Menés
Menés | ||||||||||||||||
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Faraó do Egito | ||||||||||||||||
Antecessor(a) | Narmer? | |||||||||||||||
Sucessor(a) | Atótis? | |||||||||||||||
Dinastia | 0 | |||||||||||||||
Religião | Politeísmo egípcio | |||||||||||||||
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Menés (em árabe: مينا; em grego clássico: Μήνης;[1] egípcio: Meni) foi um faraó do Antigo Egito da Época Tinita, creditado pela tradição clássica como o unificador do Alto e Baixo Egito, e como o fundador da primeira dinastia.[2][3]
A identidade de Menés é um tema de debate em curso, embora o consenso geral dos egiptólogos[4][5][6] identifica Menés como o faraó protodinástico Narmer (também creditado como unificador do Egito) como o primeiro faraó, evidenciado por diferentes titulaturas reais nos registros históricos e arqueológicos, respectivamente.
Nome e identidade[editar | editar código-fonte]
O comumente usado Menés deriva de Manetão,[3] um historiador egípcio e sacerdote que viveu durante o período ptolomaico. Manetão usou o nome na forma Μήνης (transliterado: Mênês).[1][7] Na forma grega alternativa, Μιν (transliterado: Min) foi citado pelo historiador Heródoto no século V a.C.,[8][9] uma variante não muito considerada em resultado da contaminação a partir do nome do deus Mim.[10] Eusébio de Cesareia identifica o Mim de Heródoto com o Menés de Manetão.[3] A forma egípcia, Meni, é tomado pela listas reais de Turim e Abidos (datadas da XIX dinastia).[7]
O nome, Menés, significa "Aquele que persevera", que, Edwards (1971) sugere, pode ter sido cunhado como "um mero epíteto descritivo denotando um semi-legendário herói [...] cujo nome havia sido perdido".[1] Em vez de uma pessoa em particular, o nome pode ocultar coletivamente os faraós protodinásticos Ka, Escorpião II e Narmer.[1]
Menés e Narmer[editar | editar código-fonte]
A quase completa ausência de qualquer menção de Menés no registro arqueológico,[1] e a comparável riqueza de evidências de Narmer, uma figura protodinástica creditada por descendentes e no registro arqueológico como um firme reivindicador[5] da unificação do Alto e Baixo Egito, tendo dado origem para a teoria de que identifica Menés como Narmer.
A principal referência arqueológica de Menés é uma placa de marfim de Nacada que mostra o nome Hórus real Aha (o faraó Atótis) próximo a um edifício, dentro do qual está o nome nebty real mn,[11] geralmente tomado como sendo Menés.[1][12] Disto, várias teorias sobre a natureza do edifício (uma cabine funerária ou um santuário), o significado da palavra mn (um nome ou um verbo perdura) e a relação entre Atótis e Menés (como uma pessoa ou um faraó sucessor) tem surgido.[4]
As listas reais de Turim e Abidos, geralmente aceitas como sendo corretas,[4] listam os nomes nebty dos faraós, não seus nomes de Hórus, e são vitais para a reconciliação de vários registros: os nomes nebty na listas reais, os nomes de Hórus nos registros arqueológicos e o número de faraós da I dinastia de acordo com Manetão e outras fontes históricas.[5]
Petrie fez a primeira tentativa para esta tarefa, associando Iti com Quenquenés como o terceiro faraó da I dinastia, Teti (Turim) (ou outro Iti [Abidos]) com Atótis como segundo faraó, e Menés (um nome nebti) com Narmer (um nome Hórus) como primeiro faraó da I dinastia.[4] Lloyd (1994) achou esta sucessão "extremamente provável",[5] e Cervelló-Autuori (2003), categoricamente afirma que "Menés é Narmer e a Primeira Dinastia começou com ele".[6]
História[editar | editar código-fonte]
A antiga tradição atribui a Menés a honra de ter unido o Alto e Baixo Egito em um único reino[7][13] e tornando-se o primeiro faraó da I dinastia.[14] No entanto, seu nome não aparece existentes peças dos Anais Reais (Pedra do Cairo e Pedra de Palermo), que é uma lista real fragmentada que foi esculpida numa estela da V dinastia. Ele tipicamente aparece fontes mais tardias como o primeiro humano a governar o Egito, diretamente herdando o trono do deus Hórus.[15] Ele também aparece em outra, muito mais tardia, lista real, sempre como o primeiro faraó humano do Egito. Menés também aparece em romances demóticos do período greco-romano, demonstrando que, mesmo que tardiamente, ele foi considerado uma figura importante.[16]
