Ramal de Cáceres
Ramal de Cáceres | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Troço do Ramal de Cáceres, perto de Castelo de Vide | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Comprimento: | 81,5 km | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Bitola: | Bitola larga | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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O Ramal de Cáceres, também conhecido como Linha de Cáceres, é uma ferrovia portuguesa em bitola ibérica não-eletrificada, no norte do Alentejo, que liga a liga a estação de Torre das Vargens, na Linha do Leste, à fonteira com Espanha na estação de Marvão - Beirã, numa distância total de 81,5 km, servindo também Castelo de Vide, e ligando-se à rede ferroviária espanhola em Cáceres. A linha encontra-se em funcionamento com tráfego de mercadorias, sendo que o tráfego de passageiros é, atualmente, composto exclusivamente pelos serviços internacionais.
História
Antecedentes
Já desde os primórdios do planeamento ferroviário em Espanha, em 1845 e 1846, que se delineou a construção das linhas da Extremadura, que ligariam Madrid até à fronteira portuguesa, uma passando por Badajoz, e outra, por Cáceres; a ligação por Badajoz foi aberta em 1866, embora o tortuoso traçado da rede espanhola, naquela altura, forçasse as composições a dar uma grande volta para ligar as duas capitais ibéricas.[1]
Planeamento, construção e inauguração
Assim, procurou-se construir a outra linha já planeada, por Cáceres, tendo a sua instalação sido concessionada a duas companhias; a Compañia del Ferrocarril del Tajo seria responsável pela linha entre Madrid e Malpartida de Plasencia, e a Sociedad de los Ferrocarriles de Cáceres a Malpartida y a la frontera portuguesa devia construir o troço desde aquele ponto até à fronteira portuguesa.[1] Esta parte da linha foi dividida em duas concessões, uma correspondente ao troço de Malpartida a Cáceres, e a outra, desta localidade até à fronteira.[1] No entanto, devido à intenção que já existia em chegar a acordo com a primeira companhia, para gerir toda a linha da fronteira a Madrid, os planos foram alterados, pelo que o troço até à capital espanhola não principiou em Cáceres, mas na estação de Arroyo, entre aquela cidade e a fronteira; esta decisão iria trazer efeitos nefastos para Cáceres, uma vez que aquela localidade ficou, assim, fora da ligação principal entre as metrópoles ibéricas.[1]
A Sociedad de los Ferrocarriles de Cáceres a Malpartida y a la frontera portuguesa era formada por vários investidores espanhóis e portugueses, incluindo a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses[1]; o principal objectivo da Companhia Real era transportar até ao Porto de Lisboa os fosfatos das minas de Cáceres, com cuja empresa exploradora a Companhia tinha estabelecido um contrato.[2]
A Companhia Real obteve a concessão para a construção do troço em Portugal no dia 19 de Abril de 1877, sem apoios estatais, tendo as obras começado em 15 de Julho de 1878.[2] A abertura provisória ao serviço do troço construído em território português, inicialmente apenas para serviços de pequena velocidade, deu-se em 15 de Outubro de 1879[2], tendo a abertura oficial sido realizada no dia 6 de Junho de 1880.[2]
No dia 22 de Novembro de 1880, uma reunião em Paris deliberou que a Sociedad de los Ferrocarriles de Cáceres a Malpartida y a la frontera portuguesa seria totalmente dissolvida, e que a Compañia del Ferrocarril del Tajo seria integrada numa nova companhia, que seria responsável por ambas as linhas.[3] Esta empresa foi constituída no dia 7 de Dezembro do mesmo ano, em Madrid, com o nome de Compañia del Ferrocarril de Madrid a Cáceres y Portugal.[1] Entretanto, o troço entre Valência de Alcântara e Cáceres entrou ao serviço em 15 de Outubro do mesmo ano. [1]
Ligação a Madrid
