Muro de Berlim
Muro de Berlim Berliner Mauer | |
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Grafites sobre o Muro de Berlim em 1986. Mapa do traçado do Muro de Berlim. | |
Tipo | fortificação fronteiriça, imóvel desaparecido, atração turística, linha defensiva, separation barrier |
Início da construção | 13 de agosto de 1961 |
Página oficial | https://www.berlin.de/mauer/ |
Altura | 3,60 metro |
Estado de conservação | Destruído a partir de 9 de novembro de 1989 (ver Reunificação da Alemanha) |
Geografia | |
País | Alemanha Oriental |
Cidade | Berlim Oriental |
Coordenadas | 52° 30′ 58″ N, 13° 22′ 36,98″ L |
Localização em mapa dinâmico |
Muro de Berlim (em alemão: Berliner Mauer), nomeado oficialmente Muro de Proteção Antifascista (em alemão: Antifaschistischer Schutzwall) em 1961 pelo SED,[1] foi uma barreira física construída pela Alemanha Oriental durante a Guerra Fria, que circundava toda a Berlim Ocidental. Era parte da fronteira interna alemã. Este muro, além de dividir a cidade de Berlim ao meio, simbolizava a divisão do mundo em dois blocos ou partes: República Federal da Alemanha (RFA), que era constituído pelos países capitalistas encabeçados pelos Estados Unidos; e a República Democrática Alemã (RDA), constituído pelos países socialistas sob jugo do regime soviético. Construído na madrugada de 13 de agosto de 1961, dele faziam parte 66,5 km de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 127 redes metálicas electrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Este muro era patrulhado por militares da Alemanha Oriental Socialista com ordens de atirar para matar (a célebre Schießbefehl ou "Ordem 101") os que tentassem escapar, o que provocou a separação de dezenas de milhares de famílias berlinenses.[2]
A distinta e muito mais longa fronteira interna alemã demarcava a fronteira entre a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental. Ambas as fronteiras passaram a simbolizar a chamada "cortina de ferro" entre a Europa Ocidental e o Bloco de Leste. Antes da construção do Muro, 3,5 milhões de alemães orientais tinham evitado as restrições de emigração do Leste socialista e fugiram para a Alemanha Ocidental, muitos ao longo da fronteira entre Berlim Oriental e Ocidental. Durante sua existência, entre 1961 e 1989, o Muro quase parou todos os movimentos de emigração e separou a Alemanha Oriental de Berlim Ocidental por mais de um quarto de século.[3]
Durante uma onda revolucionária de libertação ao comando de Moscou que varreu o Bloco de Leste, o governo da Alemanha Oriental anunciou em 9 de novembro de 1989, após várias semanas de distúrbios civis, que todos os cidadãos da RDA poderiam visitar a Alemanha Ocidental Capitalista e Berlim Ocidental. Multidões de alemães orientais subiram e atravessaram o muro juntando-se aos alemães ocidentais do outro lado, em uma atmosfera de celebração. Ao longo das semanas seguintes, partes do Muro foram destruídas por um público eufórico e por caçadores de souvenirs. Mais tarde, equipamentos industriais foram usados para remover quase o todo da estrutura. A queda do Muro de Berlim abriu o caminho para a reunificação alemã que foi formalmente celebrada em 3 de outubro de 1990. Muitos apontam este momento também como o fim da Guerra Fria. O governo de Berlim incentiva a visita do muro derrubado, tendo preparado a reconstrução de trechos do muro. Além da reconstrução de alguns trechos, está marcado no chão o percurso que o muro fazia quando estava erguido.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Alemanha pós-guerra
[editar | editar código-fonte]Após a Segunda Guerra Mundial na Europa, o que restou da Alemanha nazista a oeste da linha Oder-Neisse foi dividido em quatro zonas de ocupação (por Acordo de Potsdam), cada um controlado por uma das quatro potências aliadas: os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a União Soviética. A capital, Berlim, enquanto a sede do Conselho de Controle Aliado, foi igualmente dividida em quatro sectores, apesar da cidade estar situada bem no interior da zona soviética.[4]
Em dois anos, ocorreram divisões entre os soviéticos e as outras potências de ocupação, incluindo a recusa dos soviéticos aos planos de reconstrução para uma Alemanha pós-guerra autossuficiente e de uma contabilidade detalhada das instalações industriais e infraestrutura já removidas pelos soviéticos.[5] Reino Unido, França, Estados Unidos e os países do Benelux se reuniram para mais tarde transformar as zonas não-soviéticas do país em zonas de reconstrução e aprovar a ampliação do Plano Marshall para a reconstrução da Europa para a Alemanha.[6][7]
O Bloco de Leste e o Bloqueio de Berlim
