Voo TAM 3054

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de TAM 3054)
Voo TAM 3054
Acidente aéreo
Voo TAM 3054
Estabilizador vertical da aeronave e bombeiros retirando os corpos das vítimas dos destroços.
Sumário
Data 17 de julho de 2007 (16 anos)
Causa Dificuldade de frenagem devido à pista molhada.
Configuração irregular dos manetes por possível falha humana[1][2]
Local Aeroporto de Congonhas, São Paulo
Coordenadas 23° 37′ 10″ S, 46° 39′ 44″ O
Origem Aeroporto Internacional Salgado Filho, Porto Alegre
Destino Aeroporto de Congonhas, São Paulo
Passageiros 181[3][4]
Tripulantes 6[5]
Mortos 199 (12 em solo)[6]
Feridos 13 (em solo)
Sobreviventes nenhum
Aeronave
Modelo Airbus A320-233
Operador TAM Linhas Aéreas (atual LATAM Airlines Brasil)
Prefixo PR-MBK
Primeiro voo 13 de fevereiro de 1998

O voo TAM 3054 (ICAO: TAM 3054) foi uma rota comercial doméstica, operada pela TAM Linhas Aéreas (atual LATAM Airlines Brasil), utilizando um Airbus A320-233, partindo do Aeroporto Internacional de Porto Alegre com destino ao Aeroporto de Congonhas. Em 17 de julho de 2007, ao tentar pousar na pista 35L em São Paulo, a aeronave não conseguiu frear, ultrapassou os limites da pista, planou sobre a avenida Washington Luís e colidiu com o prédio da TAM Express e com um posto de gasolina da Shell.[7][8][9] Todos os 187 passageiros e tripulantes a bordo do A320 e mais doze pessoas em solo morreram.[3][10][11] É o acidente aéreo com mais mortes na história da aviação brasileira, ultrapassando o voo Gol 1907 e também o mais mortífero envolvendo uma aeronave da família A320 até então, sendo ultrapassado em outubro de 2015 pelo voo Metrojet 9268, com 224 mortes.

O acidente, investigado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, órgão filiado à Força Aérea Brasileira, teve seu relatório final divulgado em setembro de 2009, apontando como causas principais do acidente o erro do piloto, ao configurar irregularmente os manetes, falta da infraestrutura aeroportuária brasileira, faltando groovings (ranhuras) na pista de Congonhas e autonomia excessiva aplicada aos computadores da aeronave.[12]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Reforma das pistas de Congonhas[editar | editar código-fonte]

Platô do aeroporto de Congonhas, visto da vila Santa Catarina.

Nas duas pistas do aeroporto de Congonhas, uma inclinação impedia o escoamento da água acumulada sobre o asfalto, que já era liso por causa do excesso de borracha sobre a pista, causado pela pressão dos pneus ao pousar.[13] Não havia áreas de escape junto às cabeceiras, já que logo após o final da pista encontrava-se a avenida Washington Luís e vários prédios, casas e edifícios comerciais.[13] No dia 24 de julho de 2006, um ano antes do acidente, um Boeing 737 da BRA Transportes Aéreos, ao pousar no aeroporto, deslizou pela pista e conseguiu parar só porque o piloto realizou uma manobra conhecida como "cavalo de pau", o que evitou que a aeronave caísse na avenida Washington Luís.[14] Devido a atrasos e cancelamentos de voos, provocados por chuvas no início de 2007, a Infraero decidiu pelo recapeamento do asfalto da pista principal do aeroporto. De acordo com o projeto, seriam instalados groovings no asfalto, que são pequenas ranhuras para escoar a água das chuvas e evitar alagamentos, já que pilotos alertavam sobre a pouca aderência da pista em dias de chuvas.[14][15] As obras foram concluídas em 29 de junho, mas sem a instalação dos groovings, já que, segundo a Infraero, seriam necessários mais 30 dias para a aplicação dos mesmos. Enquanto a pista de Congonhas estava em reformas, o apagão aéreo de 2006 continuava avançando sobre o setor aeroviário brasileiro, o que fez com que a pista fosse liberada para uso, mesmo sem os groovings.[14]

Dificuldade para pousos[editar | editar código-fonte]

