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Linha do Sorraia

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Linha do Sorraia (1903)
Estação de Quinta Grande
Estação de Quinta Grande
Bitola:Bitola estreita
Unknown route-map component "exCONTr" Unknown route-map component "exSTRlg"
R. PortalegrePortalegre (des.)
Unknown route-map component "exBHF"
Fronteira
Unknown route-map component "exABZlf" Unknown route-map component "exCONTl"
R. PortalegreEstremoz (des.)
Unknown route-map component "exBHF"
Ervedal
Unknown route-map component "exABZrg" Unknown route-map component "exCONTl"
Estremoz
Unknown route-map component "exBHF"
Avis
Unknown route-map component "exABZrg" Unknown route-map component "exCONTl"
R. de MoraÉvora (des.)
Unknown route-map component "exBHF"
Mora
Unknown route-map component "exCONTr" Unknown route-map component "exABZrf"
R. de MoraPonte de Sor (proj. ab.)
Unknown route-map component "exWBRÜCKE1"
× Rib.ª da Raia
Unknown route-map component "exBHF"
Couço
Unknown route-map component "dCONTr"
Unknown route-map component "c" + Track turning from right
Unknown route-map component "exvBS2l" Unknown route-map component "c" Unknown route-map component "d"
L.ª Vendas NovasSetil
Unknown route-map component "veBHF-exKBHFe"
Quinta Grande
Track turning left Unknown route-map component "dCONTl"
L.ª Vendas NovasVendas Novas

A Linha do Sorraia, igualmente conhecida como Linha do Vale do Sorraia, Linha de Aviz a Coruche, corresponde a dois troços ferroviários planeados; o primeiro era entre Fronteira, no Ramal de Portalegre, e Quinta Grande, na Linha de Vendas Novas, passando por Avis[1], enquanto que o segundo, com o mesmo nome, deveria ligar Lisboa a Ponte de Sor.[2]

História

Antecedentes

Nos inícios do Século XX, a região do Vale do Rio Sorraia[3], concentrando os Concelhos de Coruche, Mora e Avis, apresentava várias deficiências, em termos de infra-estruturas de comunicação; com efeito, as vias rodoviárias em todos os concelhos encontravam-se em mau estado, sendo bastante antigas e perigosas.[4] O principal meio de transporte de carga eram as tradicionais carretas alentejanas, que, devido à sua reduzida capacidade, eram insuficientes para as necessidades de transporte, nas alturas do ano mais produtivas.[5] Estes factores, em conjunto, tornavam caro e moroso a deslocação de mercadorias.[5] Por outro lado, as orientações da rede ferroviária nacional fizeram com que esta região ficasse com uma deficiente cobertura, tendo apenas Coruche ficado com acesso ao caminho de ferro, através da Linha de Vendas Novas, que nessa altura encontrava-se em construção.[4] Assim, as estações mais próximas ficaram muito distantes das principais localidades; por exemplo, a estação mais próxima de Mora ficava a cerca de 40 quilómetros de distância, e Avis ficava a 30 quilómetros da Estação de Ponte de Sor, e a 28 quilómetros da de Chança.[4] Esta condição, aliada às deploráveis condições em que se encontravam as estradas, colocava um obstáculo ao desenvolvimento económico da região, especialmente em termos de produção agrícola e florestal.[4]

Planeamento

Antigas instalações da Estação de Mora, em 2009.

