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Coelho Neto: diferenças entre revisões

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'''Henrique Maximiano Coelho Neto''' ([[Caxias (Maranhão)|Caxias]], [[21 de fevereiro]] de [[1864]] — [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], [[28 de novembro]] de [[1934]]) foi um [[escritor]] (cronista, folclorista, romancista, crítico e teatrólogo), [[político]] e professor [[brasil]]eiro, membro da [[Academia Brasileira de Letras]] onde foi o fundador da Cadeira número 2.<ref name=abl/>
'''Henrique Maximiano Coelho Netto''' ([[Caxias (Maranhão)|Caxias]], [[21 de fevereiro]] de [[1864]] — [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], [[28 de novembro]] de [[1934]]) foi um [[escritor]] (cronista, folclorista, romancista, crítico e teatrólogo), [[político]] e professor [[brasil]]eiro, membro da [[Academia Brasileira de Letras]] onde foi o fundador da Cadeira número 2.<ref name=abl/>


Foi considerado o "''Príncipe dos Prosadores Brasileiros''", numa votação realizada em [[1928]] pela revista [[O Malho]].<ref name=abl/> Apesar disto, foi consideravelmente combatido pelos [[modernismo no Brasil|modernistas]], sendo pouco lido desde então, em verdadeiro [[ostracismo]] intelectual e literário.<ref name=liter>{{citar web|url=http://www.fw.uri.br/publicacoes/literaturaemdebate/artigos/n4_9.pdf |título=O Sistema Literário de "A Conquista" |autor=Adeítalo Manoel Pinho |data=2009 |publicado=Revista Literatura em Debate V.3, n.4, p. 109-128 |acessodata=22 de janeiro de 2012}}</ref>
Foi considerado o "''Príncipe dos Prosadores Brasileiros''", numa votação realizada em [[1928]] pela revista [[O Malho]].<ref name=abl/> Apesar disto, foi consideravelmente combatido pelos [[modernismo no Brasil|modernistas]], sendo pouco lido desde então, em verdadeiro [[ostracismo]] intelectual e literário.<ref name=liter>{{citar web|url=http://www.fw.uri.br/publicacoes/literaturaemdebate/artigos/n4_9.pdf |título=O Sistema Literário de "A Conquista" |autor=Adeítalo Manoel Pinho |data=2009 |publicado=Revista Literatura em Debate V.3, n.4, p. 109-128 |acessodata=22 de janeiro de 2012}}</ref>


Nas palavras de [[Arnaldo Niskier]]: "''A vitória do modernismo se fez como se houvesse necessidade de abater um grande inimigo, no caso, Coelho Neto''"<ref name=niskier>{{citar web|url=http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=10142&sid=679 |título=Coelho neto e a modernidade |autor=Arnaldo Niskier |data=12/2/2010 |publicado=Jornal do Commercio |acessodata=25 de janeiro de 2012}}</ref>
Nas palavras de [[Arnaldo Niskier]]: "''A vitória do modernismo se fez como se houvesse necessidade de abater um grande inimigo, no caso, Coelho Netto''"<ref name=niskier>{{citar web|url=http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=10142&sid=679 |título=Coelho netto e a modernidade |autor=Arnaldo Niskier |data=12/2/2010 |publicado=Jornal do Commercio |acessodata=25 de janeiro de 2012}}</ref>


==Biografia ==
==Biografia ==
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Estudou no [[Colégio Pedro II]], onde realizou os cursos preparatórios e ingressou na Faculdade de Medicina, que abandonou em seguida, matriculando-se em [[1883]] na [[Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da Universidade de São Paulo|Faculdade de Direito]] de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]].<ref name=abl/>
Estudou no [[Colégio Pedro II]], onde realizou os cursos preparatórios e ingressou na Faculdade de Medicina, que abandonou em seguida, matriculando-se em [[1883]] na [[Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da Universidade de São Paulo|Faculdade de Direito]] de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]].<ref name=abl/>