[editar | editar código-fonte]Após a Segunda Guerra Mundial, o líder soviético Joseph Stalin construiu um cinturão protector da União Soviética em nações controladas em sua fronteira ocidental, o Bloco do Leste socialista, que então incluía Polónia, Hungria e Tchecoslováquia, que ele pretendia manter a par de um enfraquecido controle soviético na Alemanha.[8]
Já em 1945, Stalin revelou aos líderes alemães socialistas que esperava enfraquecer lentamente a posição Britânica em sua zona de ocupação, que os Estados Unidos iriam retirar sua ocupação dentro de um ano ou dois e que, em seguida, nada ficaria no caminho de uma Alemanha unificada sob controle socialista dentro da órbita soviética.[9]
A grande tarefa do Partido Comunista no poder na zona Soviética alemã foi abafar as ordens soviéticas através do aparelho administrativo e fingir para as outras zonas de ocupação que se tratavam de iniciativas próprias.[10] Nesse período, a propriedade e a indústria foram nacionalizadas na zona de ocupação Soviética.[11]
Em 1948, após desentendimentos sobre a reconstrução e uma nova moeda alemã, Stálin instituiu o Bloqueio de Berlim, impedindo que alimentos, materiais e suprimentos pudessem chegar a Berlim Ocidental.[12] Os Estados Unidos, Reino Unido, França, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e vários outros países começaram uma enorme "ponte aérea de Berlim", fornecendo alimentos e outros suprimentos à Berlim Ocidental.[13] Os soviéticos montaram uma campanha de relações públicas contra a mudança da política Ocidental e socialistas tentaram perturbar as eleições de 1948,[14] enquanto 300 mil berlinenses pediam para que o transporte aéreo internacional continuasse.[15] Em maio de 1949, Stalin acabou com o bloqueio, permitindo a retomada dos embarques do Ocidente para Berlim.[16][17]
A República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) foi declarada em 7 de outubro de 1949, onde o Ministério de Negócios Estrangeiros Soviético concedeu autoridade administrativa a Alemanha Oriental, mas não sua autonomia, onde os soviéticos possuíam ilimitada penetração no regime de ocupação e nas estruturas de administração e de polícia militar e secreta.[18][19] A Alemanha Oriental diferia da Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha), que se desenvolveu como um país Ocidental capitalista com uma economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft" em alemão) e um governo de democracia parlamentar. O crescimento económico contínuo a partir de 1950 da Alemanha Ocidental alimentou um "milagre económico" de 20 anos ("Wirtschaftswunder"). Enquanto a economia da Alemanha Ocidental cresceu e seu padrão de vida melhorou continuamente, muitos alemães orientais tentavam ir para a Alemanha Ocidental.
Depois da ocupação soviética da Europa Oriental no final da Segunda Guerra Mundial, a maioria das pessoas que viviam nas áreas recém-adquiridas do Bloco Oriental aspiravam à independência e queriam que os soviéticos saíssem.[20] Aproveitando-se da zona de fronteira entre as zonas ocupadas na Alemanha, o número de cidadãos da RDA que se deslocam para a Alemanha Ocidental totalizou 197 mil em 1950, 165 mil em 1951, 182 mil em 1952 e 331 mil em 1953.[21][22] Uma das razões para o aumento acentuado em 1953 foi o medo de Sovietização mais intensa com as ações cada vez mais paranóicas de Joseph Stalin em 1952 e no início de 1953.[23] 226 mil pessoas fugiram apenas nos primeiros seis meses de 1953.[24]
Histórico
[editar | editar código-fonte]Construção
[editar | editar código-fonte]Os planos da construção do muro eram um segredo do governo da Alemanha Socialista. Poucas semanas antes da construção, Walter Ulbricht, líder da RDA na época, respondeu assim à pergunta de uma jornalista da Alemanha Ocidental:[25]
Vou interpretar a sua pergunta da maneira que na Alemanha Ocidental existem pessoas que desejam que nós mobilizemos os trabalhadores da capital da RDA para construir um muro. Eu não sei nada sobre tais planos, sei que os trabalhadores na capital estão ocupados principalmente com a construção de apartamentos e que suas capacidades são inteiramente utilizadas. Ninguém tem a intenção de construir um muro!Original (em alemão): Ich verstehe Ihre Frage so, dass es Menschen in Westdeutschland gibt, die wünschen, dass wir die Bauarbeiter der Hauptstadt der DDR mobilisieren, um eine Mauer aufzurichten, ja ? Mir ist nicht bekannt, dass eine solche Absicht besteht ; da sich die Bauarbeiter in der Hauptstadt hauptsächlich mit Wohnungsbau beschäftigen und ihre Arbeitskraft voll eingesetzt wird. Niemand hat die Absicht, eine Mauer zu errichten !— Walter Ulbricht(em alemão)
Assim, Walter Ulbricht foi o primeiro político a referir-se a um muro, dois meses antes da sua construção.