Ainda foi planeado aproveitar parte do traçado da Linha da Beira Baixa para construir uma ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid, mas decidiu-se, posteriormente, utilizar o Ramal de Cáceres para este fim.[4]
A ligação entre a capital espanhola e Valência de Alcântara foi oficialmente inaugurada no dia 8 de Outubro de 1881, na presença dos reis Luís I de Portugal e Afonso XII de Espanha, com a conclusão das obras no troço entre aquela localidade e Cáceres.[3][5] Dois comboios especiais, um português e outro espanhol, transportaram os monarcas e as suas comitivas até à cidade de Cáceres, aonde a cerimónia de inauguração se realizou.[1] Este evento foi acompanhado de festejos, tendo sido organizados um banquete e uma corrida de touros.[1] Neste mesmo dia, entrou ao serviço a ligação entre Arroyo e Malpartida de Plasencia; a ligação a Madrid só foi concluída, no entanto, com a abertura do troço entre Malpartida e La Bazagona, em 20 de Outubro do mesmo ano.[1]
Uma vez que esta nova ligação era consideravelmente mais curta, e, por isso, mais rápida, entre Lisboa e Madrid do que a passagem pela Linha do Leste, iniciaram-se alguns serviços internacionais de passageiros, embora o Ramal de Cáceres não reunisse as melhores condições para este tipo de tráfego, devido ao seu carácter industrial.[2][6]
Em 1885, ficou decidido que a exploração da linha seria entregue à Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, mas esta empresa teve de abdicar deste direito, devido a problemas financeiros, em 1891; a Compañia de Madrid a Cáceres y Portugal ficou, assim, numa complicada situação económica, e, de forma a evitar a interrupção da circulação ferroviária, os investidores de origem francesa integraram, em 1893, esta empresa na Compañia de Explotación de los Ferrocarriles de Madrid a Cáceres y Portugal, y de Oeste.[1]
Século XX
Em 1928, a Compañia de Explotación de los Ferrocarriles de Madrid a Cáceres y Portugal, y de Oeste foi apreendida pelo estado espanhol, e inserida na Compañia Nacional de los Ferrocarriles del Oeste de España; esta empresa seria, em 1941, integrada, junto com todas as linhas de bitola larga em Espanha, na Red Nacional de los Ferrocarriles Españoles.[1]
Em 23 de Maio de 1971, foi aberta ao serviço a variante de Casar de Cáceres, que alterou o traçado da linha entre Madrid e Lisboa, passando a transitar pela cidade de Cáceres; a inauguração oficial deu-se em 22 de Junho do mesmo ano, numa cerimónia na qual participaram os então príncipes Juan Carlos da Espanha e Sofia da Grécia.[7] O principal motivo para modificação, cujas custos ascenderam a 120,8 milhões de pesetas, foi a necessidade de melhorar as ligações ferroviárias em Cáceres, que se tornou, assim, num nó ferroviário, com a linha de Linha de Gijón a Sevilha.[8]
Em 7 de Outubro de 1981, foi realizada uma cerimónia de comemoração do centenário da ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid, aonde participaram os ministros das comunicações espanhol e português, altos funcionários das operadoras Caminhos de Ferro Portugueses e Red Nacional de Ferrocarriles Españoles, e várias autoridades regionais e locais; na estação de Valência de Alcântara, foi descerrada uma placa comemorativa do centenário.[3] Em seguida, foi realizada uma viagem comemorativa até Arroyo de Malpartida, numa composição dos Caminhos de Ferro Portugueses rebocada por uma locomotiva a diesel; nesta estação, a comitiva passou para um comboio histórico português, formado pela locomotiva 23, a vapor, e 4 carruagens e um vagão, todas construídas no Século XIX.[3] Em Cáceres, foi inaugurada uma exposição relativa ao centenário no Museu Provincial, tendo a cerimónia sido terminada com um almoço.[3]
Em 1995, tinha uma importância secundária na rede ferroviária portuguesa, sendo mais utilizada como ligação internacional; nesta altura, os serviços de passageiros eram assegurados por automotoras da Série 0100.[9]