Menés foi visto como uma figura fundadora por grande parte da história do Antigo Egito, similar a Rômulo na Roma Antiga.[17] Manetão registra que Menés reinou por 30 (ou 60) anos, levou o exército transversalmente na fronteira e ganhou grande glória, e foi morto por um hipopótamo.[14] Ele foi sucedido por seu filho Atótis, que construiu o palácio de Mênfis.[3]
Capital[editar | editar código-fonte]
Manetão associou a cidade de Tinis com as primeiras dinastias (Dinastia I e II) e, em particular, Menés, um "tinita" ou nativo de Tinis.[3][14] Heródoto contradiz Manetão ao afirmar que Menés fundou a cidade de Mênfis como sua capital[9] após desviar o curso do rio Nilo através da construção de um dique.[18] Manetão atribui a construção de Mênfis para o filho de Menés, Atótis,[14] e chama os faraós da III dinastia como "menfitas".[19] No entanto é pouco provável que apenas durante o reinado do sucessor de Menés, a capital tenha sido transferida para Mênfis, pois, sua localização possibilitaria um mais eficiente controle sobre o recém-incorporado Baixo Egito assim como das rotas comerciais com o Oriente Próximo.[20]
Eusébio de Cesareia, ao comentar a cronologia de Manetão, observa que a duração total dos reinos egípcios é muito longa, e sugere que as várias dinastias de Manetão poderiam ter reinado ao mesmo tempo, em diversas partes do Egito, com reis em Tinis, Mênfis, Saís e na Etiópia.[21]
Locais como Hieracômpolis e Nacada, por sua importância durante o período pré-dinástico, receberam templos. Da mesma forma, Abidos foi mantida como necrópole da I dinastia.[20]
Influência cultural[editar | editar código-fonte]
Diodoro Sículo afirma que Menés introduziu a adoração dos deuses e a prática de sacrifícios tão bem quanto um mais elegante e luxuoso estilo de vida.[22]
Por esta última invenção, a memória de Menés foi desonrada pelo faraó da XXIV Dinastia Tefnacte, e Plutarco menciona um pilar de Tebas sob o qual foi inscrito uma maldição contra Menés como o introdutor da ostentação.[22]
Episódio do crocodilo[editar | editar código-fonte]
Diodoro Sículo recorda uma história de Menés,[23] relatada pelos sacerdotes do deus crocodilo Suco de Crocodilópolis, em que o faraó Menés, atacado por seus próprios enquanto caçava, fugiu atravessando o lago Moéris nas costas de um crocodilo e, em agradecimento, fundou a cidade de Crocodilópolis.[24][25][26]
Edwards (1974) afirma que "a lenda, que está, obviamente, cheia de anacronismos, é manifestamente desprovida de valor histórico",[26] mas Mastepo (1910), embora reconhecendo a possibilidade de que as tradições relativas a outros reis podem ter-se misturado com essa história, rejeita a sugestão de alguns comentadores[27] de que a história deve ser transferida para o faraó Amenemés III} da XII dinastia e não vê nenhuma razão para duvidar de que Diodoro não registrou corretamente uma tradição de Menés.[24]
Joseph (2004) interpreta a história como uma alegoria para a vitória de Menés e seus aliados em sua guerra de unificação, e em que os inimigos de Menés são simbolizados insultuosamente como os cães.[25]
Faber (1816), tendo a palavra campsa o significado tanto de crocodilo como arca e preferindo este último, identifica Menés como Noé e toda a história como um mito do dilúvio.[28]
Morte[editar | editar código-fonte]
Segundo Manetão, Menés reinou por 30 (ou 60 anos) e foi morto por um hipopótamo.[3][14][29]
Outros usos[editar | editar código-fonte]
Alguns estudiosos afirmam que o nome do rei Minos quem governou a Antiga Creta é derivado de Menés assim como os nomes Tsar, Cáisere "Czar" são derivados de César.[30] Como não há nenhuma menção de Menés nos registros arqueológicos egípcios, é também possível que seu nome foi derivado de Minos.
