu, [[século XVII]]).
{{quote|Na década de 1970, tornou-se claro que (1) a maioria das diferenças humanas eram culturais; (2) o que não era cultural era principalmente polimórfico – isto é, encontrado em diversos grupos de pessoas em diferentes frequências; (3) o que não era cultural ou polimórfico era principalmente clinal – isto é, gradualmente variável ao longo da geografia; e (4) o que restou – o componente da diversidade humana que não era cultural, polimórfico ou clinal – era muito pequeno.


Consequentemente, desenvolveu-se um consenso entre antropólogos e geneticistas de que a raça tal como a geração anterior a conhecia – como conjuntos genéticos amplamente discretos e geograficamente distintos – não existia.}}
=== Século XIX ===
É somente no [[século XIX]] que se começa a falar de ''raças'' dentro da espécie humana. Foi o [[Arthur de Gobineau|Conde de Gobineau]] que popularizou, em meados do século XIX, um novo significado, em seu [[ensaio]] [[racismo|racista]] ''[[Essai sur l'inégalité des races humaines]]'' ("Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas", [[1853]]-[[1855]]), no qual toma partido a favor da tese [[poligenismo|poligenista]] segundo a qual a humanidade poderia ser dividida em várias raças distintas, as quais seriam, outrossim, passíveis de serem tratadas numa base hierárquica.


==== Subespécies ====
O ''[[racialismo]]'' ou ''[[racismo científico]]'', tornou-se a partir daí a [[ideologia]] predominante nos meios eruditos, na [[antropologia física]] etc, em conjunto com o [[evolucionismo]], com o [[darwinismo social]] e com as teorias [[eugenia|eugênicas]] desenvolvidas por [[Francis Galton]]. A tentativa de prover um discurso científico para os [[preconceito]]s racistas (aquilo que [[George Canguilhem|Canguilhem]] denominaria "ideologia científica"), seria fortemente desacreditado após o [[Holocausto|genocídio dos judeus da Europa]] praticado pela [[Alemanha Nazista]].
O [[Raça (biologia)|termo ''raça'' em biologia]] é ambíguo e geralmente usado como sinônimo de ''[[subespécie]]''.<ref name="Keita; Templeton; Long" /> (Para os animais, a única unidade taxonômica abaixo do nível de [[espécie]] é geralmente a subespécie;<ref name="conservation" /> existem [[Táxon infraespecífica|classificações infraespecíficas mais estreitas na botânica]], mas ''raça'' não corresponde diretamente a nenhuma delas.) Tradicionalmente, as subespécies são vistas como populações geograficamente isoladas e geneticamente diferenciadas.<ref name="Templeton 1998" /> Estudos de [[variação genética]] humana mostram que as populações humanas não estão geograficamente isoladas<ref>{{Harvnb|Templeton|1998}} "Genetic surveys and the analyses of DNA haplotype trees show that human 'races' are not distinct lineages, and that this is not due to recent admixture; human 'races' are not and never were 'pure'."</ref> e suas diferenças genéticas são muito menores do que entre subespécies encontradas em outras espécies.<ref>{{Citar livro|título=The Oxford Handbook of Philosophy and Race|ultimo=Relethford|primeiro=John H.|data=23 de fevereiro de 2017|editor-sobrenome=Zack|editor-nome=Naomi|capitulo=Biological Anthropology, Population Genetics, and Race|doi=10.1093/oxfordhb/9780190236953.013.20|isbn=978-0-19-023695-3}}</ref>


Em 1978, [[Sewall Wright]] sugeriu que as populações humanas que há muito habitam partes separadas do mundo deveriam, em geral, ser consideradas subespécies diferentes. Wright argumentou: "Não é necessário um antropólogo treinado para classificar uma série de ingleses, africanos ocidentais e chineses com 100% de precisão por características, cor da pele e tipo de cabelo, apesar de tanta variabilidade dentro de cada um desses grupos que cada indivíduo pode ser facilmente distinguido de todos os outros."<ref name="Wright 1978" /> Embora na prática as subespécies sejam frequentemente definidas pela aparência física facilmente observável ([[fenótipo]]), não há necessariamente qualquer significado evolutivo para estas diferenças observadas, pelo que esta forma de classificação tornou-se menos aceitável para os biólogos evolucionistas.<ref name="Keita; Templeton" /> Da mesma forma, esta abordagem tipológica da raça é geralmente considerada desacreditada por biólogos e antropólogos.<ref name=":5">{{Citar web|url=https://physanth.org/about/position-statements/aapa-statement-race-and-racism-2019/|titulo=AABA Statement on Race & Racism|website=physanth.org}}</ref><ref name=":4"/>
A segmentação artificial em "raças humanas" disseminou-se amplamente na época do [[nacionalismo]] inflamado, que deu lugar à proclamação de ideologias racistas em nome da ciência. Certos trabalhos, tais como o ''Dictionnaire de la bêtise et des erreurs de jugement'', de Bechtel e [[Jean-Claude Carrière|Carrière]], mostram que estes preconceitos eram exercidos simultaneamente entre vários países europeus. Médicos franceses, por exemplo, "explicavam" que os [[Alemanha|Alemães]] urinavam pelos pés!


==== Populações ancestralmente diferenciadas (clados) ====
[[Imagem:FranzBoas.jpg|thumb|esquerda|[[Franz Boas]].]]
Em 2000, o filósofo Robin Andreasen propôs que a [[cladística]] poderia ser usada para categorizar biologicamente as raças humanas.<ref name="Andreasen 2000" /> Andreasen citou diagramas de árvore de [[Distância genética|distâncias genéticas]] relativas entre populações publicados pelo geneticista italiano [[Luigi Luca Cavalli-Sforza|Luigi Cavalli-Sforza]] como base para uma [[árvore filogenética]] de raças humanas (p. 661). Em 2008, o antropólogo biológico Jonathan Marks respondeu argumentando que Andreasen havia interpretado mal a literatura genética: "Essas árvores são fenéticas (baseadas na semelhança), em vez de cladísticas (baseadas na descendência [[Monofilia|monofilética]], ou seja, de uma série de ancestrais únicos)."{{Sfn|Marks|2008|p=28–29}} O biólogo evolucionista [[Alan Templeton]] (2013) argumentou que múltiplas linhas de evidência falsificam a ideia de uma estrutura filogenética para a diversidade genética humana e confirmam a presença de [[fluxo gênico]] entre as populações.{{Sfn|Templeton|2013}} Marks, Templeton e Cavalli-Sforza concluem que o campo da genética não fornece evidências de que existem "raças humanas".{{Sfn|Templeton|2013}}{{Sfn|Marks|2008}}


Em 1995, os antropólogos Lieberman e Jackson também criticaram o uso da [[cladística]] para apoiar conceitos de raça e argumentaram que “os proponentes moleculares e bioquímicos deste modelo usam explicitamente categorias raciais”. Por exemplo, os grandes e altamente diversos grupos macroétnicos de indianos orientais, norte-africanos e europeus seriam presumivelmente agrupados como [[caucasianos]] antes da análise da sua variação de [[DNA]]. Eles argumentaram que este agrupamento ''[[a priori]]'' limita e distorce as interpretações, obscurece outras relações de linhagem, não enfatiza o impacto de fatores ambientais clinais mais imediatos na diversidade genômica e pode obscurecer nossa compreensão dos verdadeiros padrões de afinidade.<ref name="Lieberman 1995" />
Na segunda metade do [[século XX]], esta ideia foi pouco a pouco sendo abandonada sob três influências: ambiguidade do termo e ausência de base científica (demonstradas graças ao avanço da [[biologia]] e da [[genética]]); papel desempenhado por estas ideias nos quinze anos do [[Nazismo|regime nazista]]; obras de [[Claude Lévi-Strauss]] e [[Franz Boas]], os quais transformaram a antropologia e lançaram luz sobre os fenômenos do [[etnocentrismo]] inerentes a todas as culturas.


==== Clinas ====
Em meados dos [[década de 1950|anos 1950]], a [[UNESCO]] recomendou que o conceito de "raça humana", não científico e que levava à confusão, fosse substituído por [[grupo étnico|grupos étnicos]], o qual insiste fortemente nas dimensões culturais dentro da [[população]] humana (língua, religião, costumes, hábitos etc). Todavia, as tentativas racistas persistem, como bem o demonstram os recentes debates sobre a publicação de "The Bell Curve" ([[1994]]), de [[Richard Herrnstein]] e [[Charles Murray]], que afirmam ter estabelecido uma correlação científica entre "raça" (no caso, negros e brancos) e inteligência.
{{AP|Variação clinal}}
O antropólogo estadunidense C. Loring Brace trouxe uma inovação crucial na reconceitualização da variação genotípica e fenotípica ao observar que tais variações, na medida em que são afetadas pela [[seleção natural]], migração lenta ou [[deriva genética]], são distribuídas ao longo de gradações geográficas ou [[Variação clinal|clinas]].{{Sfn|Brace|Montagu|1965|p={{page needed|date=outubro de 2021}}}} Por exemplo, com relação à [[cor da pele]] na Europa e na África, Brace afirma:{{Sfn|Brace|2000|p=301}}
{{quote|Até hoje, a [[cor da pele]] varia por meios imperceptíveis desde a Europa em direção ao sul, ao redor da extremidade oriental do Mediterrâneo e subindo o Nilo até a África. De um extremo ao outro desta faixa, não há indícios de um limite de cor de pele e, ainda assim, o espectro vai desde o mais claro do mundo, no extremo norte, até o mais escuro possível para os humanos no equador.}}


Em parte, isto se deve ao isolamento por distância. Este ponto chamou a atenção para um problema comum às descrições raciais baseadas em fenótipos (por exemplo, aquelas baseadas na textura do cabelo e na cor da pele): elas ignoram uma série de outras semelhanças e diferenças (por exemplo, [[tipo sanguíneo]]) que não se correlacionam com marcadores raciais tradicionais.<ref name="Livingstone" />
Estes preconceitos racistas também são encontrados entre certos partidários da [[sociobiologia]], que visam demonstrar a origem genética dos comportamentos sociais e dentro da ''nova direita'' [[França|francesa]].<ref>[http://www.humanite.fr/journal/2007-04-04/2007-04-04-848961 "Un gène ne commande jamais un destin humain"], [[Axel Kahn]] in ''[[L'Humanité]]'' de [[4 de abril]] de [[2007]].</ref>


{{Imagem múltipla
Hoje em dia, o termo continua a alimentar debates "à volta" da biologia, embora a maioria dos cientistas prefiram o conceito de população para qualificar um grupo humano, seja ele qual for. Também tende a desaparecer de outras ciências, como [[antropologia]] e [[etnologia]], a favor da noção predominantemente [[cultura]]l de grupo étnico. Se falará, assim, de populações geográficas em biologia e diferenças entre culturas em antropologia e etnologia. O conceito de raça não possui hoje, 2007, nenhuma utilidade no que toca à humanidade. No entanto, continua a ser empregado no mundo anglo-saxão e não desapareceu completamente do texto legislativo francês. Isto põe em questão o fenômeno da "raça" enquanto construção social, problema que está no âmago dos '''race studies''' feitos nos [[Estados Unidos]] (estudos relacionados às críticas ao [[pós-colonialismo]]) e aos '''gender studies''' (que estudam o [[Género (sociedade)|gênero]] como uma construção social).
| align =
| direction = vertical
| width = 280
| image1 = Unlabeled Renatto Luschan Skin color map.png
| caption1 =
| image2 = Map of blood group b.gif
| caption2 = A [[cor da pele]] (acima) e o [[tipo sanguíneo]] B (abaixo) são características discordantes, uma vez que sua distribuição geográfica não é semelhante.
}}


Em uma resposta a Livingstone, [[Theodosius Dobzhansky]] afirmou que quando se fala de raça deve-se estar atento à forma como o termo está a ser usado. Ele argumentou que se poderia usar o termo raça se se distinguisse entre "diferenças raciais" e "o conceito de raça". O primeiro refere-se a qualquer distinção nas frequências genéticas entre populações; o último é "uma questão de julgamento". Ele observou ainda que mesmo quando há variação clinal: “As diferenças raciais são fenômenos biológicos objetivamente determináveis ... mas isso não significa que populações racialmente distintas devam receber rótulos raciais (ou subespecíficos)."[1] Em suma, Livingstone e Dobzhansky concordam que existem diferenças genéticas entre os seres humanos e que o uso do conceito de raça para classificar as pessoas é uma questão de convenção social. Eles divergem, porém, sobre se o conceito de raça continua a ser uma convenção social contemporânea significativa e útil.<ref name="Livingstone" />
== Considerações linguísticas ==
{{mais fontes|Esta seção|data=dezembro de 2021}}
A expressão em [[Língua inglesa|inglês]] "''the human race''" é por vezes traduzida como "''a raça humana''" nas obras em português. <!-- alguém tem como validar se este tipo de afirmação vale também para o português? --> A tradução correta desse [[falso cognato]] seria "A [[espécie humana]]" ou então "O [[gênero humano]]": não existe nenhuma espécie conhecida que se desdobre em raças, uma delas sendo a humana. Em ''Le racisme expliqué à ma fille'' [[Tahar Ben Jelloun]] escreveu:
{{quote2|1=A palavra "raça" não deve ser utilizada para dizer que existe diversidade humana. A palavra "raça" não tem base científica. Ela foi usada para exagerar os efeitos das diferenças aparentes, ou seja, físicas. Não se pode basear nas diferenças físicas -- a cor da pele, o tamanho, os traços do rosto -- para dividir a humanidade de maneira hierárquica, ou seja, considerando que existem homens superiores em relação a outros homens, que seriam postos em uma classe inferior. Eu te proponho não mais utilizar a palavra "raça".
|2=<ref>[[Tahar Ben Jelloun]], ''Le racisme expliqué à ma fille'', tradução livre.</ref>}}


Em 1964, os biólogos Paul Ehrlich e Holm apontaram casos em que duas ou mais clinas estão distribuídas de forma discordante – por exemplo, a [[melanina]] é distribuída em um padrão decrescente a partir do equador, seja em direção ao norte ou ao sul; as frequências do [[haplótipo]] da hemoglobina beta-S, por outro lado, irradiam para fora de pontos geográficos específicos na África.<ref name="ehrlich" /> Como observaram os antropólogos Leonard Lieberman e Fatimah Linda Jackson: “Padrões discordantes de heterogeneidade falsificam qualquer descrição de uma população como se ela fosse genotipicamente ou mesmo fenotipicamente homogênea”.<ref name="Lieberman 1995" />
Isso estaria de acordo com a proposta feita pela [[UNESCO]] logo após a [[Segunda Guerra Mundial]] de utilizar o termo por "[[grupo étnico]]", mais adequado cientificamente e que inclui os componentes culturais, em substituição ao termo vago e confuso "raça", que não tem definição precisa.<ref>[http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001282/128291eo.pdf "The Race Question"], UNESCO, 1950.</ref>


Uma mutação que clareia a pele, que se estima ter ocorrido entre 20 mil e 50 mil anos atrás, é parcialmente responsável pelo aparecimento de pele clara em pessoas que migraram da África em direção ao norte, para o que hoje é a Europa. Os asiáticos orientais devem sua pele relativamente clara a diferentes mutações.<ref name="weiss" /> Por outro lado, quanto maior o número de traços (ou [[Alelo|alelos]]) considerados, mais subdivisões da humanidade são detectadas, uma vez que traços e frequências genéticas nem sempre correspondem à mesma localização geográfica. Ou como dizem {{Harvtxt|Ossorio|Duster|2005}}:
Desde as origens, a noção de "raça" servia para definir o [[estrangeiro]], o outro, diferente e inferior, que pode ser por isso maltratado sem mais consequências. O questionamento da noção de "raça humana", pretensamente científica porque se apoiaria em classificações anteriormente instauradas para as espécies vivas, veio tardiamente. Recorrer a este termo para os humanos sempre esteve ligado a questões políticas, com utilização dominadora.
{{quote|Os antropólogos descobriram há muito tempo que as características físicas dos humanos variam gradualmente, sendo os grupos que são vizinhos geográficos próximos mais semelhantes do que os grupos que estão geograficamente separados. Este padrão de variação, conhecido como [[variação clinal]], também é observado para muitos [[alelo]]s que variam de um grupo humano para outro. Outra observação é que características ou alelos que variam de um grupo para outro não variam na mesma proporção. Esse padrão é conhecido como variação não concordante. Como a variação das características físicas é clinal e não concordante, os antropólogos do final do século XIX e início do século XX descobriram que quanto mais características e mais grupos humanos mediam, menos diferenças observavam entre as raças e mais categorias tinham de criar para classificar os seres humanos. O número de raças observadas expandiu-se para as décadas de 1930 e 1950 e, eventualmente, os antropólogos concluíram que não havia raças distintas.<ref name="Marks 2002" /> Pesquisadores biomédicos dos séculos XX e XXI descobriram esta mesma característica ao avaliar a variação humana no nível de alelos e frequências alélicas. A natureza não criou quatro ou cinco grupos genéticos distintos e não sobrepostos de pessoas.}}


==== Populações geneticamente diferenciadas ====
Se esta noção traz problemas é porque ela já foi utilizada, sob supostos fundamentos científicos, por alguns autores que, ao confundir os registros do biologia e da cultura, desenvolveram no final do [[século XIX]] uma ideologia nova, o [[racismo]]. É a suposta "teoria" de uma hierarquia de raças. Ela foi iniciada pelo [[Arthur de Gobineau|Conde de Gobineau]], em seu ''[[Essai sur l’inégalité des races humaines]]'' ('''Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas''', 1853-55) que prega a superioridade da raça [[branco|branca]] sobre os demais povos. Ali ele inventa o mito do [[Ariano]] e foi um dos primeiros a fundamentar a classificação racial não nas taxas de [[melanina]] no corpo (a pigmentação da epiderme) mas sim nas condições geográficas e climáticas. Para tanto ele dividiu a humanidade em três raças distintas, a "raça branca" (Ariana), a "[[raça amarela]]" e a "[[Negros|raça negra]]" (e incluindo ainda a "raça degenerada"), e afirmava que toda [[mestiço|mestiçagem]] era nefasta. Gobineau visitou [[Wagner]] em Bayreuth e influenciou seu [[círculo de Bayreuth]], enquanto sua obra fora traduzida para o [[língua alemã|alemão]] desde 1898, antes de se tornar uma referência para o [[nazismo]]. Nos [[Estados Unidos]] ela foi traduzida em 1856 por [[Josiah Clark Nott]], um discípulo de [[Samuel George Morton]] e um dos chefes do movimento [[polygéniste]] nos Estados Unidos, que afirmava a diferenciação, desde as suas origens, da humanidade em "raças" distintas. Em sua obra ''[[The Descent of Man and Selection in Relation to Sex]]'' de 1871 [[Charles Darwin|Darwin]] responde aos argumentos poligenistas e [[criacionismo|criacionistas]] lançados por Nott, sustentando a monogenia e criticando o [[darwinismo social]].
{{AP|Raça e genética|Variação genética humana}}
Outra forma de observar as diferenças entre populações é medir as diferenças genéticas em vez das diferenças físicas. No começo do século XX, o antropólogo William C. Boyd definiu raça como: "Uma população que difere significativamente de outras populações no que diz respeito à frequência de um ou mais dos genes que possui".<ref name="boyd" /> Leonard Lieberman e Rodney Kirk apontaram que "a maior fraqueza desta afirmação é que se um gene pode distinguir raças, então o número de raças é tão numeroso quanto o número de casais humanos se reproduzindo".<ref name="lieberman" /> Além disso, o antropólogo Stephen Molnar sugeriu que a discordância de [[Variação clinal|clinas]] resulta inevitavelmente em uma multiplicação de raças que torna o próprio conceito inútil.<ref name="molnar" /> O [[Projeto Genoma Humano]] afirma que "pessoas que viveram na mesma região geográfica por muitas gerações podem ter alguns alelos em comum, mas nenhum alelo será encontrado em todos os membros de uma mesma população e em nenhum membro de qualquer outra."<ref name="project" /> [[Massimo Pigliucci]] e Jonathan Kaplan argumentam que as raças humanas existem e que correspondem à classificação genética dos [[Ecótipo|ecótipos]], mas que as raças humanas reais não correspondem muito, se é que correspondem, às categorias raciais populares.<ref>{{Citar periódico |url=http://philsci-archive.pitt.edu/1078/1/Kaplan-RaceFinalVersionPSA.doc |título=On the Concept of Biological Race and Its Applicability to Humans |data=dezembro de 2003 |periódico=Philosophy of Science |número=5 |ultimo=Pigliucci |primeiro=Massimo |ultimo2=Kaplan |primeiro2=Jonathan |paginas=1161–1172 |doi=10.1086/377397 |volume=70}}</ref> Em contraste, Walsh & Yun revisaram a literatura em 2011 e relataram: "Estudos genéticos usando muito poucos [[Lócus (genética)|lócus]] [[Cromossomo|cromossômicos]] descobrem que os polimorfismos genéticos dividem as populações humanas em grupos com quase 100% de precisão e que correspondem às categorias antropológicas tradicionais."<ref>{{Citar periódico |título=Race and Criminology in the Age of Genomic Science |data=outubro de 2011 |periódico=Social Science Quarterly |número=5 |ultimo=Walsh |primeiro=Anthony |ultimo2=Yun |primeiro2=Ilhong |paginas=1279–1296 |doi=10.1111/j.1540-6237.2011.00818.x |volume=92}}</ref>


Alguns biólogos argumentam que as categorias raciais se correlacionam com características biológicas (por exemplo, [[Fenótipo|fenótipos]]), e que certos marcadores genéticos têm frequências variadas entre as populações humanas, alguns dos quais correspondem mais ou menos a agrupamentos raciais tradicionais.{{Sfn|Bamshad|Wooding|Salisbury|Stephens|2004}}
A distinção entre uma teoria científica, no caso a biologia em seus diversos aspectos, e a utilização que dela pode ser feita (ideológica e política) esta, em princípio, claramente estabelecida hoje em dia por trabalhos dos epistemólogos tais como [[François Jacob]] e [[Georges Canguilhem]] (que chamam este tema de "ideologia científica") e dos filósofos e antropólogos tais como [[Claude Lévi-Strauss]].


===== Distribuição da variação genética =====
== Racialismo ==
A distribuição de variantes genéticas dentro e entre as populações humanas é impossível de descrever sucintamente devido à dificuldade de definir uma população, à natureza clinal da variação e à heterogeneidade em todo o genoma (Long e Kittles 2003). Em geral, porém, existe uma média de 85% de variação genética estatística dentro das populações humanas locais, ≈7% entre populações locais dentro do mesmo continente e ≈8% entre grandes grupos que vivem em continentes diferentes.{{Sfn|Lewontin|1972}} A [[Hipótese da origem única|recente teoria da origem africana]] para os seres humanos previa que na África existiria muito mais diversidade do que em outros lugares e que a diversidade deveria diminuir à medida que uma população amostrada fica mais distante de lá. Assim, o valor médio de 85% é enganador: Long e Kittles concluem que, em vez de 85% da diversidade genética humana existente em todas as populações humanas, cerca de 100% da diversidade humana existe numa única população africana, enquanto apenas cerca de 60% da diversidade genética humana existe na população menos diversa que analisaram (os suruís, uma população derivada da [[Nova Guiné]]). {{Sfn|Long|2009|p=802}} A análise estatística que leva em conta esta diferença confirma descobertas anteriores de que "as classificações raciais ocidentais não têm significado taxonômico".<ref name=":12">{{Citar periódico |título=The apportionment of human diversity revisited |data=1 de dezembro de 2015 |periódico=[[American Journal of Physical Anthropology]] |número=4 |ultimo=Hunley |primeiro=Keith L. |ultimo2=Cabana |primeiro2=Graciela S. |paginas=561–569 |doi=10.1002/ajpa.22899 |issn=1096-8644 |pmid=26619959 |ultimo3=Long |primeiro3=Jeffrey C. |volume=160 |doi-access=free}}</ref>
{{Artigo principal|Racialismo|Racismo|Eugenia}}
O estudo pretensamente científico das raças, ou [[racialismo]], só explode realmente na segunda metade do [[século XIX]], depois de ser iniciado no século das luzes pelos inventores da [[antropologia]], da [[antropometria]] e da [[craniometria]]. Entre os primeiros teóricos a tentar estabelecer cientificamente a existência de diversas "raças" biológicas em meio à espécie humana podemos citar: [[Johann Friedrich Blumenbach]] (''De Generis Humani Varietate Nativa'' [[1775]]), [[Immanuel Kant]] (''Das diferentes raças humanas'' 1775), o zoólogo holandês [[Petrus Camper]], o americano [[Samuel George Morton]], [[Arthur de Gobineau]], [[Paul Broca]], [[Francis Galton]], [[Josiah C. Nott]], [[George Gliddon]] (esses dois alunos de Morton), [[William Z. Rippley]], seu adversário [[Joseph Deniker]], o eugenista [[Madison Grant]], [[Georges Vacher de Lapouge]], [[Lothrop Stoddard]], [[Charles Davenport]], etc. Essas ideologias científicas se popularizaram principalmente com a ajuda dos [[Zoo humano|zoológicos humanos]] (Madison Grant, por exemplo, exibe o pigmeu [[Ota Benga]] no zoológico do Bronx junto com macacos e um escrito indicando "o [[elo perdido]]").


===== Análise de cluster =====
Vale lembrar entretanto que numerosas gerações de estudantes foram educados por esta teoria. A cartilha francesa de 1887,<ref>História da França, segundo o currículo oficial de 18 de janeiro de 1887 por C.S. Viator</ref> na qual os franceses da época aprendiam história começava assim:
Um estudo de 2002 sobre [[Lócus (genética)|lócus genéticos]] bialélicos aleatórios encontrou pouca ou nenhuma evidência de que os humanos modernos são divididos em grupos biológicos distintos.<ref>{{Citar periódico |título=Patterns of human diversity, within and among continents, inferred from biallelic DNA polymorphisms |data=abril de 2002 |periódico=Genome Research |número=4 |ultimo=Romualdi |primeiro=Chiara |ultimo2=Balding |primeiro2=David |paginas=602–612 |doi=10.1101/gr.214902 |issn=1088-9051 |pmc=187513 |pmid=11932244 |ultimo3=Nasidze |primeiro3=Ivane S. |ultimo4=Risch |primeiro4=Gregory |ultimo5=Robichaux |primeiro5=Myles |ultimo6=Sherry |primeiro6=Stephen T. |ultimo7=Stoneking |primeiro7=Mark |ultimo8=Batzer |primeiro8=Mark A. |ultimo9=Barbujani |primeiro9=Guido |volume=12}}</ref>
:'''«''' Distinguem-se três raças humanas:
::* a ''raça negra'' (descendentes de Cam) povoou o sul que hoje é a África;
::* a ''raça amarela'' (descendentes de Sem) se desenvolveu na Ásia oriental;
::* a ''raça branca''(descendentes de Jafé)seguiram ao leste, hoje Europa;


Em seu artigo de 2003, intitulado "Diversidade genética humana: a falácia de Lewontin", o [[geneticista]] e biólogo evolucionista britânico [[A. W. F. Edwards]] argumentou que, em vez de usar uma análise de variação lócus por lócus para derivar a taxonomia, é possível construir um sistema de classificação humana baseado em padrões genéticos característicos, ou ''"clusters'' [[Raça e genética|inferidos a partir de dados genéticos multilócus]]".<ref name="edwards" /><ref name="Dawkins & Wong"/> Desde então, estudos humanos com base geográfica mostraram que tais agrupamentos genéticos podem ser derivados da análise de um grande número de lócus que pode classificar indivíduos amostrados em grupos análogos aos grupos raciais continentais tradicionais.<ref name="Harpending; et al." />{{Sfn|Tang|Quertermous|Rodriguez|Kardia|2005}} Joanna Mountain e Neil Risch alertaram que, embora um dia se possa demonstrar que os agrupamentos genéticos correspondem a variações fenotípicas entre grupos, tais suposições eram prematuras, uma vez que a relação entre genes e [[Traços complexos|características complexas]] permanece pouco compreendida pela ciência.<ref name="mountain" /> No entanto, Risch negou que tais limitações tornem a análise inútil: "Talvez apenas usar o ano de nascimento real de alguém não seja uma boa maneira de medir a idade. Isso significa que devemos descartá-la? ... Qualquer categoria que você criar será imperfeita, mas isso não impede que você a use ou que tenha utilidade."<ref name="gitschier" />
O [[demografia|demógrafo]] [[Hervé Le Bras]] se interessou pelas modalidades do racialismo e pela raciologia durante seu trabalho sobre a ideologia demográfica. Entre os cientistas e homens poderosos que aprovavam esta ideologia ele destacou [[Vacher de Lapouge]] (darwinista social e socialista), [[Ronald Fisher]], (democrata e [[eugenismo|eugenista]]), [[Paul Rivet]] (que acreditava na hierarquia das raças e era vice-presidente de [[Liga dos direitos do homem]]), [[Alexis Carrel]] (médico eugenista, fundador de um instituto eugenista durante [[regime de Vichy]]).
[[Imagem:Wobbelin Concentration Camp.jpg|thumb|[[Escravo]]s judeus]]
A Europa, e o ocidente em geral, conheceu duas utilizações políticas do conceito de "raça" que hoje em dia são particularmente rechaçadas:
* a categorização seguida da hierarquização dos grupos humanos serviu de justificativa aos colonizadores europeus para a anexação de novas terras (noção de "raças inferiores"). A experiência de seu encontro com as culturas autóctones era relatada à metropole de forma particularmente parcial: as terras colonizadas eram vistas como repletas de selvagens incultos, inferiores de todos os pontos de vista em relação ao colonizador que, bom e generoso que era, se dedicava em lhes trazer as luzes e benesses da civilização. Essas histórias alimentaram as teorias racistas e justificaram as discriminações de que eram vítimas os povos colonizados. Trata-se do [[racismo colonial]].
* a noção de "degeneração da raça" foi particularmente usada no discurso [[eugenia|eugenista]], inicialmente desenvolvido por [[Francis Galton]] e levado também para a França por [[Georges Vacher de Lapouge]].
* o mesmo uso na [[Alemanha nazista]] e em seguida na Europa sob seu domínio, visando desta vez os [[judeus]], [[ciganos]] e [[eslavos]] que deveriam ser exterminados para ceder lugar à "[[raça ariana]]".


{{Harvtxt|Witherspoon|Wooding|Rogers|Marchani|2007}} argumentaram que mesmo quando os indivíduos podem ser atribuídos de forma confiável a grupos populacionais específicos, ainda pode ser possível que dois indivíduos escolhidos aleatoriamente de diferentes populações/grupos sejam mais semelhantes entre si do que a um membro escolhido aleatoriamente de seu próprio grupo. Eles descobriram que muitos milhares de [[Marcador genético|marcadores genéticos]] tiveram que ser usados para responder "nunca" à pergunta "Com que frequência um par de indivíduos de uma população é geneticamente mais diferente do que dois indivíduos escolhidos de duas populações diferentes?". Isto pressupôs três grupos populacionais separados por grandes áreas geográficas (Europa, África e Leste Asiático). Toda a população mundial é muito mais complexa e estudar um número crescente de grupos exigiria um número crescente de marcadores para a mesma resposta. Os autores concluem que "deve-se ter cautela ao usar a ancestralidade geográfica ou genética para fazer inferências sobre fenótipos individuais".<ref name="Witherspoon, et al. 2007" /> Witherspoon, ''[[et al.]]'' concluiu: "O fato de que, com dados genéticos suficientes, os indivíduos podem ser corretamente atribuídos às suas populações de origem é compatível com a observação de que a maior parte da variação genética humana é encontrada dentro das populações, e não entre elas. Também é compatível com a nossa descoberta de que, mesmo quando as populações mais distintas são consideradas e centenas de lócus são usados, os indivíduos são frequentemente mais semelhantes aos membros de outras populações do que aos membros da sua própria população."<ref name="Witherspoon, et al. 2007" />
Depois do Nazismo, a [[UNESCO]] publicou um estudo intitulado ''The Race Question'' reunindo grande número de estudiosos e pensadores, que refuta a noção de raça humana por que ela perdeu qualquer interesse científico ou validade antropológica. [[Claude Lévi-Strauss]] participaria deste estudo.