Os governos ocidentais tinham recebido informações sobre planos drásticos, parcialmente por pessoas de conexão, parcialmente pelos serviços secretos. Sabia-se que Walter Ulbricht havia pedido a Nikita Khrushchov, numa conferência dos Estados do Pacto de Varsóvia, a permissão de bloquear as fronteiras a Berlim Ocidental, incluindo a interrupção de todas as linhas de transporte público.[26]
Depois desta conferência, anunciou-se que os membros do Pacto de Varsóvia intentassem inibir os actos de perturbação na fronteira de Berlim Ocidental, e que propusessem implementar um guarda e controle efectivo. Dia 11 de Agosto, a Volkskammer confirmou os resultados desta conferência, autorizando o conselho dos ministros a tomar as medidas necessárias. O conselho dos ministros decidiu dia 12 de Agosto usar as forças armadas para ocupar a fronteira e instalar gradeamentos fronteiriços.[27]
Na madrugada do dia 13 de Agosto de 1961, as forças armadas bloquearam as conexões de trânsito a Berlim Ocidental.[26] Eram apoiadas por forças soviéticas, preparadas à luta, nos pontos fronteiriços para os sectores ocidentais. Todas as conexões de trânsito ficaram interrompidas no processo (mas, poucos meses depois, linhas metropolitanas passavam pelos túneis orientais, mas não servindo mais as estações fantasma situadas no oriente).
"Mr. Gorbachev, tear down this wall!"
[editar | editar código-fonte]Em um discurso no Portão de Brandemburgo em comemoração ao 750º aniversário de Berlim[28] em 12 de junho de 1987, Ronald Reagan desafiou Mikhail Gorbachev, então Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética, para derrubar o muro como um símbolo de crescente liberdade no Bloco de Leste:
Damos as boas-vindas à mudança e à abertura, pois acreditamos que a liberdade e segurança caminham juntos, que o progresso da liberdade humana só pode reforçar a causa da paz no mundo. Há um sinal de que os soviéticos podem fazer que seria inconfundível, que faria avançar dramaticamente a causa da liberdade e da paz. Secretário Geral Gorbachev, se você procura a paz, se você procura prosperidade para a União Soviética e a Europa Oriental, se você procurar a liberalização, venha aqui para este portão. Sr. Gorbachev, abra o portão. Sr. Gorbachev, derrube esse muro![29]
Queda do Muro
[editar | editar código-fonte]O Muro de Berlim começou a ser derrubado na noite de 9 de Novembro de 1989 depois de 28 anos de existência. O evento é conhecido como a queda do muro. Antes da sua queda, houve grandes manifestações em que, entre outras coisas, se pedia a liberdade de viajar. Além disto, houve um enorme fluxo de refugiados ao Ocidente, pelas embaixadas da RFA, principalmente em Praga e Varsóvia, e pela fronteira recém-aberta entre a Hungria e a Áustria, perto do lago de Neusiedl.[30]
O impulso decisivo para a queda do muro foi um mal-entendido entre o governo da RDA. Na tarde do dia 9 de Novembro houve uma conferência de imprensa, transmitida ao vivo na televisão alemã-oriental. Günter Schabowski, membro do Politburo do SED, anunciou uma decisão do conselho dos ministros de abolir imediatamente e completamente as restrições de viagens ao Oeste. Esta decisão deveria ser publicada só no dia seguinte, para anteriormente informar todas as agências governamentais.[30]
Pouco depois deste anúncio houve notícias sobre a abertura do Muro na rádio e televisão ocidental. Milhares de pessoas marcharam aos postos fronteiriços e pediram a abertura da fronteira. Nesta altura, nem as unidades militares, nem as unidades de controle de passaportes haviam sido instruídas.[30]