Circularam, por esta ligação, vários serviços internacionais de passageiros, como o TER Lisboa Expresso[10], o Talgo Luís de Camões, e o Lusitânia Expresso.[11]
Século XXI
Segundo dados da operadora Comboios de Portugal, em 2010, o Ramal de Cáceres registou uma procura de 4331 passageiros, com uma média de 16 passageiros por dia, ou seja, 4 passageiros por comboio; sendo a receita média de aproximadamente cinco euros por passageiro, ou seja, vinte euros por composição, enquanto os custos do serviço atingiam os 761.418 euros por ano, correspondendo a cerca de 522 euros por comboio.[12]
A empresa Comboios de Portugal encerrou, no dia 1 de Fevereiro de 2011, os comboios regionais de passageiros, que operava no Ramal de Cáceres.[13][14][15]; ficaram, assim, apenas a circular os serviços Lusitânia Comboio Hotel.[16] No entanto, no Plano Estratégico de Transportes, documento oficial apresentado pelo governo português em Outubro, foi anunciada, entre outras medidas, a intenção de modificar o percurso destes comboios para a Linha da Beira Alta até ao final do mesmo ano, para se proceder à total desactivação do Ramal de Cáceres.[16]
Ver também
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l «Los pueblos ibericos afirman sua buena vecindad con los lazos del ferrocarril». Barcelona. Via Libre (em espanhol). 18 (213): 20, 24. Outubro de 1981
- ↑ a b c d e TORRES, Carlos Manitto (1 de Janeiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 70 (1681). 12 páginas
- ↑ a b c d e «Brillante Comemoracion del Centenario de la "Ruta Corta" Madrid-Lisboa». Barcelona. Via Libre (em espanhol). 18 (213): 18, 19. Outubro de 1981
- ↑ «Beira alta, Beira baja y los Ramales de Cáceres y Badajoz (II)». Maquetren (em espanhol). 3 (30). 6 páginas. 1994
- ↑ «Inauguración del camino de hierro directo de Madrid a la frontera portuguesa». Via Libre (em espanhol). 42 (489): 84, 85. Setembro de 2005
- ↑ SOUZA, J. Fernando de (16 de Abril de 1905). «Ligações com a rêde espanhola» (PDF). Lisboa: Typographia do Commercio. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 18 (416). 3 páginas
- ↑ «Los Principes de España Inauguram la Variante de Casar de Cáceres». Madrid: Gabinete de Prensa y Difusión de RENFE. Via Libre (em espanhol). 8 (91). 9 páginas. Julho de 1971
- ↑ «La Variante de la Línea de Madrid a Lisboa desde la Estación de Casar de Cáceres a Cáceres». Madrid: Gabinete de Prensa y Difusión de RENFE. Via Libre (em espanhol). 8 (92): 7, 8. Agosto de 1971
- ↑ «Beira Alta, Beira Baja y los Ramales de Cáceres y Badajoz». Madrid: A. G. B., S. l. Maquetren (em espanhol). 4 (32). 31 páginas 1995
- ↑ IGLESIAS, Javier Roselló (1985). «El TER, Veinte Años Despues (y2)». Barcelona: Associació d'Amics del Ferrocarril-Barcelona. Carril (em espanhol) (11). 11 páginas
- ↑ GUTIÉRREZ, Jorge Arturo Venegas (1995). «Caceres: estación y nudo ferroviario». Madrid: Resistor, S. A. Maquetren (em espanhol). 4 (37): 50, 54
- ↑ «Comboios: corte de serviços permite poupar 7 milhões». Agência Financeira. 30 de Janeiro de 2011. Consultado em 21 de Outubro de 2011
- ↑ AMARO, José Bento (1 de Fevereiro de 2011). «Lotação esgotada para o último silvo da "Calhandra" no ramal de Cáceres». Público. Consultado em 27 de Outubro de 2011
- ↑ «Serviços regionais no ramal de Cáceres suprimidos em Fevereiro». Sol. 17 de Janeiro de 2011. Consultado em 27 de Outubro de 2011
- ↑ AMARO, José Bento (2 de Fevereiro de 2011). «Medida com custos sociais, económicos e ambientais». Público. Consultado em 27 de Outubro de 2011
- ↑ a b NORONHA, Alexandra (14 de Outubro de 2011). «Governo vai desactivar parte da linha do Oeste e do Alentejo». Negócios Online. Consultado em 29 de Outubro de 2011
Bibliografia
- SILVA, José Ribeiro da, e RIBEIRO, Manuel (2008). Os Comboios em Portugal. do vapor à electricidade. IV. Lisboa: Edições Terramar