Ramal de Cáceres

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Ramal de Cáceres
Troço do Ramal de Cáceres, perto de Castelo de Vide
Troço do Ramal de Cáceres, perto de Castelo de Vide
Troço do Ramal de Cáceres, perto de Castelo de Vide
Comprimento:81,5 km
Bitola:Bitola larga
Track turning from left Continuation to right
Linha do LesteAbrantes
Unknown route-map component "eBHF"
00174,2 Torre das Vargens
Continuation to left Junction to right
Linha do LesteBadajoz
Unknown route-map component "eHST"
186,4 Cunheira
Unknown route-map component "eHST"
200,7 Vale do Peso-A
Unknown route-map component "eBHF"
0203,4 Vale do Peso
Unknown route-map component "exCONTr" Unknown route-map component "eABZlg"
R. PortalegrePortalegre (proj. ab.)
Unknown route-map component "eBHF"
223,4 Castelo de Vide
Unknown route-map component "eABZlf" Unknown route-map component "exCONTl"
R. PortalegreL.ª B.ª Bx.ª (proj. ab.)
Station on track
0238,9 Marvão-Beirã
Restricted border on track
246,7 PortugalEspanha
Station on track
0255,6 Valencia de Alcántara
Continuation forward
Cáceres

O Ramal de Cáceres, também conhecido como Linha de Cáceres, é uma ferrovia portuguesa em bitola ibérica não-eletrificada, no norte do Alentejo, que liga a liga a estação de Torre das Vargens, na Linha do Leste, à fonteira com Espanha na estação de Marvão - Beirã, numa distância total de 81,5 km, servindo também Castelo de Vide, e ligando-se à rede ferroviária espanhola em Cáceres. A linha encontra-se em funcionamento com tráfego de mercadorias, sendo que o tráfego de passageiros é, atualmente, composto exclusivamente pelos serviços internacionais.

História

Antecedentes

Já desde os primórdios do planeamento ferroviário em Espanha, em 1845 e 1846, que se delineou a construção das linhas da Extremadura, que ligariam Madrid até à fronteira portuguesa, uma passando por Badajoz, e outra, por Cáceres; a ligação por Badajoz foi aberta em 1866, embora o tortuoso traçado da rede espanhola, naquela altura, forçasse as composições a dar uma grande volta para ligar as duas capitais ibéricas.[1]

Planeamento, construção e inauguração

Assim, procurou-se construir a outra linha já planeada, por Cáceres, tendo a sua instalação sido concessionada a duas companhias; a Compañia del Ferrocarril del Tajo seria responsável pela linha entre Madrid e Malpartida de Plasencia, e a Sociedad de los Ferrocarriles de Cáceres a Malpartida y a la frontera portuguesa devia construir o troço desde aquele ponto até à fronteira portuguesa.[1] Esta parte da linha foi dividida em duas concessões, uma correspondente ao troço de Malpartida a Cáceres, e a outra, desta localidade até à fronteira.[1] No entanto, devido à intenção que já existia em chegar a acordo com a primeira companhia, para gerir toda a linha da fronteira a Madrid, os planos foram alterados, pelo que o troço até à capital espanhola não principiou em Cáceres, mas na estação de Arroyo, entre aquela cidade e a fronteira; esta decisão iria trazer efeitos nefastos para Cáceres, uma vez que aquela localidade ficou, assim, fora da ligação principal entre as metrópoles ibéricas.[1]

A Sociedad de los Ferrocarriles de Cáceres a Malpartida y a la frontera portuguesa era formada por vários investidores espanhóis e portugueses, incluindo a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses[1]; o principal objectivo da Companhia Real era transportar até ao Porto de Lisboa os fosfatos das minas de Cáceres, com cuja empresa exploradora a Companhia tinha estabelecido um contrato.[2]

A Companhia Real obteve a concessão para a construção do troço em Portugal no dia 19 de Abril de 1877, sem apoios estatais, tendo as obras começado em 15 de Julho de 1878.[2] A abertura provisória ao serviço do troço construído em território português, inicialmente apenas para serviços de pequena velocidade, deu-se em 15 de Outubro de 1879[2], tendo a abertura oficial sido realizada no dia 6 de Junho de 1880.[2]

No dia 22 de Novembro de 1880, uma reunião em Paris deliberou que a Sociedad de los Ferrocarriles de Cáceres a Malpartida y a la frontera portuguesa seria totalmente dissolvida, e que a Compañia del Ferrocarril del Tajo seria integrada numa nova companhia, que seria responsável por ambas as linhas.[3] Esta empresa foi constituída no dia 7 de Dezembro do mesmo ano, em Madrid, com o nome de Compañia del Ferrocarril de Madrid a Cáceres y Portugal.[1] Entretanto, o troço entre Valência de Alcântara e Cáceres entrou ao serviço em 15 de Outubro do mesmo ano. [1]

Ligação a Madrid

Estação terminal, em Cáceres, na Estremadura, em Espanha.

