Ramal de Matosinhos
Ramal de Matosinhos | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Indicador de destino, na antiga Estação de Senhora da Hora | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Comprimento: | 6 km | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Bitola: | Bitola estreita | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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O Ramal de Matosinhos, originalmente conhecido como Ramal de Leixões (não confundir com a Linha de Leixões), e também conhecido como Linha de Leça, foi um troço ferroviário, em bitola métrica (1,000 m), que ligava a Estação Ferroviária de Senhora da Hora, na Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, ao Porto de Leixões, em Portugal; sucedia à Linha de São Gens, construída em 1884, que ligava as Pedreiras de São Gens ao Porto de Leixões.[1] Este Ramal foi aberto à exploração em 6 de Maio de 1893.[2]
Caracterização
Traçado
A antiga Linha de São Gens começava nas pedreiras com o mesmo nome, cruzava, em ângulo recto, a Linha do Porto à Póvoa e Famalicão na Estação de Senhora da Hora, e seguia até à zona portuária de Leixões; a ligação entre as linhas era efectuada por uma concordância, na direcção Norte, na Senhora da Hora.[1] O Ramal de Leixões, que sucedeu à linha primitiva, manteve apenas o troço de Matosinhos à Senhora da Hora, e com uma nova concordância a sul desta estação.[1][3]
O Ramal de Matosinhos iniciava-se na Estação Ferroviária de Senhora da Hora, na Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, e terminava no Porto de Leixões, numa extensão de cerca de 5700 metros.[1]
Exploração Comercial
Este ramal, pelo menos até à inauguração da Linha de Leixões (em 1938), foi muito importante no transporte de mercadorias, sobretudo para a zona do Minho, através da Linha da Póvoa de Varzim, Ramal de Famalicão e Linha de Guimarães. Ficou conhecido, sobretudo, pelo transporte de peixe fresco (em carruagem própria) para a cidade do Porto e para o Minho.[3]
O serviço de passageiros era explorado, recorrendo também a troços da Linha da Póvoa de Varzim, no percurso Matosinhos / Senhora da Hora / Porto-Trindade. Em 1948, por exemplo, o percurso total era feito em 25 minutos (o trajecto no ramal demorava apenas 11 minutos) e circulavam cerca de 15 comboios por dia, em cada sentido.[3]
Vestígios
Desta via férrea existem hoje escassos vestígios. Depois de encerrada, os terrenos, pela Portaria nº180/70[4] de 8 de Abril de 1970, passaram para a posse da Câmara Municipal de Matosinhos, tendo, na sua maioria, sido urbanizados — o traçado é reconhecível apenas em arruamentos coevos paralelos ou construídos no leito da via, tais como a Rua da Barranha e o seu seguimento pela Av. Domingues dos Santos.[carece de fontes]
No entanto, na zona de Matosinhos Sul, parte do canal da antiga linha ferroviária ainda se encontra desocupado, entre a Rua Carlos de Carvalho, atravessando as ruas de Roberto Ivens, Brito Capelo, Brito e Cunha, D. João I e Dr. Afonso Cordeiro. O canal torna a ser visível na zona entre a Travessa Dom Nuno e o cruzamento da Vilarinha, terminando o canal reconhecível na rua fechada entre a Circunvalação e a Rua Vitório Falcão.[carece de fontes]
Parte do leito da linha foi, mais tarde, aproveitado pelo Metro do Porto para a construção da Linha Azul[3]; parte apenas, pois apesar de partilharem os términos (e apenas nominalmente em Matosinhos), estas duas ferrovias apresentam traçados bastante diferentes.[carece de fontes]
História
Antiga Linha de São Gens
Com as obras do Porto de Leixões, houve a necessidade de erguer grandes molhes de atracagem.[3] Tal obrigou a que tivessem de ser colocadas grandes quantidades de pedra, que, depois do esgotamento das pedreiras de Aguiar, passaram a ser retiradas das pedreiras de São Gens.[1] Desta forma, os empreiteiros Dauderni & Duparchy, que tinham sido contratados para as obras dos molhes, construíram, em 1884[1], para a Companhia das Docas do Porto[3], uma linha ferroviária desde as pedreiras até à zona do porto[3][1], com bitola de 900 milímetros.[1]
Transição para a Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal e alteração de bitola
O Porto de Leixões entrou ao serviço em Outubro de 1892.[5] Após a construção dos dois grande molhes (Norte e Sul) a linha de transporte das pedreiras passou a ter um movimento cada vez mais reduzido, o que levou ao seu fim; no entanto, a população de Matosinhos mobilizou-se na exigência do aproveitamento da linha para serviço público de transporte de passageiros e mercadorias até à estação da Senhora da Hora que pertencia à Linha da Póvoa de Varzim.[3]
Em 16 de Novembro de 1891, uma portaria tinha estabelecido as condições para o arrendamento desta ligação à Companhia do Caminho de Ferro do Porto à Póvoa e Famalicão[1], tendo uma licença para este fim sido instituída na mesma data.[6] Como a empreitada das obras em Leixões ainda não tinha sido concluída, a linha ainda pertencia ao empreiteiro Duparchy & Bartissol, pelo que foi com esta empresa que o contrato foi assinado, em 6 de Agosto do ano seguinte.[1] Esta transmissão foi, igualmente, regulada pelas portarias de 2 de Junho de 1893, 31 de Janeiro de 1894, e 17 de Maio de 1895, e por um termo de responsabilidade de 4 de Fevereiro de 1898.[1]