Antropólogos como C. Loring Brace,<ref name="Brace 2005" /> os filósofos Jonathan Kaplan e Rasmus Winther,<ref name="encyclopedia" /><ref>{{Citar periódico |url=https://philpapers.org/rec/KAPRAA |título=Realism, Antirealism, and Conventionalism About Race |data=2014 |periódico=Philosophy of Science |número=5 |ultimo=Kaplan |primeiro=Jonathan Michael |ultimo2=Winther |primeiro2=Rasmus Grønfeldt |paginas=1039–1052 |doi=10.1086/678314 |volume=81}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://philpapers.org/archive/WINTGR.pdf |título=The Genetic Reification of 'Race'?: A Story of Two Mathematical Methods |data=2015 |periódico=Critical Philosophy of Race |número=2 |ultimo=Winther |primeiro=Rasmus Grønfeldt |paginas=204–223 |volume=2}}</ref>{{Sfnp|Kaplan|Winther|2013}} e o geneticista Joseph Graves,<ref>{{Citar web|ultimo=Graves|primeiro=Joseph|url=http://raceandgenomics.ssrc.org/Graves/|titulo=What We Know and What We Don't Know: Human Genetic Variation and the Social Construction of Race|data=7 de junho de 2006|website=Race and Genomics}}</ref> argumentaram que a estrutura de agrupamento de dados genéticos é dependente das hipóteses iniciais do pesquisador e da influência dessas hipóteses na escolha das populações a serem amostradas. Quando se amostra grupos continentais, os clusters tornam-se continentais, mas se tivéssemos escolhido outros padrões de amostragem, o cluster seria diferente. Weiss e Fullerton notaram que se alguém amostrasse apenas [[islandeses]], [[maias]] e [[maoris]], três agrupamentos distintos se formariam e todas as outras populações poderiam ser descritas como sendo clinicamente compostas por misturas de materiais genéticos maori, islandeses e maias.<ref name="evolutionary" /> Kaplan e Winther argumentam, portanto, que, vistos desta forma, tanto Lewontin como Edwards estão certos nos seus argumentos. Eles concluem que, embora os grupos raciais sejam caracterizados por diferentes frequências [[Alelo|alélicas]], isso não significa que a classificação racial seja uma taxonomia natural da espécie humana, porque vários outros padrões genéticos podem ser encontrados em populações humanas que atravessam distinções raciais. Na visão de Kaplan e Winther, os agrupamentos raciais são construções sociais objetivas (ver Mills 1998)<ref>{{Citar livro|título=Blackness visible: essays on philosophy and race|ultimo=Mills|primeiro=C. W.|data=1988|editora=[[Cornell University Press]]|localização=Ithaca, New York|páginas=41–66|capitulo=But What Are You Really? The Metaphysics of Race|autorlink=C. Wright Mills}}</ref> que têm realidade biológica convencional apenas na medida em que as categorias são escolhidas e construídas por razões científicas pragmáticas. Em trabalhos anteriores, Winther identificou “particionamento de diversidade” e “análise de agrupamento” como duas metodologias separadas, com questões, suposições e protocolos distintos. Cada um também está associado a consequências ontológicas opostas em relação à metafísica da raça.<ref>{{Citar web|url=http://philpapers.org/archive/WINTGR.pdf|titulo=The Genetic Reification of "Race"? A story of two mathematical methods|acessodata=15 de janeiro de 2020}}</ref> A filósofa Lisa Gannett argumentou que a ancestralidade biogeográfica, um conceito desenvolvido por Mark Shriver e Tony Frudakis, não é uma medida objetiva dos aspectos biológicos de raça como Shriver e Frudakis afirmam que é. Ela argumenta que, na verdade, é apenas uma "categoria local moldada pelo contexto norte-americano de sua produção, especialmente o objetivo forense de ser capaz de prever a raça ou etnia de um suspeito desconhecido com base no DNA encontrado na cena do crime".<ref>{{Citar periódico |título=Biogeographical ancestry and race |data=setembro de 2014 |periódico=Studies in History and Philosophy of Science Part C: Studies in History and Philosophy of Biological and Biomedical Sciences |ultimo=Gannett |primeiro=Lisa |paginas=173–184 |doi=10.1016/j.shpsc.2014.05.017 |pmid=24989973 |volume=47}}</ref>
[[Ernest Renan]] se encarrega de dar uma definição cultural à [[nação]], opondo-se à definição alemã, advinda de [[Fichte]], da nação como comunidade biológica a que se pertence:


===== Clinas e clusters em variação genética =====
{{quote2|1=A verdade é que não há uma raça pura e que apoiar a política na análise etnográfica é fazer dela uma quimera. Os mais nobres países, a Inglaterra, a França, a Itália, são aqueles com mais mistura de sangue. A Alemanha faria a esse respeito uma exceção? Seria ela um país germânico puro? Que ilusão! Todo o sul foi gaulês. Todo o leste, a partir do Elba, é eslavo. E as partes que se pretendem realmente puras o seriam realmente? Tocamos aqui em problemas sobre os quais é mais importante se ter as ideias claras e prevenir os mal entendidos.|2=Ernest Renan<ref>Ernest Renan, ''Qu'est-ce qu'une nation ?'', conferência proferida na Sorbonne, 11 de março de 1882. (Tradução livre) [[s:Qu'est-ce qu'une nation ?|Texto completo no wikisource]]</ref>}}
Estudos recentes de agrupamento genético humano incluíram um debate sobre como a variação genética é organizada, com agrupamentos e clinas como as principais ordenações possíveis. {{Harvtxt|Serre|Pääbo|2004}} defenderam uma leve [[Variação clinal|variação genética clinal]] em populações ancestrais, mesmo em regiões anteriormente consideradas racialmente homogêneas. {{Harvtxt|Rosenberg|Mahajan|Ramachandran|Zhao|2005}} contestaram isso e ofereceram uma análise do Painel de Diversidade Genética Humana mostrando que havia pequenas descontinuidades na variação genética para populações ancestrais na localização de barreiras geográficas, como o [[deserto do Saara]], os [[oceanos]] e a cordilheira dos [[Himalaias]]. No entanto, {{Harvtxt|Rosenberg|Mahajan|Ramachandran|Zhao|2005}} afirmaram que as suas descobertas "não devem ser tomadas como evidência do nosso apoio a qualquer conceito particular de raça biológica ... As diferenças genéticas entre as populações humanas derivam principalmente de gradações nas frequências alélicas, e não de genótipos 'diagnósticos' distintos." Usando uma amostra de 40 populações distribuídas aproximadamente uniformemente pela superfície terrestre da Terra, {{Harvtxt|Xing|et al.|2010}} descobriram que “a diversidade genética é distribuída em um padrão mais clinal quando mais populações geograficamente intermediárias são amostradas”.


[[Guido Barbujani]] escreveu que a variação genética humana é geralmente distribuída continuamente em gradientes em grande parte do planeta Terra e que não há evidências de que existam fronteiras genéticas entre as populações humanas como seria necessário para a existência de raças humanas distintas.{{Sfn|Barbujani|2005}} Ao longo do tempo, a [[variação genética humana]] formou uma estrutura aninhada que é inconsistente com o conceito de "raças humanas" que teriam evoluído independentemente umas das outras.<ref>{{Citar periódico |url=https://deepblue.lib.umich.edu/bitstream/2027.42/62159/1/20932_ftp.pdf |título=The global pattern of gene identity variation reveals a history of long-range migrations, bottlenecks, and local mate exchange: Implications for biological race |data=18 de fevereiro de 2009 |periódico=[[American Journal of Physical Anthropology]] |número=1 |ultimo=Hunley |primeiro=Keith L. |ultimo2=Healy |primeiro2=Meghan E. |paginas=35–46 |doi=10.1002/ajpa.20932 |pmid=19226641 |ultimo3=Long |primeiro3=Jeffrey C. |volume=139 }}</ref>
=== Raça e biometria ===
[[Imagem:Head-Measurer of Tremearne (side view).jpg|thumb|"estudo" de [[antropologia]]]]
Os partidários da classificação da espécie humana em raças buscaram por um instrumento de medida capaz de prover critérios para a diferenciação. Assim, recensearam as características fenotípicas visíveis, sendo esse o primeiro meio de categorizar a espécie humana em diferentes raças. O método consistia nesta época em estudar essas características físicas de maneira sistemática: foi o nascimento da [[biometria]] como meio de quantificar as diferenças em meio a espécie humana.


=== Construções sociais ===
Graças a essa ferramenta foram definidas as raças humanas em função de suas características físicas: pigmentação, formato do rosto, etc. Essa definição implica, de certa maneira, na existência de uma "pureza racial", ilustrada por indivíduos "típicos". A disciplina encantou os interessados na classificação das raças e quem era persuadido de sua existência.
À medida que os antropólogos e outros cientistas evolucionistas se afastaram da linguagem da raça para o termo população para falar sobre diferenças genéticas, os historiadores, os antropólogos culturais e outros cientistas sociais reconceituaram o termo "raça" como uma categoria ou identidade cultural, ou seja, uma entre muitas maneiras possíveis pelas quais uma sociedade escolhe dividir seus membros em categorias. Craig Venter e Francis Collins, dos [[Institutos Nacionais da Saúde]] dos Estados Unidos, anunciaram conjuntamente o mapeamento do genoma humano em 2000. Ao examinar os dados do mapeamento do [[genoma]], Venter percebeu que embora a variação genética dentro da espécie humana seja da ordem de 1–3% (em vez do 1% anteriormente assumido), os tipos de variações não suportam a noção de raças geneticamente definidas. Venter disse: "Raça é um conceito social. Não é científico. Não há linhas claras (que se destacariam), se pudéssemos comparar todos os genomas sequenciados de todas as pessoas do planeta. ... Quando tentamos aplicar a ciência para tentar resolver essas diferenças sociais, tudo desmorona."<ref name="FORA.tv 2008" />


O antropólogo Stephan Palmié argumentou que raça “não é uma coisa, mas uma relação social”;{{Sfn|Palmié|2007}} ou, nas palavras de Katya Gibel Mevorach, "uma [[metonímia]]", "uma invenção humana cujos critérios de diferenciação não são universais nem fixos, mas sempre foram usados para administrar a diferença".{{Sfn|Mevorach|2007}} Imani Perry argumentou que o conceito de "raças humanas" "é produzido por arranjos sociais e pela tomada de decisões políticas".<ref>{{Citar livro|título=More Beautiful and More Terrible: The Embrace and Transcendence of Racial Inequality in the United States|ultimo=Perry|primeiro=Imani|data=2011|editora=[[New York University Press]]|localização=New York}}</ref><ref>{{Citar livro|título=More Beautiful and More Terrible: The Embrace and Transcendence of Racial Inequality in the United States|ultimo=Perry|primeiro=Imani|data=2011|editora=[[New York University Press]]|localização=New York}}</ref> Da mesma forma, ''Racial Culture: A Critique'' (2005), Richard T. Ford argumentou que embora "não haja correspondência necessária entre a identidade atribuída à raça e a cultura ou senso pessoal de si mesmo" e "a diferença de grupo não é intrínseca a membros de grupos sociais, mas antes dependentes das práticas sociais de identificação de grupo", as práticas sociais da [[política identitária]] podem coagir os indivíduos à promulgação "obrigatória" de "roteiros raciais pré-escritos".<ref>{{Citar livro|título=Racial Culture: A Critique|ultimo=Ford|primeiro=Richard T.|data=2005|editora=[[Princeton University Press]]|páginas=117–118, 125–128|isbn=0691119600}}</ref>
Os critérios usados então para identificar as raças humanas compreendem principalmente a [[pigmento|pigmentação]] da pele, a [[Morfologia (biologia)|morfologia]] (especialmente a estatura e a forma do crânio). Alguns autores distinguem dezenas, se não centenas, de "raças", mas todos dão lugar especial em suas descrições aos grandes grupos, de número limitado, baseados em sua maioria na pigmentação da pele.
[[Imagem:Bertillon - Criminal profiles.jpg|thumb|Os perfis criminosos de Alphone Bertillon]]
A cientifização da biometria, pratica puramente descritiva das características aparentes, só foi reconhecida por aqueles que já eram previamente seus defensores. Em contrapartida, essa disciplina alimentou amplamente os discursos (e políticas) racistas. O período do nazismo viu assim a multiplicação das obras detalhando as características físicas para "ensinar" a reconhecer as diversas raças humanas.


==== Brasil ====
Segundo [[Henri Vallois]], em [[1968]], "uma raça é uma população natural definida por características físicas, hereditárias, comuns". {{Carece de fontes|data=Dezembro de 2008}}
{{AP|Composição étnica do Brasil|Racismo no Brasil}}
[[Ficheiro:Redenção.jpg|miniaturadaimagem|Retrato ''[[Redenção de Cam]]'' (1895), mostrando uma família brasileira tornando-se "mais branca" a cada geração]]
Comparado aos [[Estados Unidos]] do século XIX, o [[Demografia do Brasil|Brasil]] do século XX foi caracterizado por uma aparente ausência relativa de grupos raciais rigidamente definidos. Segundo o antropólogo [[Marvin Harris]], esse padrão reflete história e [[Relação social|relações sociais]] diferentes entre os países. A raça no Brasil foi "biologizada", mas de uma forma que reconheceu a diferença entre ancestralidade (que determina o [[genótipo]]) e diferenças [[Fenótipo|fenotípicas]]. No Brasil, a identidade racial não era governada por regras de descendência rígidas, como a [[regra de uma gota]], como era nos Estados Unidos. Uma criança brasileira nunca foi automaticamente identificada com o tipo racial de um ou de ambos os pais, nem houve apenas um número muito limitado de categorias para escolher, na medida em que [[Irmão|irmãos]] podem pertencer a diferentes grupos raciais.<ref>{{Citar periódico |título=Color and genomic ancestry in Brazilians |data=janeiro de 2003 |periódico=[[Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America]] |número=1 |ultimo=Parra |primeiro=F. C. |ultimo2=Amado |primeiro2=R. C. |paginas=177–182 |bibcode=2003PNAS..100..177P |doi=10.1073/pnas.0126614100 |pmc=140919 |pmid=12509516 |ultimo3=Lambertucci |primeiro3=J. R. |ultimo4=Rocha |primeiro4=J. |ultimo5=Antunes |primeiro5=C. M. |ultimo6=Pena |primeiro6=S. D. |volume=100 |doi-access=free}}</ref>


Várias categorias raciais seriam reconhecidas em conformidade com todas as combinações possíveis de cor e textura do [[cabelo]], [[cor dos olhos]] e [[cor da pele]]. Ou seja, raça se referia preferencialmente à aparência, não à hereditariedade, e a aparência é um mau indício de ancestralidade, porque apenas alguns genes são responsáveis pela cor e características da pele de alguém: uma pessoa considerada [[Brancos|branca]] pode ter mais ascendência [[africana]] do que uma pessoa que é considerado [[Negros|negra]], e o inverso também pode ser verdadeiro em relação à ascendência [[europeia]].<ref>{{Citar web|ultimo=Salek|primeiro=Silvia|url=http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/6284806.stm|titulo=BBC delves into Brazilians' roots|data=10 de julho de 2007|acessodata=13 de julho de 2009|website=[[BBC News]]}}</ref> A complexidade das classificações raciais no Brasil reflete a extensão da mistura genética na [[Demografia do Brasil|sociedade brasileira]], uma sociedade que permanece altamente, mas não estritamente, [[Estratificação social|estratificada]] em linhas de cor. Esses fatores [[Status socioeconómico|socioeconômicos]] também são significativos para os limites das linhas raciais, porque uma minoria de [[pardos]] provavelmente começará a se declarar branca ou negra se for algo socialmente ascendente<ref>{{Citar livro|título=O Povo Brasileiro|ultimo=Ribeiro|primeiro=Darcy|data=2008|editora=Companhia de Bolso|língua=pt|autorlink=Darcy Ribeiro|edição=4th reprint}}</ref> e a ser vista como relativamente "mais branca" conforme aumenta o [[status social]] (assim como em outras regiões da [[América Latina]]).<ref>{{Citar livro|título=Working through whiteness: international perspectives|data=2002|editora=SUNY Press|editor-sobrenome=Levine-Rasky|editor-nome=Cynthia|isbn=9780791453407}}</ref>
=== Vallois: uma taxonomia descritiva tardia ===
{| class="wikitable floatright"
Em 1944, [[Henri Vallois]] estabeleceu uma taxonomia racial em sua obra ''Les Races humaines'' (em português, ''As Raças Humanas'') que dividia os humanos em quatro grupos (de valor igual) por ele chamados de "raças":
! colspan="6" |Grupos étnicos no Brasil (1872 e 1890) <ref name="Ramos">{{Citar livro|título=A mestiçagem no Brasil|ultimo=Ramos|primeiro=Arthur|data=2003|editora=EDUFAL|localização=Maceió, Brazil|língua=pt|isbn=978-85-7177-181-9}}</ref>
* "raça negra africana" ;
|-
* "raça amarela asiática" ;
! Anos
* "raça negra australiana" ;
! brancos
* "raça branca europeia".
! multirracial
! negros
! índios
! Total
|-
| 1872
| 38,1%
| 38,3%
| 19,7%
| 3,9%
| 100%
|-
| 1890
| 44,0%
| 32,4%
| 14,6%
| 9%
| 100%
|}


Das últimas décadas do [[Império do Brasil|Império]] até a década de 1950, a proporção da [[Brasileiros brancos|população branca]] aumentou significativamente. O Brasil acolheu 5,5 milhões de imigrantes [[europeus]] entre 1821 e 1932, não muito atrás de sua vizinha [[Argentina]] com 6,4 milhões,<ref name="whitaker">{{Citar livro|título=Argentina|ultimo=Whitaker|primeiro=Arthur P.|data=1984|editora=Prentice Hall|localização=Hoboken, New Jersey}}, Cited in {{Citar web|url=http://www.yale.edu/ynhti/curriculum/units/1990/1/90.01.06.x.html|titulo=Yale immigration study|publicado=[[Yale University]]}}</ref> e recebeu mais imigrantes europeus em sua história colonial do que os Estados Unidos. Entre 1500 e 1760, 700 mil europeus se estabeleceram no Brasil, enquanto 530 mil europeus se estabeleceram nos Estados Unidos pelo mesmo período.<ref>{{Citar livro|título=Brasil: 500 anos de povoamento|ultimo=Venâncio|primeiro=Renato Pinto|data=2000|editora=IBGE|localização=Rio de Janeiro|capitulo=Presença portuguesa: de colonizadores a imigrantes}}, Relevant extract available here: {{Citar web|url=https://brasil500anos.ibge.gov.br/territorio-brasileiro-e-povoamento/portugueses|titulo=território brasileiro e povoamento|acessodata=16 de outubro de 2021|publicado=IBGE|lingua=pt|titulotrad=Brazilian territory and settlement}}</ref>
== Críticas e abandono do termo ==
[[Imagem:Anti-Semitismus 1933.jpg|thumb|esquerda|Alemanha nazista: "Não compre dos Judeus!"]]
A grande variabilidade dos traços físicos traz um problema: é impossível definir raças fechadas onde os traços seriam estritamente próprios de um determinado grupo. De fato, a grande maioria das características físicas são quantitativas. Assim, definir uma raça se fundamentando na pigmentação da pele é um processo delicado já que todas as nuances existentes na espécie humana, e mesmo dentro de determinados grupos (daí a discussão, na América Latina e nos Estados Unidos sobre as diferentes tonalidades de "negro", ou a complicada classificação, desde a [[colonização das Américas]], a fim de hierarquizar os indivíduos [[mestiços]] de grupos étnicos distintos em função da cor de sua pele).


==== União Europeia ====
O uso criminoso da noção de "raça" durante a [[Segunda Guerra Mundial]] pelo regime nazista, e a ausência de categorizações fiáveis ligadas a esta noção, levam os antropólogos a não mais utilizar tal tipo de classificação. Entretanto, a antropologia alemã oficial utiliza ainda a concepção de 36 raças humanas de [[von Eickstedt]].<ref>Rainer Knußmann, ''Lehrbuch der vergleichenden Anthropologie und Humangenetik'', 2. ed.</ref>
A [[União Europeia]] utiliza os termos origem racial e origem étnica como sinônimos nos seus documentos e segundo ela “a utilização do termo 'origem racial' nesta diretiva não implica uma aceitação de tais teorias [raciais]”.<ref>{{Citar web|url=http://www.humanrights.is/human-rights-and-iceland/equality--non-discrimination/|titulo=European Union Directives on the Prohibition of Discrimination|website=HumanRights.is|publicado=Icelandic Human Rights Centre|arquivourl=https://web.archive.org/web/20120724051826/http://www.humanrights.is/human-rights-and-iceland/equality--non-discrimination|arquivodata=24 de julho de 2012|urlmorta=dead}}</ref> Haney López alerta que usar “raça” como categoria dentro da lei tende a legitimar sua existência no imaginário popular. No contexto geográfico diversificado da [[Europa]], a [[etnicidade]] e a origem étnica são indiscutivelmente mais ressonantes e menos sobrecarregadas pela bagagem ideológica associada ao termo “raça”. No contexto europeu, a ressonância histórica da “raça” sublinha a sua natureza problemática. Em alguns países, está fortemente associada às leis promulgadas pelos governos [[Nazismo|nazistas]] e [[Fascismo|fascistas]] na Europa durante as décadas de 1930 e 1940. Na verdade, em 1996, o [[Parlamento Europeu]] adotou uma resolução afirmando que “o termo deveria, portanto, ser evitado em todos os textos oficiais”.{{Sfn|Bell|2009|p={{page needed|date=dezembro de 2021}}}}


O conceito de origem racial baseia-se na noção de que os seres humanos podem ser separados em "raças" biologicamente distintas, ideia geralmente rejeitada pela [[comunidade científica]]. Dado que todos os seres humanos pertencem à mesma espécie, a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância rejeita teorias baseadas na existência de diferentes “raças humanas”. No entanto, na sua recomendação, utiliza este termo para garantir que as pessoas que são geralmente e erroneamente consideradas como pertencentes a "outra raça" não sejam excluídas da proteção prevista pela legislação. A lei pretende rejeitar a existência de “raça”, mas penaliza as situações em que alguém é tratado de forma menos favorável por este motivo.{{Sfn|Bell|2009|p={{page needed|date=dezembro de 2021}}}}
Tanto a biologia, as abordagens das "ciências humanas" antropológicas, estudos comparativos de civilizações, etnológicos, quanto as análises políticas e sociológicas, tiveram de abandonar essa noção.


==== Estados Unidos ====
De um lado o avanço dos trabalhos na genética forçou o abandono da noção, quando estabeleceu que as diferenças entre humanos são individuais e não de raça (ou de grupo). Efetivamente, os indivíduos são todos diferentes e as características que produzem essas diferenças são encontradas em todas as populações humanas.
{{VT|Racismo nos Estados Unidos}}
Os imigrantes que foram para os [[Estados Unidos]] vieram de todas as regiões da Europa, África e Ásia e [[Miscigenação|misturaram-se]] entre si e com os [[Povos ameríndios|habitantes indígenas do continente]]. Nos Estados Unidos, a maioria das pessoas que se identificam como [[Afro-americanos|afro-americanas]] têm alguns [[Grupos étnicos da Europa|ancestrais europeus]], enquanto muitas pessoas que se identificam como [[Americanos brancos|euro-americanas]] têm alguns ancestrais africanos ou ameríndios. Desde o início da história dos Estados Unidos, os ameríndios, os afro-americanos e os europeus-americanos foram classificados como pertencentes a raças diferentes. Os esforços para rastrear a mistura entre grupos levaram a uma proliferação de categorias, como [[mulato]] e [[Quadroon (1/4 negro)|''octoroon'']]. Os critérios para adesão a estas raças divergiram no final do século XIX. Durante a era da [[Reconstrução dos Estados Unidos|Reconstrução]], um número crescente de estadunidenses começou a considerar negro qualquer pessoa com "[[Regra de uma gota|uma gota]]" de "sangue negro" conhecido, independentemente da aparência. No início do século XX, essa noção tornou-se obrigatória em muitos estados. Os [[Povos ameríndios|ameríndios]] continuam a ser definidos por uma certa porcentagem de “sangue índio”. Para ser considerado branco era preciso ter uma ancestralidade branca "pura". A regra de "uma gota" ou regra [[hipodescente]] refere-se à convenção de definir uma pessoa como racialmente negra se ela tiver alguma ascendência africana conhecida. Esta regra significava que aqueles que eram mestiços, mas com alguma ascendência africana discernível, eram definidos como negros. A regra da gota única é específica não apenas para aqueles com ascendência africana, mas também para os Estados Unidos, tornando-a uma experiência particularmente [[afro-americana]].<ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/amalgamationsche00jare|título=Amalgamation Schemes|ultimo=Sexton|primeiro=Jared|data=2008|editora=[[University of Minnesota Press]]}}</ref>


Os [[Censo dos Estados Unidos|censos decenais]] realizados desde 1790 nos Estados Unidos criaram um incentivo adicional para estabelecer categorias raciais e enquadrar as pessoas dentro delas.<ref name="nobles" /> O termo "[[Hispânicos|hispânico]]" como [[etnônimo]] surgiu no século XX com o aumento da migração de trabalhadores dos [[Hispanofonia|países de língua espanhola]] da [[América Latina]] para os Estados Unidos. Hoje, a palavra “[[Latino-americanos|latino]]” é frequentemente usada como sinônimo de “hispânico”. As definições de ambos os termos não são raciais e incluem pessoas que se consideram de raças distintas (negros, brancos, ameríndios, asiáticos e grupos mistos).<ref name="OMB 1997" /> No entanto, existe um equívoco comum nos Estados Unidos de que os termos hispânico/latino definem uma raça.<ref>{{Citar livro|título=Race and Manifest Destiny: The Origins of American Radial Anglo-Saxonism|ultimo=Horsman|primeiro=Reginald|data=1981|editora=[[Harvard University Press]]|localização=Cambridge, Massachusetts}}</ref>
Como disse o geneticista [[André Langaney]] (1992):
{{quote2|1=No início das pesquisas em genética, os cientistas, que tinham em mente as classificações raciais herdadas do século passado, pensavam que iriam encontrar os genes dos Amarelos, dos Negros, dos Brancos... Pois bem, nada disso, não foram encontrados. Em todos os sistemas genéticos humanos conhecidos, os repertórios de genes são os mesmos.|2=<ref>[http://www.ldh-toulon.net/spip.php?article235 Entrevistas] com [[André Langaney]] nos jornais ''[[L'Humanité]]'' e ''[[L'Histoire]]'', no sítio da [[Liga dos direitos do homem]] (Tradução livre)</ref>}}


== Disciplinas acadêmicas ==
Por outro lado, o período da política de extermínio racista do nazismo forçou, após a guerra, a reflexão de maneira crítica dessa noção de raça humana, e ou abandoná-la, ou conservá-la num sentido metafórico, ou seja, de agrupamento cultural e não mais de classe biológica.
[[Imagem:Buchenwald-bei-Weimar-am-24-April-1945.jpg|thumb|O senador estadunidense [[Alben W. Barkley]], membro do comitê que investigava os crimes de guerra [[Alemanha nazista|nazistas]], ao lado de corpos de prisioneiros do [[campo de concentração]] de [[Buchenwald]], na [[Alemanha]]]]


=== Antropologia ===
Os crimes do nazismo, que justificavam suas ações em nome da salvaguarda de uma pseudo "raça ariana", levaram a uma retificação no sentido da anti-raciologia. Em sua edição de julho-agosto de [[1950]], com título de "Os estudiosos do mundo inteiro denunciam um mito absurdo... o racismo", o ''correio da [[UNESCO]]'' publica a "declaração sobre a raça". Trata-se de um documento redigido em dezembro de 1949 por um grupo internacional de pesquisadores que repudia à noção de raça e afirma a unidade fundamental da humanidade.<ref>[http://www-ihpst.univ-paris1.fr/_sources/jgay_raceunesco.pdf Faut-il proscrire en biologie l'expression " races humaines " ? UNESCO 1950-51 Jean Gayon (Université Paris 1-Panthéon Sorbonne)] {{Wayback|url=http://www-ihpst.univ-paris1.fr/_sources/jgay_raceunesco.pdf |date=20070930185852 }} versão não definitiva do texto publicada em ''L’Aventure humaine'', n°12/2001, Paris, Presses Universitaires de France, 2002, página consultada em 16 de abril de 2007</ref>
O conceito de classificação racial na [[antropologia física]] perdeu credibilidade por volta da década de 1960 e agora é considerado insustentável.<ref name="Sauer 1992"/><ref>{{Citar livro|título=A Companion to Biological Anthropology|data=2010|editora=[[Wiley-Blackwell]]|editor-sobrenome=Larsen|editor-nome=Clark Spencer|páginas=13, 26|isbn=978-1-4051-8900-2}}</ref>{{Sfn|Lieberman|Kirk|Corcoran|2003}} Uma declaração de 2019 da Associação Americana de Antropólogos Físicos declara:
{{quote|O termo raça não fornece uma representação precisa da variação biológica humana. Não era preciso no passado e permanece impreciso quando se refere às populações humanas contemporâneas. Os seres humanos não estão divididos biologicamente em tipos continentais ou grupos genéticos raciais distintos. Em vez disso, o conceito ocidental de raça deve ser entendido como um sistema de classificação que emergiu em apoio ao colonialismo, à opressão e à discriminação europeias.<ref name=":5">{{Citar web|url=https://physanth.org/about/position-statements/aapa-statement-race-and-racism-2019/|titulo=AABA Statement on Race & Racism|website=physanth.org}}</ref>}}


Wagner ''et al.'' (2017) pesquisaram as opiniões de 3.286 antropólogos estadunidenses sobre raça e genética, incluindo antropólogos culturais e biológicos. Eles encontraram um consenso entre eles de que não existem raças biológicas nos humanos, mas que raça existe na medida em que as experiências sociais de membros de diferentes raças podem ter efeitos significativos na saúde.<ref>{{Citar periódico |título=Anthropologists' views on race, ancestry, and genetics |data=fevereiro de 2017 |periódico=American Journal of Physical Anthropology |número=2 |ultimo=Wagner |primeiro=Jennifer K. |ultimo2=Yu |primeiro2=Joon-Ho |paginas=318–327 |doi=10.1002/ajpa.23120 |pmc=5299519 |pmid=27874171 |ultimo3=Ifekwunigwe |primeiro3=Jayne O. |ultimo4=Harrell |primeiro4=Tanya M. |ultimo5=Bamshad |primeiro5=Michael J. |ultimo6=Royal |primeiro6=Charmaine D. |volume=162}}</ref>
[[Claude Lévi-Strauss]] analisa os mecanismos de constituição da ideologia racista, em termos de diferenciação de raças:
{{quote2|1=O pecado original da antropologia consiste na '''confusão''' entre a noção puramente biológica de raça (supondo-se que [...] essa noção pudesse pretender objetividade, '''o que a genética moderna contesta''') e os produtos sociológicos e psicológicos das culturas humanas|2=}}


Wang, Štrkalj ''et al.'' (2003) examinaram o uso da raça como um conceito biológico em artigos de pesquisa publicados na única revista de antropologia biológica da China, ''Acta Anthropologica Sinica''. O estudo mostrou que o conceito de raça era amplamente utilizado entre os antropólogos chineses.<ref name="racechina1">{{Citar periódico |url=http://lesacreduprintemps19.files.wordpress.com/2011/07/on-the-concept-of-race-in-chinese-biological-anthropology-alive-and-well.pdf |título=On the Concept of Race in Chinese Biological Anthropology: Alive and Well |data=2003 |acessodata=12 de novembro de 2013 |periódico=Current Anthropology |publicado=University of Chicago Press |número=3 |ultimo=Štrkalj |primeiro=Goran |ultimo2=Wang |primeiro2=Qian |pagina=403 |doi=10.1086/374899 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20131112174202/http://lesacreduprintemps19.files.wordpress.com/2011/07/on-the-concept-of-race-in-chinese-biological-anthropology-alive-and-well.pdf |arquivodata=12 de novembro de 2013 |volume=44}}</ref>{{Sfn|Black|Ferguson|2011|p=[https://books.google.com/books?id=306ruTniZmcC&pg=PA125 125]}} Num artigo de revisão de 2007, Štrkalj sugeriu que o forte contraste da abordagem racial entre os Estados Unidos e a China se devia ao fato de a raça ser um fator de coesão social entre as pessoas etnicamente diversas da China, enquanto a "raça" é uma questão delicada nos Estados Unidos e considera-se que a abordagem racial prejudica a coesão social&nbsp;– com o resultado de que, no contexto sociopolítico dos acadêmicos estadunidenses, os cientistas são encorajados a não utilizar categorias raciais, enquanto na China são encorajados a utilizá-las.<ref name="racechina2">{{Citar periódico |url=http://www.krepublishers.com/02-Journals/T-Anth/Anth-09-0-000-000-2007-Web/Anth-09-1-000-000-2007-Abst-PDF/Anth-09-1-073-078-2007-422-%20%8Atrkalj-G/Anth-09-1-073-078-2007-422-%20%8Atrkalj-G-Tt.pdf |título=The Status of the Race Concept in Contemporary Biological Anthropology: A Review |data=2007 |periódico=The Anthropologist |número=1 |ultimo=Štrkalj |primeiro=Goran |paginas=73–78 |doi=10.1080/09720073.2007.11890983 |volume=9}}</ref>
Levi-Strauss afirma que se os grupos humanos se distinguem, e para tanto que precisem ser distinguidos, é unicamente em termos culturais. De fato, é unicamente pela cultura que os grupos humanos ou sociedades se dividem e se diferenciam; e não segundo a natureza que seria a biologia. Quer dizer que se é necessário a manutenção das distinções, o fenômeno não é de forma alguma natural. Ele não deriva de estudo da biologia, mas da antropologia no sentido amplo. O racismo consiste precisamente no contrário, em fazer de um fenômeno cultural um fenômeno pretensamente físico, natural e biológico. Ele explica ainda em ''Raça e História'' (que foi também publicado pela UNESCO) que a imensa diversidade cultural, correspondendo a modos de vida extraordinariamente diversificados, não é em nada imputável à biologia: ela se desenvolve paralelamente à diversidade biológica. Essas análises foram retomadas mais tarde uma obra mais detalhada, ''O olhar distante''.