No Plano da Rêde Complementar ao Sul do Tejo, elaborado em 1899 por uma comissão nomeada pelo ministro Elvino José de Sousa Brito, estavam incluídas duas linhas de via estreita[4], correspondentes à Rede do Vale do Sorraia; a primeira ligaria Estremoz a Portalegre, passando por Sousel, Fronteira, Cabeço de Vide e a Estação de Portalegre, enquanto que a segunda, denominada de Linha do Sorraia ou Linha do Vale do Sorraia, sairia da linha anterior em Fronteira, e terminava na Estação de Quinta Grande da Linha de Vendas Novas.[1] O seu percurso passaria junto a Ervedal, Cabeção, Avis, Maranhão, Mora, e Couço, e teria um troço em comum com a Linha de Ponte de Sor, no qual passava por Mora.[1][3][6] O propósito deste caminho de ferro seria, principalmente, aliviar os problemas de comunicações da região, e reduzir o seu isolamento em relação ao transporte ferroviário, não só nas principais localidades, mas também nos pontos intermédios, como Santa Justa, São Domingos e Couço, que também apresentavam uma certa importância; por outro lado, a região em si também possuía uma considerável riqueza em termos económicos, principalmente na agricultura, que iria, certamente, ser desenvolvida pelas melhorias nas comunicações.[4]

A escolha do tipo de via foi, em grande parte, motivada por interesses militares, através da Comissão Superior de Guerra.[1][3][7] A construção da linha entre Estremoz e Portalegre podia, no entanto, ser dispensada, caso fosse terminada a ligação entre a Linha de Évora e Ponte de Sor; com efeito, esta última tinha prioridade, uma vez que era em via larga, enquanto que a linha até Portalegre seria em via estreita, o que obrigaria a transbordos, e não permitiria o tráfego entre as suas confinantes.[4] O percurso original da linha para Portalegre foi desviado, de forma a não ficar paralelo à Linha do Leste, e, assim, não transgredir os direitos da Companhia Real, mas assim ficou muito mais longe de Avis.[4] Assim, estas duas linhas foram postas em segundo plano, e excluídas do documento definitivo, estabelecido por um decreto de 15 de Novembro de 1902[4], e aprovado por um outro decreto, de 27 de Novembro.[3] Com efeito, num pedido feito ao Ministro das Obras Públicas para a construção da Linha do Sorraia, foi respondido que o concurso não poderia ser aberto, uma vez que a linha não fora incluída no Plano da Rede, e que a melhor alternativa seria a linha entre Évora e Ponte de Sor[8] (i.e., futuro Ramal de Mora, na altura já em projeto).

Em 8 de Fevereiro de 1903, numa reunião em Avis, foi proposto pelo presidente da câmara, Augusto de Mesquita, formar uma empresa ou sociedade anónima, para angariar, por meio de acções, os meios financeiros necessários para construir o troço entre aquela localidade e Quinta Grande; este tramo, com cerca de 75 quilómetros de extensão, sairia de Quinta Grande e seguiria pela estrada até Couço e Monte do Engal, virando, neste ponto, para Sul, atravessava a Ribeira da Raia por uma ponte de alvenaria a Norte de Mora, passava por Cabeção, e terminava em Avis.[5] O troço entre Quinta Grande e Monte do Engal utilizaria o leito das estradas, enquanto que o resto da linha seria em via própria.[9] Foi realizado um cálculo das despesas de construção e de exploração e uma previsão das receitas, tendo-se chegado à conclusão que a linha poderia ter lucro.[5] Em 23 de Fevereiro, realizou-se, no salão da Sociedade Recreativa de Mora, uma reunião dos principais proprietários e agricultores, para promover a construção da Linha; ficou resolvido que iria ser enviada uma representação ao Rei, de forma a que fosse estudado o traçado da linha.[8] No início desse mês, os dois peticionários Mesquita e Cruz, visitaram Avis, tendo sido bem recebidos pelas populações e pelas autarquias; ambos requereram, igualmente, a continuação da linha, de Avis até Estremoz.[10]

Em Abril, uma comissão, formada por presidentes de Câmara e outros representantes das autarquias de Coruche, Avis e Mora, grandes proprietários da região, e vários deputados, foi a Lisboa entregar uma representação ao Rei, para a construção da Linha.[4] A comissão foi recebida pelo ministro no dia 28, que afirmou estar a par do assunto, e que prometeu estudar os projectos e inserir a linha no Plano da Rede ao Sul do Tejo.[4] A comissão também se encontrou com Vasconcellos Porto, engenheiro em chefe da Exploração da Companhia Real, para lhe pedir que intercedesse junto da empresa, de forma a que esta não levantasse obstáculos à construção da linha; esta solicitação foi aceite pelo engenheiro, que prometeu fazer o que estivesse ao seu alcance para ajudar naquele empreendimento.[4]