No dia 16 de julho, um dia antes do acidente, quatro pilotos que pousaram no aeroporto relataram haver pouca aderência, inclusive de um piloto da TAM, o qual conseguiu frear sua aeronave apenas alguns metros antes do final da pista. Entre as 12h25 e as 12h28, a Infraero suspendeu as operações no aeroporto para examinar as condições de aderência da pista, a qual foi liberada por "ausência de poças e de lâminas d'água".[14] Mas, logo depois da checagem, às 12h42, uma aeronave ATR-42, da Pantanal Linhas Aéreas, logo após tocar o trem de pouso na pista, aquaplanou, deslizando pela pista, fazendo uma curva abrupta para a esquerda e invadindo o gramado. A aeronave ainda colidiu com uma caixa de concreto(pt-BR) ou betão(pt) e com um pequeno poste de luz, antes do piloto fazer um "cavalo de pau" para conseguir frear a aeronave.[16] Nenhuma das 21 pessoas a bordo se feriram, mas a aeronave teve seu trem de pouso destruído e o nariz da aeronave danificado.[17] Mesmo com o incidente, os pousos na chuva continuaram sendo realizados normalmente no aeroporto.[18]

Aeronave e tripulação[editar | editar código-fonte]

A aeronave envolvida no acidente, fotografada no Aeroporto Internacional Tan Son Nhat em fevereiro de 2004, enquanto ainda era operada pela Pacific Airlines.

A aeronave envolvida no acidente era um Airbus A320-233, número de série 789, fabricada nas instalações da Airbus em Hamburgo, Alemanha. Foi registrada no Brasil como PR-MBK, equipada com dois motores IAE V2527-A5. Seu primeiro voo foi em 13 de fevereiro de 1998 e entrou em serviço um mês depois com a TACA Peru, com o registro peruano N454TA. Posteriormente, entrou na frota da Pacific Airlines com o registro vietnamita VN-A168. A aeronave era de propriedade da companhia turca Pegasus Airlines, antes de entrar em serviço com a TAM em dezembro de 2006.[19] A aeronave tinha 20 000 horas de voo e 9 300 ciclos (pousos e decolagens somados).[20]

A aeronave estava com um defeito no reversor do motor direito, o qual estava inoperante. Seguindo recomendações da fabricante francesa Airbus, a aeronave poderia operar, mesmo com o reversor inoperante, por um prazo máximo de dez dias.[21] Além disso, foi relatado que a aeronave não tinha dificuldade para pousar na pista do aeroporto de Congonhas.[22]

O voo estava sob o comando do capitão Henrique Stephanini di Sacco, 53 anos de idade e 13 655 horas de voo, sendo 2 236 horas no modelo A320, e também pelo comandante Kleyber Aguiar Lima, 54 anos de idade e 14 760 horas de voo,[23] sendo 237 horas no modelo A320.[24] Após esse acidente a TAM proibiu que voos regulares fossem realizados por dois comandantes ao mesmo tempo, devido a supostas falhas na logística de tarefas de cabine diagnosticada posteriormente pelo CENIPA. Além dos pilotos, havia quatro comissários de voo a bordo, e outros 13 funcionários não-operantes da companhia.[25][26][27][28][29]

Acidente[editar | editar código-fonte]

Voo[editar | editar código-fonte]

Rota do voo, partindo de Porto Alegre até São Paulo.

A delegação da equipe de futebol do Grêmio estava prevista para embarcar neste voo. Jogadores e comissão técnica fariam uma conexão em Congonhas e seguiriam para Goiânia, onde havia um jogo marcado contra a equipe do Goiás, mas a direção do clube adiou a viagem para o dia seguinte.[30] Após o embarque, a aeronave decolou em direção a São Paulo, subindo ao nível de voo 340 (34 mil pés, aproximadamente 10 300 metros) e desviando de algumas formações de nuvens.[31] Cerca de 40 minutos após atingir o nível de cruzeiro, a aeronave iniciou a aproximação para o pouso. Inicialmente, a aeronave iria pousar no Aeroporto de Guarulhos, onde as condições climáticas estavam melhores, mas a tripulação decidiu aterrissar em Congonhas.[31]

Pouso e colisão[editar | editar código-fonte]

Trajetória da aeronave após o pouso.

A aeronave foi autorizada a pousar em Congonhas na pista 35L. Testemunhas oculares e câmeras de segurança do aeroporto mostraram que quando a aeronave tocou a pista na área conhecida como "zona de toque", onde todas as aeronaves devem pousar, ela não diminuiu sua velocidade, atravessando a pista a uma velocidade média de 90 nós (170 quilômetros por hora).[32] A aeronave fez uma curva abrupta para a esquerda, saindo da pista e invadindo o gramado e o pátio de manobras do aeroporto. A pista é localizada em um platô, ao lado da avenida Washington Luis, a qual estava com movimento intenso no momento. A aeronave saiu das delimitações do aeroporto, planou sobre a avenida e colidiu com o edifício da TAM Express e com um posto de gasolina da Shell, causando uma enorme explosão e um incêndio imediato de grandes proporções. Todos os 187 ocupantes da aeronave morreram imediatamente. Onze pessoas que estavam no prédio da TAM Express também morreram, além de um motorista de táxi que estava no posto de gasolina.[33]