Em 2004, uma pesquisa de Lieberman ''et al.'' analisou a aceitação da raça como conceito entre antropólogos nos [[Estados Unidos]], [[Canadá]], [[Europa]], [[Rússia]], [[China]] e [[hispanofonia]]. A rejeição racial variou de alta a baixa, com a maior taxa de rejeição nos Estados Unidos e no Canadá, uma taxa de rejeição moderada na Europa e a menor taxa de rejeição na Rússia e na China. Os métodos utilizados nos estudos relatados incluíram questionários e análise de conteúdo.<ref name="nih10" />
Em um ''relatório ao Presidente da República''' datado de [[1979]], sobre as questões de ''ciências da vida e sociedade'' (título da obra, do francês: ''sciences de la vie et société''), [[François Gros]], [[François Jacob]] e [[Pierre Royer]] abordam precisamente as relações entre o conhecimento em matéria de ciências da vida e sociedade. Um trabalho envolvendo toda a comunidade científica francesa -- os membros da academia de ciências, do CNRS, dos professores universitários, do Collége de France, dos "Estudiosos" do "comité national de la Recherche" (comitê nacional da pesquisa) e interessados em biologia que contribuíram e o seguiram -- diz o seguinte: {{quote2|há mais de um século, e ainda nos dias de hoje, tenta-se por demais '''utilizar''' argumentos tomados à biologia para justificar certos modelos de sociedade. [[Darwinismo social]] ou [[eugenia]], racismo colonial ou superioridade ariana, [...] as ideologias nunca hesitaram em ''desviar o apanhado da biologia''...|}}


Kaszycka ''et al.'' (2009) em 2002–2003 pesquisaram as opiniões de antropólogos europeus em relação ao conceito de raça biológica. Três fatores – país de formação acadêmica, disciplina e idade – foram considerados significativos na diferenciação das respostas. Os educados na [[Europa Ocidental]], os antropólogos físicos e as pessoas de meia-idade rejeitaram o conceito de raça com mais frequência do que os educados na [[Europa Oriental]], as pessoas de outros ramos da ciência e aquelas de gerações mais jovens e mais velhas.<ref name="anthropologists" />
Isso quer dizer que a exploração indevida da biologia para uso das ideologias e políticas racistas é com certeza (mesmo ainda hoje) algo que não pode ser ignorado, já que foi estabelecida e analisada pelos estudiosos de diversas disciplinas, biólogos, historiadores da ciência, epistemólogos, filósofos, etc.


=== Biologia, anatomia e medicina ===
Exploração indevida e transferência de noções que não tinham nenhuma razão de ser senão traduzir os interesses ou fantasias em propostas com pretensa base científica, mas que não passam de teorias racistas e discursos em termos de raças que visam apenas fazer crer numa diferença e hierarquia racial.
Na mesma pesquisa de 1985 {{Harv|Lieberman|Hampton|Littlefield|Hallead|1992}}, 16% dos [[Biólogo|biólogos]] pesquisados e 36% dos [[Psicologia do desenvolvimento|psicólogos do desenvolvimento]] pesquisados discordaram da proposição: “Existem raças biológicas na espécie ''Homo sapiens''”. Os autores do estudo também examinaram 77 livros universitários de biologia e 69 de antropologia física publicados entre 1932 e 1989. Até os anos 1970, os textos de antropologia física argumentavam que raças biológicas humanas existiam, mas começaram pararam de afirmar isso desde então. Em contraste, os livros didáticos de biologia não sofreram tal reversão, mas muitos abandonaram completamente o debate sobre raça. Os autores atribuíram isso às implicações políticas das classificações raciais e às discussões em curso na biologia sobre a validade da ideia de "subespécie". Os autores concluíram: "O conceito de raça, mascarando a esmagadora semelhança genética de todos os povos e os padrões de variação em mosaico que não correspondem às divisões raciais, não é apenas socialmente disfuncional, mas também biologicamente indefensável (pp. 5 18-5 19)." {{Harv|Lieberman|Hampton|Littlefield|Hallead|1992|pp=316–17}}


Uma análise feita em 1994 de 32 livros didáticos ingleses de ciências do esporte/exercícios descobriu que 7 (21,9%) afirmaram que existem diferenças biofísicas devido à raça que podem explicar diferenças no desempenho esportivo, 24 (75%) não mencionaram nem refutaram o conceito, e 1 (3,1%) manifestaram cautela com a ideia.<ref name="presentation" />
Entretanto o que a biologia ensina pode ser resumido ainda pelo que dizem nossos três autores do relatório citado acima:
{{quote2|os conhecimentos da biologia moderna vão, em sua maioria, de encontro às ideias mais comumente aceitas hoje em dia.}}


Em fevereiro de 2001, os editores dos ''Arquivos de Pediatria e Medicina do Adolescente'' pediram aos "autores que não usassem os termos "raça" e "etnia" quando não houvesse razão biológica, científica ou sociológica para fazê-lo".<ref name="Rivara, Finberg 2001" /> Os editores também afirmaram que "a análise por raça e etnia tornou-se um reflexo analítico automático".<ref name="nih" /> A revista ''Nature Genetics'' agora pede aos autores que "expliquem por que fazem uso de determinados grupos étnicos ou populações e como a classificação foi alcançada".<ref name="profiling" />
=== A cultura como principal critério de diferenciação ===
[[Imagem:William Blake-Europe Supported By Africa and America 1796.png|esquerda|thumb|De [[William Blake]], Europe Supported By Africa and America, 1796]]
Os etnólogos estimam que, postas de lado as supostas diferenças genéticas e fenotípicas, as populações humanas são principalmente diferenciadas pelos seus usos e costumes, que são transmitidos de geração em geração. A espécie humana se caracteriza então por uma forte dimensão [[cultura]]l. É por isso que o conceito de [[etnia]] é hoje em dia preferido ao conceito de raça em etnologia. As diferenças culturais permitem definir um grande número de etnias. As noções de [[nação]] assim como de [[comunidade religiosa]] se abstraem da noção de raça e de etnia: o que conta para defini-las é muito menos o que seus membros ''são'', e muito mais o que eles ''desejam'' em comum.


Morning (2008) analisou livros didáticos de biologia do ensino médio durante o período de 1952 a 2002 e inicialmente encontrou um padrão semelhante, com apenas 35% abordando diretamente o conceito de raça no período de 1983 a 1992, contra 92% antes disso. Discussões mais indiretas e breves sobre raça no contexto de distúrbios médicos aumentaram de nenhuma para 93% dos livros didáticos. Em geral, o material sobre raça passou de características superficiais para genética e história evolutiva. O estudo argumenta que a mensagem fundamental dos livros didáticos sobre a existência de raças mudou pouco.<ref name="reconstructing" /> Analisando as opiniões sobre raça na comunidade científica em 2008, Morning concluiu que os biólogos não conseguiram chegar a um consenso claro e muitas vezes dividiram-se em termos culturais e demográficos. Ela observa: "Na melhor das hipóteses, pode-se concluir que biólogos e antropólogos agora parecem igualmente divididos em suas crenças sobre a natureza da raça."<ref name="MorningSocial">{{cite journal |last=Morning |first=Ann |date=novembro de 2007 |title='Everyone Knows It's a Social Construct': Contemporary Science and the Nature of Race |url=https://archive.org/details/sim_sociological-focus_2007-11_40_4/page/436 |journal=Sociological Focus |volume=40 |issue=4 |pages=436–454 |doi=10.1080/00380237.2007.10571319 |s2cid=145012814}}</ref>
Para R. Barbaud, a "diversidade cultural pode então ser tomada como um componente natural da biodiversidade, como o resultado final de nossa própria evolução. Ela tem, por este ponto de vista, a mesma função da biodiversidade para as outras espécies". A diversidade humana é portanto genética, com suas conseqüências fenotípicas, mas também culturais. E faz-se importante distinguir bem os dois domínios para não recriar, mesmo involuntariamente, os discursos racistas e não científicos.


Gissis (2008) examinou o conteúdo de vários periódicos estadunidenses e britânicos importantes em genética, epidemiologia e medicina durante o período 1946-2003. Ele escreveu que "Com base em minhas descobertas, argumento que a categoria de raça só ''aparentemente'' desapareceu do discurso científico após a Segunda Guerra Mundial e teve um ''uso flutuante, porém contínuo,'' durante o período de 1946 a 2003, e se ''tornou ainda mais pronunciada a partir do início da década de 1970''".<ref name="autogenerated" /> Em outro estudo de 2008, 33 pesquisadores de serviços de saúde de diferentes regiões geográficas foram entrevistados. Eles reconheceram os problemas com variáveis raciais e étnicas, mas a maioria ainda acreditava que estas variáveis eram necessárias e úteis.<ref name="operationalization" />
Nessa ótica, as diferenças culturais aparecem como mais importantes, já que elas podem até mesmo modificar os traços físicos (os pés pequenos das chinesas ou as mulheres girafa da África são exemplos de modificações culturais dos traços físicos) e participam na dinâmica do grupo. Um dos elementos da questão é saber se um isolamento geográfico ou cultural pode levar à seleção de genes específicos, e assim saber se um povo ou etnia pode constituir uma raça.


Um estudo de 2021 que examinou mais de 11 mil artigos de 1949 a 2018 no ''American Journal of Human Genetics'', descobriu que “raça” foi usada em apenas 5% na última década, abaixo dos 22% na primeira. Juntamente com um aumento no uso dos termos “etnia”, “ancestralidade” e termos baseados em localização, sugere que os geneticistas abandonaram em grande parte o termo “raça”.<ref>{{Citar periódico |título=Geneticists curb use of 'race' |data=3 de dezembro de 2021 |periódico=[[Science (journal)|Science]] |número=6572 |pagina=1177 |volume=374}}</ref>
Ao longo de sua história, sem o saber, o homem praticou uma espécie de seleção natural para aperfeiçoar as raças de animais (criação) e as espécies de plantas (agricultura). Assim, ele não parou de realizar operações de seleção genética e de fixação de raças para as espécies animais e vegetais, algo que não tem nada a ver com a ideia de transpor tais práticas para o gênero humano. Ainda assim, isto foi tentado (para sua própria espécie) em certos momentos, sob o [[Terceiro Reich]].


As [[Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina]] (NASEM), apoiadas pelos [[Institutos Nacionais da Saúde|Institutos Nacionais de Saúde]] dos Estados Unidos, declararam formalmente que "os pesquisadores não deveriam usar a raça como para descrever a variação genética humana".<ref name=":6">{{Citar web|url=https://www.nationalacademies.org/news/2023/03/researchers-need-to-rethink-and-justify-how-and-why-race-ethnicity-and-ancestry-labels-are-used-in-genetics-and-genomics-research-says-new-report|titulo=Researchers Need to Rethink and Justify How and Why Race, Ethnicity, and Ancestry Labels Are Used in Genetics and Genomics Research, Says New Report|data=14 de março de 2023|acessodata=17 de abril de 2023|website=National Academies}}</ref> O relatório de seu Comitê sobre o Uso de Raça, Etnia e Ancestralidade como Descritores Populacionais em Pesquisa Genômica lançado em 14 de março de 2023<ref>{{Citar periódico |url=https://www.science.org/content/article/geneticists-should-rethink-how-they-use-race-and-ethnicity-panel-urges |título=Geneticists should rethink how they use race and ethnicity, panel urges |data=14 de março de 2023 |periódico=[[Science]] |ultimo=Kaiser |primeiro=Jocelyn |doi=10.1126/science.adh7982 |volume=Online}}</ref><ref name=":7">{{Citar jornal|ultimo=Zimmer|primeiro=Carl|url=https://www.nytimes.com/2023/03/14/science/race-genetics-research-national-academies.html|titulo=Guidelines Warn Against Racial Categories in Genetic Research|data=14 de março de 2023|acessodata=17 de abril de 2023|website=The New York Times|issn=0362-4331}}</ref> afirmava: “Em humanos, raça é uma designação socialmente construída, um substituto enganoso e prejudicial para diferenças genéticas populacionais e tem uma longa história de ser identificada incorretamente como a principal razão genética para diferenças fenotípicas entre grupos”.<ref name=":8">{{Citar livro|url=https://nap.nationalacademies.org/read/26902/chapter/1|título=Using Population Descriptors in Genetics and Genomics Research: A New Framework for an Evolving Field (Consensus Study Report)|data=2023|editora=[[National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine]]|doi=10.17226/26902|isbn=978-0-309-70065-8}}</ref> Os co-presidentes do comitê Charmaine D. Royal e [[Robert Keohane|Robert O. Keohane]] da [[Universidade Duke]] concordaram na reunião: "Classificar as pessoas por raça é uma prática enredada e enraizada no racismo."<ref name=":6" />
Cumpre assinalar, como assinala o biólogo [[Stephen Jay Gould]], que fatores culturais que favorecem ou, ao contrário, dissuadem certas uniões conjugais, são, por sua própria natureza, circunstâncias que levam ao desenvolvimento, a longo prazo, de um processo de "[[especiação|raciação]]". Por outro lado, segundo [[Jacques Ruffié]], do [[Collège de France]], os grupos humanos vêm convergindo nos últimos seis milhões de anos. O homem moderno (''homo sapiens'') conheceu curtos períodos de isolamento de grupos étnicos, mas também um sem número de mesclas. Somente grupos isolados e numericamente muito pequenos ([[basco]]s e [[nepalês|nepaleses]], por exemplo) conseguiram diferenciar-se suficientemente em relação a outros grupos e manifestar populações estáveis desde um ponto de vista [[taxonomia|taxonômico]], ou seja, apresentar diferenças genéticas significativas e [[hereditário|hereditárias]]. O processo de [[globalização]] e [[mestiçagem]] das culturas e dos indivíduos reduziu fortemente a possibilidade de tais modos de vida isolados e autônomos.


=== Sociologia ===
Na prática, a duração de uma sociedade (e consequentemente de uma cultura) humana parece, com efeito, bastante curta em relação ao tempo que seria necessário à separação de características físicas. No ser humano, o impacto da cultura não parece assim ser suficientemente grande para explicar uma diferenciação entre raças.
Lester Frank Ward (1841–1913), considerado um dos fundadores da sociologia estadunidense, rejeitou noções de que existiam diferenças fundamentais que distinguiam uma raça de outra, embora reconhecesse que as condições sociais diferiam dramaticamente por raça.<ref name=":2">{{Citar periódico |url=https://archive.org/details/sim_american-sociological-review_1947-06_12_3/page/265 |título=Sociological Theory and Race Relations |data=1947 |periódico=[[American Sociological Review]] |número=3 |ultimo=Frazier |primeiro=E. Franklin |paginas=265–271 |doi=10.2307/2086515 |jstor=2086515 |volume=12}}</ref> Na virada do século XX, os sociólogos viam o conceito de raça de uma forma que foi moldada pelo [[racismo científico]] do século XIX e início do século XX.<ref name=":0">{{Citar livro|título=Classical and Contemporary Sociological Theory|ultimo=Appelrouth|primeiro=Scott|ultimo2=Edles|primeiro2=Laura Desfor|data=2016|editora=Sage Publishing|localização=Thousand Oaks, California|isbn=9781452203621}}</ref> Muitos sociólogos se concentraram nos [[afro-americanos]] e alegaram que eles eram inferiores aos [[americanos brancos]]. A socióloga branca [[Charlotte Perkins Gilman]] (1860–1935), por exemplo, usou argumentos biológicos para reivindicar a inferioridade dos afro-americanos.<ref name=":0" /> O sociólogo americano [[Charles Cooley|Charles H. Cooley]] (1864–1929) teorizou que as diferenças entre as raças eram "naturais" e que as diferenças biológicas resultam em diferenças nas habilidades intelectuais.<ref>{{Citar periódico |url=https://brocku.ca/MeadProject/Cooley/Cooley_1897.html |título=Genius, Fame and the Comparison of Races |data= maio de 1897 |periódico=American Academy of Political and Social Science |número=3 |ultimo=Cooley |primeiro=Charles H. |paginas=1–42 |doi=10.1177/000271629700900301 |volume=9 |via=Brock University}} Republished as: {{Citar livro|título=The Bell Curve Debate: History, Documents, Opinions|data=1995|editora=Random House|editor-sobrenome=Jacoby|localização=Toronto|páginas=417–437|capitulo=Genius, Fame, and Race|editor-sobrenome2=Glauberman}}</ref><ref name=":2" /> Edward Alsworth Ross (1866–1951), [[Eugenia|eugenista]] e também uma figura importante da sociologia estadunidense, acreditava que os brancos eram a [[raça superior]] e que havia diferenças essenciais de "temperamento" entre as raças.<ref name=":2" /> Em 1910, o ''Journal'' publicou um artigo de Ulysses G. Weatherly (1865–1940) que pedia a [[supremacia branca]] e a [[segregação racial]] para proteger a pureza racial.<ref name=":2" />

[[W. E. B. Du Bois]] (1868–1963), um dos primeiros sociólogos afro-americanos, foi o primeiro sociólogo a utilizar conceitos e métodos de investigação empírica para analisar a raça como uma construção social em vez de uma realidade biológica.<ref name=":0"/> Desde a publicação do seu livro ''The Philadelphia Negro,'' em 1899, Du Bois estudou e escreveu sobre raça e racismo até o fim de sua carreira. Em seu trabalho, ele afirmou que [[classe social]], [[colonialismo]] e [[capitalismo]] moldaram as ideias sobre raça e categorias raciais. Os cientistas sociais abandonaram em grande parte o racismo científico na década de 1930.<ref name=":3">{{Citar livro|título=Recognizing Race and Ethnicity: Power, Privilege, and Inequality|ultimo=Fitzgerald|primeiro=Kathleen J.|data=2014|editora=Westview Press|localização=Boulder, Colorado}}</ref> Outros primeiros sociólogos, especialmente aqueles associados à [[Escola de Chicago (sociologia)|Escola de Chicago]], juntaram-se a Du Bois na teorização da raça como um facto socialmente construído.<ref name=":3" /> Em 1978, [[William Julius Wilson]] argumentou que a raça e os sistemas de classificação racial estavam em declínio em importância e que, em vez disso, a [[classe social]] descrevia com mais precisão o que os sociólogos anteriormente entendiam como raça.<ref>{{Citar livro|título=Social Stratification: Class, Race, and Gender in Sociological Perspective|ultimo=Wilson|primeiro=William Julius|data=1978|editora=Westview Press|editor-sobrenome=Grusky|editor-nome=David B.|localização=Boulder, Colorado|páginas=765–776|capitulo=The Declining Significance of Race: Blacks and Changing American Institutions}}</ref> Em 1986, os sociólogos Michael Omi e Howard Winant introduziram com sucesso o conceito de formação racial para descrever o processo pelo qual as categorias raciais são criadas.<ref name=":1">{{Citar livro|título=Social Stratification: Class, Race, and Gender in Sociological Perspective|ultimo=Omi|primeiro=Michael|ultimo2=Winant|primeiro2=Howard|data=2014|editora=Westview Press|editor-sobrenome=Grusky|editor-nome=David B .|localização=Boulder, Colorado|capitulo=Racial Formation in the United States|isbn=9780813346717|edição=4th}}</ref> Omi e Winant afirmam que “não há base biológica para distinguir entre grupos humanos em termos de raça”.<ref name=":1" />

Eduardo Bonilla-Silva, professor de sociologia da Universidade Duke, comenta:<ref>{{Citar livro|título=Race, Class, and Gender in the United States (text only)|ultimo=Rothenberg|primeiro=P. S.|edição=7th}}</ref> "Afirmo que o racismo é, mais do que qualquer outra coisa, uma questão de poder de grupo; trata-se de um grupo racial dominante (brancos) que se esforça para manter suas vantagens sistêmicas e minorias que lutam para subverter o ''status quo'' racial."<ref name="autogenerated2006">{{Citar livro|título=Racism Without Racists|ultimo=Bonilla-Silva|primeiro=Eduardo|data=2006|editora=Rowman and Littlefield|edição=2nd}}</ref> Os tipos de práticas que ocorrem sob este novo racismo daltônico são sutis, institucionalizadas e supostamente não raciais. O racismo daltônico prospera com a ideia de que a raça não é mais um problema nos Estados Unidos.<ref name="autogenerated2006" />

Atualmente, os sociólogos geralmente entendem a raça e as categorias raciais como socialmente construídas e rejeitam esquemas de categorização racial que dependem de diferenças biológicas.<ref name=":3" />

== Usos políticos e práticos ==

=== Biomedicina ===
{{VT|Farmacogenômica}}
Em ambientes clínicos, a raça tem sido por vezes considerada no diagnóstico e tratamento de condições médicas. Os médicos notaram que algumas condições médicas são mais prevalentes em certos grupos raciais ou étnicos do que em outros, sem ter certeza da causa dessas diferenças. O interesse recente na medicina baseada na raça, ou na [[farmacogenômica]] dirigida à raça, foi alimentado pela proliferação de dados genéticos humanos que se seguiram à [[Projeto Genoma Humano|descodificação]] do [[genoma humano]] na primeira década do século XXI. Há um debate ativo entre pesquisadores biomédicos sobre o significado e a importância da raça em suas pesquisas. Os defensores do uso de categorias raciais na [[biomedicina]] argumentam que o uso continuado de categorizações raciais na pesquisa biomédica e na [[prática clínica]] torna possível a aplicação de novas descobertas genéticas e fornece uma pista para o diagnóstico.<ref name="Risch 2002" /><ref name="Condit, et al. 2003" /> As posições dos investigadores biomédicos sobre raça enquadram-se em dois campos principais: aqueles que consideram que o conceito de raça não tem base biológica e aqueles que o consideram como tendo potencial para ser biologicamente significativo. Os membros deste último campo baseiam frequentemente os seus argumentos no potencial de criação de [[medicina personalizada]] baseada no genoma.<ref>{{Citar periódico |título='Race' and 'ethnicity' in biomedical research: How do scientists construct and explain differences in health? |data= março de 2009 |periódico=Social Science & Medicine |número=6 |ultimo=Lee |primeiro=Catherine |paginas=1183–1190 |doi=10.1016/j.socscimed.2008.12.036 |pmid=19185964 |volume=68}}</ref>

Outros pesquisadores salientam que encontrar uma diferença na prevalência de doenças entre dois grupos socialmente definidos não implica necessariamente uma causa genética da diferença.<ref name="Graves 2011" /><ref name="Fullwiley2011DNA" /> Eles sugerem que as práticas médicas devem manter o foco no indivíduo, e não na filiação do indivíduo a qualquer grupo,<ref name="Harpending2006AnthropologicalGenetics" /> e que enfatizar excessivamente as contribuições genéticas para as disparidades na saúde acarreta vários riscos, como reforçar estereótipos, promover o racismo ou ignorar a contribuição de fatores não genéticos para as disparidades na saúde.<ref name="Lee, Mountain, et al." /> Dados epidemiológicos internacionais mostram que as condições de vida, e não a raça, fazem a maior diferença nos resultados de saúde, mesmo para doenças que têm tratamentos "específicos para a raça".<ref name="Kahn 2011" /> Alguns estudos descobriram que os pacientes relutam em aceitar a categorização racial na prática médica.<ref name="Condit, et al. 2003" />

=== Aplicação da lei ===
{{AP|Perfilamento racial}}
Em muitos países, como a [[França]], o Estado está legalmente proibido de manter dados baseados na raça.<ref>{{Citar web|ultimo=Bleich|primeiro=Erik|url=https://www.brookings.edu/articles/race-policy-in-france/|titulo=Race Policy in France|data=1 de maio de 2001|website=The Brookings Institution}}</ref> Nos Estados Unidos, a prática do [[perfilamento racial]] foi considerada inconstitucional e uma violação dos [[direitos civis]]. Há um debate ativo sobre a causa de uma correlação acentuada entre os crimes registados, as punições aplicadas e as populações do país. Muitos consideram [[Perfilamento racial|o perfil racial]] ''de facto'' um exemplo de [[racismo institucional]] na aplicação da lei.<ref>{{Citar web|url=https://courses.lumenlearning.com/boundless-sociology/chapter/race/|titulo=Race {{!}} Boundless Sociology|acessodata=6 de julho de 2019|website=courses.lumenlearning.com}}</ref> O encarceramento em massa nos Estados Unidos tem um impacto desproporcional nas comunidades afro-americanas e latinas. Michelle Alexander, autora de ''The New Jim Crow: Mass Incarceration in the Age of Colorblindness'' (2010), argumenta que o encarceramento em massa é melhor compreendido não apenas como um sistema de prisões superlotadas, mas também como "a rede mais ampla de leis, regras, políticas e costumes que controlam aqueles rotulados como criminosos dentro e fora da prisão".{{Sfn|Alexander|2010|p=13}} Ela define como "um sistema que tranca pessoas não só atrás de grades reais em prisões reais, mas também atrás de grades e muros virtuais", ilustrando a cidadania de segunda classe que é imposta a um número desproporcional de [[pessoas de cor]], especificamente afro-americanos. Ela compara o encarceramento em massa às [[Leis de Jim Crow|leis Jim Crow]], afirmando que ambas funcionam como sistemas de castas raciais.{{Sfn|Alexander|2010|p=12}}

Muitas descobertas de pesquisas parecem concordar que o impacto da raça da vítima na decisão de prisão por [[Violência|violência interpessoal]] (VPI) pode incluir um preconceito racial em favor das vítimas brancas. Um estudo de 2011 numa amostra nacional de detenções por VPI descobriu que a detenção de mulheres era mais provável se a vítima do sexo masculino fosse branca e a agressora fosse negra, enquanto a detenção de homens era mais provável se a vítima do sexo feminino fosse branca. Tanto para detenções femininas como masculinas em casos de VPI, as situações envolvendo casais casados tinham maior probabilidade de levar à prisão em comparação com casais namorando ou divorciados. Mais pesquisas são necessárias para compreender os fatores que influenciam o comportamento da polícia.<ref>{{Citar periódico |título=Explaining the IPV arrest decision: Incident, agency, and community factors |data=2011 |periódico=Criminal Justice Review |ultimo=Dichter |primeiro=M. E. |ultimo2=Marcus |primeiro2=S. M. |paginas=22–39 |doi=10.1177/0734016810383333 |ultimo3=Morabito |primeiro3=M. S. |ultimo4=Rhodes |primeiro4=K. V. |volume=36}}</ref>

Estudos recentes que usaram [[Clustering|análise de agrupamento]] de DNA para determinar antecedentes raciais têm sido utilizados por alguns investigadores criminais para restringir sua busca pela identidade de suspeitos e vítimas.<ref name="abraham" /> Os defensores do perfil de DNA em investigações criminais citam casos em que pistas baseadas em análises de DNA se revelaram úteis, mas a prática permanece controversa entre especialistas em ética médica, advogados de defesa e alguns profissionais da aplicação da lei.<ref name="willing" />

==== Antropologia forense ====
{{AP|Antropologia forense}}
[[Imagem:Head-Measurer of Tremearne (side view).jpg|thumb|Estudo de [[craniometria]]]]

Os [[Antropologia forense|antropólogos forenses]] baseiam-se em características morfológicas altamente hereditárias de restos humanos (por exemplo, medidas cranianas) para ajudar na identificação do corpo, inclusive em termos de raça. Num artigo de 1992, o antropólogo Norman Sauer observou que os antropólogos tinham geralmente abandonado o conceito de raça como uma representação válida da diversidade biológica humana, exceto os antropólogos forenses. Ele perguntou: "Se as raças não existem, por que os antropólogos forenses são tão bons em identificá-las?"<ref name="Sauer 1992" /> Ele concluiu:
{{quote|A atribuição bem-sucedida de raça a um espécime esquelético não é uma justificativa do conceito de raça, mas sim uma previsão de que um indivíduo, enquanto vivo, foi atribuído a uma determinada categoria "racial" socialmente construída. Um espécime pode apresentar características que apontam para ascendência africana. Neste país, é provável que essa pessoa tenha sido rotulada de negra, independentemente de tal raça existir ou não na natureza.<ref name="Sauer 1992" />}}

A identificação da ancestralidade de um indivíduo depende do conhecimento da frequência e distribuição das características fenotípicas em uma população. Isto não exige o uso de um esquema de classificação racial baseado em características não relacionadas, embora o conceito de raça seja amplamente utilizado em contextos médicos e jurídicos nos Estados Unidos.<ref name="Kennedy"/> Alguns estudos relataram que as raças podem ser identificadas com alto grau de precisão usando certos métodos, como o desenvolvido por Giles e Elliot. No entanto, este método às vezes não consegue ser replicado em outros tempos e lugares; por exemplo, quando o método foi testado novamente para identificar os nativos americanos, a taxa média de precisão caiu de 85% para 33%.<ref name="goodman"/> A informação prévia sobre o indivíduo (por exemplo, dados do Censo) também são importantes para permitir a identificação precisa da “raça”.<ref>{{Citar periódico |url=https://archive.org/details/sim_american-journal-of-physical-anthropology_2009-05_139_1/page/77 |título=Estimation and evidence in forensic anthropology: Sex and race |data=1 de maio de 2009 |periódico=American Journal of Physical Anthropology |número=1 |ultimo=Konigsberg |primeiro=Lyle W. |ultimo2=Algee-Hewitt |primeiro2=Bridget F. B. |paginas=77–90 |doi=10.1002/ajpa.20934 |issn=1096-8644 |pmid=19226642 |ultimo3=Steadman |primeiro3=Dawnie Wolfe |volume=139}}</ref>

Numa abordagem diferente, o antropólogo C. Loring Brace disse:
{{quote|A resposta simples é que, como membros da sociedade que coloca a questão, são inculcados nas convenções sociais que determinam a resposta esperada. Eles também deveriam estar cientes das imprecisões biológicas contidas nessa resposta “politicamente correta”. A análise do esqueleto não fornece uma avaliação direta da cor da pele, mas permite uma estimativa precisa das origens geográficas originais. A ascendência africana, asiática oriental e europeia pode ser especificada com um alto grau de precisão. É claro que África implica “negro”, mas “negro” não implica africano.<ref name="anthropology12" />}}

Um estudo de 2002 descobriu que cerca de 13% da variação craniométrica humana existia entre regiões, enquanto 6% existia entre populações locais dentro de regiões e 81% dentro de populações locais. Em contrapartida, um padrão oposto de variação genética foi observado para a [[cor da pele]] (que é frequentemente usada para definir raça), com 88% de variação entre regiões. O estudo concluiu: “A distribuição da diversidade genética na cor da pele é atípica e não pode ser utilizada para fins de classificação”.<ref>{{Citar periódico |url=http://references.260mb.com/Biometria/Relethford2002.pdf |título=Apportionment of global human genetic diversity based on craniometrics and skin color |data=11 de julho de 2002 |acessodata=25 de outubro de 2017 |periódico=American Journal of Physical Anthropology |número=4 |ultimo=Relethford |primeiro=John H. |paginas=393–398 |doi=10.1002/ajpa.10079 |pmid=12124919 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20171026053656/http://references.260mb.com/Biometria/Relethford2002.pdf |arquivodata=26 de outubro de 2017 |volume=118}}</ref> Da mesma forma, um estudo de 2009 descobriu que a [[craniometria]] poderia ser usada com precisão para determinar de que parte do mundo alguém vinha; no entanto, este estudo também descobriu que não havia limites abruptos que separassem a variação craniométrica em grupos raciais distintos.<ref>{{Citar periódico |título=Race and global patterns of phenotypic variation |data=18 de fevereiro de 2009 |periódico=American Journal of Physical Anthropology |número=1 |ultimo=Relethford |primeiro=John H. |paginas=16–22 |doi=10.1002/ajpa.20900 |pmid=19226639 |volume=139}}</ref> Outro estudo de 2009 mostrou que negros e brancos estadunidenses tinham diferentes morfologias esqueléticas e que existe um padrão significativo na variação dessas características dentro dos continentes, o que significa que classificar os humanos em raças com base nas características do esqueleto exigiria a definição de muitas "raças" diferentes.<ref name=ousley2009/>

Em 2010, o filósofo Neven Sesardić argumentou que os antropólogos forenses podem classificar a raça de uma pessoa com uma precisão de quase 100% com base apenas em restos de esqueletos.<ref name="Sesardic 2010" /> A afirmação de Sesardić foi contestada pelo filósofo [[Massimo Pigliucci]], que o acusou de "escolher a dedo as evidências científicas e chegar a conclusões que são contraditas por elas". Especificamente, Pigliucci argumentou que Sesardić deturpou um artigo de Ousley ''et al.'' (2009) e esqueceu de mencionar que eles identificaram diferenciação não apenas entre indivíduos de diferentes raças, mas também entre indivíduos de diferentes tribos, ambientes e períodos históricos.<ref name="Pigliucci 2013" />


== Ver também ==
== Ver também ==
Linha 314: Linha 270:
{{dividir em colunas fim}}
{{dividir em colunas fim}}


{{Referências}}
{{Referências|refs=


<ref name="aaa">{{harvnb|AAA|1998}}: "For example, 'Evidence from the analysis of genetics (e.g., DNA) indicates that most physical variation, about 94%, lies within so-called racial groups. Conventional geographic "racial" groupings differ from one another only in about 6% of their genes. This means that there is greater variation within 'racial' groups than between them.{{'"}}</ref>
== Bibliografia ==
* {{fr}} [[Claude Lévi-Strauss]], [[Race et histoire]]. Unesco. 1961.
* {{fr}} [[John Maynard Smith]], [[La théorie de l'évolution]]. PB Payot. 1962
* {{fr}} [[Georges Canguilhem]], ''La connaissance de la vie''. Vrin. 1967
* {{fr}} [[François Jacob]] (Prix Nobel de biologie), ''La logique du vivant''. Une histoire de l'hérédité. Gallimard. 1970
* {{fr}} [[Georges Canguilhem]], Qu'est-ce qu'une idéologie scientifique ? in ''Idéologie et rationalité dans l'histoire des sciences de la vie''. Vrin. 1977
* {{fr}} [[François Gros]], [[François Jacob]], [[Pierre Royer]] : [[Société et sciences de la vie]]. Rapport au Président de la République. La Documentation française. 1979.
* {{fr}} [[Albert Jacquard]], ''Éloge de la différence''. La génétique et les hommes. Seuil. 1981.
* {{fr}} [[André Langaney]], ''Le sexe et l'innovation'', Le Seuil, Paris, 1987 ;
* {{en}} Lieberman, Hampton, Littlefield, et Hallead ''Race in Biology and Anthropology: A Study of College Texts and Professors'', Journal of Research in Science Teaching, 29:301-321, 1992.
* {{fr}} André Langaney, Ninian Hubert van Blyenburgh et Alicia Sanchez-Mazas, ''Tous Parents, Tous Différents'', Chabaud, Bayonne, 1992.
* {{fr}} Léon Poliakov, ''Le Mythe aryen'' (première partie sur l'histoire du racisme), 1993.* {{en}} Luigi L. Cavalli-Sforza, Paolo Menozzi, Alberto Piazza, ''The History and Geography of Human Genes'', Princeton University Press, 1994.
* {{fr}} [[André Langaney]], ''La philosophie ... biologique'', Belin, Paris, 1999
* {{en}} Noah A. Rosenberg, Jonathan K. Pritchard, James L. Weber, Howard M. Cann, Kenneth K. Kidd, Lev A. Zhivotovsky, Marcus W. Feldman, ''Genetic Structure of Human Populations'', Science, Vol 298, Issue 5602, 2381-2385, 2002.
* {{fr}} M.W. Feldman, R.C. Lewontin, M.C. King, ''Les races humaines existent-elles ?'', L Recherche, 377, 2004. <small>Article orignal : ''Race: a genetic melting-pot'', Nature, 24; 424(6947):374, 2003.</small>
* {{fr}} Albert Jacquard, ''La Science à l'usage des non-scientifiques'', 2003.
* {{fr}} « ''Un destin en noir et blanc'' », ''[[Libération (journal)|Libération]]'' (quotidien français), 2004.
* {{fr}} Trenton C. Holliday, ''Espèces d'hybrides !'', La recherche, 377, 2004.