Os habitantes e várias associações públicas e privadas dos concelhos comprometeram-se a auxiliar, financeiramente e em termos de mão-de-obra, a construção das Linhas do Sorraia e de Portalegre; por exemplo, a autarquia de Avis decidiu financiar este projecto com 6:000$000 réis, se fosse utilizada via larga, e 3:000$000 réis, caso fosse empregada a via estreita.[4] Tanto esta como a Câmara de Fronteira prometeram auxiliar nas expropriações, de forma a torná-las gratuitas, ou a preços razoáveis.[11]

Assim, o governo voltou a ter interesse na construção destas linhas; como ambas já tinham sido alvo de um inquérito, puderam, nos termos de um decreto de Outubro de 1898, ser classificadas e introduzidas no Plano da Rede, o que foi feito por um decreto de 7 de Maio de 1903.[1][3] Acreditava-se que a entrada em funcionamento desta ligação iria retirar algum do tráfego à Linha de Évora, mas o Governo, agindo em nome do interesse geral, continuou a promover a construção desta linha; por outro lado, esta perda poderia ser, mais tarde, compensada quando fosse aberta a linha até Ponte de Sor.[1][3] Devido ao seu percurso ser quase todo paralelo a parte da Linha do Leste, e a distar menos de 40 quilómetros daquele caminho de ferro, a sua construção só poderia ser realizada com autorização da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, nos termos do contrato de 14 de Setembro de 1859.[1][3] Em meados desse ano, o conselho de administração da Companhia Real deliberou que iria desistir dos seus direitos em relação à Linha do Sorraia, desde que se considerasse o ponto inicial não só em Fronteira, mas também em Portalegre.[12] Em Junho, o agente comercial daquela Companhia, Patrício dos Reis, examinou a Linha, tendo percorrido todo o traçado e estudado as condições do tráfego.[13]

Abertura do concurso

Em 15 de Julho do mesmo ano, foram publicadas, pelo Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, as bases para o concurso para a Linha de Portalegre e para o Ramal de Avis, entre Fronteira e Avis, que seria considerado como o primeiro troço da Linha do Sorraia; o concurso foi realizado em 23 de Setembro.[14] Ambas as linhas deveriam ser de via única, em bitola estreita, devendo o Ramal de Avis abrir só depois da entrada em serviço do troço de Fronteira à Estação de Portalegre.[14] O anúncio da abertura deste concurso provocou manifestações de agradecimento por parte das populações, em Portalegre e em Fronteira.[15] Em 1905, foi estudado o troço entre Mora e Coruche deste caminho de ferro, tendo sido confirmado que o local de entroncamento teria de ser na Estação de Quinta Grande, uma vez que era impossível fazer a ligação a Coruche.[16]

O contrato de concessão para a Linha de Portalegre e o Ramal de Avis foi assinado em 9 de Dezembro, sem garantias de juro nem subvenções quilométricas, com o empresário José Pedro de Matos.[7] Este iniciou logo os estudos, tendo sido confirmado o início do ramal junto à localidade de Fronteira.[17]

Fim do projecto do Ramal de Avis

Posteriormente, tentou-se transferir os direitos da concessão para uma empresa francesa, sem sucesso, pelo que, em 27 de Junho de 1907, um decreto autorizou que o Ramal de Portalegre fosse prolongado, por Castelo de Vide, até à Linha da Beira Baixa, e que o projecto do Ramal de Avis fosse suprimido.[7] Em 9 de Agosto do mesmo ano, foi modificada a concessão, já sem este ramal.[18]

