Elevador da Glória
Elevador da Glória | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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| Cabina 2 do Elevador da Glória junto ao terminal superior. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
| Informações principais | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
| Área de operação | Lisboa, Portugal | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
| Tempo de operação | 24 de outubro de 1885–atualmente[a] | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
| Operadora | Carris | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
| Frota | 2 carros | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
| Especificações da ferrovia | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
| Extensão | 275 metros[4] | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
| Diagrama e/ou Mapa da ferrovia | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Notas
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O Ascensor da Glória,[5] popularmente referido como Elevador da Glória, inaugurado a 24 de outubro de 1885, localiza-se na cidade de Lisboa, em Portugal, e é um dos símbolos mais conhecidos da capital. Percorrendo a Calçada da Glória e ligando a Baixa (Praça dos Restauradores, 17 m alt.)[6] ao Bairro Alto (Jardim de São Pedro de Alcântara, 61 m alt.). É um dos três funiculares operados pela Carris (como a sua carreira 51E), e destes é o mais movimentado,[5] chegando a transportar anualmente mais de 3 milhões de passageiros.[7]
Foi inaugurado em 1885 e os serviços elétricos foram introduzidos em 1915.[8] Duas novas cabinas idênticas foram construídas pela empresa de engenharia alemã Maschinenfabrik Esslingen.[9] Cada uma tinha capacidade para transportar 42 pessoas, mais o condutor.[1] O sistema foi classificado como Monumento Nacional em 1997.[10][9]
O trajeto percorrido é de 275 m,[4] em via de carril duplo encastrado no pavimento da Calçada da Glória, com bitola de 90 cm e fenda central para ligação do cabo. Vence um desnível acentuado, superior a 17%.[11]
Operação
[editar | editar código]O sistema de elétrico está situado numa zona urbana e estende-se desde uma estação inferior na Praça dos Restauradores para a segunda estação na Rua de São Pedro de Alcântara, passando por uma área ladeada de edifícios do século XIX, incluindo o Palácio Foz e Misericórdia.[12]
A linha tem uma inclinação de 17,7% e está em conformidade com o princípio básico de um verdadeiro funicular, com duas cabinas, numeradas 1 e 2, presos às extremidades opostas de um cabo de transporte enterrado, o qual é invertido no topo por uma roldana desenhada para o efeito localizada no cimo da Calçada da Glória. As duas cabinas circulavam em sentidos opostos, cada uma atuando como um contrapeso da outra. Apesar de o peso da cabina descendente auxiliar a subida da outra, existia também, excecionalmente, um sistema de tração fornecida por motores elétricos nas cabinas, alimentados por um par de fios aéreos estilo trólei a 600 V DC.[13]
As cabinas amarelas e brancas tinham chassis de aço inclinado, para manter o interior horizontal. Possuíam carroçarias de aço e janelas de vidro com duas coxias de comando (uma em cada extremidade) e um salão de passageiros com dois bancos corridos de costas viradas para as janelas.[12] Devido à natureza do trajeto percorrido existia uma extremidade mais alta (anterior no sentido descendente) e outra mais próxima do solo, tal como o Elevador do Lavra, no que difere de muitos outros funiculares. As entradas e saídas de cada cabina faziam-se por duas portas munidas de cancela pantográfica e situadas na extremidade com menor desnível em relação ao exterior, de ambos os lados do posto de comando ativo em ascensão.[1][12] Elas circulavam em vias com bitola de 900 mm[1]:Fig. 2 que são intercaladas na parte inferior. A viagem completa das cabinas demorava aproximadamente três minutos.[4]