<ref name="AAPA">{{harvnb|AAPA|1996|p=714}} "Pure races, in the sense of genetically homogeneous populations, do not exist in the human species today, nor is there any evidence that they have ever existed in the past."</ref>
=== Leitura adicional ===

* BARROS, José D'Assunção. A Construção Social da Cor. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.
<ref name="abraham">{{harvnb|Abraham|2009}}</ref>
* PARADELA, Eduardo Ribeiro. PEREIRA, Marcela Saldanha. ANDERS, Quézia Silva. AGOSTINHO, Luciana de Andrade. FIGUEIREDO, André Luís dos Santos.

* PAIVA, Carmen Lúcia Antão. Poderiam os fundamentos da evolução humana e da genética desfazer discussões entre "raça" e "inteligência"?. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 57, 30 de setembro de 2008 [Internet]. Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3119. Acesso em 27 de maio de 2011.
<ref name="Andreasen 2000">{{harvnb|Andreasen|2000}}</ref>

<ref name="anthropologists">{{cite journal |last1=Kaszycka |first1=Katarzyna A. |last2=Štrkalj |first2=Goran |last3=Strzalko |first3=Jan |date=2009 |title=Current Views of European Anthropologists on Race: Influence of Educational and Ideological Background |journal=American Anthropologist |volume=111 |issue=1 |pages=43–56 |doi=10.1111/j.1548-1433.2009.01076.x |s2cid=55419265}}</ref>

<ref name="anthropology12">{{cite journal |last1=Brace |first1=C. Loring |date=1995 |title=Region Does not Mean 'Race': Reality Versus Convention in Forensic Anthropology |journal=Journal of Forensic Sciences |volume=40 |issue=2 |pages=171–175 |doi=10.1520/JFS15336J}}</ref>

<ref name="autogenerated">{{Cite journal |last=Gissis |first=S. |title=When is 'race' a race? 1946–2003 |doi=10.1016/j.shpsc.2008.09.006 |journal=Studies in History and Philosophy of Science Part C: Studies in History and Philosophy of Biological and Biomedical Sciences |volume=39 |issue=4 |pages=437–450 |date=2008 |pmid=19026975}}</ref>

<ref name="banton">{{harvnb|Banton|1977}}</ref>

<ref name="Brace 2005">{{harvnb|Brace|2005|page=326}}</ref>

<ref name="Britannica">{{cite encyclopedia |last1=Smedley |first1=Audrey |last2=Takezawa |first2=Yasuko I. |last3=Wade |first3=Peter |title=Race: Human |encyclopedia=Encyclopædia Britannica |url=http://www.britannica.com/topic/race-human |publisher=Encyclopædia Britannica Inc. |access-date=22 de agosto de 2017}}</ref>

<ref name="brace2">{{harvnb|Brace|2005|page=27}}</ref>

<ref name="boyd">{{harvnb|Boyd|1950}}</ref>

<ref name="Condit, et al. 2003">{{cite journal |title=Attitudinal barriers to delivery of race-targeted pharmacogenomics among informed lay persons |first1=Celeste |last1=Condit |first2=Alan |last2=Templeton |first3=Benjamin R. |last3=Bates |first4=Jennifer L. |last4=Bevan |first5=Tina M. |last5=Harris |journal=Genetics in Medicine |volume=5 |issue=5 |pages=385–392 |date=setembro de 2003 |pmid=14501834 |doi-access=free |doi=10.1097/01.GIM.0000087990.30961.72}}</ref>

<ref name="conservation">{{harvnb|Haig|Beever|Chambers|Draheim|2006}}</ref>

<ref name="cravens">{{harvnb|Cravens|2010}}</ref>

<ref name="Cravens; Angier; et al.">See:
* {{harvnb|Cravens|2010}}
* {{harvnb|Angier|2000}}
* {{harvnb|Amundson|2005}}
* {{harvnb|Reardon|2005}}
</ref>

<ref name="currell">{{harvnb|Currell|Cogdell|2006}}</ref>

<ref name="Dawkins & Wong">{{cite book |title=The Ancestor's Tale: A Pilgrimage to the Dawn of Evolution |last1=Dawkins |first1=Richard |author1-link=Richard Dawkins |last2=Wong |first2=Yan |date=2005 |publisher=[[Houghton Mifflin Harcourt]] |isbn=978-0-61-861916-0 |pages=[https://archive.org/details/ancestorstale00rich_0/page/406 406]–407 |url=https://archive.org/details/ancestorstale00rich_0 }}</ref>

<ref name=Hunt1863_3>{{cite journal |last=Hunt |first=James |date=24 de fevereiro de 1863 |title=Introductory address on the study of Anthropology |journal=The Anthropological Review |volume=1 |page=3 |quote=...&nbsp;we should always remember, that by whatever means the Negro, for instance, acquired his present physical, mental and moral character, whether he has risen from an ape or descended from a perfect man, we still know that the Races of Europe have now much in their mental and moral nature which the races of Africa have not got. |url=https://books.google.com/books?id=pzYpAQAAIAAJ}}</ref>

<ref name=Desmond09_332>{{harvnb|Desmond|Moore|2009|pages=332–341}}</ref>

<ref name="ehrlich">{{harvnb|Ehrlich|Holm|1964}}</ref>

<ref name="edwards">{{harvnb|Edwards|2003}}</ref>

<ref name="encyclopedia">Kaplan, Jonathan Michael (Janeiro 2011) {{"'}}Race': What Biology Can Tell Us about a Social Construct". In: ''Encyclopedia of Life Sciences'' (ELS). John Wiley & Sons, Ltd: Chichester</ref>

<ref name="evolutionary">{{cite journal |last1=Weiss |first1=K. M. |last2=Fullerton |first2=S. M. |date=2005 |title=Racing around, getting nowhere |journal=Evolutionary Anthropology |volume=14 |issue=5 |pages=165–169 |doi=10.1002/evan.20079 |s2cid=84927946}}</ref>

<ref name="FORA.tv 2008">{{cite web |url=http://fora.tv/2008/07/30/New_Ideas_New_Fuels_Craig_Venter_at_the_Oxonian#chapter_17 |title=New Ideas, New Fuels: Craig Venter at the Oxonian |publisher=FORA.tv |date=3 de novembro de 2008 |access-date=18 de abril de 2009 |archive-url=https://web.archive.org/web/20090122071534/http://fora.tv/2008/07/30/New_Ideas_New_Fuels_Craig_Venter_at_the_Oxonian#chapter_17 |archive-date=22 de janeiro de 2009 |urlmorta=sim}}</ref>

<ref name="Fullwiley2011DNA">{{harvnb|Fullwiley|2011}}</ref>

<ref name="gitschier">{{harvnb|Gitschier|2005}}</ref>

<ref name="Graves 2001">{{harvnb|Graves|2001|p={{page needed|date=setembro de 2015}}}}</ref>

<ref name="Graves 2001 p. 39">{{harvnb|Graves|2001|page=39}}</ref>

<ref name="Graves 2001 pp. 43–43">{{harvnb|Graves|2001|pages=42–43}}</ref>

<ref name="Graves 2011">{{harvnb|Graves|2011}}</ref>

<ref name="Harpending; et al.">See:
* {{harvnb|Cavalli-Sforza|Menozzi|Piazza|1994}}
* {{harvnb|Bamshad|Wooding|Salisbury|Stephens|2004|page=599}}
* {{harvnb|Tang|Quertermous|Rodriguez|Kardia|2005}}
* {{harvnb|Rosenberg|Mahajan|Ramachandran|Zhao|2005}}: "If enough markers are used&nbsp;... individuals can be partitioned into genetic clusters that match major geographic subdivisions of the globe."
</ref>

<ref name="Harpending2006AnthropologicalGenetics">{{harvnb|Harpending|2006|p=458 "On the other hand, information about the race of patients will be useless as soon as we discover and can type cheaply the underlying genes that are responsible for the associations. Can races be enumerated in any unambiguous way? Of course not, and this is well known not only to scientists but also to anyone on the street."}}</ref>

<ref name="Kahn 2011">{{harvnb|Kahn|2011|p=132}}.{{cite journal |first1=Richard |last1=Cooper |last2=Wolf-Maier |first2=Katharina |last3=Luke |first3=Amy |last4=Adeyemo |first4=Adebowale |last5=Banegas |first5=José R. |last6=Forrester |first6=Terrence |last7=Giampaoli |first7=Simona |last8=Joffres |first8=Michel |last9=Kastarinen |first9=Mika |last10=Primatesta |first10=Paola |last11=Stegmayr |first11=Birgitta |last12=Thamm |first12=Michael |title=An International Comparative Study of Blood Pressure in Populations of European vs. African Descent |journal=BMC Medicine |volume=3 |date=5 de janeiro de 2005 |issue=2 |page=2 |doi=10.1186/1741-7015-3-2 |pmid=15629061 |pmc=545060 |doi-access=free }}</ref>

<ref name="Keita; Templeton; Long">See:
* {{harvnb|Keita|Kittles|Royal|Bonney|2004}}
* {{harvnb|Templeton|1998}}
* {{harvnb|Long|Kittles|2003}}
</ref>

<ref name="Keita; Templeton">See:
* {{harvnb|Keita|Kittles|Royal|Bonney|2004}}
* {{harvnb|Templeton|1998}}
</ref>

<ref name="Keita1">{{harvnb|Keita|Kittles|Royal|Bonney|2004}}. "Religious, cultural, social, national, ethnic, linguistic, genetic, geographical and anatomical groups have been and sometimes still are called 'races'"</ref>

<ref name="Keita2">{{harvnb|Keita|Kittles|Royal|Bonney|2004}}. "Modern human biological variation is not structured into phylogenetic subspecies ('races'), nor are the taxa of the standard anthropological 'racial' classifications breeding populations. The 'racial taxa' do not meet the phylogenetic criteria. 'Race' denotes socially constructed units as a function of the incorrect usage of the term."</ref>

<ref name="Keita3">{{harvnb|Keita|Kittles|Royal|Bonney|2004}}. "Many terms requiring definition for use describe demographic population groups better than the term 'race' because they invite examination of the criteria for classification."</ref>

<ref name="Keita2004">{{harvnb|Keita|Kittles|Royal|Bonney|2004}}</ref>

<ref name="Kennedy">{{harvnb|Kennedy|1995}}</ref>

<ref name="Lee, Mountain, et al.">{{harvnb|Lee|Mountain|Koenig|Altman|2008}}</ref>

<ref name="Lee, Mountain; et al. 2008">{{harvnb|Lee|Mountain|Koenig|Altman|2008}}: "We caution against making the naive leap to a genetic explanation for group differences in complex traits, especially for human behavioral traits such as IQ scores"</ref>

<ref name="Lewis; Dikötter">''For examples see:''
* {{harvnb|Lewis|1990}}
* {{harvnb|Dikötter|1992}}
</ref>

<ref name="Lie; Thompson; et al.">Ver:
* {{harvnb|Lie|2004}}
* {{harvnb|Thompson|Hickey|2005}}
* {{harvnb|AAA|1998}}
* {{harvnb|Palmié|2007}}
* {{harvnb|Mevorach|2007}}
* {{harvnb|Segal|1991}}
* {{harvnb|Bindon|2005}}
</ref>

<ref name="lieberman">{{harvnb|Lieberman|Kirk|1997|page=195}}</ref>

<ref name="Lieberman 1995">{{harvnb|Lieberman|Jackson|1995}}</ref>

<ref name="Livingstone">{{harvnb|Livingstone|Dobzhansky|1962}}</ref>

<ref name="Marks 1995">{{harvnb|Marks|1995}}</ref>

<ref name="Marks 2002">{{harvnb|Marks|2002}}</ref>

<ref name="Marks 2008">{{harvnb|Marks|2008|page=28}}</ref>

<ref name="Marks; Montagu">See:
* {{harvnb|Marks|2002}}
* {{harvnb|Montagu|1941}}
* {{harvnb|Montagu|1997}}
</ref>

<ref name="meltzer">{{harvnb|Meltzer|1993}}</ref>

<ref name="molnar">{{harvnb|Molnar|1992}}</ref>

<ref name="mountain">{{harvnb|Mountain|Risch|2004}}</ref>

<ref name="nih">{{cite web |url=http://grants1.nih.gov/grants/guide/pa-files/PA-03-057.html |title=Social and Demographic Studies of Rance and Ethnicity in the United States |date=16 de janeiro de 2003 |id=PA-03-057 |work=Grants1.NIH.gov |publisher=[[Institutos Nacionais da Saúde]] dos Estados Unidos |archive-url=https://web.archive.org/web/20141109174622/http://grants1.nih.gov/grants/guide/pa-files/PA-03-057.html |archive-date=9 de novembro de 2014}}</ref>

<ref name="nih10">{{cite journal |last1=Lieberman |first1=L. |last2=Kaszycka |first2=K. A. |last3=Martinez Fuentes |first3=A. J. |last4=Yablonsky |first4=L. |last5=Kirk |first5=R. C. |last6=Strkalj |first6=G. |last7=Wang |first7=Q. |last8=Sun |first8=L. |volume=28 |issue=2 |title=The race concept in six regions: variation without consensus |date=dezembro de 2004 |journal=Collegium Antropologicum |pages=907–921 |pmid=15666627 |url=http://hrcak.srce.hr/5624}}</ref>

<ref name="nobles">{{harvnb|Nobles|2000}}</ref>

<ref name="OMB 1997">{{Cite web |url=https://www.whitehouse.gov/omb/fedreg/1997standards.html |title=Revisions to the Standards for the Classification of Federal Data on Race and Ethnicity |access-date=19 de março de 2009 |publisher=Office of Management and Budget |date=30 de outubro de 1997 |urlmorta=sim |archive-url=https://web.archive.org/web/20090315191301/https://www.whitehouse.gov/omb/fedreg/1997standards.html |archive-date=15 de março de 2009}} Also: [https://www.census.gov/population/www/socdemo/compraceho.html U.S. Census Bureau Guidance on the Presentation and Comparison of Race and Hispanic Origin Data] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20190408080244/https://www.census.gov/population/www/socdemo/compraceho.html |date=8 de abril de 2019}} and [https://www.census.gov B03002. Hispanic or Latino Origin by Race. 2007 American Community Survey 1-Year Estimates] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/19961227012639/https://www.census.gov/ |date=27 de dezembro de 1996}}</ref>

<ref name="operationalization">{{cite journal |title=The conceptualization and operationalization of race and ethnicity by health services researchers |first=Susan |last=Moscou |journal=Nursing Inquiry |volume=15 |issue=2 |pages=94–105 |date=Junho de 2008|doi=10.1111/j.1440-1800.2008.00413.x |pmid=18476852 }}</ref>

<ref name="ousley2009">{{harvnb|Ousley|Jantz|Freid|2009}}</ref>

<ref name="Pigliucci 2013">{{harvnb|Pigliucci|2013}}</ref>

<ref name="presentation">{{cite journal |title=The presentation of human biological diversity in sport and exercise science textbooks: The example of 'race' |first=Christopher J. |last=Hallinan |journal=Journal of Sport Behavior |date= março de 1994}}</ref>

<ref name="project">{{harvnb|Human Genome Project|2003}}</ref>

<ref name="profiling">{{cite journal |first=Robert S. |last=Schwartz |title=Racial Profiling in Medical Research |journal=The New England Journal of Medicine |volume=344 |issue=18 |date=3 de maio de 2001|pages=1392–1393 |doi=10.1056/NEJM200105033441810 |pmid=11333999}}</ref>

<ref name="reconstructing">{{cite journal |title=Reconstructing Race in Science and Society: Biology Textbooks, 1952–2002 |first=Ann |last=Morning |journal=American Journal of Sociology |date=2008 |volume=114 |issue=114 Suppl |pages=S106–S137|doi=10.1086/592206 |s2cid=13552528 }}</ref>

<ref name="REGWG">{{cite journal |author=((Race, Ethnicity, and Genetics Working Group)) |title=The Use of Racial, Ethnic, and Ancestral Categories in Human Genetics Research |journal=American Journal of Human Genetics |date=outubro de 2005 |volume=77 |issue=4 |pages=519–532 |pmid=16175499 |doi=10.1086/491747 |pmc=1275602}}</ref>

<ref name="Rivara, Finberg 2001">{{cite journal |first1=Frederick P. |last1=Rivara |first2=Laurence |last2=Finberg |date=2001 |title=Use of the Terms Race and Ethnicity |journal=Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine |volume=155 |issue=2 |page=119 |doi=10.1001/archpedi.155.2.119 |pmid=11177083}}</ref>

<ref name="Risch 2002">{{harvnb|Risch|Burchard|Ziv|Tang|2002}}</ref>

<ref name="Sauer 1992">{{harvnb|Sauer|1992}}</ref>

<ref name="Sesardic 2010">{{harvnb|Sesardic|2010}}</ref>

<ref name="Smedley 1999">{{harvnb|Smedley|1999}}</ref>

<ref name="Smedley; Boas">See:
* {{harvnb|Smedley|2002}}
* {{harvnb|Boas|1912}}
</ref>

<ref name="stocking">{{harvnb|Stocking|1968|pages=38–40}}</ref>

<ref name="takaki">{{harvnb|Takaki|1993}}</ref>

<ref name="Templeton 1998">{{harvnb|Templeton|1998}}</ref>

<ref name="todorov">{{harvnb|Todorov|1993}}</ref>

<ref name="weiss">{{harvnb|Weiss|2005}}</ref>

<ref name="willing">{{harvnb|Willing|2005}}</ref>

<ref name="wilson">{{harvnb|Wilson|Brown|1953}}</ref>

<ref name="Witherspoon, et al. 2007">{{harvnb|Witherspoon|Wooding|Rogers|Marchani|2007}}</ref>