Dados da caixa preta da aeronave mostraram que, pouco antes do pouso, ambos manetes de potência dos motores estavam em CLB (posição de subida, com 80% de potência), regulados pelo sistema autothrust da aeronave, sistema que regula a potência dos motores com base em uma velocidade determinada pelo piloto, com o objetivo de mantê-la sempre constante.[34] Dois segundos antes do pouso, um aviso sonoro foi emitido pela aeronave, aconselhando os pilotos a levarem os manetes para a posição IDLE (posição de pouso, sem potência). Isso desativaria o sistema autothrust da aeronave, fazendo com que a aeronave tivesse pouca velocidade, conseguindo frear completamente dentro dos limites da pista.[34]

De acordo com o computador de bordo do A320,[35] para que os spoilers, superfícies moveis sobre a asa que são abertos para quebrar a resistência do ar e diminuir a velocidade, fossem armados, os motores deveriam estar na posição IDLE, sem potência. A caixa preta mostra ainda que, imediatamente após o aviso para retardar os manetes, o piloto trouxe apenas o manete da esquerda para a posição IDLE, ativando o reverso do motor esquerdo, enquanto o manete da direita estava na posição CLB, com 80% de potência. Por causa da configuração incorreta dos manetes, o computador de bordo entendeu que a aeronave estava arremetendo. Uma teoria apresentada pelo CENIPA é que os pilotos podem não ter notado que o motor direito manteve-se em CLB, já que o sistema autothrust desenvolvido pela Airbus, ao contrário dos modelos de outras fabricantes, não move os manetes enquanto a potência dos motores é alterada.[23] Assim, quando o piloto puxou o manete do motor esquerdo para a posição IDLE, ele desligou o sistema autothrottle e o computador de bordo não retardou a potência do motor direito para a posição IDLE. Esta assimetria nas potências dos motores ocasionou uma perda de controle, fazendo com que a aeronave se desviasse para a esquerda e saísse da pista.[34]

Linha do tempo[editar | editar código-fonte]

Prédio da TAM Express em chamas após a colisão.

Fonte:[33]

Hora Evento
UTC UTC−3
20h19min 17h19min A aeronave decola do aeroporto de Porto Alegre.
21h20min 18h20min Início da aproximação para pouso no aeroporto de Congonhas.
21h43min 18h43min Os pilotos realizam a check-list para pouso.
21h47min 18h47min Aproximação final para pouso na pista 35L, pouso é autorizado.
21h48min24 18h48min24 Configuração errônea dos manetes.
21h48min26 18h48min26 A aeronave toca a pista.
21h48min30 18h48min30 A aeronave começa a virar para esquerda, em direção ao gramado.
21h48min40 18h48min40 A aeronave invade o pátio de manobras.
21h48min50 18h48min50 Colisão com o prédio da TAM Express.

Investigação[editar | editar código-fonte]

Brigadeiro Jorge Kersul Filho, responsável pela investigação do acidente, em entrevista coletiva.

A investigação foi conduzida pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA). As caixas pretas da aeronave foram abertas pelo National Transportation Safety Board (NTSB), nos Estados Unidos, nos dias 20 e 23 de julho.[36][37] Com base em dados preliminares das caixas pretas, em 25 de julho, a Airbus advertiu os operadores do A320 para que instruíssem seus pilotos a se certificarem que os manetes da aeronave estivessem na posição ID durante o pouso.[36] A transcrição da caixa preta foi divulgada em 1º de agosto,[38] e mostrou que os pilotos estavam cientes das condições de pista molhada e reversor desativado.[39] Comentários dos pilotos comprovaram que os spoilers não abriram durante o pouso.[39][40]

Uma investigação,[41] conduzida pelo Ministério Público do Brasil em novembro de 2008, concluiu que os pilotos configuraram erroneamente os manetes, colocando os motores em potência inversa, sendo que os manetes deveriam ser configuradas na posição ID.[41] Foi concluído também que a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) deveria ter fechado o aeroporto na noite do acidente, devido às fortes chuvas; que a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) não deveria ter liberado a pista para uso, já que ela não tinha os groovings para o escoamento da água, fator que contribuiu para o acidente; que a fabricante do avião, Airbus, deveria ter instalado alarmes na aeronave para avisar o piloto em caso de aquaplanagem; e a falta de treinamento adequado para os pilotos por parte da TAM.[41]