História
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Em 1875, foi concedida a concessão à Nova Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa para construir um funicular ao longo da Calçada da Glória. O engenheiro-chefe da concessão foi Raoul Mesnier du Ponsard. A construção começou em 1882.[12]
O elevador concluído foi inaugurado a 24 de outubro de 1885. Existiam duas cabinas, cada uma dividida em dois andares, com dois bancos no andar inferior interno voltados para dentro e dois no andar superior externo, costas com costas.[12][8]
O funicular era inicialmente alimentado por um sistema de equilíbrio de água, o qual foi substituído em 1886 por um sistema baseado num cabo enrolado numa roldana movida a vapor numa casa de máquinas localizada numa rua lateral da Calçada da Glória. O cabo subia e descia as cabinas ao longo da Calçada da Glória.[14]:56-70

Durante o período em que o mesmo era movido a água e a vapor, o funicular funcionava num sistema de cremalheira do tipo Riggenbach para segurança na frenagem. Projetos e fotos das cabinas [14]:13, 34, 37, 38 mostram um sistema de cremalheira lateral utilizado em conjunto com um par de carris padrão. Um ou ambos os eixos de cada cabina tinham um pinhão fixado na sua lateral com sapatas de freio baseado em discos localizado entre as rodas. O pinhão encaixava na cremalheira para evitar o deslizamento das rodas. Testes realizados por Mesnier du Ponsard e pelos engenheiros do governo da cidade em 1885 mostraram que o sistema era suficiente para controlar as cabinas sem o suporte do cabo.[15]
Em 1912, a Nova Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa (NCAML) assinou um contrato com a Câmara Municipal de Lisboa que lhes permitiu eletrificar as linhas. Estas reparações e instalações ocorreram entre 1914 e 1915.[12] O sistema de cremalheira e pinhão foi removido nesta altura.[14]:50
A partir desta época, cada eixo das rodas era acionado por motores elétricos.[1]:1 O cabo do funicular, agora passivo, contrabalançava a carga entre as cabinas, e os motores requeriam apenas força suficiente para ascender ou descender as cabinas por meio do atrito das rodas nos carris. A frenagem é feita por uma morsa vertical que pressiona pneumaticamente a parte superior e inferior do canal metálico que transporta o cabo subterrâneo entre os carris. Existia também um freio manual auxiliar que pressionava uma sapata contra cada roda.[1]:1
Entre 1913 e 1926 organizou-se uma prova de ciclismo, a Subida à Glória, recuperada a partir de 2013. Consiste na subida em contra-relógio de todo o trajeto, aberta a participantes profissionais e amadores.[11]
Em 1926, a Nova Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa foi dissolvida, e o funicular passou a ser propriedade da Companhia Carris. No âmbito da mudança, em 1927, foi inaugurado um abrigo para passageiros, que foi construído ao longo da Praça dos Restauradores, que foi contestada. Foi demolido em 1934.[12]
Em 1987, a banda Rádio Macau lança em máxi single e LP epónimos a faixa “O Elevador da Glória”.[16]

A 1 de agosto de 1995, a Carris apresentou uma proposta de classificação da linha como património, à qual o conselho consultivo do IPPAR (atual Museus e Monumentos de Portugal) propôs a classificação do elétrico como Monumento Nacional a 11 de março de 1997. Um despacho de 9 de abril de 1997 recomendou a aprovação pelo Ministro da Cultura e a atribuição do estatuto de Monumento Nacional foi efetivada em fevereiro de 2002.[5][12] Foi proposta a extensão da classificação ao edifício da antiga central a vapor na Travessa do Fala-Só e a retificação da lei, a qual foi aprovada a 7 de janeiro de 2003 pelo IPPAR.[12]
Descarrilamentos
[editar | editar código]A 7 de maio de 2018, uma falha de manutenção grave, inicialmente identificada como uma “anomalia técnica”, causou o descarrilamento de um dos veículos, embora sem que o mesmo tombasse e sem causar quaisquer vítimas. O elevador ficou inoperacional durante um mês.[17][18]