<ref name="Wright 1978">{{harvnb|Wright|1978}}</ref>

}}

=== Bibliografia ===
<!-- GenomeRes14 p1679 from [[Human genetic variation]] [[Race and genetics]] -->
{{refbegin|30em}}
<!--Abraham, Carolyn 2009-->
* {{cite news |title=Molecular eyewitness: DNA gets a human face |first=Carolyn |last=Abraham |url=http://m.theglobeandmail.com/life/molecular-eyewitness-dna-gets-a-human-face/article888804/?service=mobile&template=shareEmail&tabInside_tab=0&page=1 |newspaper=The Globe and Mail |date=7 de abril de 2009 |access-date=4 de fevereiro de 2011 |archive-url=https://web.archive.org/web/20110717002110/http://m.theglobeandmail.com/life/molecular-eyewitness-dna-gets-a-human-face/article888804/?service=mobile&template=shareEmail&tabInside_tab=0&page=1 |archive-date=17 de julho de 2011 |urlmorta=sim|ref=harv}}
<!-- AAA 1998-->
* {{Cite web |url=http://www.aaanet.org/stmts/racepp.htm |title=American Anthropological Association Statement on 'Race' |work=AAAnet.org |publisher=American Anthropological Association |date=17 de maio de 1998 |access-date=18 de abril de 2009 |ref={{harvid|AAA|1998}}|ref=harv}}<!--Use same technique with AAPA below-->
<!-- AAPA 1996-->
* {{cite journal |doi=10.1002/ajpa.1331010408 |publisher=American Association of Physical Anthropologists |date=1996 |title=AAPA statement on biological aspects of race |journal=[[American Journal of Physical Anthropology]] |volume=101 |issue=4 |pages=569–570 |url=http://www.virginia.edu/woodson/courses/aas102%20%28spring%2001%29/articles/AAPA_race.pdf |archive-url=https://web.archive.org/web/20040723195029/http://www.virginia.edu/woodson/courses/aas102%20(spring%2001)/articles/AAPA_race.pdf |archive-date=23 de julho de 2004 |urlmorta=sim |ref={{harvid|AAPA|1996}}|ref=harv}}
<!--Alexander 2010-->
* {{cite book |last=Alexander |first=Michelle |title=The New Jim Crow: Mass Incarceration in the Age of Colorblindness |location=New York |publisher=The New Press |date=2010|ref=harv}}
<!--Amundson 2005-->
* {{cite book |last=Amundson |first=Ron |title=Quality of life and human difference: genetic testing, health care, and disability |date=2005 |publisher=[[Cambridge University Press]] |isbn=9780521832014 |pages=[https://archive.org/details/qualityoflifehum00davi/page/101 101–124] |chapter-url=https://books.google.com/books?id=9PvWVZIzoTIC&pg=PA107 |editor-first1=David T. |editor-last1=Wasserman |editor-first2=Robert Samuel |editor-last2=Wachbroit |editor-first3=Jerome Edmund |editor-last3=Bickenbach |chapter=Disability, Ideology, and Quality of Life: A Bias in Biomedical Ethics |url=https://archive.org/details/qualityoflifehum00davi/page/101|ref=harv}}
<!--Andreasen 2000-->
* {{cite journal |last=Andreasen |first=Robin O. |title=Race: Biological Reality or Social Construct? |journal=Philosophy of Science |volume=67 |issue=Supplement |date=2000 |pages=S653–S666 |jstor=188702 |doi=10.1086/392853 |s2cid=144176104|ref=harv}}
<!--Angier Natalie 2000-->
* {{cite news |last=Angier |first=Natalie |title=Do Races Differ? Not Really, DNA Shows |url=https://www.nytimes.com/library/national/science/082200sci-genetics-race.html |access-date=9 de agosto de 2010 |newspaper=[[The New York Times]] |date=22 de agosto de 2000|ref=harv}}
<!--Appiah 1992-->
* {{cite book |title=In My Father's House: Africa in the Philosophy of Culture |url=https://archive.org/details/inmyfathershouse00appi |last=Appiah |first=Kwame Anthony |date=1992 |isbn=9780195068528 |publisher=[[Oxford University Press]]|ref=harv}}
<!--Armelagos Smay 2000-->
* {{Cite journal |doi=10.1525/tran.2000.9.2.19 |first1=George |last1=Armelagos |first2=Diana |last2=Smay |title=Galileo wept: A critical assessment of the use of race in forensic anthropolopy |journal=Transforming Anthropology |date=2000 |volume=9 |issue=2 |pages=19–29 |s2cid=143942539 |url=http://www.anthropology.emory.edu/FACULTY/ANTGA/Web%20Site/PDFs/Galileo%20Wept-%20A%20Critical%20Assessment%20of%20the%20Use%20of%20Race%20in%20Forensic%20Anthropology.pdf |access-date=15 de maio de 2010 |archive-date=18 de agosto de 2018 |archive-url=https://web.archive.org/web/20180818073338/http://www.anthropology.emory.edu/FACULTY/ANTGA/Web%20Site/PDFs/Galileo%20Wept-%20A%20Critical%20Assessment%20of%20the%20Use%20of%20Race%20in%20Forensic%20Anthropology.pdf |urlmorta=sim|ref=harv}}
<!--Bamshad Olson 2003-->
* {{cite magazine |last1=Bamshad |first1=Michael |last2=Olson |first2=Steve E. |url=http://schools.tdsb.on.ca/rhking/departments/science/bio/evol_pop_dyn/does_race_exist.pdf |title=Does Race Exist? |magazine=[[Scientific American]] |volume=289 |issue=6 |pages=78–85 |date=10 de novembro de 2003 |bibcode=2003SciAm.289f..78B |doi=10.1038/scientificamerican1203-78 |pmid=14631734 |archive-url=https://web.archive.org/web/20070614110106/http://schools.tdsb.on.ca/rhking/departments/science/bio/evol_pop_dyn/does_race_exist.pdf |archive-date=14 de junho de 2007 |urlmorta=sim|ref=harv}}
<!--Bamshad et al. 2004-->
* {{cite journal |last1=Bamshad |first1=M. |last2=Wooding |first2=S. |last3=Salisbury |first3=B. A. |last4=Stephens |first4=J. C. |title=Deconstructing the relationship between genetics and race |journal=Nature Reviews Genetics |volume=5 |issue=8 |pages=598–609 |date=agosto de 2004 |pmid=15266342 |doi=10.1038/nrg1401 |s2cid=12378279|ref=harv}}
<!--Banton Michael 1977-->
* {{cite book |last=Banton |first=Michael |date=1977 |title=The idea of race |url=https://archive.org/details/ideaofrace0000bant |publisher=Westview Press |location=Boulder, Colorado |type=paperback |isbn=0891587195|ref=harv}}
<!--Barbujani 2005-->
* {{cite journal |last=Barbujani |first=Guido |title=Human Races: Classifying People vs Understanding Diversity |journal=Current Genomics |date=1 de junho de 2005 |volume=6 |issue=4 |pages=215–226 |doi=10.2174/1389202054395973 |s2cid=18992187|ref=harv}}
<!--Bell 2009-->
* {{cite book |last=Bell |first=Mark |chapter='Race', Ethnicity, and Racism in Europe |chapter-url=http://fds.oup.com/www.oup.com/pdf/13/9780199297849_chapter1.pdf |title=Racism and Equality in the European Union |publisher=[[Oxford University Press]] |date=2009 |isbn=9780199297849 |doi=10.1093/acprof:oso/9780199297849.001.0001 |archive-url=https://web.archive.org/web/20121202235619/http://fds.oup.com/www.oup.com/pdf/13/9780199297849_chapter1.pdf |archive-date=2 de dezembro de 2012 |urlmorta=sim|ref=harv}}
<!--Black & Ferguson 2011-->
* {{cite book |last1=Black |first1=Sue |last2=Ferguson |first2=Elidh |date=2011 |title=Forensic Anthropology: 2000 to 2010 |publisher=Taylor & Francis |isbn=978-1-439-84588-2 |url=https://books.google.com/books?id=306ruTniZmcC&pg=PA125|ref=harv}}
<!--Blank Dabady Citro 2004-->
* {{cite book |last1=Blank |first1=Rebecca M. |last2=Dabady |first2=Marilyn |last3=Citro |first3=Constance Forbes |series=National Research Council (U.S.) Panel on Methods for Assessing Discrimination |publisher=National Adademies Press |date=2004 |isbn=9780309091268 |page=317 |title=Measuring racial discrimination |chapter=2|ref=harv}}
<!--Bloche 2004-->
* {{cite journal |doi=10.1056/NEJMp048271 |last=Bloche |first=Gregg M. |date=2004 |title=Race-Based Therapeutics |journal=New England Journal of Medicine |volume=351 |issue=20 |pages=2035–2037 |pmid=15533852 |s2cid=1467851|ref=harv}}
<!--Boas Franz 1912-->
* {{cite journal |doi=10.1525/aa.1912.14.3.02a00080 |last=Boas |first=Franz |date=1912 |title=Change in Bodily Form of Descendants of Immigrants |journal=American Anthropologist |volume=14 |issue=3 |pages=530–562 |pmc=2986913|ref=harv}}
<!--Boyd William 1950-->
* {{cite book |last=Boyd |first=William C. |title=Genetics and the races of man: an introduction to modern physical anthropology |url=https://archive.org/details/geneticsracesofm00boyd |date=1950 |publisher=Little, Brown and Company |page=[https://archive.org/details/geneticsracesofm00boyd/page/207 207] |location=Boston|ref=harv}}
<!--Brace C Loring; Montagu, Ashley 1965-->
* {{cite book |last1=Brace |first1=C. Loring |last2=Montagu |first2=Ashley |date=1965 |title=Man's Evolution: An Introduction to Physical Anthropology |location=New York |publisher=Macmillan|ref=harv}}
<!--Brace C Loring 2000-->
* {{cite book |title=Evolution in an Anthropological View |last=Brace |first=C. Loring |date=2000 |publisher=Rowman & Littlefield |isbn=978-0-7425-0263-5|ref=harv}}
<!--Brace C Loring 2000a-->
* {{cite web |last=Brace |first=C. Loring |date=2000a |url=https://www.pbs.org/wgbh/nova/first/brace.html |title=Does Race Exist? An antagonist's perspective |work=Nova |publisher=[[PBS]] |access-date=11 de outubro de 2010|ref=harv}}
<!--Brace C Loring 2005-->
* {{cite book |last=Brace |first=C. Loring |date=2005 |title=Race is a four letter word |publisher=Oxford University Press |isbn=9780195173512|ref=harv}}
<!--Caspari 2003-->
* {{Cite journal |volume=105 |issue=1 |pages=65–76 |last=Caspari |first=Rachel |title=From types to populations: A century of race, physical anthropology, and the American Anthropological Association |url=https://archive.org/details/sim_american-anthropologist_2003-03_105_1/page/65 |journal=American Anthropologist |date=março de 2003 |doi=10.1525/aa.2003.105.1.65 |hdl=2027.42/65890|ref=harv}}
<!--Cavalli-Sforza Menozzi Piazza 2003-->
* {{cite book |last1=Cavalli-Sforza |first1=Luigi Luca |author-link1=Luigi Luca Cavalli-Sforza |last2=Menozzi |first2=Paolo |last3=Piazza |first3=Alberto |title=The History and Geography of Human Genes |date=1994 |publisher=[[Princeton University Press]] |isbn=978-0-691-08750-4|ref=harv}} [https://archive.nytimes.com/www.nytimes.com/books/00/08/20/reviews/000820.20ridleyt.html Lay summary] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20220202080558/https://archive.nytimes.com/www.nytimes.com/books/00/08/20/reviews/000820.20ridleyt.html |date=2 de fevereiro de 2022|ref=harv}} (1 de dezembro de 2013)
<!--Conley 2007-->
* {{cite book |last=Conley |first=D. |date=2007 |chapter=Being black, living in the red" |editor-first=P. S. |editor-last=Rothenberg |title=Race, Class, and Gender in the United States |edition=7th |pages=350–358 |location=New York |publisher=Worth Publishers|ref=harv}}
<!--Cravens Hamilton 2010-->
* {{cite journal |last=Cravens |first=Hamilton |date=2010 |title=What's New in Science and Race since the 1930s?: Anthropologists and Racial Essentialism |url=https://archive.org/details/sim_historian_summer-2010_72_2/page/299 |journal=The Historian |volume=72 |issue=2 |pages=299–320 |doi=10.1111/j.1540-6563.2010.00263.x |pmid=20726131 |s2cid=10378582|ref=harv}}
<!--Crenshaw 1988-->
* {{cite journal |doi=10.2307/1341398 |last=Crenshaw |first=K. W. |name-list-style=vanc |date=1988 |title=Race, reform, and retrenchment: Transformation and legitimation in antidiscrimination law |journal=[[Harvard Law Review]] |volume=101 |issue=7 |pages=1331–1337 |jstor=1341398 |url=https://scholarship.law.columbia.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=3871&context=faculty_scholarship|ref=harv}}
<!--Currell, Cogdell 2006-->
* {{Cite book |last1=Currell |first1=Susan |first2=Christina |last2=Cogdell |title=Popular Eugenics: National Efficiency and American Mass Culture in The 1930s |publisher=[[Ohio University Press]] |date=2006 |location=Athens, Ohio |page=203 |isbn=082141691X|ref=harv}}
<!--Desmond Moore 2009-->
* {{citation |last1=Desmond |first1=Adrian |last2=Moore |first2=James |title=Darwin's sacred cause: how a hatred of slavery shaped Darwin's views on human evolution |publisher=Allen Lane, Penguin Books |date=2009 |page=[https://archive.org/details/darwinssacredcau0000desm/page/484 484] |isbn=9781846140358 |url=https://archive.org/details/darwinssacredcau0000desm/page/484|ref=harv}}
<!--Dikötter 1992-->
* {{cite book |last=Dikötter |first=Frank |date=1992 |title=The discourse of race in modern China |publisher=Stanford University Press |isbn=9780804719940|ref=harv}}
<!--Edwards 2003-->
* {{cite journal |last=Edwards |first=A. W. F. |author-link=A. W. F. Edwards |title=Human genetic diversity: Lewontin's fallacy |journal=BioEssays |volume=25 |issue=8 |pages=798–801 |date=agosto de 2003 |pmid=12879450 |doi=10.1002/bies.10315 |s2cid=17361449|ref=harv}}
<!--Ehrlich Paul; Holm Richard 1962 2003-->
* {{cite book |last1=Ehrlich |first1=Paul |last2=Holm |first2=Richard W. |chapter=A Biological View of Race |title=The Concept of Race |editor-first=Ashley |editor-last=Montagu |editor-link=Ashley Montagu |date=1964 |publisher=Collier Books |pages=153–179|ref=harv}}
<!--Fullwiley2011DNA-->
* {{cite book |last=Fullwiley |first=Duana |title=Race and the Genetic Revolution: Science, Myth, and Culture |editor1-last=Krimsky |editor1-first=Sheldon |editor2-last=Sloan |editor2-first=Kathleen |chapter=Chapter 6: Can DNA "Witness" Race? |url=https://books.google.com/books?id=OVg4AAAAQBAJ |access-date=31 de agosto de 2013 |date=2011 |publisher=[[Columbia University Press]] |isbn=978-0-231-52769-9|ref=harv}}
<!--Gill 2000a-->
* {{Cite web |last=Gill |first=G. W. |url=https://www.pbs.org/wgbh/nova/first/gill.html |title=Does Race Exist? A proponent's perspective |work=NOVA |publisher=[[PBS]] |date=2000a |access-date=18 de abril de 2009|ref=harv}}
<!--Gitschier 2005-->
* {{cite journal |last=Gitschier |first=Jane |title=The Whole Side of It&nbsp;– An Interview with Neil Risch |date=2005 |journal=[[PLOS Genetics]] |volume=1 |issue=1 |page=e14 |doi=10.1371/journal.pgen.0010014 |pmid=17411332 |pmc=1183530 |doi-access=free|ref=harv}}
<!--Gordon 1964-->
* {{Cite book |last=Gordon |first=Milton Myron |title=Assimilation in American life: the role of race, religion, and national origins |publisher=[[Oxford University Press]] |date=1964 |isbn=978-0-19-500896-8 |url=https://archive.org/details/assimilationinam0000gord|ref=harv}}
<!--Graves 2001-->
* {{cite book |last=Graves |first=Joseph L. |title=The Emperor's New Clothes: Biological Theories of Race at the Millennium |url=https://archive.org/details/emperorsnewcloth00grav|publisher=Rutgers University Press |date=2001 |isbn=9780813528472|ref=harv}}
<!--Graves 2011-->
* {{cite book |last=Graves |first=Joseph L. |title=Race and the Genetic Revolution: Science, Myth, and Culture |editor1-last=Krimsky |editor1-first=Sheldon |editor2-last=Sloan |editor2-first=Kathleen |chapter=Chapter 8: Evolutionary Versus Racial Medicine |url=https://books.google.com/books?id=OVg4AAAAQBAJ |access-date=31 de agosto de 2013 |date=2011 |publisher=[[Columbia University Press]] |isbn=978-0-231-52769-9|ref=harv}}
<!--Haig et al. 2006-->
* {{cite journal |last1=Haig |first1=S. M. |last2=Beever |first2=E. A. |last3=Chambers |first3=S. M. |last4=Draheim |first4=H. M. |display-authors=etal |title=Taxonomic considerations in listing subspecies under the U.S. Endangered Species Act |journal=Conservation Biology |volume=20 |issue=6 |pages=1584–1594 |date=dezembro de 2006 |pmid=17181793 |doi=10.1111/j.1523-1739.2006.00530.x |bibcode=2006ConBi..20.1584H |s2cid=9745612 |url=https://researchrepository.murdoch.edu.au/id/eprint/2579/|ref=harv}}
<!--Harpending2006AnthropologicalGenetics-->
* {{cite book |last=Harpending |first=Henry |title=Anthropological Genetics: Theory, Methods and Applications |editor-last=Crawford |editor-first=Michael |chapter=Chapter 16: Anthropological Genetics: Present and Future |date=2006 |publisher=[[Cambridge University Press]] |isbn=978-0-521-54697-3|ref=harv}}
<!--Harris Marvin 1980-->
* {{cite book |last=Harris |first=Marvin |title=Patterns of race in the Americas |publisher=Greenwood Press |location=Westport, Connecticut |date=1980 |isbn=0313223599|ref=harv}}
<!--Human Genome Project 2003-->
* {{cite web |last=Human Genome Project |title=Human Genome Project Information: Minorities, Race, and Genomics |date=2003 |publisher=Programa Genoma Humano, [[Departamento de Energia dos Estados Unidos]] |url=http://www.ornl.gov/sci/techresources/Human_Genome/elsi/minorities.shtml|ref=harv}}
<!--JKBidil-->
* {{cite book |last=Kahn |first=Jonathan |title=Race and the Genetic Revolution: Science, Myth, and Culture |editor-last1=Krimsky |editor-first1=Sheldon |editor-last2=Sloan |editor-first2=Kathleen |chapter=Chapter 7: Bidil and Racialized Medicine |url=https://books.google.com/books?id=OVg4AAAAQBAJ |access-date=31 de agosto de 2013 |date=2011 |publisher=[[Columbia University Press]] |isbn=978-0-231-52769-9 |page=132|ref=harv}}
<!--Kaplan Winther 2013-->
* {{cite journal |last1=Kaplan |first1=J. M. |last2=Winther |first2=R. G. |title=Prisoners of Abstraction? The Theory and Measure of Genetic Variation, and the Very Concept of 'Race' |journal=Biological Theory |date=2013 |volume=7 |pages=401–412 |doi=10.1002/9780470015902.a0005857 |url=http://philpapers.org/archive/KAPPOA.14.pdf|ref=harv}}
<!--Keita SOY et al. 2004-->
* {{cite journal |last1=Keita |first1=S. O. Y. |last2=Kittles |first2=R. A. |last3=Royal |first3=C. D. M. |last4=Bonney |first4=G. M. |last5=Furbert-Harris |first5=P. |last6=Dunston |first6=G. M. |last7=Rotimi |first7=C. M. |date=2004 |title=Conceptualizing human variation |journal=Nature Genetics |volume=36 |issue=11s |pages=S17–S20 |pmid=15507998 |doi=10.1038/ng1455 |doi-access=free|ref=harv}}
<!--Kennedy 1995-->
* {{cite journal |last=Kennedy |first=Kenneth A. R. |title=But Professor, Why Teach Race Identification if Races Don't Exist? |date=1995 |journal=Journal of Forensic Sciences |volume=40 |issue=5 |page=15386J |doi=10.1520/jfs15386j|ref=harv}}
<!--King Desmond 2007-->
* {{cite book |last=King |first=Desmond |editor-last1=Beem |editor-first1=Christopher |editor-last2=Mead |editor-first2=Lawrence M. |title=Welfare Reform and Political Theory |chapter=Making people work: Democratic consequences of workfare |publisher=Russell Sage Foundation Publications |location=New York |date=2007 |pages=65–81 |isbn=978-0-87154-588-6|ref=harv}}
<!-- Lee, Jayne Chong-Soon 1997-->
* {{cite book |editor-last=Gates |editor-first=E. Nathaniel |title=Critical Race Theory: Essays on the Social Construction and Reproduction of Race |publisher=Garland Pub |location=New York |date=1997 |isbn=9780815326038 |last=Lee |first=Jayne Chong-Soon |chapter=Review essay: Navigating the topology of race |series=Vol. 4: The Judicial Isolation of the "Racially" Oppressed |pages=393–426|ref=harv}}
<!-- Lee, Sandra et al. 2008-->
* {{cite journal |last1=Lee |first1=Sandra S. J. |last2=Mountain |first2=Joanna |last3=Koenig |first3=Barbara |last4=Altman |first4=Russ |title=The ethics of characterizing difference: guiding principles on using racial categories in human genetics |journal=Genome Biology |volume=9 |issue=7 |page=404 |date=2008 |pmid=18638359 |pmc=2530857 |doi=10.1186/gb-2008-9-7-404 |doi-access=free|ref=harv}}
<!-- Lewis, B 1990-->
* {{cite book |last1=Lewis |first1=Bernard |author-link=Bernard Lewis |date=1990 |title=Race and Slavery in the Middle East: An Historical Enquiry |publisher=[[Oxford University Press]] |location=New York |isbn=0195062833|ref=harv}}
<!-- Lie John 2004-->
* {{cite book |last=Lie |first=John |title=Modern Peoplehood |location=Cambridge, Massachusetts |publisher=[[Harvard University Press]] |date=2004 |isbn=0674013271|ref=harv}}
<!-- Lieberman L 2001-->
* {{cite journal |doi=10.1086/318434 |last=Lieberman |first=L. |date=fevereiro de 2001 |title=How 'Caucasoids' got such big crania and why they shrank: from Morton to Rushton |journal=Current Anthropology |volume=42 |issue=1| pages=69–95 |pmid=14992214 |s2cid=224794908|ref=harv}}
<!--Lieberman L; Kirk 1997-->
* {{cite book |last1=Lieberman |first1=Leonard |last2=Kirk |first2=Rodney |chapter=Teaching About Human Variation: An Anthropological Tradition for the Twenty-first Century |editor-last1=Rice |editor-first1=Patricia |editor-last2=Kottak |editor-first2=Conrad Phillip |editor-last3=White |editor-first3=Jane G. |editor-last4=Furlow |editor-first4=Richard H. |title=The Teaching of Anthropology: Problems, Issues, and Decisions |publisher=Mayfield Pub |date=1997 |page=[https://archive.org/details/teachingofanthro0000unse/page/381 381] |isbn=1559347112 |chapter-url=https://archive.org/details/teachingofanthro0000unse/page/381|ref=harv}}
<!-- Lieberman L; Kirk; Corcoran 2003-->
* {{cite journal |last1=Lieberman |first1=L. |last2=Kirk |first2=R. C. |last3=Corcoran |first3=M. |title=The decline of race in American physical anthropology |journal=Anthropological Review |date=2003 |volume=66 |pages=3–21 |url=http://www.anthro.amu.edu.pl/pdf/paar/vol066/01lieb.pdf |issn=0033-2003 |archive-url=https://web.archive.org/web/20120813005756/http://www.anthro.amu.edu.pl/pdf/paar/vol066/01lieb.pdf |archive-date=13 de agosto de 2012 |urlmorta=sim|ref=harv}}
<!-- Lieberman L; Jackson Fatimah LC 1995-->
* {{cite journal |doi=10.1525/aa.1995.97.2.02a00030 |last1=Lieberman |first1=Leonard |last2=Jackson |first2=Fatimah Linda C. |date=1995 |title=Race and Three Models of Human Origins |journal=American Anthropologist |volume=97 |issue=2 |pages=231–242 |s2cid=53473388|ref=harv}}
<!-- Lieberman Let al 1992-->
* {{cite journal |doi=10.1002/tea.3660290308 |last1=Lieberman |first1=Leonard |last2=Hampton |first2=Raymond E. |last3=Littlefield |first3=Alice |last4=Hallead |first4=Glen |date=1992 |title=Race in Biology and Anthropology: A Study of College Texts and Professors |url=https://archive.org/details/sim_journal-of-research-in-science-teaching_1992-03_29_3/page/301 |journal=Journal of Research in Science Teaching |volume=29 |issue=3 |pages=301–321 |bibcode=1992JRScT..29..301L|ref=harv}}
<!-- Lewontin Richard C 1972-->
* {{cite book |last=Lewontin |first=Richard C. |author-link=Richard Lewontin |title=Evolutionary Biology |chapter=The Apportionment of Human Diversity |date=1972 |volume=6 |pages=381–397 |doi=10.1007/978-1-4684-9063-3_14 |isbn=978-1-4684-9065-7 |s2cid=21095796|ref=harv}}
<!-- Livingstone Frank B; Dobzhansky Theodosius 1962-->
* {{cite journal |last1=Livingstone |first1=Frank B. |last2=Dobzhansky |first2=Theodosius |title=On the Non-Existence of Human Races |date=1962 |url=https://archive.org/details/sim_current-anthropology_1962-06_3_3/page/n64 |journal=Current Anthropology |volume=3 |issue=3 |pages=279–281 |doi=10.1086/200290 |jstor=2739576 |s2cid=144257594|ref=harv}}
<!-- Long JC ; Kittles RA 2003-->
* {{cite journal |last1=Long |first1=J. C. |last2=Kittles |first2=R. A. |title=Human genetic diversity and the nonexistence of biological races |journal=Human Biology |volume=75 |issue=4 |pages=449–71 |date=agosto de 2003 |pmid=14655871 |doi=10.1353/hub.2003.0058 |s2cid=26108602}}
* {{cite journal |last=Long |first=Jeffrey C. |date=2009 |title=Update to Long and Kittles's 'Human Genetic Diversity and the Nonexistence of Biological Races' (2003): Fixation on an Index |journal=Human Biology |volume=81 |issue=5/6 |pages=799–803 |doi=10.3378/027.081.0622 |jstor=41466642 |pmid=20504197 |s2cid=4385409|ref=harv}}
<!-- Marks J 1995-->
* {{cite book |last=Marks |first=J. |date=1995 |title=Human biodiversity: Genes, race, and history |url=https://archive.org/details/humanbiodiversit0000mark |publisher=Aldine de Gruyter |location=New York |isbn=0585395594|ref=harv}}
<!-- Marks J 2002-->
* {{cite book |title=Race and Intelligence: Separating Science from Myth |url=https://archive.org/details/raceintelligence00fish |editor-first=Jefferson M. |editor-last=Fish |chapter=Folk Heredity |last=Marks |first=Jonathan |publisher=Lawrence Erlbaum Associates |location=Mahwah, New Jersey |date=2002 |page=[https://archive.org/details/raceintelligence00fish/page/n116 98] |isbn=0805837574|ref=harv}}
<!-- Marks J 2008-->
* {{cite book |last=Marks |first=Jonathan |date=2008 |chapter=Race: Past, present and future. Chapter 1 |title=Revisiting Race in a Genomic Age |editor-first1=Barbara |editor-last1=Koenig |editor-first2=Sandra |editor-last2=Soo-Jin Lee |editor-first3=Sarah S.|editor-last3=Richardson |publisher=Rutgers University Press|ref=harv}}
<!-- McNeilly 1996-->
* {{cite journal |last1=McNeilly |first1=M. D. |last2=Anderson |first2=M. B. |last3=Armstead |first3=C. A. |last4=Clark| first4=R. |last5=Corbett |first5=M. |last6=Robinson |first6=E. L. |date=1996 |title=The perceived racism scale: A multidimensional assessment of the experience of white racism among African Americans |journal=Ethnicity & Disease |volume=6 |issue=1–2 |pages=154–166|ref=harv}}
<!-- Meltzer M 1993-->
* {{cite book |last=Meltzer |first=Milton |date=1993 |title=Slavery: a world history |edition=revised |publisher=DaCapo Press |location=Cambridge, Massachusetts |isbn=0306805367|ref=harv}}
<!-- Mevorach M 2007-->
* {{cite journal |doi=10.1525/ae.2007.34.2.238 |title=Race, racism, and academic complicity |date=2007 |last=Mevorach |first=Katya Gibel |journal=American Ethnologist |volume=34 |pages=238–241 |issue=2|ref=harv}}
<!--Miles 2000-->
* {{cite book |last=Miles |first=Robert |chapter=Apropos the idea of race&nbsp;... again |title=Theories of race and racism |editor-first1=Les |editor-last1=Back |editor-first2=John |editor-last2=Solomos |date=2000 |publisher=Psychology Press |isbn=9780415156721 |pages=125–143|ref=harv}}
<!-- Molnar Stephen 1992-->
* {{cite book |last=Molnar |first=Stephen |title=Human variation: races, types, and ethnic groups |url=https://archive.org/details/humanvariationra0000moln |publisher=Prentice Hall |location=Englewood Cliffs, New Jersey |date=1992 |isbn=0134461622|ref=harv}}
<!-- Montagu Ashley 1941-->
* {{cite journal |last=Montagu |first=Ashley |author-link=Ashley Montagu |date=1941 |title=The Concept of Race in the Human Species in the Light of Genetics |url=https://archive.org/details/sim_journal-of-heredity_1941-08_32_8/page/243 |journal=Journal of Heredity |volume=32 |issue=8 |pages=243–248 |doi=10.1093/oxfordjournals.jhered.a105051|ref=harv}}
<!-- Montagu Ashley 1942-->
* {{cite book |last=Montagu |first=Ashley |author-link=Ashley Montagu |date=1997 |title=Man's Most Dangerous Myth: The Fallacy of Race |isbn=0803946481 |publisher=AltaMira Press |type=paperback|ref=harv}}
<!-- Montagu Ashley 1962-->
* {{cite journal |last=Montagu |first=Ashley |author-link=Ashley Montagu |url=http://www.americanethnography.com/article.php?id=36 |title=The Concept of Race |journal=American Ethnography Quasiweekly |date=1962 |urlmorta=sim |archive-url=https://web.archive.org/web/20110603205404/http://www.americanethnography.com/article.php?id=36 |archive-date=3 de junho de 2011 |access-date=26 de janeiro de 2009}} Originally appeared in: {{cite journal |title=The Concept of Race |journal=American Anthropologist |date=Outubro de 1962 |series=New Series |volume=64 |issue=5:1 |pages=919–928 |doi=10.1525/aa.1962.64.5.02a00020 |ref=none |last1=Montagu |first1=Ashley |ref=harv}}
<!-- Morgan 1975-->
* {{cite book |last=Morgan |first=Edmund S. |date=1975 |title=American Slavery, American Freedom: The Ordeal of Colonial Virginia |url=https://archive.org/details/americanslaverya00morg |publisher=W. W. Norton and Company, Inc.|ref=harv}}
<!--Mountain, Risch 1983-->
* {{cite journal |last1=Mountain |first1=Joanna L. |last2=Risch |first2=Neil |title=Assessing genetic contributions to phenotypic differences among 'racial' and 'ethnic' groups |date=2004 |doi=10.1038/ng1456 |pmid=15508003 |volume=36 |issue=11 Suppl |pages=S48–S53 |journal=Nature Genetics |s2cid=8136003 |doi-access=free|ref=harv}}
<!--Muffoletto 2003-->
* {{cite journal |last=Muffoletto |first=Robert |title=Ethics: A discourse of power |volume=47 |issue=6 |pages=62–66 |doi=10.1007/BF02763286 |date=2003 |journal=TechTrends |s2cid=144150827|ref=harv}}
<!--Nobles Melissa 2000-->
* {{cite book |last=Nobles |first=Melissa |title=Shades of citizenship: race and the census in modern politics |publisher=[[Stanford University Press]] |date=2000 |isbn=0804740593|ref=harv}}
<!--Ossorio P, Duster T 2005-->
* {{cite journal |doi=10.1037/0003-066X.60.1.115 |last1=Ossorio |first1=P. |last2=Duster |first2=T. |date=2005 |title=Controversies in biomedical, behavioral, and forensic sciences |url=https://archive.org/details/sim_american-psychologist_2005-01_60_1/page/115 |journal=American Psychologist |volume=60 |issue=1 |pages=115–128 |pmid=15641926|ref=harv}}
<!--Ousley S, Jantz R, Fried D 2009-->
* {{cite journal |last1=Ousley |first1=Stephen |last2=Jantz |first2=Richard |last3=Freid |first3=Donna |title=Understanding race and human variation: Why forensic anthropologists are good at identifying race |journal=[[American Journal of Physical Anthropology]] |date=18 de fevereiro de 2009 |volume=139 |issue=1 |pages=68–76 |doi=10.1002/ajpa.21006 |pmid=19226647 |s2cid=24410231|ref=harv}}
<!--Owens 1999-->
* {{cite journal |last1=Owens |first1=K. |last2=King |date=1999 |first2=M. C. |title=Genomic Views of Human History |journal=[[Science (journal)|Science]] |pmid=10521333 |volume=286 |issue=5439| pages=451–453 |doi=10.1126/science.286.5439.451|ref=harv}}
<!--Palmié 2007-->
* {{cite journal |doi=10.1525/ae.2007.34.2.205 |title=Genomics, divination, 'racecraft' |date=maio de 2007 |last=Palmié |first=Stephan |journal=American Ethnologist|volume=34 |pages=205–222 |issue=2|ref=harv}}
<!--Pigliucci 2013-->
* {{cite journal |last=Pigliucci |first=Massimo |title=What are we to make of the concept of race? |journal=Studies in History and Philosophy of Science Part C: Studies in History and Philosophy of Biological and Biomedical Sciences |date=setembro de 2013 |volume=44 |issue=3 |pages=272–277 |doi=10.1016/j.shpsc.2013.04.008 |pmid=23688802|ref=harv}}
<!--Reardon Jenny 2005-->
* {{cite book |last=Reardon |first=Jenny |title=Race to the finish: identity and governance in an age of genomics |date=2005 |publisher=[[Princeton University Press]] |isbn=9780691118574 |pages=17ff |chapter-url=https://books.google.com/books?id=HMHiuOJIQcYC&pg=PA17 |chapter=Post World-War II Expert Discourses on Race|ref=harv}}
<!--Risch et al. 2002-->
* {{cite journal |last1=Risch |first1=N. |last2=Burchard |first2=E. |last3=Ziv |first3=E. |last4=Tang |first4=H. |title=Categorization of humans in biomedical research: genes, race and disease |journal=Genome Biology |volume=3 |issue=7 |at=comment2007 |date=julho de 2002 |pmid=12184798 |pmc=139378 |doi=10.1186/gb-2002-3-7-comment2007 |doi-access=free|ref=harv}}
<!--Rosenberg et al. 2005-->
* {{cite journal |last1=Rosenberg |first1=N. A. |last2=Mahajan |first2=S. |last3=Ramachandran |first3=S. |last4=Zhao |first4=C. |last5=Pritchard |first5=J. K. |last6=Feldman |first6=M. W. |doi=10.1371/journal.pgen.0010070 |title=Clines, Clusters, and the Effect of Study Design on the Inference of Human Population Structure |journal=[[PLOS Genetics]] |volume=1 |issue=6 |page=e70 |date=2005 |pmid=16355252 |pmc=1310579 |doi-access=free|ref=harv}}
<!--Sauer, Norman J 1992-->
* {{cite journal |doi=10.1016/0277-9536(92)90086-6 |last=Sauer |first=Norman J. |date=janeiro de 1992 |title=Forensic Anthropology and the Concept of Race: If Races Don't Exist, Why are Forensic Anthropologists So Good at Identifying them |url=https://archive.org/details/sim_social-science-medicine_1992-01_34_2/page/107 |journal=Social Science and Medicine |volume=34 |issue=2 |pages=107–111 |pmid=1738862 |issn=0277-9536|ref=harv}}
<!--Sesardic 2010-->
* {{cite journal |last=Sesardic |first=Neven |date=2010 |title=Race: A Social Destruction of a Biological Concept |journal=Biology & Philosophy |volume=25 |issue=143 |doi=10.1007/s10539-009-9193-7 |pages=143–162 |s2cid=3013094|ref=harv}}
<!--Segal 1991-->
* {{cite journal |doi=10.2307/3032780 |pages=7–9 |last=Segal |first=Daniel A. |title='The European': Allegories of Racial Purity |url=https://archive.org/details/sim_anthropology-today_1991-10_7_5/page/7 |journal=Anthropology Today |volume=7 |issue=5 |publisher=Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland |date=1991 |jstor=3032780|ref=harv}}
<!--Serre, Pääbo 2004-->
* {{cite journal |last1=Serre |first1=D. |last2=Pääbo |first2=S. |author2-link=Svante Pääbo |title=Evidence for gradients of human genetic diversity within and among continents |journal=[[Genome Research]] |volume=14 |issue=9 |pages=1679–85 |date= setembro de 2004 |pmid=15342553 |pmc=515312 |doi=10.1101/gr.2529604|ref=harv}}
<!--Schaefer et al. 2008-->
* {{cite book |editor-last=Schaefer |editor-first=Richard T. |date=2008 |title=Encyclopedia of Race, Ethnicity and Society |page=1096 |publisher=Sage Publishing |isbn=9781412926942|ref=harv}}
<!--Sivanandan 1982 -->
* {{cite book |last=Sivanandan |first=Ambalavaner |date=1982 |title=A Different Hunger: Writings on Black Resistance |publisher=Pluto Press |isbn=9780861043712|ref=harv}}
<!-- Slotkin 1965-->
* {{cite book |last=Slotkin |first=J. S. |date=1965 |title=Readings in early Anthropology |publisher=[[Methuen Publishing]] |chapter=The Eighteenth Century |url=https://books.google.com/books?id=wIkOAAAAQAAJ |pages=175–243|ref=harv}}
<!--Smaje 1997 1983-->
* {{cite journal |last=Smaje |first=Chris |date=1997 |title=Not just a social construct: Theorising race and ethnicity |journal=Sociology |volume=31 |issue=2 |pages=307–327 |doi=10.1177/0038038597031002007 |s2cid=145703746|ref=harv}}
<!--Smedley A 1999-->
* {{cite book |last=Smedley |first=A. |date=1999 |title=Race in North America: origin and evolution of a worldview |edition=2nd |publisher=Westview Press |location=Boulder, Colorado |isbn=0813334489 |url=https://archive.org/details/raceinnorthameri00smed|ref=harv}}
<!--Smedley A 2002-->
* {{cite book |title=Race and Intelligence: Separating Science from Myth |editor-first=Jefferson M. |editor-last=Fish |chapter=Science and the Idea of Race: A Brief History |last=Smedley |first=Audrey |publisher=Lawrence Erlbaum Associates |location=Mahwah, New Jersey |date=2002 |page=172 |isbn=0805837574|ref=harv}}
<!--Smedley A 2007-->
* {{cite conference |last=Smedley |first=Audrey |title=The History of the Idea of Race... and Why It Matters |conference=Race, Human Variation and Disease: Consensus and Frontiers, March 14–17, 2007 in Warrenton, Virginia |publisher=American Anthropological Association |date=2007 |url=http://www.understandingrace.org/resources/pdf/disease/smedley.pdf |access-date=21 de janeiro de 2011 |archive-date=13 de novembro de 2019 |archive-url=https://web.archive.org/web/20191113030614/http://www.understandingrace.org/resources/pdf/disease/smedley.pdf |urlmorta=sim|ref=harv}}
<!--Sober 2000-->
* {{cite book |last=Sober |first=Elliott |date=2000 |title=Philosophy of biology |edition=2nd |location=Boulder, Colorado |publisher=Westview Press |isbn=9780813391267|ref=harv}}
<!--Stocking 1968-->
* {{cite book |last=Stocking |first=George W. |title=Race, Culture and Evolution: Essays in the History of Anthropology |date=1968 |page=380 |isbn=9780226774947 |publisher=[[University of Chicago Press]]|ref=harv}}
<!--Takaki R 1993-->
* {{cite book |last=Takaki |first=R. |date=1993 |title=A different mirror: a history of multicultural America |publisher=Little, Brown |location=Boston |isbn=0316831123 |type=paperback |url=https://archive.org/details/differentmirrorh00taka_0|ref=harv}}
<!--Tang et al. 2005-->
* {{Cite journal |first1=Hua |last1=Tang |first2=Tom |last2=Quertermous |first3=Beatriz |last3=Rodriguez |first4=Sharon L. R. |last4=Kardia |first5=Xiaofeng |last5=Zhu |first6=Andrew |last6=Brown |first7=James S. |last7=Pankow |first8=Michael A. |last8=Province |first9=Steven C. |last9=Hunt |first10=Eric |last10=Boerwinkle |first11=Nicholas J. |last11=Schork |first12=Neil J. |last12=Risch |title=Genetic Structure, Self-identified Race/Ethnicity, and Confounding in Case-control Association Studies |doi=10.1086/427888 |journal=The American Journal of Human Genetics |volume=76 |pages=268–275 |date=2005 |pmid=15625622 |pmc=1196372 |issue=2|ref=harv}}
<!--Templeton 1998-->
* {{Cite journal |doi=10.1525/aa.1998.100.3.632 |last=Templeton |first=Alan R. |date=1998 |title=Human Races: A Genetic and Evolutionary Perspective |url=https://archive.org/details/sim_american-anthropologist_1998-09_100_3/page/632 |journal=American Anthropologist |volume=100 |issue=3 |pages=632–650 |issn=0002-7294 |jstor=682042 |doi-access=free|ref=harv}}
<!--Templeton 2002-->
* {{cite book |last=Templeton |first=Alan R. |date=2002 |chapter=The genetic and evolutionary significance of human races |title=Race and Intelligence: Separating Science from Myth |editor-first=J. M. |editor-last=Fish |location=Mahwah, New Jersey |publisher=Lawrence Erlbaum Associates|ref=harv}}
<!--Templeton 2013-->
* {{cite journal |doi=10.1016/j.shpsc.2013.04.010 |issn=1369-8486 |volume=44 |issue=3 |pages=262–271 |last=Templeton |first=Alan R. |title=Biological Races in Humans |journal=Studies in History and Philosophy of Biological and Biomedical Sciences |date=setembro de 2013 |pmid=23684745 |pmc=3737365|ref=harv}}
<!--Thompson 2005-->
* {{cite book |last1=Thompson |first1=William |last2=Hickey |first2=Joseph |date=2005 |title=Society in Focus |publisher=Pearson plc |location=Boston |isbn=020541365X|ref=harv}}
<!--Todorov T 1993-->
* {{cite book |last=Todorov |first=T. |date=1993 |title=On human diversity |publisher=[[Harvard University Press]] |location=Cambridge, Massachusetts |isbn=0674634381 |url=https://archive.org/details/onhumandiversity00todo|ref=harv}}
<!--Weiss 2005-->
* {{cite news |first=Rick |last=Weiss |date=16 de dezembro de 2005 |url=https://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2005/12/15/AR2005121501728.html |title=Scientists Find a DNA Change That Accounts for Light Skin |newspaper=[[The Washington Post]]|ref=harv}}
<!--Willing 2005-->
* {{cite news |last1=Willing |first1=Richard |url=https://www.usatoday.com/news/nation/2005-08-16-dna_x.htm |title=DNA tests offer clues to suspect's race |work=[[USA Today]] |date=16 de agosto de 2005|ref=harv}}
<!--Wilson, Brown 1953-->
* {{Cite journal |doi=10.2307/2411818 |last1=Wilson |first1=E. O. |last2=Brown |first2=W. L. |date=1953 |title=The Subspecies Concept and Its Taxonomic Application |journal=Systematic Zoology |volume=2 |issue=3 |pages=97–110 |jstor=2411818 |url=https://zenodo.org/record/25320|ref=harv}}
<!--Winfield 2007-->
* {{cite book |last=Winfield |first=A. G. |date=2007 |title=Eugenics and education in America: Institutionalized racism and the implications of history, ideology, and memory |pages=45–46 |location=New York |publisher=Peter Lang Publishing, Inc|ref=harv}}
<!--Witherspoon et al. 2007-->
* {{cite journal |last1=Witherspoon |first1=D. J. |last2=Wooding |first2=S. |last3=Rogers |first3=A. R. |last4=Marchani |first4=E. E. |last5=Watkins |first5=W. S. |last6=Batzer |first6=M. A. |last7=Jorde |first7=L. B. |doi=10.1534/genetics.106.067355 |title=Genetic Similarities Within and Between Human Populations |journal=Genetics |volume=176 |issue=1 |pages=351–359 |date=2007 |pmid=17339205 |pmc=1893020|ref=harv}}
<!--Witzig 1996-->
* {{cite journal |last=Witzig |first=R. |title=The medicalization of race: scientific legitimization of a flawed social construct. |url=https://archive.org/details/sim_annals-of-internal-medicine_1996-10-15_125_8/page/675 |journal=Annals of Internal Medicine |date=15 de outubro de 1996 |volume=125 |issue=8 |pages=675–679 |pmid=8849153 |doi=10.7326/0003-4819-125-8-199610150-00008 |s2cid=41786914|ref=harv}}
<!--Wright Sewall 1978-->
* {{cite book |last=Wright |first=Sewall |date=1978 |title=Evolution and the Genetics of Populations |series=Vol. 4: Variability Within and Among Natural Populations |publisher=Univ. Chicago Press |location=Chicago |page=438|ref=harv}}
<!--Xing et al. 2010-->
* {{cite journal |doi=10.1016/j.ygeno.2010.07.004 |pmid=20643205 |volume=96 |issue=4 |pages=199–210 |last1=Xing |first1=Jinchuan |last2=Watkins |first2=W. Scott |last3=Shlien |first3=Adam |last4=Walker |first4=Erin| last5=Huff |first5=Chad D. |last6=Witherspoon |first6=David J. |last7=Zhang |first7=Yuhua |last8=Simonson |first8=Tatum S. |last9=Weiss |first9=Robert B. |last10=Schiffman |first10=Joshua D. |last11=Malkin |first11=David |last12=Woodward |first12=Scott R. |last13=Jorde |first13=Lynn B. |date=2010 |title=Toward a more uniform sampling of human genetic diversity: A survey of worldwide populations by high-density genotyping |journal=Genomics |pmc=2945611 |issn=0888-7543 |ref={{harvid|Xing|et al.|2010}}|ref=harv}}
{{refend}}