Por causa da força da multidão, e porque os guardas da fronteira não sabiam o que fazer, a fronteira abriu-se no posto de Bornholmer Strasse, às 23h, mais tarde em outras partes do centro de Berlim, e na fronteira ocidental. Muitas pessoas viram a abertura da fronteira na televisão e pouco depois marcharam à fronteira. Como muitas pessoas já dormiam quando a fronteira se abriu, na manhã do dia 10 de Novembro havia grandes multidões de pessoas querendo passar pela fronteira.[30]
Os cidadãos da RDA foram recebidos com grande euforia em Berlim Ocidental. Muitas boates perto do Muro espontaneamente serviram cerveja gratuita, houve uma grande celebração na Rua Kurfürstendamm, e pessoas que nunca se tinham visto antes cumprimentavam-se. Cidadãos de Berlim Ocidental subiram o muro e passaram pelo Portão de Brandemburgo, que até então não eram acessíveis aos ocidentais. O Bundestag interrompeu as discussões sobre o orçamento, e os deputados espontaneamente cantaram o hino nacional da Alemanha.[30]
Reações
[editar | editar código-fonte]Alemanha ocidental
[editar | editar código-fonte]Ainda no mesmo dia da construção do muro, o chanceler da Alemanha ocidental, Konrad Adenauer, dirigiu-se à população pelo rádio, pedindo calma e anunciando reações ainda não definidas a serem colocadas junto com os aliados. Adenauer tinha visitado Berlim havia apenas duas semanas. O Prefeito de Berlim, Willy Brandt, protestou energicamente contra a construção do muro e a divisão da cidade, mas sem sucesso. No dia 16 de Agosto de 1961 houve uma grande manifestação com 300 000 participantes em frente do Schöneberger Rathaus, em Berlim Ocidental, para protestar contra o muro. Brandt participou nessa manifestação. Ainda em 1961, fundou-se em Salzgitter a Zentrale Erfassungsstelle der Landesjustizverwaltungen a fim de documentar violações dos direitos humanos no território da Alemanha Oriental.[30]
Aliados
[editar | editar código-fonte]As reações dos Aliados ocidentais vieram com grande demora. Vinte horas depois do começo da construção do muro apareceram as primeiras patrulhas ocidentais na fronteira. Demorou 40 horas para reservar todos os direitos em Berlim ocidental em frente do comandante soviético de Berlim Oriental.[30] Demorou até 72 horas para o protesto ser oficial em Moscou. Por causa desses atrasos sempre circulavam rumores que a União Soviética havia declarado aos aliados ocidentais de não afectar seus direitos em Berlim ocidental. Seguindo as experiências no Bloqueio de Berlim, os Aliados sempre consideravam Berlim ocidental em perigo, e a construção do muro manifestou esta situação.[30]
Reações internacionais, 1961:
- A solução não é muito linda, mas mil vezes melhor do que uma guerra. John F. Kennedy, presidente dos Estados Unidos.
- Os alemães orientais param o fluxo de refugiados e desculpam-se com uma cortina de ferro ainda mais densa. Isto não é ilegal. Harold Macmillan, primeiro-ministro britânico.
Contudo, o presidente norte-americano John F. Kennedy apoiou a ideia da cidade livre de Berlim. Mandou forças armadas suplementares e reactivou o general Lucius D. Clay. Dia 19 de Agosto 1961 chegaram a Berlim Clay e o vice-presidente dos Estados Unidos, Lyndon B. Johnson. Protestaram fortemente contra o chefe de estado da RDA, Walter Ulbricht, que havia declarado que as polícias popular e fronteiriça da RDA tivessem autoridade de controle sobre policias, oficiais e empregados dos aliados ocidentais. Finalmente até o comandante soviético na RDA mediou pedindo moderação do lado do governo alemão oriental.