O incidente ocorrido em 2018, teria já revelado graves anomalias de manutenção. Segundo António Carloto, membro da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro com conhecimento de questões técnicas ferroviárias, foi facilmente constatável no dia do incidente que o verdugo, a parte saliente das rodas dos veículos que encaixa no carril e evitam o descarrilamento, praticamente teria desaparecido. Este desgaste terá levado a que os rodados do ascensor saltassem para fora dos carris. Ao lado, na calçada, via-se o rasto das rodas de aço deixado sobre as pedras. Também segundo o mesmo já seria espectável que num futuro incidente as consequências pudessem ser mais graves. De acordo com responsáveis da Carris os veículos ficariam em "perfeitas condições de segurança e funcionamento para os próximos dois anos".[17]

A 3 de setembro de 2025, entre as 18:03 e as 18:04, quebrou-se a ligação entre as duas cabinas do elevador, o que terá feito com que a cabina nº1, que se encontrava perto da posição superior junto ao Jardim de São Pedro de Alcântara, se soltasse, descendo a calçada da Glória desgovernada em grande velocidade até descarrilar e embater no edifício localizado no cotovelo da Calçada da Glória. A cabina nº2, que estava perto da posição inferior junto à Praça dos Restauradores, descaiu cerca de dez metros, ficando presa pelo gradil no limite inferior do carril, sem descarrilar.[19][20] O alerta para o acidente foi dado às 18:08.[21][22] O acidente causou 16 mortos e 22 feridos,[23][24] entre ocupantes da carruagem e transeuntes que circulavam na calçada da Glória,[25][26][18] nove dos quais em estado grave.[27][23]
Ver também
[editar | editar código]- Funiculares e elevadores de Portugal
- Bonde de Santa Teresa
- Elevador da Bica
- Elevador do Chiado
- Elevador da Estrela
- Elevador da Graça
- Elevador do Lavra
- Elevador do Município
- Elevador de Santa Justa
- Elevador de São Sebastião
Referências
- ↑ a b c d e f «NOTA INFORMATIVA» (PDF). GPIAAF. 6 de setembro de 2025. Consultado em 6 de setembro de 2025. Cópia arquivada (PDF) em 7 de setembro de 2025
- ↑ Agência Lusa (11 de setembro de 2025). «Elevador da Glória: Carris lança na sexta-feira carreira alternativa ao ascensor». Público. Consultado em 13 de setembro de 2025
- ↑ André, Mário Rui (5 de setembro de 2025). «Veículo é "irrecuperável", mas Lisboa vai ter um "novo" Elevador da Glória». Lisboa para Pessoas. Consultado em 5 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 6 de setembro de 2025
- ↑ a b c Rawnsley, Jessica; Roberts, Alison (4 de setembro de 2025). «Lisbon crash one of our biggest tragedies, Portuguese PM says». www.bbc.com (em inglês). Consultado em 14 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 10 de setembro de 2025
- ↑ a b c Ascensor Glória : 51E Restauradores - S. Pedro Alcantâra no sítio oficial da Carris
- ↑ Mapa de Lisboa 1:1000, 1950
- ↑ Ferreira, Marta (4 de setembro de 2025). «Fez viagens à luz das velas e chegou a ter dois pisos: 140 anos de história do Elevador da Glória». SIC Notícias. Consultado em 4 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 6 de setembro de 2025
- ↑ a b Agência Lusa (24 de outubro de 2015). «Elevador da Glória, a atracção que liga há 130 anos a Baixa de Lisboa ao Bairro Alto». Jornal de Negócios. Consultado em 14 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 14 de setembro de 2025
- ↑ a b Sarkar, Alisha Rahaman (4 de setembro de 2025). «What is Lisbon's funicular cable and how does it work?». The Independent (em inglês). Consultado em 5 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 6 de setembro de 2025
- ↑ Khalip, Andrei (4 de setembro de 2025). «Key facts about Lisbon's historic Gloria cable railway». Reuters (em inglês). Consultado em 5 de setembro de 2025
- ↑ a b Subida à Glória. Federação Portuguesa de Ciclismo: s/l, 2013: 1.