No curso jurídico Coelho Neto expande suas revoltas, logo se envolvendo no movimento de alunos contra um professor e, para evitar represálias, transfere-se para a [[Faculdade de Direito do Recife|faculdade do Recife]], e ali conclui o primeiro ano tendo por principal mestre [[Tobias Barreto]].<ref name=abl/>
No curso jurídico Coelho Netto expande suas revoltas, logo se envolvendo no movimento de alunos contra um professor e, para evitar represálias, transfere-se para a [[Faculdade de Direito do Recife|faculdade do Recife]], e ali conclui o primeiro ano tendo por principal mestre [[Tobias Barreto]].<ref name=abl/>


Após este lapso, retorna para São Paulo, e logo participa de movimentos [[Abolicionismo no Brasil|abolicionistas]] e republicanos, entrando em choque com os professores, não chegando a concluir o curso.<ref name=abl/>
Após este lapso, retorna para São Paulo, e logo participa de movimentos [[Abolicionismo no Brasil|abolicionistas]] e republicanos, entrando em choque com os professores, não chegando a concluir o curso.<ref name=abl/>
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Ativo na campanha pela extinção da escravatura, alia-se a [[José do Patrocínio]]; labora como colaborador do jornal ''[[Gazeta da Tarde]]'' e, depois, para o [[A Cidade do Rio]], onde foi secretário, ocasião em que inicia a publicação de seus textos literários.<ref name=abl/>
Ativo na campanha pela extinção da escravatura, alia-se a [[José do Patrocínio]]; labora como colaborador do jornal ''[[Gazeta da Tarde]]'' e, depois, para o [[A Cidade do Rio]], onde foi secretário, ocasião em que inicia a publicação de seus textos literários.<ref name=abl/>


[[Ficheiro:Henrique Maximiano Coelho Neto.png|thumb|esquerda|Coelho Neto, na maturidade.]]
[[Ficheiro:Henrique Maximiano Coelho Netto.png|thumb|esquerda|Coelho Netto, na maturidade.]]
Casou-se em [[1890]] com Maria Gabriela Brandão, filha do professor Alberto Olympio Brandão, com quem teve catorze filhos. Neste mesmo ano é nomeado secretário de governo do estado e em 1891 ocupa a direção de Negócios do Estado.<ref name=abl/>
Casou-se em [[1890]] com Maria Gabriela Brandão, filha do professor Alberto Olympio Brandão, com quem teve catorze filhos. Neste mesmo ano é nomeado secretário de governo do estado e em 1891 ocupa a direção de Negócios do Estado.<ref name=abl/>


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==Academia Brasileira de Letras==
==Academia Brasileira de Letras==
[[Ficheiro:Imortais ABL encenam Lição de Anatomia.png|thumb|300px|Coelho Neto "operando" [[Artur de Azevedo]], numa encenação que imita a [[A Lição de Anatomia do Dr. Tulp|Lição de Anatomia]] de [[Rembrandt]] - com [[Olavo Bilac]] (que assina), entre outros intelectuais que formaram o grupo fundador da ABL.]]
[[Ficheiro:Imortais ABL encenam Lição de Anatomia.png|thumb|300px|Coelho Netto "operando" [[Artur de Azevedo]], numa encenação que imita a [[A Lição de Anatomia do Dr. Tulp|Lição de Anatomia]] de [[Rembrandt]] - com [[Olavo Bilac]] (que assina), entre outros intelectuais que formaram o grupo fundador da ABL.]]
Coelho Neto esteve ao lado de [[Lúcio de Mendonça]], idealizador da Academia Brasileira, nas primeiras reuniões que trataram da criação desta entidade literária, e realizadas nos dois últimos meses de [[1896]].<ref>{{citar web|url=http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=2 |título=Fundação |autor=ABL |data=|publicado=ABL |acessodata=janeiro de 2012}}</ref>
Coelho Netto esteve ao lado de [[Lúcio de Mendonça]], idealizador da Academia Brasileira, nas primeiras reuniões que trataram da criação desta entidade literária, e realizadas nos dois últimos meses de [[1896]].<ref>{{citar web|url=http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=2 |título=Fundação |autor=ABL |data=|publicado=ABL |acessodata=janeiro de 2012}}</ref>