Relatório final[editar | editar código-fonte]

Em setembro de 2009, dois anos após a tragédia, o CENIPA divulgou o relatório final do acidente. O relatório concluiu que um dos manetes que controlam os motores estava em posição de aceleração, ao invés de estar em posição de pouso, mas não foi provado se houve falha mecânica ou humana neste fator.[1][23][42]

O relatório sugere duas hipóteses para o acidente. Na primeira, haveria uma falha no controle de potência dos motores do avião, que teria mantido um dos manetes de potência em aceleração, independentemente da sua posição real. Em tais circunstâncias, haveria uma falha mecânica da aeronave.[23] Na segunda hipótese, o piloto teria realizado um procedimento diferente do previsto no manual, no qual configurou os manetes irregularmente, o que caracterizaria uma falha humana.[23]

Além das posições dos manetes, o relatório assinala vários fatores que podem ter contribuído para o acidente, tais como chuvas intensas no dia, formação de poças d'água na pista, bem como a ausência de groovings.[23] O relatório não citou o tamanho da pista como fator contribuinte para o acidente.[23]

Reações[editar | editar código-fonte]

Bandeira do Brasil hasteada a meio mastro, simbolizando o luto ao acidente.

Nacionais[editar | editar código-fonte]

Após o acidente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ordenou três dias de luto nacional.[43]

Durante os Jogos Pan-Americanos de 2007, que estavam sendo realizados no Rio de Janeiro, os atletas brasileiros usaram uma braçadeira preta em memória das vítimas.[44] As bandeiras de todos os países participantes foram hasteadas a meio mastro em 18 de julho.[45][46] Partidas que envolviam um atleta ou equipe brasileira começaram com um minuto de silêncio.[45]

No Campeonato Brasileiro de Futebol de 2007, todos os jogos da 11ª e 12ª rodada começaram com um minuto de silêncio, enquanto todos os jogadores usavam braçadeiras negras.[47] Os pilotos de Fórmula 1 Felipe Massa e Rubens Barrichello usaram uma listra preta no topo de seu capacete durante o Grande Prêmio da Europa de 2007, em homenagem às vitimas, além dos pilotos da Red Bull Racing David Coulthard e Mark Webber que usaram pequenas bandeiras do Brasil em seus capacetes.[48]

Mais de cinco mil pessoas foram ao local do acidente em 29 de julho de 2007 para protestar, culpando a falta de infra-estrutura do aeroporto. Muitos dos manifestantes também exigiram o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.[49]

Aeroporto de Congonhas[editar | editar código-fonte]

Prédio da TAM Express em chamas, visto do platô do aeroporto.

O aeroporto reabriu em 19 de julho de 2007, utilizando a pista alternativa.[22] Muitos voos, incluindo os da OceanAir e BRA Transportes Aéreos, foram transferidos para o Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos, devido ao fechamento da pista principal de Congonhas e a investigação do acidente.[22]

Em 20 de julho, a ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff anunciou planos para reduzir significativamente o número de voos em Congonhas.[50] O plano incluía a proibição, no prazo de 60 dias, de todas as conexões, escalas, voos charter e voos internacionais, além da redução do número de jatos executivos.[50] O aeroporto operaria voos diretos somente para algumas cidades do Brasil. O plano também pediu um estudo sobre a expansão dos aeroportos de Guarulhos e Campinas, além da construção de um terceiro aeroporto na região metropolitana.[50]

Internacionais[editar | editar código-fonte]

Memorial[editar | editar código-fonte]

Memorial 17 de Julho, com a amoreira que resistiu ao acidente.

A Praça Memorial 17 de Julho foi construída no local do acidente. Sua inauguração foi em 17 de julho de 2012, exatamente cinco anos após o acidente. O memorial foi projetado para o terreno de 8 318 onde ficava o prédio da TAM Express, que foi implodido no dia 5 de agosto de 2007.[58] Está presente na Praça Memorial um espelho d'água onde os nomes das vítimas estão gravados e também uma amoreira que resistiu ao acidente.[59] Em Porto Alegre também há uma espécie de memorial chamado Largo da Vida onde foram plantadas 199 árvores, situado próximo ao Aeroporto Salgado Filho.[60]

Inquérito policial[editar | editar código-fonte]