Dia 27 de Outubro de 1961 houve um confronto perigoso entre tanques dos EUA e soviéticos ao lado do Checkpoint Charlie na rua Friedrich. Dez tanques norte americanos enfrentaram dez tanques soviéticos, mas todos se retiraram no dia seguinte. As duas forças não queriam deixar explodir a guerra fria, com o risco de uma guerra nuclear.
Estrutura e áreas adjacentes
[editar | editar código-fonte]O Muro de Berlim tinha mais de 140 quilômetros de comprimento. Em junho de 1962, uma segunda cerca paralela, também conhecida como parede "hinterland" (muro interno),[31] foi construída cerca de 100 metros mais longe no território da Alemanha Oriental. As casas contidas entre a parede e as cercas foram destruídas e os moradores foram realocados, estabelecendo o que mais tarde ficou conhecido como "faixa da morte", que ficava coberta de areia ou cascalho, o que facilitava a detecção de pegadas e invasores e também permitia aos policiais ver quais guardas haviam negligenciado sua tarefa;[32] não oferecia cobertura; e, mais importante, oferecia campos de tiro claros para os guardas do muro.
Ao longo dos anos, o Muro de Berlim evoluiu em quatro versões:[33]
- Cerca de arame e muro de blocos de concreto (1961)
- Cerca de arame melhorada (1962–1965)
- Muro de concreto melhorado (1965–1975)
- Grenzmauer 75 (Muro da fronteira 75) (1975-1989)
O "muro de quarta geração", conhecido oficialmente como "Stützwandelement UL 12.11" (elemento do muro de contenção UL 12.11), era a versão final e mais sofisticada da muralha. Iniciado em 1975[34] e concluído por volta de 1980,[35] foi construído a partir de 45 mil seções separadas de concreto armado, cada uma com 3,6 metros de altura e 1,2 metro de largura e custando cerca de 3 638 000 de dólares.[36] As disposições de concreto adicionadas a esta versão do muro foram feitas para impedir que os fugitivos conduzissem seus carros através das barricadas.[37] Em pontos estratégicos, o muro foi construído com um padrão um pouco mais fraco, para que veículos blindados da Alemanha Oriental e da União Soviética pudessem facilmente romper em caso de guerra.[37]
O topo do muro era revestido por um cano liso, destinado a dificultar a escalada. O muro também era reforçado por cercas de malha, cercas de sinalização, trincheiras anti-veículo, arame farpado, cães, "canteiros de pregos" (também conhecido como "tapete de Stalin") sob varandas penduradas na faixa da morte, mais de 116 torres de vigia[38] e 20 bunkers com centenas de guardas. Essa versão do muro é a mais comumente vista em fotografias e fragmentos sobreviventes dela em Berlim e em outros lugares ao redor do mundo geralmente são peças da quarta geração. O layout passou a se parecer com a fronteira interna da Alemanha na maioria dos aspectos técnicos, exceto pelo fato de que o Muro de Berlim não possuía minas terrestres nem canhões de mola.[32] A manutenção era realizada na parte externa da parede por pessoal que acessava a área externa através de escadas ou através de portas ocultas dentro da parede.[39] Essas portas não podiam ser abertas por uma única pessoa, precisando de duas chaves separadas em dois orifícios separados para destravar.[40]
Como era o caso da fronteira interna da Alemanha, uma faixa não fortificada do território oriental foi deixada do lado de fora do muro.[41] Essa faixa externa era usada pelos trabalhadores para pintar por cima das pichações e realizar outras manutenções do lado de fora do muro.[41] Ao contrário da fronteira interna da Alemanha, no entanto, a faixa externa usualmente não tinha mais do que quatro metros de largura e, em fotos da época, a localização exata da fronteira real em muitos lugares parece nem ter sido marcada. Também em contraste com a fronteira interna da Alemanha, a polícia da Alemanha Oriental demonstrava pouco interesse em manter as pessoas fora da faixa externa; as calçadas das ruas de Berlim Ocidental até passavam por dentro dela.[41]
