Linha de Sines
A Linha de Sines, originalmente conhecida como Transversal de Sines e Ramal de Sines (não confundir com outra ferrovia com este nome), é uma ligação ferroviária situada na costa sudoeste de Portugal. Une o Porto de Sines com a Linha do Sul (na estação de Ermidas-Sado), num total de pouco mais de cinquenta quilómetros; antes do encerramento do Ramal de Sines fazia ligações de passageiros entre Sines e o resto da rede.
História
Antecedentes
Desde meados do Século XIX que se procurava ligar o Alentejo a Lisboa, de modo a fornecer uma alternativa às deficientes vias rodoviárias nesta região[1], de forma a facilitar o transporte de mercadorias, especialmente cereais, para a capital[2]; duas empresas foram encarregadas de instalar este caminho de ferro, tendo a Companhia Nacional dos Caminhos de Ferro ao Sul do Tejo sido encarregada de construir o troço entre a Margem Sul do Tejo e Vendas Novas, e a Companhia dos Caminhos de Ferro do Sueste devia continuar a linha até Évora e Beja.[3] A linha chegou, assim, a Beja em 15 de Maio de 1864[4], mas o facto das duas empresas utilizarem bitolas de via diferentes obrigou à realização de transbordos de mercadorias e passageiros em Vendas Novas[5], pelo que, no mesmo ano, o Estado Português contratou a Companhia do Sueste para uniformizar as bitolas e, entre outros empreendimentos, continuar a linha de Beja até ao Algarve.[6] No entanto, vários problemas financeiros impediram a Companhia de executar os vários empreendimentos acordados, pelo que o Estado tomou conta das linhas e abriu vários concursos, que não tiveram concorrentes; assim, em 1883, o próprio estado foi autorizado a continuar as obras, tendo uma lei de 14 de Julho de 1899 formado os Caminhos de Ferro do Estado, um órgão governamental para construir e gerir as linhas da rede ferroviária ao Sul do Rio Tejo.[4]
Desde 1877, no entanto, que o engenheiro e político Sousa Brandão defendia a continuação da linha de Setúbal até ao Algarve, porque acreditava que este caminho de ferro iria proporcionar viagens mais rápidas entre Lisboa e o Algarve do que o Caminho de Ferro do Sul, que, devido ao facto de transitar por Beja, era demasiado extensa; o traçado desta nova linha teria o seu início no Pinhal Novo ou no Poceirão, e terminaria em Lagos, passando por Santiago do Cacém e por Alcácer do Sal ou Montalvo.[7]
A inauguração oficial da Linha do Sado, entre o Pinhal Novo e a Funcheira, fez-se no dia 1 de Junho de 1925, após a instalação da ponte definitiva sobre o Rio Sado, em Alcácer do Sal.[7][8]
Planeamento, construção e inauguração
O plano para a ligação ferroviária até Sines foi inserido no Plano Geral da Rede Ferroviária ao Sul do Tejo, documento oficial, publicado em 1902, que regulava o planeamento ferroviário naquela zona; a sua construção era justificada pelo facto desta localidade ser já um centro industrial, com um importante porto marítimo.[9]
Segundo uma lei publicada em 1 de Julho do ano seguinte, o ponto de entroncamento com a Linha do Sado deveria ser em Alvalade, porque este ponto era um dos locais aonde seria obrigatória a passagem daquele caminho de ferro; uma lei de 27 de Outubro de 1909 autorizou a construção da Linha de Sines, após a Linha do Sado ser concluída, tendo o financiamento para aquele empreendimento sido garantido pela lei n.º 731, publicada em 5 de Julho de 1917, e pelo decreto n.º 4811, de 30 de Agosto do ano seguinte, que autorizaram o Director Geral dos Transportes Terrestres a contrair empréstimos para, entre outros planos, continuar as obras no Ramal de Sines.[10][11]
O decreto 18190, datado de 28 de Março de 1930, estabeleceu que a Linha de Sines deveria ser o primeiro troço de um caminho de ferro transversal, que ligaria Sines a Beja.[12] A construção iniciou-se em 6 de Dezembro de 1919, tendo o primeiro troço, entre Ermidas-Sado e São Bartolomeu da Serra, sido aberto em 9 de Abril de 1927; o segundo troço, entre esta estação e o quilómetro 156,4, entrou ao serviço em 1 de Julho de 1929, e o tramo até Santiago do Cacém abriu em 20 de Junho de 1934.[7] A linha entre esta estação e Sines foi aberta à exploração em 14 de Setembro de 1936.[13][14]
Ver também
Referências
- ↑ Martins et al, 1996:8, 11
- ↑ Viegas, 1988:26
- ↑ Santos, 1995:107
- ↑ a b TORRES, Carlos Manitto (1 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Lisboa: Gazeta dos Caminhos de Ferro. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 70 (1683): 75, 77
- ↑ Santos, 1995:108
- ↑ Santos, 1995:109
- ↑ a b c TORRES, Carlos Manitto (16 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Lisboa: Gazeta dos Caminhos de Ferro. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 70 (1684): 91, 92
- ↑ Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 62
- ↑ SOUSA, José (1 de Dezembro de 1902). «A rêde ferro-viaria ao Sul do Tejo» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 15 (359). 355 páginas. Consultado em 18 de Junho de 2011
- ↑ PORTUGAL. Lei nº 731, de 5 de Julho de 1917. Ministério do Trabalho e Previdência Social - Direcção Geral do Trabalho - 2.ª Repartição - 1.ª Secção, Paços do Governo da República.
- ↑ PORTUGAL. Decreto nº 4811, de 31 de Agosto de 1918. Secretaria de Estado do Comércio - Direcção Geral dos Transportes Terrestres - Secretaria Geral, Paços do Governo da República.
- ↑ PORTUGAL. Decreto n.º 18:190, de 28 de Março de 1930. Ministério do Comércio e Comunicações: Direcção Geral de Caminhos de Ferro - Divisão Central e de Estudos, Secção de Expediente, Paços do Governo da República.
- ↑ TORRES, Carlos Manitto (16 de Março de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 71 (1686). 139 páginas
- ↑ «Cronologia: 1926/1949 - Período de Grande Depressão e II Guerra Mundial». Comboios de Portugal. Consultado em 18 de Junho de 2011
Bibliografia
- Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: Público-Comunicação Social S. A. e CP-Comboios de Portugal. 2006. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
- MARTINS, João Paulo, BRION, Madalena, SOUSA, Miguel de, LEVY, Maurício, AMORIM, Óscar (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. [S.l.]: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
- SANTOS, Luís Filipe Rosa (1995). Os Acessos a Faro e aos Concelhos Limítrofes na Segunda Metade do Séc. XIX. Faro: Câmara Municipal de Faro. 213 páginas
- VIEGAS, Francisco José (1988). Comboios Portugueses. Um Guia Sentimental. Lisboa: Círculo de Editores. 185 páginas
Ligações externas