== Ligações externas ==
== Ligações externas ==
Linha 352: Linha 713:


{{Raças humanas}}
{{Raças humanas}}
{{controle de autoridade}}

{{Portal3|Antropologia}}
{{DEFAULTSORT:Raca Humana}}
{{DEFAULTSORT:Raca Humana}}
[[Categoria:Raça (classificação humana)| ]]
[[Categoria:Raça (classificação humana)| ]]

Revisão das 06h08min de 20 de janeiro de 2024

Raça é uma categorização de humanos baseada em características físicas (fenotípicas) e/ou socioculturais compartilhadas por grupos geralmente vistos como distintos dentro de uma determinada sociedade.[1] O termo passou a ser de uso comum durante o século XVI, quando era utilizado para se referir a grupos de vários tipos, incluindo aqueles caracterizados por relações estreitas de parentesco.[2] No século XVII, o termo começou a se referir a qualidades físicas e, mais tarde, a afiliações nacionais. A ciência moderna considera que o conceito de "raças humanas" é uma construção social, uma identidade atribuída com base em regras estabelecidas pela sociedade.[3][4][5] Embora parcialmente baseada em semelhanças físicas dentro dos grupos, o termo "raça" não tem um significado físico ou biológico inerente na espécie humana.[1][6][7] O conceito de "raça" é fundamental para o racismo, a crença de que os humanos podem ser divididos com base na superioridade de uma raça sobre outra.

As concepções sociais de raça variaram ao longo do tempo, muitas vezes envolvendo taxonomias populares que definem tipos essenciais de indivíduos com base em características percebidas. Os cientistas modernos consideram esse essencialismo biológico obsoleto[8] e geralmente desencorajam explicações raciais para a diferenciação coletiva em características físicas e comportamentais.[9][10][11][12][13]

Embora exista amplo consenso científico de que as concepções essencialistas e tipológicas de "raças humanas" são insustentáveis,[14][15][16][17][18][19] cientistas de todo o mundo continuam a descrever o conceito de "raça" de maneiras muito diferentes.[20] Enquanto alguns pesquisadores continuam a utilizar o conceito de raça para fazer distinções entre conjuntos confusos de características ou diferenças observáveis no comportamento, outros na comunidade científica sugerem que a ideia de raça é inerentemente ingênua[9] ou simplista.[21] Outros ainda argumentam que, entre os humanos, a raça não tem significado taxonômico porque todos os humanos vivos pertencem à mesma subespécie, o Homo sapiens sapiens.[22][23]

Desde a segunda metade do século XX, o conceito de "raças humanas" tem sido associado a teorias desacreditadas de racismo científico e tem sido cada vez mais visto como um sistema de classificação em grande parte pseudocientífico. Embora o termo ainda seja usado em contextos gerais, tem sido frequentemente substituído por termos menos ambíguos e/ou carregados, como populações, povo(s), grupos étnicos, ou comunidades, dependendo do contexto.[24][25] Seu uso em genética foi formalmente renunciado pelas Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos em 2023.[26]

Definição

Alguns estudiosos argumentam que embora "raça" seja um conceito taxonômico válido em outras espécies, não pode ser aplicada a humanos.[27] Muitos cientistas têm argumentado que definições de raça são imprecisas, arbitrárias, oriundas do costume, possuem muitas exceções, têm muitas gradações e que o número de raças descritas varia de acordo com a cultura que está fazendo as diferenciações raciais; assim, rejeitaram a noção de que qualquer definição de raça pertinente a humanos possa ter rigor taxonômico e validade.[28] Hoje em dia, a maioria dos cientistas estudam as variações genotípicas e fenotípicas humanas usando conceitos tais como "população" e "gradação clinal". Muitos antropólogos debatem se enquanto os aspectos nos quais as caracterizações raciais são feitas podem ser baseados em fatores genéticos, a ideia de raça em si, e a divisão real de pessoas em grupos de características hereditárias selecionadas, seriam construções sociais.[29][30][31]

Um antropólogo que propusesse usar a raça como uma maneira séria de descrever a variabilidade humana seria ridicularizado pela profissão - não por razões de correção política, mas porque a ideia mostra uma evidente ignorância da biologia. Há mais de 60 anos, M. F. Ashley Montagu demoliu o conceito de "raça" em seu livro O Mito Mais Perigoso do Homem: A Falácia da Raça (1945). No entanto, como muitas más ideias, persiste a noção de que existe algum propósito útil em classificar a humanidade em cinco, seis ou uma dúzia de raças. Mas persiste à margem da antropologia, entre os livros de ciências populares e na imaginação não científica. Os seres humanos compartilham um ancestral comum muito recente para que haja muitas diferenças biológicas profundas entre nós. Do ponto de vista evolutivo, somos todos africanos.[32]

Raças e etnias são uma construção social, que são inventadas e manipuladas, dependendo dos interesses de determinada sociedade.[33][34][35][36][37] Exemplo disso é que a quantidade de raças humanas existentes varia no decorrer do tempo. Até meados do século XX, os europeus eram divididos em diferentes sub-raças: nórdicos predominando no Norte, alpinos no Centro e mediterrâneos mais ao Sul. Em 1916, no livro The Passing of the Great Race (A extinção da grande raça), o eugenista Madison Grant escrevia que os casamentos entre os nórdicos "superiores" e os alpinos e mediterrâneos "inferiores" debilitavam a raça superior através da mestiçagem. Essa divisão racial dos europeus influenciou o Congresso dos Estados Unidos que, em 1924, aprovou uma lei restritiva de imigração (lei de quotas), a qual favorecia a entrada de nórdicos e limitava a entrada de imigrantes oriundos do Sul e do Leste da Europa, como italianos, gregos, eslavos e judeus, conforme Madison Grant desejava. Posteriormente, essa subdivisão racial dos europeus caiu em desuso.[38]

Classificações raciais são frequentemente feitas com base em características físicas escolhidas arbitrariamente, como cor da pele e textura do cabelo.[32] Porém, nos Estados Unidos, pelo menos até meados do século XX, uma pessoa de pele branca, olhos azuis e cabelos loiros, poderia ser considerada "negra", caso tivesse alguma ascendência africana publicamente conhecida. Isso deve-se à imposição da regra de uma gota pelo governo americano, quando passou a ser necessário definir quem era negro, com o advento da segregação racial com as Leis de Jim Crow.[39][40][41] Já no Brasil e no resto da América Latina, classificações raciais sempre foram mais fluidas e fortemente baseadas na cor da pele, havendo, entre o branco e o negro, uma enorme gradação de cores de pele.[40] Por sua vez, na Europa, historicamente a população é dividida muito mais em termos de religião, idioma ou nacionalidade do que em termos de aparência física.[42] No Continente Africano, as divisões são fortemente feitas com base em grupos tribais[43] e na Índia em castas.[44]

Raça é influenciada inclusive pela condição socioeconômia do indivíduo. Em muitas partes da América Latina, ser branco é mais uma questão de status socioeconômico do que características fenotípicas específicas, e costuma-se dizer que na América Latina "o dinheiro embranquece".[45] Porém, esse fenômeno não é exclusivo da América Latina. Nos Estados Unidos da segregação racial, mestiços de pele morena, mas bem vestidos e que falassem bem, conseguiam passar-se por descendentes de italianos ou portugueses, enquanto eles seriam classificados como negros se aparentassem ser pobres e falassem com um dialeto rural. Essa tática era denominada passing.[46]

Raças podem ser inventadas e extintas, conforme interesses políticos. Na Bolívia, o presidente Evo Morales mandou eliminar a categoria "mestiço" do censo de 2012, para, segundo os críticos, forçar um maior número de bolivianos a identificarem-se como "indígenas" e, assim, aumentar a legitimidade do seu governo pautado por um discurso indigenista.[47][48] No Brasil, grupos racialistas tentaram inúmeras vezes eliminar a categoria intermediária "parda" dos censos, mas não conseguiram, devido às reações contrárias.[47][49] Nos Estados Unidos, a categoria "mulato" foi eliminada a partir de 1910, para forçar todas as pessoas de sabida ascendência africana a identificarem-se como negras. Curiosamente, estabeleceu-se uma exceção para a ascendência indígena, para abarcar as família ricas da Virgínia que afirmavam descender da índia Pocahontas: definiu-se que eram "brancos" aqueles que tivessem 1/16 de sangue indígena ou menos, mas qualquer gota de sangue negro impedia o status de ser branco.[50] Também nos Estados Unidos, foi inventada a categoria étnica "hispânico ou latino", que abarca sob uma mesma categoria pessoas de países com demografias tão diferentes entre si quanto Argentina, República Dominicana ou Guatemala, e até mesmo europeus da Espanha às vezes são tratados como "pessoas de cor".[51][52]

Na França, devido ao trauma das políticas raciais nazistas durante a II Guerra Mundial, quando muitos judeus franceses foram mortos em campos de concentração, o governo não conta a população por raça ou etnia desde 1978, quando foi aprovada uma lei que impede que os franceses sejam enumerados por essas categorias sem o seu consentimento ou a isenção do comitê estadual. Em parte, essa tendência pode ser explicada pelas tradições revolucionárias e republicanas francesas de tratar todos os cidadãos de forma igual perante a lei.[53][54][55]

Já outros países têm pesquisas que perguntam a sua população a que raça ou etnia ela pertence. O número de raças e etnias varia enormemente de país para país. Em Cuba, por exemplo, o censo tem apenas três opções (branco, negro e mulato ou mestiço). No Brasil, há cinco opções (branco, preto, pardo, amarelo e indígena), ao passo que no Peru há catorze e, na Bolívia, há 40 opções de etnias e raças.[48]

História das classificações raciais

Um líbio, um núbio, um sírio e um egípcio, representados por um artista desconhecido em um mural na tumba de Seti I.
As "três grandes raças" segundo Meyers Konversations-Lexikon de 1885–90. Os subtipos são:
A raça mongolóide tem a mais ampla distribuição geográfica, incluindo todas as Américas, Norte da Ásia, Leste da Ásia, Sudeste Asiático, e todo o habitado Ártico como bem como a maior parte da Ásia Central e das Ilhas do Pacífico.

Os grupos de humanos sempre se identificaram como distintos dos grupos vizinhos, mas tais diferenças nem sempre foram entendidas como naturais, imutáveis e globais. Desta forma, a ideia de raça tal como a entendemos hoje surgiu durante o processo histórico de exploração e conquista que colocou os europeus em contato com grupos de diferentes continentes, e da ideologia da classificação e tipologia encontrada nas ciências naturais.[56] O termo raça foi frequentemente usado em um sentido taxonômico biológico geral,[24] a partir do século XIX, para denotar populações humanas geneticamente diferenciadas definidas pelo fenótipo.[57][58]

O conceito moderno de raça surgiu como produto dos impérios coloniais das potências europeias dos séculos XVI a XVIII, que identificavam as raças pela cor da pele e por diferenças físicas. A autora Rebecca F. Kennedy argumenta que os gregos e romanos antigos teriam achado tais conceitos confusos em relação aos seus próprios sistemas de classificação de pessoas.[59] De acordo com Bancel et al., o momento epistemológico em que o conceito moderno de raça foi inventado e racionalizado situa-se entre 1730 e 1790.[60]

Colonialismo

A subdivisão racial da Europa em nórdicos, alpinos e mediterrâneos, segundo a desacreditada teoria eugenista de Madison Grant, no livro The Passing of the Great Race (1916).

Smedley e Marks argumentam o conceito europeu de "raças humanas", juntamente com muitas das ideias agora associadas ao termo, surgiu na época da Revolução Científica, que introduziu e privilegiou o estudo das espécies naturais, e na era do imperialismo europeu e da colonização que estabeleceu relações políticas entre europeus e povos com tradições culturais e políticas distintas.[56][61] À medida que os europeus encontravam pessoas de diferentes partes do mundo, especulavam sobre as diferenças físicas, sociais e culturais entre os vários grupos humanos. A ascensão do comércio de escravos no Atlântico criou um incentivo adicional para categorizar grupos humanos, a fim de justificar a subordinação dos escravos africanos.[62]

Com base em fontes da antiguidade clássica e em suas próprias interações internas – por exemplo, a hostilidade entre ingleses e irlandeses influenciou fortemente o pensamento europeu inicial sobre as diferenças entre as pessoas[63] – os europeus começaram a classificar-se a si mesmos e aos outros em grupos com base na aparência física e a atribuir aos indivíduos pertencentes a esses grupos comportamentos e capacidades que se afirmavam estarem profundamente enraizados e fixas. Um conjunto de crenças populares se consolidou e vinculou diferenças físicas herdadas entre grupos a qualidades intelectuais, comportamentais e morais herdadas.[64] Ideias semelhantes podem ser encontradas em outras culturas,[65] por exemplo na China, onde um conceito frequentemente traduzido como "raça" foi associado a uma suposta descendência comum do Imperador Amarelo e é usado para enfatizar a unidade de grupos étnicos chineses. Conflitos brutais entre diferentes etnias existiram ao longo da história e em todo o mundo.[66]

Modelos taxonômicos iniciais

A primeira classificação pós-greco-romana de "raças humanas" que se tem registro é a obra Nouvelle division de la terre par les différents espèces ou races qui l'habitent ("Nova divisão da Terra pelas diferentes espécies ou raças que a habitam") de François Bernier, publicada em 1684.[67] No século XVIII, as diferenças entre os grupos populacionais humanos tornaram-se um foco de investigação científica. No entanto, a classificação científica da variação fenotípica foi frequentemente associada a ideias racistas sobre predisposições inatas de diferentes grupos, atribuindo sempre as características mais desejáveis à raça branca europeia e organizando as outras raças ao longo de um continuum de atributos progressivamente indesejáveis. A classificação de 1735 de Carl Linnaeus, inventor da taxonomia zoológica, dividiu a espécie humana Homo sapiens em variedades continentais, como europaeus, asiaticus, americanus e afer, cada uma associada a um humor diferente: sanguíneo, melancólico, colérico e fleumático, respectivamente.[68][69] O Homo sapiens europaeus era descrito como ativo, perspicaz e aventureiro, enquanto o Homo sapiens afer era considerado astuto, preguiçoso e descuidado.[70]

O tratado de 1775 intitulado "As variedades naturais da humanidade", de Johann Friedrich Blumenbach, propôs cinco divisões raciais principais: caucasóide, mongolóide, etíope (mais tarde denominada negroide), indígena americana e malaia, mas não sugeriu qualquer tipo de hierarquia entre elas.[70] Blumenbach também notou a transição gradativa nas aparências de um grupo para grupos adjacentes e sugeriu que "uma variedade da humanidade passa de forma tão sensata para a outra, que não é possível delimitar os limites entre eles".[71]

Dos séculos XVII ao XIX, a fusão das crenças populares com explicações científicas produziu o que Smedley chamou de "ideologia da raça".[61] Segundo esta ideologia, as raças são primordiais, naturais, duradouras e distintas. Argumentou-se ainda que alguns grupos podem ser o resultado da mistura entre populações anteriormente diferentes, mas que um estudo cuidadoso poderia distinguir as raças ancestrais que se combinaram para produzir grupos mestiços.[66] Classificações influentes subsequentes de Georges Buffon, Petrus Camper e Christoph Meiners classificaram os "negros" como inferiores aos europeus.[70] Nos Estados Unidos, as teorias raciais de Thomas Jefferson eram influentes. Apesar de descrever os nativos americanos como iguais aos brancos, ele considerava os africanos como inferiores aos brancos, especialmente no que diz respeito ao seu intelecto, e imbuídos de apetites sexuais não naturais.[72]

Poligenismo vs monogenismo

Nas últimas duas décadas do século XVIII, a teoria do poligenismo, a crença de que diferentes raças evoluíram separadamente em cada continente e não compartilharam nenhum ancestral comum,[73] era defendida na Inglaterra pelo historiador Edward Long e pelo anatomista Charles White, na Alemanha pelos etnógrafos Christoph Meiners e Georg Forster, na França por Julien-Joseph Virey e nos Estados Unidos por Samuel George Morton, Josiah Nott e Louis Agassiz. O poligenismo foi popular e mais difundido no século XIX, culminando com a fundação da Sociedade Antropológica de Londres (1863), que, durante o período da Guerra Civil Americana, rompeu com a Sociedade Etnológica de Londres e sua postura monogênica por conta da chamada "questão negra": uma visão racista substancial por parte da primeira[74] e uma visão mais liberal sobre raça por parte do última.[75]

Ciência moderna

Modelos de evolução humana

Atualmente, todos os humanos são classificados como pertencentes à espécie Homo sapiens. No entanto, esta não é a primeira espécie de hominídeos: a primeira espécie do gênero Homo, o Homo habilis, evoluiu na África Oriental há pelo menos 2 milhões de anos e membros desta espécie povoaram diferentes partes da África num tempo relativamente curto. O Homo erectus evoluiu há mais de 1,8 milhão de anos e, há 1,5 milhão de anos, já havia se espalhado pela Europa e pela Ásia. Praticamente todos os antropólogos físicos concordam que o Homo sapiens arcaico (um grupo que inclui as possíveis espécies H. heidelbergensis, H. rhodesiensis e H. neanderthalensis) evoluiu a partir do H. erectus africano (sensu lato) ou do H. ergaster.[76][77] Os antropólogos apoiam a ideia de que os humanos anatomicamente modernos (Homo sapiens) evoluíram no Norte ou no Leste da África a partir de uma espécie humana arcaica como o H. heidelbergensis e depois migraram para fora da África, misturando-se e substituindo as populações de H. heidelbergensis e H. neanderthalensis em toda a Europa e Ásia e populações de H. rhodesiensis na África Subsaariana (uma combinação dos modelos da origem única e multirregional).[78] 

Classificação biológica

No início do século XX, muitos antropólogos ensinavam que o conceito de raça era um fenômeno inteiramente biológico e fundamental para o comportamento e a identidade de uma pessoa, uma posição comumente chamada de essencialismo racial.[79] Isto, juntamente com a crença de que grupos linguísticos, culturais e sociais existiam fundamentalmente de acordo com linhas raciais, formaram a base do que atualmente é chamado de racismo científico.[80] Após o programa de eugenia nazista durante a Segunda Guerra Mundial, juntamente com a ascensão dos movimentos anticoloniais no pós-guerra, o essencialismo racial perdeu popularidade.[81] Novos estudos sobre a cultura e o incipiente campo da genética populacional minaram a posição científica do essencialismo racial, levando os antropólogos raciais a rever as suas conclusões sobre as fontes da variação fenotípica.[79] Um número significativo de antropólogos e biólogos modernos ocidentais passou a ver o conceito de "raças humanas" como uma designação genética ou biológica inválida.[82]

Os primeiros a desafiar o conceito de raça em bases empíricas foram os antropólogos Franz Boas, que forneceu evidências da plasticidade fenotípica devido a fatores ambientais,[83] e Ashley Montagu, que se baseou em evidências genéticas.[84] O biólogo estadunidense E. O. Wilson também desafiou o conceito da perspectiva da sistemática geral dos animais e rejeitou ainda a afirmação de que “raças” eram equivalentes a “subespécies”.[85]

A variação genética humana é predominantemente entre as "raças", contínua e de estrutura complexa, o que é inconsistente com o conceito de "raças humanas genéticas".[86] De acordo com o antropólogo biológico Jonathan Marks,[56]

Na década de 1970, tornou-se claro que (1) a maioria das diferenças humanas eram culturais; (2) o que não era cultural era principalmente polimórfico – isto é, encontrado em diversos grupos de pessoas em diferentes frequências; (3) o que não era cultural ou polimórfico era principalmente clinal – isto é, gradualmente variável ao longo da geografia; e (4) o que restou – o componente da diversidade humana que não era cultural, polimórfico ou clinal – era muito pequeno. Consequentemente, desenvolveu-se um consenso entre antropólogos e geneticistas de que a raça tal como a geração anterior a conhecia – como conjuntos genéticos amplamente discretos e geograficamente distintos – não existia.

Subespécies

O termo raça em biologia é ambíguo e geralmente usado como sinônimo de subespécie.[87] (Para os animais, a única unidade taxonômica abaixo do nível de espécie é geralmente a subespécie;[88] existem classificações infraespecíficas mais estreitas na botânica, mas raça não corresponde diretamente a nenhuma delas.) Tradicionalmente, as subespécies são vistas como populações geograficamente isoladas e geneticamente diferenciadas.[89] Estudos de variação genética humana mostram que as populações humanas não estão geograficamente isoladas[90] e suas diferenças genéticas são muito menores do que entre subespécies encontradas em outras espécies.[91]

Em 1978, Sewall Wright sugeriu que as populações humanas que há muito habitam partes separadas do mundo deveriam, em geral, ser consideradas subespécies diferentes. Wright argumentou: "Não é necessário um antropólogo treinado para classificar uma série de ingleses, africanos ocidentais e chineses com 100% de precisão por características, cor da pele e tipo de cabelo, apesar de tanta variabilidade dentro de cada um desses grupos que cada indivíduo pode ser facilmente distinguido de todos os outros."[92] Embora na prática as subespécies sejam frequentemente definidas pela aparência física facilmente observável (fenótipo), não há necessariamente qualquer significado evolutivo para estas diferenças observadas, pelo que esta forma de classificação tornou-se menos aceitável para os biólogos evolucionistas.[93] Da mesma forma, esta abordagem tipológica da raça é geralmente considerada desacreditada por biólogos e antropólogos.[94][16]

Populações ancestralmente diferenciadas (clados)

Em 2000, o filósofo Robin Andreasen propôs que a cladística poderia ser usada para categorizar biologicamente as raças humanas.[95] Andreasen citou diagramas de árvore de distâncias genéticas relativas entre populações publicados pelo geneticista italiano Luigi Cavalli-Sforza como base para uma árvore filogenética de raças humanas (p. 661). Em 2008, o antropólogo biológico Jonathan Marks respondeu argumentando que Andreasen havia interpretado mal a literatura genética: "Essas árvores são fenéticas (baseadas na semelhança), em vez de cladísticas (baseadas na descendência monofilética, ou seja, de uma série de ancestrais únicos)."[96] O biólogo evolucionista Alan Templeton (2013) argumentou que múltiplas linhas de evidência falsificam a ideia de uma estrutura filogenética para a diversidade genética humana e confirmam a presença de fluxo gênico entre as populações.[97] Marks, Templeton e Cavalli-Sforza concluem que o campo da genética não fornece evidências de que existem "raças humanas".[97][98]

Em 1995, os antropólogos Lieberman e Jackson também criticaram o uso da cladística para apoiar conceitos de raça e argumentaram que “os proponentes moleculares e bioquímicos deste modelo usam explicitamente categorias raciais”. Por exemplo, os grandes e altamente diversos grupos macroétnicos de indianos orientais, norte-africanos e europeus seriam presumivelmente agrupados como caucasianos antes da análise da sua variação de DNA. Eles argumentaram que este agrupamento a priori limita e distorce as interpretações, obscurece outras relações de linhagem, não enfatiza o impacto de fatores ambientais clinais mais imediatos na diversidade genômica e pode obscurecer nossa compreensão dos verdadeiros padrões de afinidade.[99]

Clinas

Ver artigo principal: Variação clinal

O antropólogo estadunidense C. Loring Brace trouxe uma inovação crucial na reconceitualização da variação genotípica e fenotípica ao observar que tais variações, na medida em que são afetadas pela seleção natural, migração lenta ou deriva genética, são distribuídas ao longo de gradações geográficas ou clinas.[100] Por exemplo, com relação à cor da pele na Europa e na África, Brace afirma:[101]

Até hoje, a cor da pele varia por meios imperceptíveis desde a Europa em direção ao sul, ao redor da extremidade oriental do Mediterrâneo e subindo o Nilo até a África. De um extremo ao outro desta faixa, não há indícios de um limite de cor de pele e, ainda assim, o espectro vai desde o mais claro do mundo, no extremo norte, até o mais escuro possível para os humanos no equador.

Em parte, isto se deve ao isolamento por distância. Este ponto chamou a atenção para um problema comum às descrições raciais baseadas em fenótipos (por exemplo, aquelas baseadas na textura do cabelo e na cor da pele): elas ignoram uma série de outras semelhanças e diferenças (por exemplo, tipo sanguíneo) que não se correlacionam com marcadores raciais tradicionais.[102]

A cor da pele (acima) e o tipo sanguíneo B (abaixo) são características discordantes, uma vez que sua distribuição geográfica não é semelhante.

Em uma resposta a Livingstone, Theodosius Dobzhansky afirmou que quando se fala de raça deve-se estar atento à forma como o termo está a ser usado. Ele argumentou que se poderia usar o termo raça se se distinguisse entre "diferenças raciais" e "o conceito de raça". O primeiro refere-se a qualquer distinção nas frequências genéticas entre populações; o último é "uma questão de julgamento". Ele observou ainda que mesmo quando há variação clinal: “As diferenças raciais são fenômenos biológicos objetivamente determináveis ... mas isso não significa que populações racialmente distintas devam receber rótulos raciais (ou subespecíficos)."[1] Em suma, Livingstone e Dobzhansky concordam que existem diferenças genéticas entre os seres humanos e que o uso do conceito de raça para classificar as pessoas é uma questão de convenção social. Eles divergem, porém, sobre se o conceito de raça continua a ser uma convenção social contemporânea significativa e útil.[102]

Em 1964, os biólogos Paul Ehrlich e Holm apontaram casos em que duas ou mais clinas estão distribuídas de forma discordante – por exemplo, a melanina é distribuída em um padrão decrescente a partir do equador, seja em direção ao norte ou ao sul; as frequências do haplótipo da hemoglobina beta-S, por outro lado, irradiam para fora de pontos geográficos específicos na África.[103] Como observaram os antropólogos Leonard Lieberman e Fatimah Linda Jackson: “Padrões discordantes de heterogeneidade falsificam qualquer descrição de uma população como se ela fosse genotipicamente ou mesmo fenotipicamente homogênea”.[99]

Uma mutação que clareia a pele, que se estima ter ocorrido entre 20 mil e 50 mil anos atrás, é parcialmente responsável pelo aparecimento de pele clara em pessoas que migraram da África em direção ao norte, para o que hoje é a Europa. Os asiáticos orientais devem sua pele relativamente clara a diferentes mutações.[104] Por outro lado, quanto maior o número de traços (ou alelos) considerados, mais subdivisões da humanidade são detectadas, uma vez que traços e frequências genéticas nem sempre correspondem à mesma localização geográfica. Ou como dizem Ossorio & Duster (2005):

Os antropólogos descobriram há muito tempo que as características físicas dos humanos variam gradualmente, sendo os grupos que são vizinhos geográficos próximos mais semelhantes do que os grupos que estão geograficamente separados. Este padrão de variação, conhecido como variação clinal, também é observado para muitos alelos que variam de um grupo humano para outro. Outra observação é que características ou alelos que variam de um grupo para outro não variam na mesma proporção. Esse padrão é conhecido como variação não concordante. Como a variação das características físicas é clinal e não concordante, os antropólogos do final do século XIX e início do século XX descobriram que quanto mais características e mais grupos humanos mediam, menos diferenças observavam entre as raças e mais categorias tinham de criar para classificar os seres humanos. O número de raças observadas expandiu-se para as décadas de 1930 e 1950 e, eventualmente, os antropólogos concluíram que não havia raças distintas.[105] Pesquisadores biomédicos dos séculos XX e XXI descobriram esta mesma característica ao avaliar a variação humana no nível de alelos e frequências alélicas. A natureza não criou quatro ou cinco grupos genéticos distintos e não sobrepostos de pessoas.

