Linha do Porto à Póvoa e Famalicão
A Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, igualmente conhecida como Linha do Litoral do Minho ou Linha da Póvoa, foi uma via-férrea de via estreita em Portugal, que ligava a cidade do Porto às localidades de Póvoa de Varzim e Famalicão. O primeiro troço, entre as Estações de Porto-Boavista e Senhora da Hora, foi inaugurado em 1 de Outubro de 1875, tendo a linha chegado a Famalicão em 12 de Junho de 1881.[1]
Caracterização
Descrição física
Esta linha ligava a cidade do Porto a Famalicão, passando pela Póvoa de Varzim.[1] A principal interface desta linha era a estação terminal de Porto-Boavista[2], que foi substituída pela Estação de Porto-Trindade em 1932.[1] Na Estação de Senhora da Hora, havia um entroncamento com a Linha de Guimarães.[3] Na Estação de Famalicão, onde era estabelecida a ligação com a Linha do Minho[1], existiam infra-estruturas próprias para servir a Linha da Póvoa.[4]
A bitola original era de 900 mm, mas a via foi completamente convertida, em 1930, para bitola métrica.[2]
Material circulante
A Companhia do Porto à Póvoa e Famalicão possuía duas locomotivas a vapor, do sistema Fairlie, construídas pela Vulcan Foundry em 1875, que foram as únicas em Portugal com duplos comandos e uma cabine no centro.[5]
Entre 1954 e 1955, começaram a ser utilizadas, nesta linha, as automotoras da Série 9300[6], que seriam substituídas por composições rebocadas pelas locomotivas da Série 9000 na Década de 1990.[7][8] Também circularam, nesta linha, as automotoras da Série 9600.[9]
Em 1982, circulavam, entre as Estações de Porto-Trindade e Póvoa de Varzim, composições rebocadas por locomotivas da Série 9020.[10]
História
Planeamento, construção e inauguração
Em 19 de Junho de 1873, o Barão de Kessler e Temple Ellicot foram autorizados a construir e explorar uma ligação ferroviária, com bitola de 900 milímetros, entre as cidades do Porto e da Póvoa de Varzim, sem quaisquer apoios do estado; um despacho de 30 de Dezembro de 1873 deferiu o trespasse da concessão para a Companhia do Caminho de Ferro do Porto à Póvoa, que foi formada expressamente para aquele fim, tendo uma portaria de 9 de Abril de 1874 validado o processo.[1] As obras decorreram sem grandes problemas, tendo o primeiro troço, entre a Boavista, na cidade do Porto, e a Estação Ferroviária da Póvoa de Varzim sido inaugurado no dia 1 de Outubro de 1875.[1][11] Como previsto, a linha foi construída numa bitola de 900 milímetros, tendo esta sido a primeira linha com via estreita em Portugal.[2]
A Companhia obteve, em 19 de Dezembro de 1876, a autorização para continuar o caminho de ferro até Famalicão, aonde se iria ligar à Linha do Minho; a construção não sofreu quaisquer incidentes, tendo a linha chegado às Fontainhas em 7 de Agosto de 1878, e até Famalicão em 12 de Junho de 1881.[1]
Formação da Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal e alteração de bitola
Uma lei de de 20 de Junho de 1912 estabeleceu as condições para autorizar a fusão entre as Companhias do Caminho de Ferro de Guimarães e do Porto à Póvoa e Famalicão; um dos vários pontos referiu-se ao alargamento da bitola na Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, para 1 metro.[12] O processo de fusão foi atrasado por vários problemas, incluindo o despontar da Primeira Guerra Mundial, tendo ambas as companhias sido fundidas, em 14 de Janeiro de 1927, na Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal; o novo contrato, assinado em 8 de Agosto do mesmo ano, estabeleceu a alteração da bitola nesta Linha, como tinha sido, anteriormente, acordado.[1] As obras de alargamento da via, terminadas em 1930[2], foram efectuadas de forma célere e eficaz, não se tendo verificado interrupções na circulação ferroviária.[1]
Ligação à Trofa e continuação da Linha da Póvoa até à Trindade
Outra das condições para a fusão entre as duas companhias, conforme ordenado pela lei de 20 de Junho de 1912, era a construção de um ramal, entre as estações de Mindelo, na Linha da Póvoa, e Lousado, na Linha de Guimarães, de forma a unir as duas redes[12]; as empresas pediram, no entanto, que o traçado fosse modificado, de forma a se iniciar no tramo entre as Estações de Senhora da Hora e Pedras Rubras da Linha da Póvoa, e a terminar na Trofa, passando por São Pedro de Avioso, o que foi aceite pelo decreto 12568, de 26 de Outubro de 1926.[13] Esta linha entrou ao serviço em 14 de Março de 1932.[1]