Em 10 de Outubro de 1892, um despacho ministerial ordenou a criação de uma comissão para examinar este caminho de ferro, de modo a saber se reunia as condições necessárias para o estabelecimento de um serviço de passageiros para Matosinhos e Leça, de acordo com a licença de 1891.[6] Como previsto no acordo, a circulação neste caminho de ferro, agora denominado de Ramal de Leixões, iniciou-se em 6 de Maio de 1893, apenas para serviços de passageiros, tendo o transporte de mercadorias sido autorizado por uma portaria de 2 de Junho do mesmo ano.[1][2][3]
Uma outra portaria, datada de 31 de Janeiro de 1894, deferiu a construção, por parte da Companhia do Porto à Póvoa e Famalicão, de uma estação ferroviária e um cais de mercadorias marítimo nos terrenos do Porto de Leixões, cujos projectos foram aprovados por portarias de 28 de Junho e 30 de Agosto do mesmo ano.[1] Além disso, a companhia também estabeleceu outras duas estações, em edifícios particulares no interior da zona portuária; a abertura à exploração destas três interfaces foi autorizada por uma portaria de 30 de Julho de 1895.[1] Em 28 de Março do mesmo ano, as instalações do Porto, incluindo as pedreiras e o Ramal de Leixões, passaram para a administração do Estado, tendo sido mantidos os compromissos anteriores com a Companhia do Porto à Póvoa e Famalicão, que foram revalidados por uma portaria de 20 de Janeiro de 1898.[1]
Em 1897, o engenheiro Justino Teixeira elaborou um projecto para a ligação ferroviária entre a Linha do Minho e o Porto de Leixões, que aproveitaria completamente este ramal; já um outro plano para este caminho de ferro, feito pela comissão técnica do Plano da Rede Complementar ao Norte do Mondego, também incluía a passagem pela Senhora da Hora.[7]
Inicialmente, apenas existia uma concordância a Norte da estação de Senhora da Hora, mas foi construída uma segunda concordância a Sul, autorizada por uma portaria de 30 de Maio de 1898, de forma a se poderem efectuar serviços directos entre a Estação Ferroviária de Porto-Boavista e Matosinhos.[1] Esta foi a primeira ligação ferroviária ao Porto de Leixões, mas, devido às suas características, não permitia um uso pleno das capacidades desta área portuária, situação que só se pôde verificar após a abertura completa da Linha de Leixões[8], em 18 de Setembro de 1938.[1]
Em 1902, a Companhia do Porto à Póvoa introduziu, neste ramal, a utilização de bilhetes de ida e volta.[9]
Em 14 de Janeiro de 1927, a Companhia do Porto à Póvoa e Famalicão foi fundida com a Companhia do Caminho de Ferro de Guimarães, formando a Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal; assim, foi necessário elaborar um novo contrato com o Estado, que foi assinado em 8 de Agosto de 1927.[1] Este documento garantiu a continuidade da exploração deste Ramal por parte da Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal, em acordo com o que tinha sido, anteriormente, estabelecido com a Junta Autónoma do Porto de Leixões.[1] Uma das condições essenciais para a criação da Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal foi a alteração de bitola da Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, de 900 para 1000 milímetros, tendo esta modificação sido realizada, igualmente, no Ramal de Leixões.[1]
Declínio e encerramento
No dia 30 de Junho de 1965[10], o ramal foi encerrado com o argumento que, por causa do seu traçado urbano, causava muitos acidentes na sua passagem pelas principais ruas de Matosinhos.[3]
Ver também
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t TORRES, Carlos Manitto (16 de Março de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 71 (1686): 136, 139
- ↑ a b «Troços de linhas férreas portuguesas abertas à exploração desde 1856, e a sua extensão». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 69 (1652). 529 páginas. 16 de Outubro de 1956
- ↑ a b c d e f g h i j Silva, J.R. e Ribeiro, M. (2009). Os comboios de Portugal - Volume II. 2ª Edição. Terramar. Lisboa
- ↑ «Portaria nº180/70». 8 de Abril de 1970pdf
- ↑ Martins et al, 1996:37
- ↑ a b «Há Quarenta Anos» (PDF). Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 45 (1076). 504 páginas. 16 de Outubro de 1932. Consultado em 10 de Maio de 2012
- ↑ Martins et al, 1996:39
- ↑ Martins et al, 1996:41
- ↑ «Linhas Portuguezas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 15 (339). 42 páginas. 1 de Fevereiro de 1902
- ↑ «Vai ser encerrada, a partir do dia 1 de Julho próximo, a exploração ferroviária do Ramal de Matosinhos» (1859). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 1 de Junho de 1965
Bibliografia
- MARTINS, João Paulo, BRION, Madalena, SOUSA, Miguel de, LEVY, Maurício, e AMORIM, Óscar (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. [S.l.]: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
Ligações externas
- «Mapa do Ramal de Matosinhos (1970)»
- «Colecção de fotos da estação da Senhora da Hora» por Dr. J W F Scrimgeour
Fotos do Ramal de Matosinhos
- Ramal na zona da Barranha (Srª da Hora)
- Ramal na actual rua da Barranha
- (esquerda) Acesso as pedreiras de São Gens e (direita) acesso à estação da Srªda Hora na direcção da Trindade.
- Estação da Senhora da Hora
- Comboio vindo de Matosinhos na Srª da Hora
- Comboio de Matosinhos na Senhora da Hora
- Estação de Matosinhos ao lado da fábrica da RAR
- Estação de Matosinhos na actual zona de Matosinhos Sul