Em 19 de novembro de 2008, a investigação policial conduzida pelo Ministério Público do Brasil foi concluída, totalizando 13 600 páginas de relatório, que levou 16 meses de pesquisa, durante os quais 336 pessoas foram ouvidas.[61] Para o Ministério Público, a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil Denise Abreu e o diretor de segurança da TAM, Marco Aurélio dos Santos de Miranda, deveriam ser condenados por atentar contra a segurança do transporte aéreo de modo intencional.[62] A investigação policial revelou que, em fevereiro de 2007, a juíza federal de São Paulo Cecilia Marcondes anunciou uma ação para restringir os pousos em Congonhas em dias de chuva.[63] Denise apresentou um documento, no qual garantia a segurança do aeroporto, mesmo em dias de chuva, mas que foi aceito pela juíza apenas como estudo técnico, que proibia as operações em caso de lâminas d'água maiores que três milímetros. Por não ser uma norma, mas sim um estudo técnico, não havia a obrigatoriedade de segui-lo.[64]

Em 2011, o Ministério Público estabeleceu um inquérito criminal contra Denise Abreu, Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Alberto Fajerman, vice-presidente de operações da TAM. Eles foram acusados ​​de negligenciar a segurança do transporte aéreo, permitindo pousos de aeronaves em condições adversas, mesmo sem as ranhuras na pista de Congonhas. O julgamento começou em São Paulo em 2013.[65] Em 2014, o MPF retirou as acusações contra Alberto Fajerman, por falta de provas.[66] A acusação contra Denise de falsidade ideológica foi retirada em novembro de 2014.[67]

Em 2014, a seguradora Itaú Seguros, empresa responsável pelo pagamento de indenizações pela tragédia, lançou uma ação judicial no Brasil contra a Airbus no valor de 350 milhões de reais (cerca de 156,2 milhões de dólares).[68] A Airbus, em nota, afirmou que, com base nos relatórios finais divulgados pelo CENIPA, a empresa não teve nenhuma participação direta no desastre, sendo que a responsabilidade pelo acidente foi da TAM, por falta de treinamento; da ANAC, por liberar a pista sem os groovings; e dos pilotos, pela configuração errônea dos manetes.[69][70]

Passageiros notáveis[editar | editar código-fonte]

Entre os passageiros estavam:

Além destes passageiros, o superintendente da TAM Linhas Aéreas no estado do Rio Grande do Sul, Marco Antônio da Silva, era um dos treze funcionários não-operantes da companhia aérea que estavam no voo. Diversos empresários notórios nas economias paulistas e gaúchas também foram vítimas do acidente,[76] entre eles estão:

  • João Roberto Brito (50 anos), diretor de operações regionais do SBT Porto Alegre;
  • João Francisco Caltabiano (40 anos) e Pedro Augusto Linhares Caltabiano (38 anos), irmãos e sócios que administravam o Grupo Caltabiano, do ramo de concessionárias;[77][78]
  • Ivalino Bonatto (45 anos), gerente financeiro da Vinícola Aurora, em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul. Seu corpo, juntamente com os corpos de outras três vítimas, nunca foi encontrado;[79]
  • Atílio Sassa Bilíbio (62 anos), proprietário da metalúrgica Medabil e vice-presidente do Centro de Indústrias do Rio Grande do Sul.[80]

Dentre as 199 vítimas do acidente, quatro não tiveram seus corpos identificados pelo Instituto Médico Legal, sendo dados como desaparecidos nos escombros do acidente. São eles: o executivo Ivalino Bonatto (45 anos), a comissária de bordo (e tripulante do voo) Michelle Leite (26 anos), o engenheiro Andrei François de Mello (42 anos) e o bebê Levi Ponce de Leão (1 ano e 8 meses). As quatro vítimas tiveram apenas alguns de seus pertences encontrados, possibilitando enterros simbólicos por parte das famílias, sem os corpos destes passageiros.[81]

Mudança de procedimentos[editar | editar código-fonte]

O acidente da TAM resultou em mudanças para aumentar segurança nos voos. O relatório do CENIPA listou 83 recomendações para evitar que uma nova tragédia ocorresse.[82][83] Uma das mudanças foi a instalação de um dispositivo de luzes e avisos sonoros para alertar pilotos sobre erro de posição de manetes.[84] Congonhas teve reduzidas as distâncias de decolagem e pouso, que antes eram de 1 940 metros na pista principal para 1 790 metros na decolagem e 1 660 para pouso e, na pista auxiliar, para 1 345 metros na decolagem e 1 195 no pouso, possibilitando a implantação de uma área de escape,[85] e a operação sem o grooving na pista é proibida. A pista auxiliar não pode mais ser utilizada para aterrissagens e uma reforma foi feita para impedir o acúmulo de água. As aterrissagens neste aeroporto com o reversos travado foram proibidas e foi imposto limite de peso para pousos.[86] A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estabeleceu um número fixo de 33 slots (autorizações de pouso e decolagem) por hora. Antes do acidente não havia limite definido. A aviação geral dispõe de dois movimentos por hora na pista principal e quatro por hora na pista auxiliar.[85] Uma nova malha aérea organizando rotas e horários de voos foi implantada além do aumento da fiscalização operacional das companhias aéreas.[85] O treinamento dos pilotos foi reforçado para atuarem em casos de operação com o reversor travado e aprimorado nas situações que necessitem de arremetida como seria o caso neste acidente.[84][85] A Infraero intensificou a fiscalização de itens de segurança como pavimento, o atrito, a macrotextura da pista, a sinalização e o auxílio à navegação aérea. O treinamento dos bombeiros em resgates aéreos também foi aprimorado.