Ainda foi planeado aproveitar parte do traçado da Linha da Beira Baixa para construir uma ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid, mas decidiu-se, posteriormente, utilizar o Ramal de Cáceres para este fim.[4]

A ligação entre a capital espanhola e Valência de Alcântara foi oficialmente inaugurada no dia 8 de Outubro de 1881, na presença dos reis Luís I de Portugal e Afonso XII de Espanha, com a conclusão das obras no troço entre aquela localidade e Cáceres.[3][5] Dois comboios especiais, um português e outro espanhol, transportaram os monarcas e as suas comitivas até à cidade de Cáceres, aonde a cerimónia de inauguração se realizou.[1] Este evento foi acompanhado de festejos, tendo sido organizados um banquete e uma corrida de touros.[1] Neste mesmo dia, entrou ao serviço a ligação entre Arroyo e Malpartida de Plasencia; a ligação a Madrid só foi concluída, no entanto, com a abertura do troço entre Malpartida e La Bazagona, em 20 de Outubro do mesmo ano.[1]

Uma vez que esta nova ligação era consideravelmente mais curta, e, por isso, mais rápida, entre Lisboa e Madrid do que a passagem pela Linha do Leste, iniciaram-se alguns serviços internacionais de passageiros, embora o Ramal de Cáceres não reunisse as melhores condições para este tipo de tráfego, devido ao seu carácter industrial.[2][6]

Em 1885, ficou decidido que a exploração da linha seria entregue à Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, mas esta empresa teve de abdicar deste direito, devido a problemas financeiros, em 1891; a Compañia de Madrid a Cáceres y Portugal ficou, assim, numa complicada situação económica, e, de forma a evitar a interrupção da circulação ferroviária, os investidores de origem francesa integraram, em 1893, esta empresa na Compañia de Explotación de los Ferrocarriles de Madrid a Cáceres y Portugal, y de Oeste.[1]

Século XX

Em 1928, a Compañia de Explotación de los Ferrocarriles de Madrid a Cáceres y Portugal, y de Oeste foi apreendida pelo estado espanhol, e inserida na Compañia Nacional de los Ferrocarriles del Oeste de España; esta empresa seria, em 1941, integrada, junto com todas as linhas de bitola larga em Espanha, na Red Nacional de los Ferrocarriles Españoles.[1]

Em 23 de Maio de 1971, foi aberta ao serviço a variante de Casar de Cáceres, que alterou o traçado da linha entre Madrid e Lisboa, passando a transitar pela cidade de Cáceres; a inauguração oficial deu-se em 22 de Junho do mesmo ano, numa cerimónia na qual participaram os então príncipes Juan Carlos da Espanha e Sofia da Grécia.[7] O principal motivo para modificação, cujas custos ascenderam a 120,8 milhões de pesetas, foi a necessidade de melhorar as ligações ferroviárias em Cáceres, que se tornou, assim, num nó ferroviário, com a linha de Linha de Gijón a Sevilha.[8]

Em 7 de Outubro de 1981, foi realizada uma cerimónia de comemoração do centenário da ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid, aonde participaram os ministros das comunicações espanhol e português, altos funcionários das operadoras Caminhos de Ferro Portugueses e Red Nacional de Ferrocarriles Españoles, e várias autoridades regionais e locais; na estação de Valência de Alcântara, foi descerrada uma placa comemorativa do centenário.[3] Em seguida, foi realizada uma viagem comemorativa até Arroyo de Malpartida, numa composição dos Caminhos de Ferro Portugueses rebocada por uma locomotiva a diesel; nesta estação, a comitiva passou para um comboio histórico português, formado pela locomotiva 23, a vapor, e 4 carruagens e um vagão, todas construídas no Século XIX.[3] Em Cáceres, foi inaugurada uma exposição relativa ao centenário no Museu Provincial, tendo a cerimónia sido terminada com um almoço.[3]

Em 1995, tinha uma importância secundária na rede ferroviária portuguesa, sendo mais utilizada como ligação internacional; nesta altura, os serviços de passageiros eram assegurados por automotoras da Série 0100.[9]