Na cultura popular[editar | editar código-fonte]
Alexander Dow (1735/6-1779), um dramaturgo e orientalista escocês, escreveu a tragédia Sethona, situada no Antigo Egito, em que o personagem principal, Menés, é descrito na dramatis personæ como "próximo herdeiro masculino para a coroa" agora usada por Serápis, e foi interpretado por Samuel Reddish em uma produção de 1774 por David Garrick no Teatro Drury Lane.[31]
Referências
- ↑ a b c d e f g Edwards 1971: 11
- ↑ Beck et al. 1999
- ↑ a b c d e f Manetão, citado por Eusébio de Cesareia, Crônica, A partir dos registros de Manetão, que compôs um trabalho em três volumes sobre os deuses, semi-deuses, espíritos e reis mortais que governaram o Egito, até o persa Dario, 45, 1a Dinastia, Menés de Tinis e seus sete descendentes [em linha]
- ↑ a b c d Edwards 1971: 13
- ↑ a b c d Lloyd 1994: 7
- ↑ a b Cervelló-Autuori 2003: 174
- ↑ a b c Etheredge 2008
- ↑ Heródoto, Histórias, Livro II, Euterpe, 4 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ a b Heródoto, Histórias, Livro II, Euterpe, 99 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ Lloyd 1994: 6
- ↑ Gardiner 1961: 405
- ↑ Originalmente, o título real completo de um faraó era nome de Hórus "x" nome nebty "y". Para abreviar, apenas um elemento pode ser usado, mas a escolha varia entre as circunstâncias e o período. Na I dinastia, o nome de Hórus foi usado por um faraó vivo, o nome nebty por um morto. (Lloyd 1994: 7)
- ↑ Maspero 1903: 331
- ↑ a b c d e Verbrugghe and Wickersham 2001: 131
- ↑ Shaw and Nicholson 1995: 218
- ↑ Ryholt 2009
- ↑ Manley 1997: 22
- ↑ Herodotus: 2.109
- ↑ Verbrugghe and Wickersham 2001: 133
- ↑ a b Narmer II
- ↑ Manetão, citado por Eusébio de Cesareia, Crônica, 44, A partir dos registros de Manetão, que compôs um trabalho em três volumes sobre os deuses, semi-deuses, espíritos e reis mortais que governaram o Egito, até o persa Dario
- ↑ a b Elder 1849: 1040
- ↑ Diodoro (n.d.): 45
- ↑ a b Maspero 1910: 235
- ↑ a b Joseph 2004: 99
- ↑ a b Edwards 1974: 22
- ↑ e.g. Elder 1849: 1040: in defiance of chronology
- ↑ Faber 1816: 195
- ↑ Sayce and Gibbon 1906: 15
- ↑ R.Wunderlich.The secret of Creta".Efstathiadis group. Athens 1987 p. 171
- ↑ Dow 1774
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
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- Maspero, Gaston; Sayce, Archibald Henry (ed.); McClure, M. L. (trans.) (1910) [1894]. The dawn of civilization: Egypt and Chaldæa. London: Society for Promoting Christian Knowledge. ISBN 9780766177741
- Manley, Bill (1997). The Penguin Historical Atlas of Ancient Egypt. London: Penguin. ISBN 0140513310
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- Waddell, L. A. (1930). Egyptian civilization: Its Sumerian origin. London: n.p. ISBN 9780766142732
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Narmer: Titulary
- The Contendings of Horus and Seth
- Image of Menes on Aldokkan Ancient Egyptian Civilization
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