- ↑ a b c d e f g h i Vale, Teresa; Ferreira, Maria; Matias, Cecília (1999), SIPA, ed., Ascensor da Glória (IPA.00003986/PT031106150376), Lisbon, Portugal: SIPA –Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, consultado em 11 de fevereiro de 2016, cópia arquivada em 17 de fevereiro de 2016
- ↑ Thomas, Peter (4 de setembro de 2025). «Wie konnte es zum Seilbahn-Unglück in Lissabon kommen?». FAZ.NET (em alemão). Consultado em 14 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 7 de setembro de 2025
- ↑ a b c da Costa, João Manuel Hipólito Firmino (2008). «Um caso de património local: A tomada de Lisboa pelos ascensores» (PDF). core.ac.uk. Consultado em 14 de setembro de 2025. Cópia arquivada (PDF) em 11 de dezembro de 2023
- ↑ António Paes Sande e Castro (1954). «A Vida Atribulada de uma Companhia Lisboeta de Viação» (PDF). Olisipo (65): 13–26
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 13 de março de 2012. Arquivado do original em 5 de junho de 2012
- ↑ a b Cipriano, Carlos (17 de maio de 2018). «O elevador da Glória descarrilou e ninguém disse nada». PÚBLICO. Consultado em 3 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 3 de setembro de 2025
- ↑ a b Moura dos Santos, António; Costa, Cátia Andrea (3 de setembro de 2025). «Em direto/ Elevador da Glória em Lisboa descarrilou após cabo partir-se. PSP confirma que há mortos e Marcelo quer que acidente "seja rapidamente esclarecido"». Observador. Consultado em 3 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 3 de setembro de 2025
- ↑ «NOTA INFORMATIVA» (PDF). GPIAAF. 6 de setembro de 2025. Consultado em 6 de setembro de 2025. Cópia arquivada (PDF) em 7 de setembro de 2025
- ↑ GPIAAF (6 de setembro de 2025). «Publicação de Nota Informativa | GPIAAF». www.gpiaaf.gov.pt. Consultado em 7 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 7 de setembro de 2025
- ↑ André, Mário Rui (3 de setembro de 2025). «Lisboa de luto com descarrilamento mortal do Elevador da Glória». Lisboa Para Pessoas. Consultado em 3 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 6 de setembro de 2025
- ↑ Martins, Ruben (3 de setembro de 2025). «Elevador da Glória: cabo de segurança partiu e originou acidente que provocou mortes». PÚBLICO. Consultado em 3 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 3 de setembro de 2025
- ↑ a b Lopes, Miguel (4 de setembro de 2025). «Elevador da Glória. Proteção Civil corrige número de mortos para 16». Rádio e Televisão de Portugal. Consultado em 4 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 4 de setembro de 2025
- ↑ Alhinho, Leonor (4 de setembro de 2025). «Dia de luto nacional: 15 mortos e 23 feridos no descarrilamento do Elevador da Glória». PÚBLICO. Consultado em 4 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 8 de setembro de 2025
- ↑ SBT News (3 de setembro de 2025). «Descarrilamento do Elevador da Glória deixa ao menos três mortos em Lisboa». SBT News. Consultado em 3 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 3 de setembro de 2025
- ↑ Ferreira, Luciano (3 de setembro de 2025). «Elevador da Glória descarrilha em Lisboa e deixa ao menos três mortos e cerca de 20 feridos, dois em estado grave». O Globo. Consultado em 3 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 3 de setembro de 2025
- ↑ Rádio e Televisão de Portugal (3 de setembro de 2025). «Elevador da Glória. Nove feridos graves nos hospitais de Lisboa». Elevador da Glória. Nove feridos graves nos hospitais de Lisboa. Consultado em 3 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 3 de setembro de 2025
Bibliografia
[editar | editar código]- O Occidente [The West]. VIII. [S.l.: s.n.] 1885
- Capitão, Maria Amélia Motta (1974). Subsídios para a História dos Transportes Terrestres em Lisboa no Século XIX [Support for the History of Land Transport in Lisbon in the 19th Century]. Lisbon, Portugal: [s.n.]
- Larange, José (1993). O Ascensor da Glória. Lisboa [The Gloria Funicular. Lisbon] Série II, Ano III ed. [S.l.]: CCFL
- Larange, José (1993). O Ascensor da Glória. Lisboa [The Gloria Funicular. Lisbon]. [S.l.]: O Livro da Carris
- João Manuel Hipólito Firmino da Costa: “Um caso de património local: A tomada de Lisboa pelos ascensores” Universidade Aberta: Lisboa, 2008.
Ligações externas
[editar | editar código]- Ascensor da Glória in Pesquisa de Património (IGESPAR)
- Contrato Manuteção Último contrato celebrado fonte base.gov.pt