Dramatização[editar | editar código-fonte]

O acidente foi tema de um episódio da série de TV Mayday, exibida pelo canal fechado National Geographic, onde narra todos os acontecimentos do acidente e da investigação final. O episódio é intitulado "Deadly Reputation" ("Reputação Mortal", em português), devido à reputação ruim do Aeroporto de Congonhas, especificamente da pista 35L.[87]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências

Notas

Referências

  1. a b «Sem apontar culpados, Aeronáutica divulga relatório sobre acidente da TAM». Folha de S. Paulo. Arquivado do original em 21 de agosto de 2015 
  2. Estadão. «Posição errada de manete provocou queda de avião da TAM». Consultado em 13 de agosto de 2014. Arquivado do original em 14 de agosto de 2014 
  3. a b «TAM confirma 180 passageiros no voo 3054». Globo. 20 de julho de 2007. Consultado em 21 de julho de 2007 
  4. Associated Press (21 de julho de 2007). «Brazil president vows thorough probe of crash: Da Silva unveils new safety steps after latest aviation disaster killed 191». MSNBC. Consultado em 21 de julho de 2007 
  5. «Nota da TAM retifica informação e diz que Airbus 320 levava 176 pessoas». Agência Brasil. 17 de julho de 2007. Consultado em 17 de julho de 2007 
  6. «Accident Description». Aviation Safety Network. 17 de julho de 2007. Consultado em 19 de julho de 2007 
  7. «Pilot in Brazilian crash tried to abort landing, official says». CNN. 18 de julho de 2007. Consultado em 20 de julho de 2007. Cópia arquivada em 11 de agosto de 2007 
  8. «Incêndio permanece fora de controle; chances de sobrevivência diminuem». Folha de S. Paulo. 17 de julho de 2007. Consultado em 17 de julho de 2007 
  9. «Três vítimas do acidente com avião da TAM são atendidas no hospital Alvorada». Folha de S. Paulo. 17 de julho de 2007. Consultado em 17 de julho de 2007 
  10. «Brazil trial over plane crash that killed 199». BBC. 18 de julho de 2007. Consultado em 23 de fevereiro de 2014 
  11. Globo.com, G1 Página visitada em 23 de julho de 2007
  12. «Final Report A – nº 67/Cenipa/2009» (PDF) (em inglês). Cenipa. 27 de outubro de 2009. Arquivado do original (PDF) em 6 de julho de 2011 
  13. a b Sant'anna 2011, p. 239
  14. a b c d Sant'anna 2011, p. 240
  15. «Sem grooving, pista de Congonhas virou 'sabonete', diz piloto da TAM». G1. Consultado em 23 de julho de 2016 
  16. Sant'anna 2011, p. 241
  17. «ASN Aircraft accident ATR-42-300 PT-MFK at São Paulo-Congonhas». Aviation Safety. Consultado em 23 de julho de 2016 
  18. «Falta de grooving em Congonhas pode ter causado derrapagem, diz presidente da Pantanal». Agência Brasil. Consultado em 23 de julho de 2016 
  19. «PR-MBK». planespotters.net 
  20. «PR-MBK». aviation-safety.net 
  21. «Brazil plane 'flew with mechanical fault'». news.com.au. 20 de julho de 2007. Consultado em 20 de julho de 2007. Arquivado do original em 5 de março de 2008 
  22. a b c «Focus of Brazil air crash shifts away from runway». Reuters. 20 de julho de 2007. Consultado em 20 de julho de 2007 
  23. a b c d e f g «Relatório Final (PDF)». Cenipa. 27 de outubro de 2009. Arquivado do original em 17 de agosto de 2016 
  24. «G1 > Edição São Paulo - NOTÍCIAS - TAM não sabe quem pilotava o avião». g1.globo.com 
  25. «TAM divulga nomes de tripulantes de avião acidentado» 
  26. «PF culpa somente pilotos no acidente da TAM em 2007 - São Paulo - Estadão». estadao.com.br 
  27. Final Report A – Nº 67/CENIPA/2009 CENIPA, págs. 10 e 63 (em inglês)
  28. «Folha Online - Cotidiano - Saiba mais sobre os mortos no acidento com o vôo 3054 - 25/07/2007». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 3 de maio de 2019 
  29. «"Não agüento mais, é desumano", diz viúva de piloto do Airbus TAM». noticias.bol.uol.com.br. BOL Notícias. Consultado em 3 de maio de 2019 