Populações geneticamente diferenciadas

Outra forma de observar as diferenças entre populações é medir as diferenças genéticas em vez das diferenças físicas. No começo do século XX, o antropólogo William C. Boyd definiu raça como: "Uma população que difere significativamente de outras populações no que diz respeito à frequência de um ou mais dos genes que possui".[106] Leonard Lieberman e Rodney Kirk apontaram que "a maior fraqueza desta afirmação é que se um gene pode distinguir raças, então o número de raças é tão numeroso quanto o número de casais humanos se reproduzindo".[107] Além disso, o antropólogo Stephen Molnar sugeriu que a discordância de clinas resulta inevitavelmente em uma multiplicação de raças que torna o próprio conceito inútil.[108] O Projeto Genoma Humano afirma que "pessoas que viveram na mesma região geográfica por muitas gerações podem ter alguns alelos em comum, mas nenhum alelo será encontrado em todos os membros de uma mesma população e em nenhum membro de qualquer outra."[109] Massimo Pigliucci e Jonathan Kaplan argumentam que as raças humanas existem e que correspondem à classificação genética dos ecótipos, mas que as raças humanas reais não correspondem muito, se é que correspondem, às categorias raciais populares.[110] Em contraste, Walsh & Yun revisaram a literatura em 2011 e relataram: "Estudos genéticos usando muito poucos lócus cromossômicos descobrem que os polimorfismos genéticos dividem as populações humanas em grupos com quase 100% de precisão e que correspondem às categorias antropológicas tradicionais."[111]

Alguns biólogos argumentam que as categorias raciais se correlacionam com características biológicas (por exemplo, fenótipos), e que certos marcadores genéticos têm frequências variadas entre as populações humanas, alguns dos quais correspondem mais ou menos a agrupamentos raciais tradicionais.[112]

Distribuição da variação genética

A distribuição de variantes genéticas dentro e entre as populações humanas é impossível de descrever sucintamente devido à dificuldade de definir uma população, à natureza clinal da variação e à heterogeneidade em todo o genoma (Long e Kittles 2003). Em geral, porém, existe uma média de 85% de variação genética estatística dentro das populações humanas locais, ≈7% entre populações locais dentro do mesmo continente e ≈8% entre grandes grupos que vivem em continentes diferentes.[113] A recente teoria da origem africana para os seres humanos previa que na África existiria muito mais diversidade do que em outros lugares e que a diversidade deveria diminuir à medida que uma população amostrada fica mais distante de lá. Assim, o valor médio de 85% é enganador: Long e Kittles concluem que, em vez de 85% da diversidade genética humana existente em todas as populações humanas, cerca de 100% da diversidade humana existe numa única população africana, enquanto apenas cerca de 60% da diversidade genética humana existe na população menos diversa que analisaram (os suruís, uma população derivada da Nova Guiné). [114] A análise estatística que leva em conta esta diferença confirma descobertas anteriores de que "as classificações raciais ocidentais não têm significado taxonômico".[115]

Análise de cluster

Um estudo de 2002 sobre lócus genéticos bialélicos aleatórios encontrou pouca ou nenhuma evidência de que os humanos modernos são divididos em grupos biológicos distintos.[116]

Em seu artigo de 2003, intitulado "Diversidade genética humana: a falácia de Lewontin", o geneticista e biólogo evolucionista britânico A. W. F. Edwards argumentou que, em vez de usar uma análise de variação lócus por lócus para derivar a taxonomia, é possível construir um sistema de classificação humana baseado em padrões genéticos característicos, ou "clusters inferidos a partir de dados genéticos multilócus".[117][118] Desde então, estudos humanos com base geográfica mostraram que tais agrupamentos genéticos podem ser derivados da análise de um grande número de lócus que pode classificar indivíduos amostrados em grupos análogos aos grupos raciais continentais tradicionais.[119][120] Joanna Mountain e Neil Risch alertaram que, embora um dia se possa demonstrar que os agrupamentos genéticos correspondem a variações fenotípicas entre grupos, tais suposições eram prematuras, uma vez que a relação entre genes e características complexas permanece pouco compreendida pela ciência.[121] No entanto, Risch negou que tais limitações tornem a análise inútil: "Talvez apenas usar o ano de nascimento real de alguém não seja uma boa maneira de medir a idade. Isso significa que devemos descartá-la? ... Qualquer categoria que você criar será imperfeita, mas isso não impede que você a use ou que tenha utilidade."[122]

Witherspoon et al. (2007) argumentaram que mesmo quando os indivíduos podem ser atribuídos de forma confiável a grupos populacionais específicos, ainda pode ser possível que dois indivíduos escolhidos aleatoriamente de diferentes populações/grupos sejam mais semelhantes entre si do que a um membro escolhido aleatoriamente de seu próprio grupo. Eles descobriram que muitos milhares de marcadores genéticos tiveram que ser usados para responder "nunca" à pergunta "Com que frequência um par de indivíduos de uma população é geneticamente mais diferente do que dois indivíduos escolhidos de duas populações diferentes?". Isto pressupôs três grupos populacionais separados por grandes áreas geográficas (Europa, África e Leste Asiático). Toda a população mundial é muito mais complexa e estudar um número crescente de grupos exigiria um número crescente de marcadores para a mesma resposta. Os autores concluem que "deve-se ter cautela ao usar a ancestralidade geográfica ou genética para fazer inferências sobre fenótipos individuais".[123] Witherspoon, et al. concluiu: "O fato de que, com dados genéticos suficientes, os indivíduos podem ser corretamente atribuídos às suas populações de origem é compatível com a observação de que a maior parte da variação genética humana é encontrada dentro das populações, e não entre elas. Também é compatível com a nossa descoberta de que, mesmo quando as populações mais distintas são consideradas e centenas de lócus são usados, os indivíduos são frequentemente mais semelhantes aos membros de outras populações do que aos membros da sua própria população."[123]

Antropólogos como C. Loring Brace,[124] os filósofos Jonathan Kaplan e Rasmus Winther,[125][126][127][128] e o geneticista Joseph Graves,[129] argumentaram que a estrutura de agrupamento de dados genéticos é dependente das hipóteses iniciais do pesquisador e da influência dessas hipóteses na escolha das populações a serem amostradas. Quando se amostra grupos continentais, os clusters tornam-se continentais, mas se tivéssemos escolhido outros padrões de amostragem, o cluster seria diferente. Weiss e Fullerton notaram que se alguém amostrasse apenas islandeses, maias e maoris, três agrupamentos distintos se formariam e todas as outras populações poderiam ser descritas como sendo clinicamente compostas por misturas de materiais genéticos maori, islandeses e maias.[130] Kaplan e Winther argumentam, portanto, que, vistos desta forma, tanto Lewontin como Edwards estão certos nos seus argumentos. Eles concluem que, embora os grupos raciais sejam caracterizados por diferentes frequências alélicas, isso não significa que a classificação racial seja uma taxonomia natural da espécie humana, porque vários outros padrões genéticos podem ser encontrados em populações humanas que atravessam distinções raciais. Na visão de Kaplan e Winther, os agrupamentos raciais são construções sociais objetivas (ver Mills 1998)[131] que têm realidade biológica convencional apenas na medida em que as categorias são escolhidas e construídas por razões científicas pragmáticas. Em trabalhos anteriores, Winther identificou “particionamento de diversidade” e “análise de agrupamento” como duas metodologias separadas, com questões, suposições e protocolos distintos. Cada um também está associado a consequências ontológicas opostas em relação à metafísica da raça.[132] A filósofa Lisa Gannett argumentou que a ancestralidade biogeográfica, um conceito desenvolvido por Mark Shriver e Tony Frudakis, não é uma medida objetiva dos aspectos biológicos de raça como Shriver e Frudakis afirmam que é. Ela argumenta que, na verdade, é apenas uma "categoria local moldada pelo contexto norte-americano de sua produção, especialmente o objetivo forense de ser capaz de prever a raça ou etnia de um suspeito desconhecido com base no DNA encontrado na cena do crime".[133]

Clinas e clusters em variação genética

Estudos recentes de agrupamento genético humano incluíram um debate sobre como a variação genética é organizada, com agrupamentos e clinas como as principais ordenações possíveis. Serre & Pääbo (2004) defenderam uma leve variação genética clinal em populações ancestrais, mesmo em regiões anteriormente consideradas racialmente homogêneas. Rosenberg et al. (2005) contestaram isso e ofereceram uma análise do Painel de Diversidade Genética Humana mostrando que havia pequenas descontinuidades na variação genética para populações ancestrais na localização de barreiras geográficas, como o deserto do Saara, os oceanos e a cordilheira dos Himalaias. No entanto, Rosenberg et al. (2005) afirmaram que as suas descobertas "não devem ser tomadas como evidência do nosso apoio a qualquer conceito particular de raça biológica ... As diferenças genéticas entre as populações humanas derivam principalmente de gradações nas frequências alélicas, e não de genótipos 'diagnósticos' distintos." Usando uma amostra de 40 populações distribuídas aproximadamente uniformemente pela superfície terrestre da Terra, Xing & et al. (2010) descobriram que “a diversidade genética é distribuída em um padrão mais clinal quando mais populações geograficamente intermediárias são amostradas”.

Guido Barbujani escreveu que a variação genética humana é geralmente distribuída continuamente em gradientes em grande parte do planeta Terra e que não há evidências de que existam fronteiras genéticas entre as populações humanas como seria necessário para a existência de raças humanas distintas.[134] Ao longo do tempo, a variação genética humana formou uma estrutura aninhada que é inconsistente com o conceito de "raças humanas" que teriam evoluído independentemente umas das outras.[135]

Construções sociais

À medida que os antropólogos e outros cientistas evolucionistas se afastaram da linguagem da raça para o termo população para falar sobre diferenças genéticas, os historiadores, os antropólogos culturais e outros cientistas sociais reconceituaram o termo "raça" como uma categoria ou identidade cultural, ou seja, uma entre muitas maneiras possíveis pelas quais uma sociedade escolhe dividir seus membros em categorias. Craig Venter e Francis Collins, dos Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos, anunciaram conjuntamente o mapeamento do genoma humano em 2000. Ao examinar os dados do mapeamento do genoma, Venter percebeu que embora a variação genética dentro da espécie humana seja da ordem de 1–3% (em vez do 1% anteriormente assumido), os tipos de variações não suportam a noção de raças geneticamente definidas. Venter disse: "Raça é um conceito social. Não é científico. Não há linhas claras (que se destacariam), se pudéssemos comparar todos os genomas sequenciados de todas as pessoas do planeta. ... Quando tentamos aplicar a ciência para tentar resolver essas diferenças sociais, tudo desmorona."[136]

O antropólogo Stephan Palmié argumentou que raça “não é uma coisa, mas uma relação social”;[137] ou, nas palavras de Katya Gibel Mevorach, "uma metonímia", "uma invenção humana cujos critérios de diferenciação não são universais nem fixos, mas sempre foram usados para administrar a diferença".[138] Imani Perry argumentou que o conceito de "raças humanas" "é produzido por arranjos sociais e pela tomada de decisões políticas".[139][140] Da mesma forma, Racial Culture: A Critique (2005), Richard T. Ford argumentou que embora "não haja correspondência necessária entre a identidade atribuída à raça e a cultura ou senso pessoal de si mesmo" e "a diferença de grupo não é intrínseca a membros de grupos sociais, mas antes dependentes das práticas sociais de identificação de grupo", as práticas sociais da política identitária podem coagir os indivíduos à promulgação "obrigatória" de "roteiros raciais pré-escritos".[141]

Brasil

Retrato Redenção de Cam (1895), mostrando uma família brasileira tornando-se "mais branca" a cada geração

Comparado aos Estados Unidos do século XIX, o Brasil do século XX foi caracterizado por uma aparente ausência relativa de grupos raciais rigidamente definidos. Segundo o antropólogo Marvin Harris, esse padrão reflete história e relações sociais diferentes entre os países. A raça no Brasil foi "biologizada", mas de uma forma que reconheceu a diferença entre ancestralidade (que determina o genótipo) e diferenças fenotípicas. No Brasil, a identidade racial não era governada por regras de descendência rígidas, como a regra de uma gota, como era nos Estados Unidos. Uma criança brasileira nunca foi automaticamente identificada com o tipo racial de um ou de ambos os pais, nem houve apenas um número muito limitado de categorias para escolher, na medida em que irmãos podem pertencer a diferentes grupos raciais.[142]

Várias categorias raciais seriam reconhecidas em conformidade com todas as combinações possíveis de cor e textura do cabelo, cor dos olhos e cor da pele. Ou seja, raça se referia preferencialmente à aparência, não à hereditariedade, e a aparência é um mau indício de ancestralidade, porque apenas alguns genes são responsáveis pela cor e características da pele de alguém: uma pessoa considerada branca pode ter mais ascendência africana do que uma pessoa que é considerado negra, e o inverso também pode ser verdadeiro em relação à ascendência europeia.[143] A complexidade das classificações raciais no Brasil reflete a extensão da mistura genética na sociedade brasileira, uma sociedade que permanece altamente, mas não estritamente, estratificada em linhas de cor. Esses fatores socioeconômicos também são significativos para os limites das linhas raciais, porque uma minoria de pardos provavelmente começará a se declarar branca ou negra se for algo socialmente ascendente[144] e a ser vista como relativamente "mais branca" conforme aumenta o status social (assim como em outras regiões da América Latina).[145]

Grupos étnicos no Brasil (1872 e 1890) [146]
Anos brancos multirracial negros índios Total
1872 38,1% 38,3% 19,7% 3,9% 100%
1890 44,0% 32,4% 14,6% 9% 100%

Das últimas décadas do Império até a década de 1950, a proporção da população branca aumentou significativamente. O Brasil acolheu 5,5 milhões de imigrantes europeus entre 1821 e 1932, não muito atrás de sua vizinha Argentina com 6,4 milhões,[147] e recebeu mais imigrantes europeus em sua história colonial do que os Estados Unidos. Entre 1500 e 1760, 700 mil europeus se estabeleceram no Brasil, enquanto 530 mil europeus se estabeleceram nos Estados Unidos pelo mesmo período.[148]

União Europeia

A União Europeia utiliza os termos origem racial e origem étnica como sinônimos nos seus documentos e segundo ela “a utilização do termo 'origem racial' nesta diretiva não implica uma aceitação de tais teorias [raciais]”.[149] Haney López alerta que usar “raça” como categoria dentro da lei tende a legitimar sua existência no imaginário popular. No contexto geográfico diversificado da Europa, a etnicidade e a origem étnica são indiscutivelmente mais ressonantes e menos sobrecarregadas pela bagagem ideológica associada ao termo “raça”. No contexto europeu, a ressonância histórica da “raça” sublinha a sua natureza problemática. Em alguns países, está fortemente associada às leis promulgadas pelos governos nazistas e fascistas na Europa durante as décadas de 1930 e 1940. Na verdade, em 1996, o Parlamento Europeu adotou uma resolução afirmando que “o termo deveria, portanto, ser evitado em todos os textos oficiais”.[150]

O conceito de origem racial baseia-se na noção de que os seres humanos podem ser separados em "raças" biologicamente distintas, ideia geralmente rejeitada pela comunidade científica. Dado que todos os seres humanos pertencem à mesma espécie, a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância rejeita teorias baseadas na existência de diferentes “raças humanas”. No entanto, na sua recomendação, utiliza este termo para garantir que as pessoas que são geralmente e erroneamente consideradas como pertencentes a "outra raça" não sejam excluídas da proteção prevista pela legislação. A lei pretende rejeitar a existência de “raça”, mas penaliza as situações em que alguém é tratado de forma menos favorável por este motivo.[150]

Estados Unidos

Os imigrantes que foram para os Estados Unidos vieram de todas as regiões da Europa, África e Ásia e misturaram-se entre si e com os habitantes indígenas do continente. Nos Estados Unidos, a maioria das pessoas que se identificam como afro-americanas têm alguns ancestrais europeus, enquanto muitas pessoas que se identificam como euro-americanas têm alguns ancestrais africanos ou ameríndios. Desde o início da história dos Estados Unidos, os ameríndios, os afro-americanos e os europeus-americanos foram classificados como pertencentes a raças diferentes. Os esforços para rastrear a mistura entre grupos levaram a uma proliferação de categorias, como mulato e octoroon. Os critérios para adesão a estas raças divergiram no final do século XIX. Durante a era da Reconstrução, um número crescente de estadunidenses começou a considerar negro qualquer pessoa com "uma gota" de "sangue negro" conhecido, independentemente da aparência. No início do século XX, essa noção tornou-se obrigatória em muitos estados. Os ameríndios continuam a ser definidos por uma certa porcentagem de “sangue índio”. Para ser considerado branco era preciso ter uma ancestralidade branca "pura". A regra de "uma gota" ou regra hipodescente refere-se à convenção de definir uma pessoa como racialmente negra se ela tiver alguma ascendência africana conhecida. Esta regra significava que aqueles que eram mestiços, mas com alguma ascendência africana discernível, eram definidos como negros. A regra da gota única é específica não apenas para aqueles com ascendência africana, mas também para os Estados Unidos, tornando-a uma experiência particularmente afro-americana.[151]

Os censos decenais realizados desde 1790 nos Estados Unidos criaram um incentivo adicional para estabelecer categorias raciais e enquadrar as pessoas dentro delas.[152] O termo "hispânico" como etnônimo surgiu no século XX com o aumento da migração de trabalhadores dos países de língua espanhola da América Latina para os Estados Unidos. Hoje, a palavra “latino” é frequentemente usada como sinônimo de “hispânico”. As definições de ambos os termos não são raciais e incluem pessoas que se consideram de raças distintas (negros, brancos, ameríndios, asiáticos e grupos mistos).[153] No entanto, existe um equívoco comum nos Estados Unidos de que os termos hispânico/latino definem uma raça.[154]

Disciplinas acadêmicas

Antropologia

O conceito de classificação racial na antropologia física perdeu credibilidade por volta da década de 1960 e agora é considerado insustentável.[155][156][157] Uma declaração de 2019 da Associação Americana de Antropólogos Físicos declara:

O termo raça não fornece uma representação precisa da variação biológica humana. Não era preciso no passado e permanece impreciso quando se refere às populações humanas contemporâneas. Os seres humanos não estão divididos biologicamente em tipos continentais ou grupos genéticos raciais distintos. Em vez disso, o conceito ocidental de raça deve ser entendido como um sistema de classificação que emergiu em apoio ao colonialismo, à opressão e à discriminação europeias.[94]

Wagner et al. (2017) pesquisaram as opiniões de 3.286 antropólogos estadunidenses sobre raça e genética, incluindo antropólogos culturais e biológicos. Eles encontraram um consenso entre eles de que não existem raças biológicas nos humanos, mas que raça existe na medida em que as experiências sociais de membros de diferentes raças podem ter efeitos significativos na saúde.[158]

Wang, Štrkalj et al. (2003) examinaram o uso da raça como um conceito biológico em artigos de pesquisa publicados na única revista de antropologia biológica da China, Acta Anthropologica Sinica. O estudo mostrou que o conceito de raça era amplamente utilizado entre os antropólogos chineses.[159][160] Num artigo de revisão de 2007, Štrkalj sugeriu que o forte contraste da abordagem racial entre os Estados Unidos e a China se devia ao fato de a raça ser um fator de coesão social entre as pessoas etnicamente diversas da China, enquanto a "raça" é uma questão delicada nos Estados Unidos e considera-se que a abordagem racial prejudica a coesão social – com o resultado de que, no contexto sociopolítico dos acadêmicos estadunidenses, os cientistas são encorajados a não utilizar categorias raciais, enquanto na China são encorajados a utilizá-las.[161]

Em 2004, uma pesquisa de Lieberman et al. analisou a aceitação da raça como conceito entre antropólogos nos Estados Unidos, Canadá, Europa, Rússia, China e hispanofonia. A rejeição racial variou de alta a baixa, com a maior taxa de rejeição nos Estados Unidos e no Canadá, uma taxa de rejeição moderada na Europa e a menor taxa de rejeição na Rússia e na China. Os métodos utilizados nos estudos relatados incluíram questionários e análise de conteúdo.[20]

Kaszycka et al. (2009) em 2002–2003 pesquisaram as opiniões de antropólogos europeus em relação ao conceito de raça biológica. Três fatores – país de formação acadêmica, disciplina e idade – foram considerados significativos na diferenciação das respostas. Os educados na Europa Ocidental, os antropólogos físicos e as pessoas de meia-idade rejeitaram o conceito de raça com mais frequência do que os educados na Europa Oriental, as pessoas de outros ramos da ciência e aquelas de gerações mais jovens e mais velhas.[162]

Biologia, anatomia e medicina

Na mesma pesquisa de 1985 (Lieberman et al. 1992), 16% dos biólogos pesquisados e 36% dos psicólogos do desenvolvimento pesquisados discordaram da proposição: “Existem raças biológicas na espécie Homo sapiens”. Os autores do estudo também examinaram 77 livros universitários de biologia e 69 de antropologia física publicados entre 1932 e 1989. Até os anos 1970, os textos de antropologia física argumentavam que raças biológicas humanas existiam, mas começaram pararam de afirmar isso desde então. Em contraste, os livros didáticos de biologia não sofreram tal reversão, mas muitos abandonaram completamente o debate sobre raça. Os autores atribuíram isso às implicações políticas das classificações raciais e às discussões em curso na biologia sobre a validade da ideia de "subespécie". Os autores concluíram: "O conceito de raça, mascarando a esmagadora semelhança genética de todos os povos e os padrões de variação em mosaico que não correspondem às divisões raciais, não é apenas socialmente disfuncional, mas também biologicamente indefensável (pp. 5 18-5 19)." (Lieberman et al. 1992, pp. 316–17)

Uma análise feita em 1994 de 32 livros didáticos ingleses de ciências do esporte/exercícios descobriu que 7 (21,9%) afirmaram que existem diferenças biofísicas devido à raça que podem explicar diferenças no desempenho esportivo, 24 (75%) não mencionaram nem refutaram o conceito, e 1 (3,1%) manifestaram cautela com a ideia.[163]

Em fevereiro de 2001, os editores dos Arquivos de Pediatria e Medicina do Adolescente pediram aos "autores que não usassem os termos "raça" e "etnia" quando não houvesse razão biológica, científica ou sociológica para fazê-lo".[164] Os editores também afirmaram que "a análise por raça e etnia tornou-se um reflexo analítico automático".[165] A revista Nature Genetics agora pede aos autores que "expliquem por que fazem uso de determinados grupos étnicos ou populações e como a classificação foi alcançada".[166]

Morning (2008) analisou livros didáticos de biologia do ensino médio durante o período de 1952 a 2002 e inicialmente encontrou um padrão semelhante, com apenas 35% abordando diretamente o conceito de raça no período de 1983 a 1992, contra 92% antes disso. Discussões mais indiretas e breves sobre raça no contexto de distúrbios médicos aumentaram de nenhuma para 93% dos livros didáticos. Em geral, o material sobre raça passou de características superficiais para genética e história evolutiva. O estudo argumenta que a mensagem fundamental dos livros didáticos sobre a existência de raças mudou pouco.[167] Analisando as opiniões sobre raça na comunidade científica em 2008, Morning concluiu que os biólogos não conseguiram chegar a um consenso claro e muitas vezes dividiram-se em termos culturais e demográficos. Ela observa: "Na melhor das hipóteses, pode-se concluir que biólogos e antropólogos agora parecem igualmente divididos em suas crenças sobre a natureza da raça."[168]

Gissis (2008) examinou o conteúdo de vários periódicos estadunidenses e britânicos importantes em genética, epidemiologia e medicina durante o período 1946-2003. Ele escreveu que "Com base em minhas descobertas, argumento que a categoria de raça só aparentemente desapareceu do discurso científico após a Segunda Guerra Mundial e teve um uso flutuante, porém contínuo, durante o período de 1946 a 2003, e se tornou ainda mais pronunciada a partir do início da década de 1970".[169] Em outro estudo de 2008, 33 pesquisadores de serviços de saúde de diferentes regiões geográficas foram entrevistados. Eles reconheceram os problemas com variáveis raciais e étnicas, mas a maioria ainda acreditava que estas variáveis eram necessárias e úteis.[170]

Um estudo de 2021 que examinou mais de 11 mil artigos de 1949 a 2018 no American Journal of Human Genetics, descobriu que “raça” foi usada em apenas 5% na última década, abaixo dos 22% na primeira. Juntamente com um aumento no uso dos termos “etnia”, “ancestralidade” e termos baseados em localização, sugere que os geneticistas abandonaram em grande parte o termo “raça”.[171]

As Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina (NASEM), apoiadas pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, declararam formalmente que "os pesquisadores não deveriam usar a raça como para descrever a variação genética humana".[172] O relatório de seu Comitê sobre o Uso de Raça, Etnia e Ancestralidade como Descritores Populacionais em Pesquisa Genômica lançado em 14 de março de 2023[173][26] afirmava: “Em humanos, raça é uma designação socialmente construída, um substituto enganoso e prejudicial para diferenças genéticas populacionais e tem uma longa história de ser identificada incorretamente como a principal razão genética para diferenças fenotípicas entre grupos”.[3] Os co-presidentes do comitê Charmaine D. Royal e Robert O. Keohane da Universidade Duke concordaram na reunião: "Classificar as pessoas por raça é uma prática enredada e enraizada no racismo."[172]

Sociologia

Lester Frank Ward (1841–1913), considerado um dos fundadores da sociologia estadunidense, rejeitou noções de que existiam diferenças fundamentais que distinguiam uma raça de outra, embora reconhecesse que as condições sociais diferiam dramaticamente por raça.[174] Na virada do século XX, os sociólogos viam o conceito de raça de uma forma que foi moldada pelo racismo científico do século XIX e início do século XX.[175] Muitos sociólogos se concentraram nos afro-americanos e alegaram que eles eram inferiores aos americanos brancos. A socióloga branca Charlotte Perkins Gilman (1860–1935), por exemplo, usou argumentos biológicos para reivindicar a inferioridade dos afro-americanos.[175] O sociólogo americano Charles H. Cooley (1864–1929) teorizou que as diferenças entre as raças eram "naturais" e que as diferenças biológicas resultam em diferenças nas habilidades intelectuais.[176][174] Edward Alsworth Ross (1866–1951), eugenista e também uma figura importante da sociologia estadunidense, acreditava que os brancos eram a raça superior e que havia diferenças essenciais de "temperamento" entre as raças.[174] Em 1910, o Journal publicou um artigo de Ulysses G. Weatherly (1865–1940) que pedia a supremacia branca e a segregação racial para proteger a pureza racial.[174]

W. E. B. Du Bois (1868–1963), um dos primeiros sociólogos afro-americanos, foi o primeiro sociólogo a utilizar conceitos e métodos de investigação empírica para analisar a raça como uma construção social em vez de uma realidade biológica.[175] Desde a publicação do seu livro The Philadelphia Negro, em 1899, Du Bois estudou e escreveu sobre raça e racismo até o fim de sua carreira. Em seu trabalho, ele afirmou que classe social, colonialismo e capitalismo moldaram as ideias sobre raça e categorias raciais. Os cientistas sociais abandonaram em grande parte o racismo científico na década de 1930.[177] Outros primeiros sociólogos, especialmente aqueles associados à Escola de Chicago, juntaram-se a Du Bois na teorização da raça como um facto socialmente construído.[177] Em 1978, William Julius Wilson argumentou que a raça e os sistemas de classificação racial estavam em declínio em importância e que, em vez disso, a classe social descrevia com mais precisão o que os sociólogos anteriormente entendiam como raça.[178] Em 1986, os sociólogos Michael Omi e Howard Winant introduziram com sucesso o conceito de formação racial para descrever o processo pelo qual as categorias raciais são criadas.[179] Omi e Winant afirmam que “não há base biológica para distinguir entre grupos humanos em termos de raça”.[179]

Eduardo Bonilla-Silva, professor de sociologia da Universidade Duke, comenta:[180] "Afirmo que o racismo é, mais do que qualquer outra coisa, uma questão de poder de grupo; trata-se de um grupo racial dominante (brancos) que se esforça para manter suas vantagens sistêmicas e minorias que lutam para subverter o status quo racial."[181] Os tipos de práticas que ocorrem sob este novo racismo daltônico são sutis, institucionalizadas e supostamente não raciais. O racismo daltônico prospera com a ideia de que a raça não é mais um problema nos Estados Unidos.[181]

Atualmente, os sociólogos geralmente entendem a raça e as categorias raciais como socialmente construídas e rejeitam esquemas de categorização racial que dependem de diferenças biológicas.[177]

Usos políticos e práticos

Biomedicina

Em ambientes clínicos, a raça tem sido por vezes considerada no diagnóstico e tratamento de condições médicas. Os médicos notaram que algumas condições médicas são mais prevalentes em certos grupos raciais ou étnicos do que em outros, sem ter certeza da causa dessas diferenças. O interesse recente na medicina baseada na raça, ou na farmacogenômica dirigida à raça, foi alimentado pela proliferação de dados genéticos humanos que se seguiram à descodificação do genoma humano na primeira década do século XXI. Há um debate ativo entre pesquisadores biomédicos sobre o significado e a importância da raça em suas pesquisas. Os defensores do uso de categorias raciais na biomedicina argumentam que o uso continuado de categorizações raciais na pesquisa biomédica e na prática clínica torna possível a aplicação de novas descobertas genéticas e fornece uma pista para o diagnóstico.[182][183] As posições dos investigadores biomédicos sobre raça enquadram-se em dois campos principais: aqueles que consideram que o conceito de raça não tem base biológica e aqueles que o consideram como tendo potencial para ser biologicamente significativo. Os membros deste último campo baseiam frequentemente os seus argumentos no potencial de criação de medicina personalizada baseada no genoma.[184]

Outros pesquisadores salientam que encontrar uma diferença na prevalência de doenças entre dois grupos socialmente definidos não implica necessariamente uma causa genética da diferença.[185][186] Eles sugerem que as práticas médicas devem manter o foco no indivíduo, e não na filiação do indivíduo a qualquer grupo,[187] e que enfatizar excessivamente as contribuições genéticas para as disparidades na saúde acarreta vários riscos, como reforçar estereótipos, promover o racismo ou ignorar a contribuição de fatores não genéticos para as disparidades na saúde.[188] Dados epidemiológicos internacionais mostram que as condições de vida, e não a raça, fazem a maior diferença nos resultados de saúde, mesmo para doenças que têm tratamentos "específicos para a raça".[189] Alguns estudos descobriram que os pacientes relutam em aceitar a categorização racial na prática médica.[183]

Aplicação da lei

Ver artigo principal: Perfilamento racial

Em muitos países, como a França, o Estado está legalmente proibido de manter dados baseados na raça.[190] Nos Estados Unidos, a prática do perfilamento racial foi considerada inconstitucional e uma violação dos direitos civis. Há um debate ativo sobre a causa de uma correlação acentuada entre os crimes registados, as punições aplicadas e as populações do país. Muitos consideram o perfil racial de facto um exemplo de racismo institucional na aplicação da lei.[191] O encarceramento em massa nos Estados Unidos tem um impacto desproporcional nas comunidades afro-americanas e latinas. Michelle Alexander, autora de The New Jim Crow: Mass Incarceration in the Age of Colorblindness (2010), argumenta que o encarceramento em massa é melhor compreendido não apenas como um sistema de prisões superlotadas, mas também como "a rede mais ampla de leis, regras, políticas e costumes que controlam aqueles rotulados como criminosos dentro e fora da prisão".[192] Ela define como "um sistema que tranca pessoas não só atrás de grades reais em prisões reais, mas também atrás de grades e muros virtuais", ilustrando a cidadania de segunda classe que é imposta a um número desproporcional de pessoas de cor, especificamente afro-americanos. Ela compara o encarceramento em massa às leis Jim Crow, afirmando que ambas funcionam como sistemas de castas raciais.[193]

Muitas descobertas de pesquisas parecem concordar que o impacto da raça da vítima na decisão de prisão por violência interpessoal (VPI) pode incluir um preconceito racial em favor das vítimas brancas. Um estudo de 2011 numa amostra nacional de detenções por VPI descobriu que a detenção de mulheres era mais provável se a vítima do sexo masculino fosse branca e a agressora fosse negra, enquanto a detenção de homens era mais provável se a vítima do sexo feminino fosse branca. Tanto para detenções femininas como masculinas em casos de VPI, as situações envolvendo casais casados tinham maior probabilidade de levar à prisão em comparação com casais namorando ou divorciados. Mais pesquisas são necessárias para compreender os fatores que influenciam o comportamento da polícia.[194]

Estudos recentes que usaram análise de agrupamento de DNA para determinar antecedentes raciais têm sido utilizados por alguns investigadores criminais para restringir sua busca pela identidade de suspeitos e vítimas.[195] Os defensores do perfil de DNA em investigações criminais citam casos em que pistas baseadas em análises de DNA se revelaram úteis, mas a prática permanece controversa entre especialistas em ética médica, advogados de defesa e alguns profissionais da aplicação da lei.[196]

Antropologia forense

Ver artigo principal: Antropologia forense
Estudo de craniometria

Os antropólogos forenses baseiam-se em características morfológicas altamente hereditárias de restos humanos (por exemplo, medidas cranianas) para ajudar na identificação do corpo, inclusive em termos de raça. Num artigo de 1992, o antropólogo Norman Sauer observou que os antropólogos tinham geralmente abandonado o conceito de raça como uma representação válida da diversidade biológica humana, exceto os antropólogos forenses. Ele perguntou: "Se as raças não existem, por que os antropólogos forenses são tão bons em identificá-las?"[155] Ele concluiu:

A atribuição bem-sucedida de raça a um espécime esquelético não é uma justificativa do conceito de raça, mas sim uma previsão de que um indivíduo, enquanto vivo, foi atribuído a uma determinada categoria "racial" socialmente construída. Um espécime pode apresentar características que apontam para ascendência africana. Neste país, é provável que essa pessoa tenha sido rotulada de negra, independentemente de tal raça existir ou não na natureza.[155]

A identificação da ancestralidade de um indivíduo depende do conhecimento da frequência e distribuição das características fenotípicas em uma população. Isto não exige o uso de um esquema de classificação racial baseado em características não relacionadas, embora o conceito de raça seja amplamente utilizado em contextos médicos e jurídicos nos Estados Unidos.[197] Alguns estudos relataram que as raças podem ser identificadas com alto grau de precisão usando certos métodos, como o desenvolvido por Giles e Elliot. No entanto, este método às vezes não consegue ser replicado em outros tempos e lugares; por exemplo, quando o método foi testado novamente para identificar os nativos americanos, a taxa média de precisão caiu de 85% para 33%.[86] A informação prévia sobre o indivíduo (por exemplo, dados do Censo) também são importantes para permitir a identificação precisa da “raça”.[198]

Numa abordagem diferente, o antropólogo C. Loring Brace disse:

A resposta simples é que, como membros da sociedade que coloca a questão, são inculcados nas convenções sociais que determinam a resposta esperada. Eles também deveriam estar cientes das imprecisões biológicas contidas nessa resposta “politicamente correta”. A análise do esqueleto não fornece uma avaliação direta da cor da pele, mas permite uma estimativa precisa das origens geográficas originais. A ascendência africana, asiática oriental e europeia pode ser especificada com um alto grau de precisão. É claro que África implica “negro”, mas “negro” não implica africano.[199]

Um estudo de 2002 descobriu que cerca de 13% da variação craniométrica humana existia entre regiões, enquanto 6% existia entre populações locais dentro de regiões e 81% dentro de populações locais. Em contrapartida, um padrão oposto de variação genética foi observado para a cor da pele (que é frequentemente usada para definir raça), com 88% de variação entre regiões. O estudo concluiu: “A distribuição da diversidade genética na cor da pele é atípica e não pode ser utilizada para fins de classificação”.[200] Da mesma forma, um estudo de 2009 descobriu que a craniometria poderia ser usada com precisão para determinar de que parte do mundo alguém vinha; no entanto, este estudo também descobriu que não havia limites abruptos que separassem a variação craniométrica em grupos raciais distintos.[201] Outro estudo de 2009 mostrou que negros e brancos estadunidenses tinham diferentes morfologias esqueléticas e que existe um padrão significativo na variação dessas características dentro dos continentes, o que significa que classificar os humanos em raças com base nas características do esqueleto exigiria a definição de muitas "raças" diferentes.[202]

Em 2010, o filósofo Neven Sesardić argumentou que os antropólogos forenses podem classificar a raça de uma pessoa com uma precisão de quase 100% com base apenas em restos de esqueletos.[203] A afirmação de Sesardić foi contestada pelo filósofo Massimo Pigliucci, que o acusou de "escolher a dedo as evidências científicas e chegar a conclusões que são contraditas por elas". Especificamente, Pigliucci argumentou que Sesardić deturpou um artigo de Ousley et al. (2009) e esqueceu de mencionar que eles identificaram diferenciação não apenas entre indivíduos de diferentes raças, mas também entre indivíduos de diferentes tribos, ambientes e períodos históricos.[204]

Ver também

Referências

  1. a b Barnshaw, John (2008). «Race». In: Schaefer, Richard T. Encyclopedia of Race, Ethnicity, and Society. 1. [S.l.]: Sage Publications. pp. 1091–1093. ISBN 978-1-45-226586-5 
  2. Roediger, David R. «Historical Foundations of Race». Smithsonian 
  3. a b Using Population Descriptors in Genetics and Genomics Research: A New Framework for an Evolving Field (Consensus Study Report). [S.l.]: National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine. 2023. ISBN 978-0-309-70065-8. doi:10.17226/26902 
  4. Amutah, C.; Greenidge, K.; Mante, A.; Munyikwa, M.; Surya, S. L.; Higginbotham, E.; Jones, D. S.; Lavizzo-Mourey, R.; Roberts, D. (março de 2021). Malina, D., ed. «Misrepresenting Race — The Role of Medical Schools in Propagating Physician Bias». Massachusetts Medical Society. The New England Journal of Medicine. 384 (9): 872–878. ISSN 1533-4406. PMID 33406326. doi:10.1056/NEJMms2025768Acessível livremente 
  5. Gannon, Megan (5 de fevereiro de 2016). «Race Is a Social Construct, Scientists Argue». Scientific American. ISSN 0036-8733. Consultado em 1 de março de 2023. Arquivado do original em 14 de fevereiro de 2023 
  6. Smedley, Audrey; Takezawa, Yasuko I.; Wade, Peter. «Race: Human». Encyclopædia Britannica. Encyclopædia Britannica Inc. Consultado em 22 de agosto de 2017 
  7. Yudell, M.; Roberts, D.; DeSalle, R.; Tishkoff, S. (5 de fevereiro de 2016). «Taking race out of human genetics». American Association for the Advancement of Science. Science. 351 (6273): 564–565. Bibcode:2016Sci...351..564Y. ISSN 0036-8075. PMID 26912690. doi:10.1126/science.aac4951 
  8. Sober (2000).
  9. a b Lee et al. 2008: "We caution against making the naive leap to a genetic explanation for group differences in complex traits, especially for human behavioral traits such as IQ scores"
  10. AAA 1998: "For example, 'Evidence from the analysis of genetics (e.g., DNA) indicates that most physical variation, about 94%, lies within so-called racial groups. Conventional geographic "racial" groupings differ from one another only in about 6% of their genes. This means that there is greater variation within 'racial' groups than between them.'"
  11. Keita et al. 2004. "Modern human biological variation is not structured into phylogenetic subspecies ('races'), nor are the taxa of the standard anthropological 'racial' classifications breeding populations. The 'racial taxa' do not meet the phylogenetic criteria. 'Race' denotes socially constructed units as a function of the incorrect usage of the term."
  12. Harrison, Guy (2010). Race and Reality. Amherst, New York: Prometheus Books 
  13. Roberts, Dorothy (2011). Fatal Invention. London / New York: The New Press 
  14. Fuentes, Agustín (9 de abril de 2012). «Race Is Real, but not in the way Many People Think». Psychology Today 
  15. The Royal Institution - panel discussion - What Science Tells us about Race and Racism. 16 de março de 2016. Arquivado do original em 11 de dezembro de 2021 
  16. a b Jorde, Lynn B.; Wooding, Stephen P. (2004). «Genetic variation, classification, and 'race'». Nature Research. Nature. 36 (11 Suppl): S28–S33. ISSN 1476-4687. PMID 15508000. doi:10.1038/ng1435Acessível livremente 
  17. White, Michael. «Why Your Race Isn't Genetic». Pacific Standard. Consultado em 13 de dezembro de 2014 
  18. Bryc, Katarzyna; Durand, Eric Y.; Macpherson, Michael; Reich, David; Mountain, Joanna L. (8 de janeiro de 2015). «The Genetic Ancestry of African Americans, Latinos, and European Americans across the United States» (PDF). Cell Press em nome da Sociedade Americana de Genética Humana]]. American Journal of Human Genetics. 96 (1): 37–53. ISSN 0002-9297. PMC 4289685Acessível livremente. PMID 25529636. doi:10.1016/j.ajhg.2014.11.010. Consultado em 1 de junho de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 10 de maio de 2022 
  19. Zimmer, Carl (24 de dezembro de 2014). «White? Black? A Murky Distinction Grows Still Murkier». The New York Times. Consultado em 24 de dezembro de 2014 
  20. a b Lieberman, L.; Kaszycka, K. A.; Martinez Fuentes, A. J.; Yablonsky, L.; Kirk, R. C.; Strkalj, G.; Wang, Q.; Sun, L. (dezembro de 2004). «The race concept in six regions: variation without consensus». Collegium Antropologicum. 28 (2): 907–921. PMID 15666627 
  21. Graves 2001, p. [falta página]
  22. Keita et al. 2004
  23. AAPA 1996, p. 714 "Pure races, in the sense of genetically homogeneous populations, do not exist in the human species today, nor is there any evidence that they have ever existed in the past."
  24. a b «Race2». Oxford Dictionaries. Oxford University Press. Consultado em 5 de outubro de 2012. Arquivado do original em 6 de setembro de 2015  Provides 8 definitions, from biological to literary; only the most pertinent have been quoted.
  25. Keita et al. 2004. "Many terms requiring definition for use describe demographic population groups better than the term 'race' because they invite examination of the criteria for classification."
  26. a b Zimmer, Carl (14 de março de 2023). «Guidelines Warn Against Racial Categories in Genetic Research». The New York Times. ISSN 0362-4331. Consultado em 17 de abril de 2023 
  27. S O Y Keita, R A Kittles, C D M Royal, G E Bonney, P Furbert-Harris, G M Dunston & C N Rotimi, 2004 "Conceptualizing human variation" in Nature Genetics 36, S17 - S20 Conceitualizando a variedade humana
  28. Por exemplo, esta declaração que expressa o ponto de vista oficial da American Anthropological Association em seu websítio: "Evidências obtidas com a análise genética (p.ex., DNA) indicam que a maioria das variações físicas originam-se dentro dos assim chamados grupos 'raciais'. Isto significa que há uma variação muito maior dentro de grupos 'raciais' do que entre eles."
  29. Thompson, William; Joseph Hickey (2005). Society in Focus. Boston, MA: Pearson. 0-205-41365-X 
  30. Daniel A. Segal 'The European': Allegories of Racial Purity Anthropology Today, Vol. 7, No. 5 (Out., 1991), pp. 7-9 doi:10.2307/3032780
  31. Bindon, Jim. University of Alabama. "Post World War II". 2005. 28 de Agosto de 2006.
  32. a b Is Race Real?
  33. O Uso da Variável “Raça” na Pesquisa em Saúde
  34. Luigi Luca Cavalli-Sforza, a giant in population genetics and professor emeritus, dies at 96
  35. "Raças não existem. Trata-se de um conceito inventado", garante o geneticista Sérgio Pena
  36. Is Race Real?
  37. The Origins and Demise of the Concept of Race Charles Hirschman Population and Development Review Vol. 30, No. 3 (Sep., 2004), pp. 385-415
  38. John P. Jackson, Nadine M. Weidman. Race, Racism, and Science: Social Impact and Interaction. Rutgers University Press; None edition (29 de setembro de 2005)
  39. Historical Origins of the One-Drop Racial Rule in the United States
  40. a b Evelyn Glenn. Shades of Difference: Why Skin Color Matters. Stanford University Press; 1 edição (2009)
  41. The Tragedy of the One-Drop Rule
  42. Bruce Baum. The Rise and Fall of the Caucasian Race: A Political History of Racial Identity
  43. NATION, TRIBE AND ETHNIC GROUP IN AFRICA
  44. MAGNOLI, Demétrio. Uma Gota de Sangue, Editora Contexto 2008 (2008)
  45. Levine-Rasky, Cynthia. 2002. "Working through whiteness: international perspectives. SUNY Press (p. 73) " 'Money whitens' If any phrase encapsulates the association of whiteness and the modern in Latin America, this is it. It is a cliché formulated and reformulated throughout the region, a truism dependent upon the social experience that wealth is associated with whiteness, and that in obtaining the former one may become aligned with the latter (and vice versa)."
  46. Emily Nix, Nancy Qian .The Fluidity of Race: "Passing" in the United States, 1880-1940. NBER WORKING PAPER SERIES. 2015.
  47. a b Mara Loveman. National Colors: Racial Classification and the State in Latin America. Oxford University Press; 1 edition (7 de julho de 2014)
  48. a b Bolivia's census omits 'mestizo' as category
  49. Antonio Risério. A utopia brasileira e os movimentos negros. Editora: Editora 34; Edição: 2 (1 de janeiro de 2012)
  50. The "One-Drop" Rule and Racial Identification By Whites, Blacks, and Native Americans
  51. I'm white in Barcelona but in Los Angeles I'm Hispanic?
  52. Why Labeling Antonio Banderas A 'Person Of Color' Triggers Such A Backlash
  53. «Powered by Google Docs» (PDF). Consultado em 21 de setembro de 2012 
  54. Bleich, Erik (1 de maio de 2001). «Race Policy in France | Brookings Institution». Brookings.edu. Consultado em 21 de março de 2013 
  55. Race Policy in France
  56. a b c Marks 2008
  57. Ver:
  58. Keita et al. 2004. "Religious, cultural, social, national, ethnic, linguistic, genetic, geographical and anatomical groups have been and sometimes still are called 'races'"
  59. Kennedy, Rebecca F. (2013). «Introduction». Race and Ethnicity in the Classical world: An Anthology of Primary Sources in Translation. [S.l.]: Hackett Publishing Company. ISBN 9781603849944 
  60. Bancel; David, Thomas; Thomas, Dominic, eds. (23 de maio de 2019). «Introduction: The Invention of Race: Scientific and Popular Representations of Race from Linnaeus to the Ethnic Shows». The Invention of Race: Scientific and Popular Representations. [S.l.]: Routledge. ISBN 9780367208646 
  61. a b Smedley 1999
  62. Meltzer 1993
  63. Takaki 1993
  64. Banton 1977
  65. For examples see:
  66. a b Race, Ethnicity, and Genetics Working Group (outubro de 2005). «The Use of Racial, Ethnic, and Ancestral Categories in Human Genetics Research». American Journal of Human Genetics. 77 (4): 519–532. PMC 1275602Acessível livremente. PMID 16175499. doi:10.1086/491747 
  67. Todorov 1993
  68. Brace 2005
  69. Slotkin 1965, p. 177.
  70. a b c Graves 2001
  71. Marks 1995
  72. Graves 2001
  73. Stocking 1968
  74. Hunt, James (24 de fevereiro de 1863). «Introductory address on the study of Anthropology». The Anthropological Review. 1: 3. ... we should always remember, that by whatever means the Negro, for instance, acquired his present physical, mental and moral character, whether he has risen from an ape or descended from a perfect man, we still know that the Races of Europe have now much in their mental and moral nature which the races of Africa have not got. 
  75. Desmond & Moore 2009
  76. Cela-Conde, Camilo J.; Ayala, Francisco J. (2007). Human Evolution Trails from the Past. [S.l.]: Oxford University Press 
  77. Lewin, Roger (2005). Human Evolution an illustrated introduction Fifth ed. [S.l.]: Blackwell Publishing 
  78. Stringer, Chris (2012). Lone Survivors: How We Came to Be the Only Humans on Earth. Londres: Times Books. ISBN 9780805088915 
  79. a b Cravens 2010
  80. Currell & Cogdell 2006
  81. Hirschman, Charles (2004). «The Origins and Demise of the Concept of Race». Population and Development Review. 30 (3): 385–415. ISSN 1728-4457. doi:10.1111/j.1728-4457.2004.00021.x 
  82. See:
  83. See:
  84. See:
  85. Wilson & Brown 1953
  86. a b Goodman, A. H. (novembro de 2000). «Why genes don't count (for racial differences in health)». American Journal of Public Health. 90 (11): 1699–1702. ISSN 0090-0036. PMC 1446406Acessível livremente. PMID 11076233. doi:10.2105/ajph.90.11.1699 
  87. See:
  88. Haig et al. 2006
  89. Templeton 1998
  90. Templeton 1998 "Genetic surveys and the analyses of DNA haplotype trees show that human 'races' are not distinct lineages, and that this is not due to recent admixture; human 'races' are not and never were 'pure'."
  91. Relethford, John H. (23 de fevereiro de 2017). «Biological Anthropology, Population Genetics, and Race». In: Zack, Naomi. The Oxford Handbook of Philosophy and Race. [S.l.: s.n.] ISBN 978-0-19-023695-3. doi:10.1093/oxfordhb/9780190236953.013.20 
  92. Wright 1978
  93. See:
  94. a b «AABA Statement on Race & Racism». physanth.org 
  95. Andreasen 2000
  96. Marks 2008, p. 28–29.
  97. a b Templeton 2013.
  98. Marks 2008.
  99. a b Lieberman & Jackson 1995
  100. Brace & Montagu 1965, p. [falta página].
  101. Brace 2000, p. 301.
  102. a b Livingstone & Dobzhansky 1962
  103. Ehrlich & Holm 1964
  104. Weiss 2005
  105. Marks 2002
  106. Boyd 1950
  107. Lieberman & Kirk 1997
  108. Molnar 1992
  109. Human Genome Project 2003
  110. Pigliucci, Massimo; Kaplan, Jonathan (dezembro de 2003). «On the Concept of Biological Race and Its Applicability to Humans». Philosophy of Science. 70 (5): 1161–1172. doi:10.1086/377397 
  111. Walsh, Anthony; Yun, Ilhong (outubro de 2011). «Race and Criminology in the Age of Genomic Science». Social Science Quarterly. 92 (5): 1279–1296. doi:10.1111/j.1540-6237.2011.00818.x 
  112. Bamshad et al. 2004.
  113. Lewontin 1972.
  114. Long 2009, p. 802.
  115. Hunley, Keith L.; Cabana, Graciela S.; Long, Jeffrey C. (1 de dezembro de 2015). «The apportionment of human diversity revisited». American Journal of Physical Anthropology. 160 (4): 561–569. ISSN 1096-8644. PMID 26619959. doi:10.1002/ajpa.22899Acessível livremente 
  116. Romualdi, Chiara; Balding, David; Nasidze, Ivane S.; Risch, Gregory; Robichaux, Myles; Sherry, Stephen T.; Stoneking, Mark; Batzer, Mark A.; Barbujani, Guido (abril de 2002). «Patterns of human diversity, within and among continents, inferred from biallelic DNA polymorphisms». Genome Research. 12 (4): 602–612. ISSN 1088-9051. PMC 187513Acessível livremente. PMID 11932244. doi:10.1101/gr.214902 
  117. Edwards 2003
  118. Dawkins, Richard; Wong, Yan (2005). The Ancestor's Tale: A Pilgrimage to the Dawn of Evolution. [S.l.]: Houghton Mifflin Harcourt. pp. 406–407. ISBN 978-0-61-861916-0 
  119. See:
  120. Tang et al. 2005.
  121. Mountain & Risch 2004
  122. Gitschier 2005
  123. a b Witherspoon et al. 2007
  124. Brace 2005
  125. Kaplan, Jonathan Michael (Janeiro 2011) "'Race': What Biology Can Tell Us about a Social Construct". In: Encyclopedia of Life Sciences (ELS). John Wiley & Sons, Ltd: Chichester
  126. Kaplan, Jonathan Michael; Winther, Rasmus Grønfeldt (2014). «Realism, Antirealism, and Conventionalism About Race». Philosophy of Science. 81 (5): 1039–1052. doi:10.1086/678314 
  127. Winther, Rasmus Grønfeldt (2015). «The Genetic Reification of 'Race'?: A Story of Two Mathematical Methods» (PDF). Critical Philosophy of Race. 2 (2): 204–223 
  128. Kaplan & Winther (2013).
  129. Graves, Joseph (7 de junho de 2006). «What We Know and What We Don't Know: Human Genetic Variation and the Social Construction of Race». Race and Genomics 
  130. Weiss, K. M.; Fullerton, S. M. (2005). «Racing around, getting nowhere». Evolutionary Anthropology. 14 (5): 165–169. doi:10.1002/evan.20079 
  131. Mills, C. W. (1988). «But What Are You Really? The Metaphysics of Race». Blackness visible: essays on philosophy and race. Ithaca, New York: Cornell University Press. pp. 41–66 
  132. «The Genetic Reification of "Race"? A story of two mathematical methods» (PDF). Consultado em 15 de janeiro de 2020 
  133. Gannett, Lisa (setembro de 2014). «Biogeographical ancestry and race». Studies in History and Philosophy of Science Part C: Studies in History and Philosophy of Biological and Biomedical Sciences. 47: 173–184. PMID 24989973. doi:10.1016/j.shpsc.2014.05.017 
  134. Barbujani 2005.
  135. Hunley, Keith L.; Healy, Meghan E.; Long, Jeffrey C. (18 de fevereiro de 2009). «The global pattern of gene identity variation reveals a history of long-range migrations, bottlenecks, and local mate exchange: Implications for biological race» (PDF). American Journal of Physical Anthropology. 139 (1): 35–46. PMID 19226641. doi:10.1002/ajpa.20932 
  136. «New Ideas, New Fuels: Craig Venter at the Oxonian». FORA.tv. 3 de novembro de 2008. Consultado em 18 de abril de 2009. Arquivado do original em 22 de janeiro de 2009 
  137. Palmié 2007.
  138. Mevorach 2007.
  139. Perry, Imani (2011). More Beautiful and More Terrible: The Embrace and Transcendence of Racial Inequality in the United States. New York: New York University Press 
  140. Perry, Imani (2011). More Beautiful and More Terrible: The Embrace and Transcendence of Racial Inequality in the United States. New York: New York University Press 
  141. Ford, Richard T. (2005). Racial Culture: A Critique. [S.l.]: Princeton University Press. pp. 117–118, 125–128. ISBN 0691119600 
  142. Parra, F. C.; Amado, R. C.; Lambertucci, J. R.; Rocha, J.; Antunes, C. M.; Pena, S. D. (janeiro de 2003). «Color and genomic ancestry in Brazilians». Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. 100 (1): 177–182. Bibcode:2003PNAS..100..177P. PMC 140919Acessível livremente. PMID 12509516. doi:10.1073/pnas.0126614100Acessível livremente 
  143. Salek, Silvia (10 de julho de 2007). «BBC delves into Brazilians' roots». BBC News. Consultado em 13 de julho de 2009 
  144. Ribeiro, Darcy (2008). O Povo Brasileiro 4th reprint ed. [S.l.]: Companhia de Bolso 
  145. Levine-Rasky, Cynthia, ed. (2002). Working through whiteness: international perspectives. [S.l.]: SUNY Press. ISBN 9780791453407 
  146. Ramos, Arthur (2003). A mestiçagem no Brasil. Maceió, Brazil: EDUFAL. ISBN 978-85-7177-181-9 
  147. Whitaker, Arthur P. (1984). Argentina. Hoboken, New Jersey: Prentice Hall , Cited in «Yale immigration study». Yale University 
  148. Venâncio, Renato Pinto (2000). «Presença portuguesa: de colonizadores a imigrantes». Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE , Relevant extract available here: «território brasileiro e povoamento» [Brazilian territory and settlement]. IBGE. Consultado em 16 de outubro de 2021 
  149. «European Union Directives on the Prohibition of Discrimination». HumanRights.is. Icelandic Human Rights Centre. Arquivado do original em 24 de julho de 2012 
  150. a b Bell 2009, p. [falta página].
  151. Sexton, Jared (2008). Amalgamation Schemes. [S.l.]: University of Minnesota Press 
  152. Nobles 2000
  153. «Revisions to the Standards for the Classification of Federal Data on Race and Ethnicity». Office of Management and Budget. 30 de outubro de 1997. Consultado em 19 de março de 2009. Arquivado do original em 15 de março de 2009  Also: U.S. Census Bureau Guidance on the Presentation and Comparison of Race and Hispanic Origin Data Arquivado em 2019-04-08 no Wayback Machine and B03002. Hispanic or Latino Origin by Race. 2007 American Community Survey 1-Year Estimates Arquivado em 1996-12-27 no Wayback Machine
  154. Horsman, Reginald (1981). Race and Manifest Destiny: The Origins of American Radial Anglo-Saxonism. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press 
  155. a b c Sauer 1992
  156. Larsen, Clark Spencer, ed. (2010). A Companion to Biological Anthropology. [S.l.]: Wiley-Blackwell. pp. 13, 26. ISBN 978-1-4051-8900-2 
  157. Lieberman, Kirk & Corcoran 2003.
  158. Wagner, Jennifer K.; Yu, Joon-Ho; Ifekwunigwe, Jayne O.; Harrell, Tanya M.; Bamshad, Michael J.; Royal, Charmaine D. (fevereiro de 2017). «Anthropologists' views on race, ancestry, and genetics». American Journal of Physical Anthropology. 162 (2): 318–327. PMC 5299519Acessível livremente. PMID 27874171. doi:10.1002/ajpa.23120 
  159. Štrkalj, Goran; Wang, Qian (2003). «On the Concept of Race in Chinese Biological Anthropology: Alive and Well» (PDF). University of Chicago Press. Current Anthropology. 44 (3): 403. doi:10.1086/374899. Consultado em 12 de novembro de 2013. Cópia arquivada (PDF) em 12 de novembro de 2013 
  160. Black & Ferguson 2011, p. 125.
  161. Štrkalj, Goran (2007). «The Status of the Race Concept in Contemporary Biological Anthropology: A Review» (PDF). The Anthropologist. 9 (1): 73–78. doi:10.1080/09720073.2007.11890983 
  162. Kaszycka, Katarzyna A.; Štrkalj, Goran; Strzalko, Jan (2009). «Current Views of European Anthropologists on Race: Influence of Educational and Ideological Background». American Anthropologist. 111 (1): 43–56. doi:10.1111/j.1548-1433.2009.01076.x 
  163. Hallinan, Christopher J. (março de 1994). «The presentation of human biological diversity in sport and exercise science textbooks: The example of 'race'». Journal of Sport Behavior 
  164. Rivara, Frederick P.; Finberg, Laurence (2001). «Use of the Terms Race and Ethnicity». Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine. 155 (2): 119. PMID 11177083. doi:10.1001/archpedi.155.2.119 
  165. «Social and Demographic Studies of Rance and Ethnicity in the United States». Grants1.NIH.gov. Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos. 16 de janeiro de 2003. PA-03-057. Cópia arquivada em 9 de novembro de 2014 
  166. Schwartz, Robert S. (3 de maio de 2001). «Racial Profiling in Medical Research». The New England Journal of Medicine. 344 (18): 1392–1393. PMID 11333999. doi:10.1056/NEJM200105033441810 
  167. Morning, Ann (2008). «Reconstructing Race in Science and Society: Biology Textbooks, 1952–2002». American Journal of Sociology. 114 (114 Suppl): S106–S137. doi:10.1086/592206 
  168. Morning, Ann (novembro de 2007). «'Everyone Knows It's a Social Construct': Contemporary Science and the Nature of Race». Sociological Focus. 40 (4): 436–454. doi:10.1080/00380237.2007.10571319 
  169. Gissis, S. (2008). «When is 'race' a race? 1946–2003». Studies in History and Philosophy of Science Part C: Studies in History and Philosophy of Biological and Biomedical Sciences. 39 (4): 437–450. PMID 19026975. doi:10.1016/j.shpsc.2008.09.006 
  170. Moscou, Susan (Junho de 2008). «The conceptualization and operationalization of race and ethnicity by health services researchers». Nursing Inquiry. 15 (2): 94–105. PMID 18476852. doi:10.1111/j.1440-1800.2008.00413.x 
  171. «Geneticists curb use of 'race'». Science. 374 (6572): 1177. 3 de dezembro de 2021 
  172. a b «Researchers Need to Rethink and Justify How and Why Race, Ethnicity, and Ancestry Labels Are Used in Genetics and Genomics Research, Says New Report». National Academies. 14 de março de 2023. Consultado em 17 de abril de 2023 
  173. Kaiser, Jocelyn (14 de março de 2023). «Geneticists should rethink how they use race and ethnicity, panel urges». Science. Online. doi:10.1126/science.adh7982 
  174. a b c d Frazier, E. Franklin (1947). «Sociological Theory and Race Relations». American Sociological Review. 12 (3): 265–271. JSTOR 2086515. doi:10.2307/2086515 
  175. a b c Appelrouth, Scott; Edles, Laura Desfor (2016). Classical and Contemporary Sociological Theory. Thousand Oaks, California: Sage Publishing. ISBN 9781452203621 
  176. Cooley, Charles H. (maio de 1897). «Genius, Fame and the Comparison of Races». American Academy of Political and Social Science. 9 (3): 1–42. doi:10.1177/000271629700900301 – via Brock University  Republished as: Jacoby; Glauberman, eds. (1995). «Genius, Fame, and Race». The Bell Curve Debate: History, Documents, Opinions. Toronto: Random House. pp. 417–437 
  177. a b c Fitzgerald, Kathleen J. (2014). Recognizing Race and Ethnicity: Power, Privilege, and Inequality. Boulder, Colorado: Westview Press 
  178. Wilson, William Julius (1978). «The Declining Significance of Race: Blacks and Changing American Institutions». In: Grusky, David B. Social Stratification: Class, Race, and Gender in Sociological Perspective. Boulder, Colorado: Westview Press. pp. 765–776 
  179. a b Omi, Michael; Winant, Howard (2014). «Racial Formation in the United States». In: Grusky, David B . Social Stratification: Class, Race, and Gender in Sociological Perspective 4th ed. Boulder, Colorado: Westview Press. ISBN 9780813346717 
  180. Rothenberg, P. S. Race, Class, and Gender in the United States (text only) 7th ed. [S.l.: s.n.] 
  181. a b Bonilla-Silva, Eduardo (2006). Racism Without Racists 2nd ed. [S.l.]: Rowman and Littlefield 
  182. Risch et al. 2002
  183. a b Condit, Celeste; Templeton, Alan; Bates, Benjamin R.; Bevan, Jennifer L.; Harris, Tina M. (setembro de 2003). «Attitudinal barriers to delivery of race-targeted pharmacogenomics among informed lay persons». Genetics in Medicine. 5 (5): 385–392. PMID 14501834. doi:10.1097/01.GIM.0000087990.30961.72Acessível livremente 
  184. Lee, Catherine (março de 2009). «'Race' and 'ethnicity' in biomedical research: How do scientists construct and explain differences in health?». Social Science & Medicine. 68 (6): 1183–1190. PMID 19185964. doi:10.1016/j.socscimed.2008.12.036 
  185. Graves 2011
  186. Fullwiley 2011
  187. Harpending 2006, p. 458 "On the other hand, information about the race of patients will be useless as soon as we discover and can type cheaply the underlying genes that are responsible for the associations. Can races be enumerated in any unambiguous way? Of course not, and this is well known not only to scientists but also to anyone on the street."
  188. Lee et al. 2008
  189. Kahn 2011, p. 132.Cooper, Richard; Wolf-Maier, Katharina; Luke, Amy; Adeyemo, Adebowale; Banegas, José R.; Forrester, Terrence; Giampaoli, Simona; Joffres, Michel; Kastarinen, Mika; Primatesta, Paola; Stegmayr, Birgitta; Thamm, Michael (5 de janeiro de 2005). «An International Comparative Study of Blood Pressure in Populations of European vs. African Descent». BMC Medicine. 3 (2): 2. PMC 545060Acessível livremente. PMID 15629061. doi:10.1186/1741-7015-3-2Acessível livremente 
  190. Bleich, Erik (1 de maio de 2001). «Race Policy in France». The Brookings Institution 
  191. «Race | Boundless Sociology». courses.lumenlearning.com. Consultado em 6 de julho de 2019 
  192. Alexander 2010, p. 13.
  193. Alexander 2010, p. 12.
  194. Dichter, M. E.; Marcus, S. M.; Morabito, M. S.; Rhodes, K. V. (2011). «Explaining the IPV arrest decision: Incident, agency, and community factors». Criminal Justice Review. 36: 22–39. doi:10.1177/0734016810383333 
  195. Abraham 2009
  196. Willing 2005
  197. Kennedy 1995
  198. Konigsberg, Lyle W.; Algee-Hewitt, Bridget F. B.; Steadman, Dawnie Wolfe (1 de maio de 2009). «Estimation and evidence in forensic anthropology: Sex and race». American Journal of Physical Anthropology. 139 (1): 77–90. ISSN 1096-8644. PMID 19226642. doi:10.1002/ajpa.20934 
  199. Brace, C. Loring (1995). «Region Does not Mean 'Race': Reality Versus Convention in Forensic Anthropology». Journal of Forensic Sciences. 40 (2): 171–175. doi:10.1520/JFS15336J 
  200. Relethford, John H. (11 de julho de 2002). «Apportionment of global human genetic diversity based on craniometrics and skin color» (PDF). American Journal of Physical Anthropology. 118 (4): 393–398. PMID 12124919. doi:10.1002/ajpa.10079. Consultado em 25 de outubro de 2017. Cópia arquivada (PDF) em 26 de outubro de 2017 
  201. Relethford, John H. (18 de fevereiro de 2009). «Race and global patterns of phenotypic variation». American Journal of Physical Anthropology. 139 (1): 16–22. PMID 19226639. doi:10.1002/ajpa.20900 
  202. Ousley, Jantz & Freid 2009
  203. Sesardic 2010
  204. Pigliucci 2013

Bibliografia

Ligações externas