Circularam, por esta ligação, vários serviços internacionais de passageiros, como o TER Lisboa Expresso[10], o Talgo Luís de Camões, e o Lusitânia Expresso.[11]

Século XXI

Segundo dados da operadora Comboios de Portugal, em 2010, o Ramal de Cáceres registou uma procura de 4331 passageiros, com uma média de 16 passageiros por dia, ou seja, 4 passageiros por comboio; sendo a receita média de aproximadamente cinco euros por passageiro, ou seja, vinte euros por composição, enquanto os custos do serviço atingiam os 761.418 euros por ano, correspondendo a cerca de 522 euros por comboio.[12]

A empresa Comboios de Portugal encerrou, no dia 1 de Fevereiro de 2011, os comboios regionais de passageiros, que operava no Ramal de Cáceres.[13][14][15]; ficaram, assim, apenas a circular os serviços Lusitânia Comboio Hotel.[16] No entanto, no Plano Estratégico de Transportes, documento oficial apresentado pelo governo português em Outubro, foi anunciada, entre outras medidas, a intenção de modificar o percurso destes comboios para a Linha da Beira Alta até ao final do mesmo ano, para se proceder à total desactivação do Ramal de Cáceres.[16]

Ver também

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l «Los pueblos ibericos afirman sua buena vecindad con los lazos del ferrocarril». Barcelona. Via Libre (em espanhol). 18 (213): 20, 24. Outubro de 1981 
  2. a b c d e TORRES, Carlos Manitto (1 de Janeiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 70 (1681). 12 páginas 
  3. a b c d e «Brillante Comemoracion del Centenario de la "Ruta Corta" Madrid-Lisboa». Barcelona. Via Libre (em espanhol). 18 (213): 18, 19. Outubro de 1981 
  4. «Beira alta, Beira baja y los Ramales de Cáceres y Badajoz (II)». Maquetren (em espanhol). 3 (30). 6 páginas. 1994 
  5. «Inauguración del camino de hierro directo de Madrid a la frontera portuguesa». Via Libre (em espanhol). 42 (489): 84, 85. Setembro de 2005 
  6. SOUZA, J. Fernando de (16 de Abril de 1905). «Ligações com a rêde espanhola» (PDF). Lisboa: Typographia do Commercio. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 18 (416). 3 páginas 
  7. «Los Principes de España Inauguram la Variante de Casar de Cáceres». Madrid: Gabinete de Prensa y Difusión de RENFE. Via Libre (em espanhol). 8 (91). 9 páginas. Julho de 1971 
  8. «La Variante de la Línea de Madrid a Lisboa desde la Estación de Casar de Cáceres a Cáceres». Madrid: Gabinete de Prensa y Difusión de RENFE. Via Libre (em espanhol). 8 (92): 7, 8. Agosto de 1971 
  9. «Beira Alta, Beira Baja y los Ramales de Cáceres y Badajoz». Madrid: A. G. B., S. l. Maquetren (em espanhol). 4 (32). 31 páginas 1995 
  10. IGLESIAS, Javier Roselló (1985). «El TER, Veinte Años Despues (y2)». Barcelona: Associació d'Amics del Ferrocarril-Barcelona. Carril (em espanhol) (11). 11 páginas 
  11. GUTIÉRREZ, Jorge Arturo Venegas (1995). «Caceres: estación y nudo ferroviario». Madrid: Resistor, S. A. Maquetren (em espanhol). 4 (37): 50, 54 
  12. «Comboios: corte de serviços permite poupar 7 milhões». Agência Financeira. 30 de Janeiro de 2011. Consultado em 21 de Outubro de 2011 
  13. AMARO, José Bento (1 de Fevereiro de 2011). «Lotação esgotada para o último silvo da "Calhandra" no ramal de Cáceres». Público. Consultado em 27 de Outubro de 2011 
  14. «Serviços regionais no ramal de Cáceres suprimidos em Fevereiro». Sol. 17 de Janeiro de 2011. Consultado em 27 de Outubro de 2011 
  15. AMARO, José Bento (2 de Fevereiro de 2011). «Medida com custos sociais, económicos e ambientais». Público. Consultado em 27 de Outubro de 2011 
  16. a b NORONHA, Alexandra (14 de Outubro de 2011). «Governo vai desactivar parte da linha do Oeste e do Alentejo». Negócios Online. Consultado em 29 de Outubro de 2011 
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Bibliografia

  • SILVA, José Ribeiro da, e RIBEIRO, Manuel (2008). Os Comboios em Portugal. do vapor à electricidade. IV. Lisboa: Edições Terramar