Foi eleito seu presidente no ano de 1926, sucedendo à primeira gestão de [[Afonso Celso]], e foi seguido por [[Rodrigo Otávio]].<ref>{{citar web|url=http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=10 |título=Lista de Presidentes |autor=ABL |data=|publicado=ABL |acessodata=janeiro de 2012}}</ref>
Foi eleito seu presidente no ano de 1926, sucedendo à primeira gestão de [[Afonso Celso]], e foi seguido por [[Rodrigo Otávio]].<ref>{{citar web|url=http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=10 |título=Lista de Presidentes |autor=ABL |data=|publicado=ABL |acessodata=janeiro de 2012}}</ref>


Em 1928, Coelho Neto, que havia sempre recebido hostilidades de [[Oswald de Andrade]], emitiu um parecer em que confere ao escritor ''menção honrosa'' no julgamento do concurso de romance da ABL; apesar de participar do [[Modernismo no Brasil|movimento modernista]], publicamente anti-academicista, Andrade por duas vezes concorreu a uma vaga naquele sodalício.<ref>{{citar web|url=http://www.academia.org.br/abl/media/REVISTA%20BRASILEIRA%2060-GUARDADOS.pdf |título=Um Parecer de Coelho Neto |autor=Academia Brasileira de Letras |data=|publicado=Revista Brasileira - seção ''Guardados da Memória'' |acessodata=25 de janeiro de 2012}}</ref>
Em 1928, Coelho Netto, que havia sempre recebido hostilidades de [[Oswald de Andrade]], emitiu um parecer em que confere ao escritor ''menção honrosa'' no julgamento do concurso de romance da ABL; apesar de participar do [[Modernismo no Brasil|movimento modernista]], publicamente anti-academicista, Andrade por duas vezes concorreu a uma vaga naquele sodalício.<ref>{{citar web|url=http://www.academia.org.br/abl/media/REVISTA%20BRASILEIRA%2060-GUARDADOS.pdf |título=Um Parecer de Coelho Netto |autor=Academia Brasileira de Letras |data=|publicado=Revista Brasileira - seção ''Guardados da Memória'' |acessodata=25 de janeiro de 2012}}</ref>


==Literatura ==
==Literatura ==
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Mesmo nos tempos atuais, sua obra é vista como cheia de "pompa e formalismos", dotado de "artifícios retóricos" que foram rejeitados posteriormente pelos autores [[Regionalismo|regionalistas]], tal como [[Lima Barreto]], e modernistas.<ref name=doce>{{citar web|url=http://docentesfsd.com.br/arquivo/a_construcao_literaria.pdf |título=A construção literária no Brasil República e a formação do caráternacional a partir da obra de Lima Barreto |autor=Juliana P. Rosa; Maria Cândida F. A. Neves|data= Novembro / 2010|publicado=Docentes FSD - ISSN: 2177-0441 – Número 2 |acessodata=janeiro de 2012}}</ref>
Mesmo nos tempos atuais, sua obra é vista como cheia de "pompa e formalismos", dotado de "artifícios retóricos" que foram rejeitados posteriormente pelos autores [[Regionalismo|regionalistas]], tal como [[Lima Barreto]], e modernistas.<ref name=doce>{{citar web|url=http://docentesfsd.com.br/arquivo/a_construcao_literaria.pdf |título=A construção literária no Brasil República e a formação do caráternacional a partir da obra de Lima Barreto |autor=Juliana P. Rosa; Maria Cândida F. A. Neves|data= Novembro / 2010|publicado=Docentes FSD - ISSN: 2177-0441 – Número 2 |acessodata=janeiro de 2012}}</ref>


Lima Barreto, por exemplo, chegou a publicar artigos em periódicos literários, como a [[Revista Contemporânea]] e [[A Lanterna (periódico)|A Lanterna]] em os quais direciona ataques a Coelho Neto, e sua visão tradicional da literatura; dizia que este preocupava-se somente com o estilo, vocabulário e passava ao largo das questões sociais, políticas e morais, deixando de usar a escrita como instrumento de transformação social.<ref name=doce/>
Lima Barreto, por exemplo, chegou a publicar artigos em periódicos literários, como a [[Revista Contemporânea]] e [[A Lanterna (periódico)|A Lanterna]] em os quais direciona ataques a Coelho Netto, e sua visão tradicional da literatura; dizia que este preocupava-se somente com o estilo, vocabulário e passava ao largo das questões sociais, políticas e morais, deixando de usar a escrita como instrumento de transformação social.<ref name=doce/>