  30. Sant'anna 2011, p. 257
  31. a b Sant'anna 2011, p. 262
  32. «Avião estava acima da velocidade normal, dizem autoridades - São Paulo». Estadão. Consultado em 17 de julho de 2022 
  33. a b «Voo TAM 3054». Desastres Aéreos. Consultado em 14 de fevereiro de 2016 
  34. a b c Gráficos da caixa-preta. National Transportation Safety Board. 24 de julho de 2007. Página visitada em 5 de setembro de 2007.
  35. A320 Flight Controls Manual. Airbus. Página visitada em 5 de setembro de 2007
  36. a b Learmount, David (23 de julho de 2007). «Airbus cleared to release TAM accident flight recorder information». Flight International. Consultado em 23 de julho de 2007 
  37. Learmount, David (23 de julho de 2007). «Probe asks why Airbus A320 could not stop». Flight International. Consultado em 23 de julho de 2007 
  38. Targett, Michael (2 de agosto de 2007). «TAM A320 crash - full transcript from cockpit voice recorder». Flight International. Consultado em 2 de agosto de 2007 
  39. a b Kaminksi-Morrow, David (2 de agosto de 2007). «Full cockpit-voice transcript of TAM A320 reveals clues to crash». Flight International. Consultado em 2 de agosto de 2007 
  40. Learmount, David (16 de novembro de 2007). «European JAA clarifies Airbus throttle handling rules following TAM crash». Flight International. Consultado em 20 de janeiro de 2008 
  41. a b c «Investigators: Pilot error likely in 2007 Sao Paulo's crash». eTN. 3 de novembro de 2009. Consultado em 25 de julho de 2015 
  42. «Familiares das vítimas do voo 3054 da TAM reclamam de relatório da PF». G1 
  43. «Luto oficial de três dias por acidente da TAM» 
  44. David Byrd (18 de julho de 2007). «Brazilian Athletes Mourn Plane Crash Victims». Voice of America. Consultado em 23 de julho de 2007. Cópia arquivada em 18 de agosto de 2007 
  45. a b «Comitê dos jogos Pan-Americanos decreta luto por três dias nas competições». Agência Brasil. Consultado em 26 de julho de 2016 
  46. «Atletas do Pan prestam homenagens às vítimas do voo 3054». Estadão. Consultado em 26 de julho de 2016 
  47. «Brasileiros da F-1 de luto pelo voo da TAM». Globo Esporte. Consultado em 25 de julho de 2016 
  48. «Escuderia RedBull faz homenagem às vítimas do voo 3054». Estadão. Consultado em 25 de julho de 2016 
  49. «Brazilians blame gov't for jet crash». am New York. Associated Press. 30 de julho de 2007. p. 9 
  50. a b c «G1 > Edição São Paulo - NOTÍCIAS - Dilma confirma: SP terá novo aeroporto». g1.globo.com. Consultado em 17 de julho de 2022 
  51. «Alemanha realiza homenagem às vítimas do voo da TAM». G1. Consultado em 25 de julho de 2016 
  52. a b c d «Folha Online: Presidente da Argentina presta solidariedade a Lula pelo acidente da TAM.». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 17 de julho de 2022 
  53. «Folha Online: China envia condolências por acidente com avião da TAM». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 17 de julho de 2022 
  54. «A320: o avião vedete da Airbus que já sofreu inúmeros acidentes». BSB Capital. Consultado em 25 de julho de 2016 
  55. «México envia condolências por acidente aéreo em São Paulo». terra.com.br. Arquivado do original em 9 de julho de 2012 
  56. «Folha Online - BBC Brasil - Papa envia condolências às famílias das vítimas de acidente em São Paulo - 18/07/2007». www1.folha.uol.com.br 
  57. «Parentes de vítimas de acidente da TAM fazem vigília para lembrar seis anos da tragédia». Uol. Consultado em 25 de julho de 2016 
  58. «Inauguração de Memorial da TAM causa emoção». globo.com. 18 de julho de 2012 
  59. «Minuto de silêncio lembra momento do acidente da TAM há cinco anos». globo.com. 17 de julho de 2012 
  60. «Em Porto Alegre, mais emoção - São Paulo - Estadão». estadao.com.br 