Reorganização de 1930

Linha do Sorraia (1930)
Bitola:Bitola larga
Track turning from left Continuation to right
L.ª do LesteBadajoz
Unknown route-map component "eBHF"
Ponte de Sor
Continuation to left Unknown route-map component "xABZrf"
L.ª do LesteAbrantes
Unknown route-map component "exBHF"
Couço
Continuation to left Unknown route-map component "xABZlg"
L.ª de V. NovasSetil
Unknown route-map component "eBHF"
Quinta Grande
Unknown route-map component "xABZlf" Continuation to right
L.ª de V. NovasVendas Novas
Unknown route-map component "exBHF"
Alcochete
Unknown route-map component "exABZgl+l" Unknown route-map component "exCONTl"
Ramal do MontijoPinhal Novo
Unknown route-map component "exWBRÜCKE"
Ponte de Montijo × R. Tejo
Unknown route-map component "exCONTr" Unknown route-map component "exSTRrf"
Lisboa

O Decreto n.º 18:190, de 28 de Março de 1930, reorganizou a rede ferroviária nacional, e estabeleceu novas bases para os troços ferroviários planeados; assim, foi reintroduzido o Ramal de Avis, em via larga, entre Fronteira e a Estação de Cabeção, com uma estação em Avis.[2] A Linha do Sorraia foi quase completamente modificada, passando a ser, igualmente, em bitola larga, e a iniciar-se em Ponte de Sor e a terminar em Lisboa, passando por Couço, Quinta Grande, e Alcochete, com uma ligação ao Ramal do Montijo; a travessia do Rio Tejo seria feita pela Ponte de Montijo, de grandes dimensões.[2]

Ver também

Referências

  1. a b c d e f g «Linhas do Valle do Sorraia». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (370). 164 páginas. 16 de Maio de 1903 
  2. a b c PORTUGAL. Decreto n.º 18:190, de 28 de Março de 1930. Ministério do Comércio e Comunicações - Direcção Geral de Caminhos de Ferro - Divisão Central e de Estudos - Secção de Expediente, Publicado na Série I do Diário do Governo n.º 83, de 10 de Abril de 1930.
  3. a b c d e f g «Parte Official: Direcção Geral das Obras Públicas e Minas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (371): 184, 185. 1 de Junho de 1903 
  4. a b c d e f g h i j k l m «Aviz a Coruche». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (369): 144, 145. 1 de Maio de 1903 
  5. a b c d «Aviz a Coruche». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (365): 69, 70. 1 de Março de 1903 
  6. «Linhas Portuguezas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (362). 27 páginas. 16 de Janeiro de 1903 
  7. a b c SOUSA, José Fernando de (1 de Fevereiro de 1937). «Abertura do novo troço da Linha de Portalegre» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 49 (1179): 75, 77. Consultado em 12 de Junho de 2013 
  8. a b «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (367). 1 de Abril de 1903. 110 páginas. Consultado em 15 de Julho de 2012 
  9. «Linhas Portuguezas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (361). 10 páginas. 1 de Janeiro de 1903 
  10. «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (367). 16 de Fevereiro de 1903. 59 páginas. Consultado em 21 de Julho de 2012 
  11. «Linhas Portuguezas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (377). 304 páginas. 1 de Setembro de 1903 
  12. «Linhas Portuguesas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (374). 244 páginas. 16 de Julho de 1903 
  13. «Linhas Portuguesas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (372). 212 páginas. 16 de Junho de 1903 
  14. a b «Parte Official». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (375): 263, 271. 1 de Agosto de 1903 
  15. «Linhas Portuguezas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (375). 260 páginas. 1 de Agosto de 1903 
  16. «Linhas Portuguezas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 18 (427): 298, 299. 1 de Outubro de 1905 
  17. «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (384). 416 páginas. 16 de Dezembro de 1903. Consultado em 21 de Julho de 2012 
  18. PORTUGAL. Decreto n.º 13:829, de 17 de Junho de 1927. Ministério do Comércio e Comunicações - Direcção Geral de Caminhos de Ferro - Divisão Central e de Estudos, Publicado na Série I do Diário do Governo n.º 132, de 25 de Junho de 1927.