Apesar da política geral de negligência benigna do governo da Alemanha Oriental, sabe-se que os vândalos eram perseguidos na faixa externa e até presos. Em 1986, o desertor e ativista político Wolfram Hasch e outros quatro desertores estavam de pé dentro da faixa externa, desfigurando o muro quando funcionários da Alemanha Oriental emergiram de uma das portas ocultas para prendê-los. Todos, exceto Hasch, escaparam de volta ao setor ocidental. O próprio Hasch foi preso, arrastado pela porta para a faixa da morte e mais tarde condenado por cruzar ilegalmente a fronteira de jure fora do muro.[42] O artista de grafite Thierry Noir relatou que muitas vezes foi perseguido por soldados da Alemanha Oriental.[43] Enquanto alguns grafiteiros foram expulsos da faixa externa, outros, como Keith Haring, eram aparentemente tolerados.[44]
Tentativas de fuga
[editar | editar código-fonte]Nos 28 anos da existência do Muro morreram muitas pessoas. Não existem números exatos e há indicações muito contraditórias, porque a RDA sistematicamente impedia todas as informações sobre incidentes fronteiriços. A primeira vítima morta a tiros foi Günter Litfin, baleado pela polícia dia 24 de agosto de 1961 ao tentar escapar perto da estação Friedrichstraße. Rudolf Urban havia morrido em 17 de setembro de 1961 depois de cair no dia 19 de agosto enquanto tentava escapar utilizando uma corda de um apartamento localizado na Bernauer Strasse, exatamente na divisa entre as duas Alemanhas. No dia 17 de agosto de 1962, Peter Fechter sangrou no chamado corredor da morte, à vista de jornalistas ocidentais, sendo a vítima mais famosa.[45] Em 1966, foram mortas duas crianças de 10 e 13 anos. O último incidente fatal ocorreu no dia 8 de março de 1989, oito meses antes da queda, quando Winfried Freudenberg, de 32 anos, morreu na queda de seu balão de gás de fabricação caseira no bairro de Zehlendorf, quando tentava transpor o muro.
Estima-se que na RDA 75 000 pessoas foram acusadas de serem desertores da república. Desertar da república era um crime que, segundo o artigo §213 do código penal da RDA, era punido com até 2 anos de prisão. Pessoas armadas, membros das forças armadas ou pessoas que carregavam segredos nacionais eram mais severamente punidas, se considerado culpado de escape da república, por pelo menos 5 anos de prisão.
Também houve guardas fronteiriços que morreram por causa de incidentes violentos no muro. A vítima mais conhecida era Reinhold Huhn, que foi assassinado por um Fluchthelfer (pessoas que ajudavam cidadãos do Leste a passar a fronteira, ilegalmente). Estes tipos de incidentes eram utilizados pela RDA para a sua propaganda, e para posteriormente justificar a construção do muro de Berlim.
Processos pelas mortes do muro de Berlim
[editar | editar código-fonte]Os processos judiciais do Schießbefehl, a respeito de se atirar em todas as pessoas que tentaram cruzar o Muro entre 1961 e 1989, demoraram até o outono de 2004. Entre os responsáveis acusados, estavam o presidente do Conselho de Estado, Erich Honecker, o sucessor dele, Egon Krenz e os membros do Conselho Nacional de Defesa Erich Mielke, Willi Stoph, Heinz Keßler, Fritz Streletz e Hans Albrecht e ainda o presidente regional do partido SED em Suhl. Além disso, foram acusados alguns generais, como o chefe das forças fronteiriças, Klaus-Dieter Baumgarten e vários soldados que eram parte do Exército Nacional Popular (NVA) ou das forças fronteiriças da RDA.
Como resultado dos processos, 11 dos acusados foram condenados à prisão, 44 foram condenados a uma pena, que foi suspensa condicionalmente, 35 acusados foram absolvidos. Entre estes, Albrecht, Streletz e Keßler foram condenados a vários anos de prisão. O último processo acabou dia 9 de novembro de 2004, exatamente 15 anos depois da derrubada do Muro, com uma sentença condenatória.
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Checkpoint Charlie
- Fronteira interna alemã
- Guerra Fria
- Ich bin ein Berliner
- Reunificação da Alemanha
Referências
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Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «A Divisão da Alemanha ─ de 1945 a 1989»
- 20 anos da queda do muro de Berlim - Especial da DW (em português e em português).
- Berlin Wall Fotos an More (In German) (em alemão). en.
- «Retrospectiva: 20 anos sem o muro de Berlim». . O Globo.
- «Estadão: Comemorações 50 anos muro de Berlim». recuperado 13 de agosto 2011
- O Muro de Berlim e as barreiras atuais - Revista Nova Escola