A continuação da Linha até à Trindade, na cidade do Porto, foi autorizada à Companhia do Caminho de Ferro do Porto à Póvoa e Famalicão em 20 de Janeiro de 1913, com uma garantia de juro de 9 %[1], que foi, posteriormente, reduzida para 7,5%, pelo Decreto n.º 12988; este documento também autorizou a Companhia a construir ligações até Braga, Esposende e Barcelos.[14] A abertura à exploração da Estação da Trindade só se efectuou, no entanto, em 30 de Outubro de 1938, devido a vários incidentes, que atrasaram as obras.[1]
Segunda metade do Século XX e encerramento
A partir da Década de 1960, esta linha conheceu um aumento inesperado no movimento de passageiros, fruto do crescimento urbano da zona metropolitana do Porto; este acréscimo abrupto na procura revelou-se, no entanto, insustentável para os recursos existentes.[15]
Em 1991, existia um projecto de electrificação para esta linha, razão pela qual as automotoras da Série 9630, que entraram ao serviço nesse ano com vista a reforçar a oferta, vieram desde logo preparadas para a sua adaptação à tracção eléctrica.[8]
Na Década de 1990, foram introduzidos novos horários, que melhoraram consideravelmente a qualidade dos serviços, ao agrupá-los em famílias com destinos, frequências e paragens diferentes; isto resultou numa optimização do material circulante disponível e dos recursos humanos.[16]
A Linha foi encerrada para ser substituída pelo Metro do Porto; em 28 de Abril de 2001, foi encerrado o primeiro troço, entre a Trindade e Senhora da Hora[17], tendo a circulação no troço seguinte, entre a Senhora da Hora a e Póvoa de Varzim, sido oficialmente suspensa na meia-noite do dia 24 de Fevereiro de 2002.[18]
O restante troço, entre a Póvoa de Varzim e Vila Nova de Famalicão, encontra-se a ser convertido numa ciclovia. O percurso entre Gondifelos e Famalicão já se encontra aberto, enquanto que a transformação do troço entre a Póvoa de Varzim e Balasar já se encontrava aprovada em Agosto de 2009.[19]
Ver também
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l TORRES, Carlos Manitto (16 de Março de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 71 (1686): 136, 137
- ↑ a b c d Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 26
- ↑ Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 83
- ↑ Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 26
- ↑ Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 40
- ↑ Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 122
- ↑ AMARO, Jaime (2005). «Automotoras Allan de Via Estreita - Meio Século de Existência». Entroncamento: Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário. O Foguete. 4 (13): 8, 10. ISSN 124550 Verifique
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(ajuda) - ↑ a b «El Ferrocarril del Tajuña». Maquetren (em espanhol). 5 (42): 15, 18. 1996 Erro de citação: Código
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inválido; o nome "Maquetren" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes - ↑ Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 159
- ↑ «FEVE 1600». Barcelona: Associació d'Amics del Ferrocarril-Barcelona. Carril (em espanhol). 1 (1): 16, 20. 1982
- ↑ Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 12
- ↑ a b PORTUGAL. Lei sem número, de 20 de Junho de 1912. Ministério do Fomento - Secretaria Geral. Paços do Governo da República. Publicado no Diário da República n.º 149, Série I, de 27 de Junho de 1912
- ↑ PORTUGAL. Decreto n.º 12:568, de 26 de Outubro de 1926. Direcção Geral de Caminhos de Ferro - Divisão Central e de Estudos. Paços do Governo da República. Publicado no Diário da República n.º 242, Série I, de 29 de Outubro de 1926
- ↑ PORTUGAL. Decreto n.º 12:988, de 23 de Dezembro de 1926. Direcção Geral de Caminhos de Ferro - Divisão Central e de Estudos. Paços do Governo da República. Publicado no Diário da República n.º 4, Série I, de 6 de Janeiro de 1927
- ↑ Martins et al, 1996:66
- ↑ Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 188
- ↑ «As Linhas de Porto-Póvoa-Famalicão e Guimarães - resumo histórico». Via Livre. Consultado em 14 de Abril de 2012
- ↑ «Fim dos comboios na linha da Póvoa e da Trofa a 24 de Fevereiro». Público. 7 de Fevereiro de 2002. Consultado em 14 de Abril de 2012
- ↑ «Antiga linha de comboio vai ser ecopista». Jornal de Notícias. 21 de Agosto de 2009. Consultado em 23 de Outubro de 2009
Bibliografia
- Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 2006. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
- MARTINS, João Paulo, BRION, Madalena, SOUSA, Miguel de, LEVY, Maurício, AMORIM, Óscar (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. [S.l.]: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
- SILVA, José Ribeiro da, e RIBEIRO, Manuel (2008). Os Comboios em Portugal. do vapor à electricidade. II. Lisboa: Edições Terramar
Ligações externas