  61. «Ministério Público Federal pede a condenação de dois investigados na tragédia da TAM». Zero Hora. Consultado em 25 de julho de 2016 
  62. «Denise Abreu: o lobby que ajudou na tragédia da TAM». GGN. Consultado em 25 de julho de 2016 
  63. «Desembargadora afirma que foi enganada por ex-diretora da Anac em tragédia com avião da TAM». Rádio Gaúcha. Consultado em 25 de julho de 2016 
  64. «MPF crê na culpa dos 3 indiciados pelo acidente da TAM, diz procurador». Valor. Consultado em 25 de julho de 2016 
  65. «Brazil trial over plane crash that killed 199». BBC. 8 de agosto de 2013. Consultado em 6 de abril de 2015 
  66. MPF (7 de abril de 2014). «TAM JJ3054 - MPF pede pena de até 24 anos para responsáveis por acidente aéreo que resultou na morte de 199 pessoas em 2007». Procuradoria da República no Estado de S. Paulo. Consultado em 7 de abril de 2015 
  67. Macedo, Fausto (12 de novembro de 2014). «STJ anula acusação de 'falsidade documental' contra ex-diretora da ANAC». Estadão. Consultado em 7 de abril de 2015 
  68. «Seguradora da TAM quer ser ressarcida por indenizações a vítimas». Estadão. Consultado em 25 de julho de 2016 
  69. «Airbus culpa pilotos e TAM pela tragédia com o A320». Veja. Consultado em 25 de julho de 2016 
  70. «Airbus culpa TAM, Infraero e pilotos por desastre em 2007». Folha de S. Paulo. Consultado em 25 de julho de 2016 
  71. Marcos Chagas (17 de julho de 2007). «Listas de nomes divulgada pela TAM ultrapassam previsão oficial de 176 passageiros». Agência Brasil. Consultado em 18 de julho de 2007. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2007. 71.Julio Cesar Redecker 
  72. «Deputado federal do PSDB estava no avião da TAM que bateu e pegou fogo em Congonhas». Agência Brasil. 17 de julho de 2007. Consultado em 18 de julho de 2007 
  73. «Deputado do RS estava no voo que sofreu acidente». Terra. 17 de julho de 2007. Consultado em 18 de julho de 2007 
  74. Marcos Chagas (17 de julho de 2007). «Listas de nomes divulgada pela TAM ultrapassam previsão oficial de 176 passageiros». Agência Brasil. Consultado em 18 de julho de 2007. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2007. 106.Paulo Rogerio Amoretty Souza 
  75. «G1 > Edição São Paulo - NOTÍCIAS - Família viajava no vôo da TAM» [Family Traveling on TAM Flight - New York Times]. g1.globo.com (em Portuguese). Consultado em 28 de março de 2019 
  76. http://www.nipotech.com.br, Nipotech -. «Revista Cobertura Mercado de Seguros - Entre as vítimas, dezenas de empresários». wwwold.revistacobertura.com.br 
  77. «Sócios do Grupo Caltabiano foram vítimas do vôo 3054 - 18/07/2007 - UOL Últimas Notícias». noticias.uol.com.br 
  78. «A amarga volta de Bruno Caltabiano aos negócios - EXAME». exame.abril.com.br 
  79. «G1 > Brasil - NOTÍCIAS - Família do RS faz enterro simbólico de vítima da TAM». g1.globo.com 
  80. «Empresário sonhava em levar sua empresa a Angola - São Paulo - Estadão». estadao.com.br 
  81. «G1 > Edição São Paulo - NOTÍCIAS - Vítimas não-identificadas tiveram enterro simbólico». g1.globo.com 
  82. «Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos» (PDF) 
  83. «GaúchaZH». gaucha.clicrbs.com.br 
  84. a b «Após dez anos, acidente da TAM levou a mudanças na aviação brasileira». globo.com. 16 de julho de 2017 
  85. a b c d «Acidente da TAM resultou em mudanças para aumentar segurança em Congonhas». ebc.com.br 
  86. Pandolfi, Leonardo Pujol e Robson (14 de julho de 2017). «Voo JJ 3054: as lições da maior tragédia da aviação brasileira» – via www.bbc.com 
  87. «Deadly Reputation». Internet Movie Database. Consultado em 25 de julho de 2016 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre Voo TAM 3054:
Commons Categoria no Commons
Wikinotícias Notícias no Wikinotícias
Wikidata Base de dados no Wikidata