Num de seus artigos, Barreto escreveu: "''Em um século deste, o Senhor Coelho Neto ficou sendo unicamente um plástico, um contemplativo, magnetizado pelo [[Gustave Flaubert|Flaubert]] da [[Madame Bovary|Mme Bovary]], com as suas Chinesices de estilo, querendo como os [[Irmãos Goncourt|Goncourts]], pintar com a palavra escrita (...) mas que não fez de seu instrumento artístico um veículo de difusão das idéias de seu tempo...''"<ref name=doce/>
Num de seus artigos, Barreto escreveu: "''Em um século deste, o Senhor Coelho Netto ficou sendo unicamente um plástico, um contemplativo, magnetizado pelo [[Gustave Flaubert|Flaubert]] da [[Madame Bovary|Mme Bovary]], com as suas Chinesices de estilo, querendo como os [[Irmãos Goncourt|Goncourts]], pintar com a palavra escrita (...) mas que não fez de seu instrumento artístico um veículo de difusão das idéias de seu tempo...''"<ref name=doce/>


Um outro fator é apontado por estudiosos como responsável pelo desconhecimento póstumo de sua obra, apesar da grande qualidade dos textos, e reside no fato de que as mesmas era editadas pela [[Livraria Lello e Irmão|Lello]], na cidade [[Portugal|portuguesa]] do [[Porto (Portugal)|Porto]]; esse esquecimento, que perpassa mesmo no meio erudito e acadêmico, continuou mesmo após a publicação em 1958, pela [[editora Nova Aguilar]], de uma coletânea em três volumes intitulada ''Obra Seleta''.<ref name=ab>{{citar web|url=http://www.prp.ueg.br/sic2010/apresentacao/trabalhos/pdf/linguistica/seminario/entre_dois_modus_vivendi.pdf |título=Entre dois modus vivendi: arcaísmo e modernidade em Turbilhão, de Coelho Netto |autor=Rafael Ferreira Campos Mendes e Ewerton de Freitas Ignácio|data=novembro de 2010 |publicado=Universidade Estadual de Goiás |acessodata=janeiro de 2012}}</ref>
Um outro fator é apontado por estudiosos como responsável pelo desconhecimento póstumo de sua obra, apesar da grande qualidade dos textos, e reside no fato de que as mesmas era editadas pela [[Livraria Lello e Irmão|Lello]], na cidade [[Portugal|portuguesa]] do [[Porto (Portugal)|Porto]]; esse esquecimento, que perpassa mesmo no meio erudito e acadêmico, continuou mesmo após a publicação em 1958, pela [[editora Nova Aguilar]], de uma coletânea em três volumes intitulada ''Obra Seleta''.<ref name=ab>{{citar web|url=http://www.prp.ueg.br/sic2010/apresentacao/trabalhos/pdf/linguistica/seminario/entre_dois_modus_vivendi.pdf |título=Entre dois modus vivendi: arcaísmo e modernidade em Turbilhão, de Coelho Netto |autor=Rafael Ferreira Campos Mendes e Ewerton de Freitas Ignácio|data=novembro de 2010 |publicado=Universidade Estadual de Goiás |acessodata=janeiro de 2012}}</ref>
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Foi dos primeiros autores a manifestar preocupações ecológicas; assim como [[Euclides da Cunha]], escrevia contra o desmatamento e as [[queimada]]s na [[Amazônia]], deixando manifestos tais como o que diz: "''Com a morte das árvores, desaparecem as fontes: rios que rolavam águas abundantes derivam agora de filetes rasos e tão escassos que uma quente semana de verão é bastante para secá-los; a caça rareia.''"<ref name=niskier/>
Foi dos primeiros autores a manifestar preocupações ecológicas; assim como [[Euclides da Cunha]], escrevia contra o desmatamento e as [[queimada]]s na [[Amazônia]], deixando manifestos tais como o que diz: "''Com a morte das árvores, desaparecem as fontes: rios que rolavam águas abundantes derivam agora de filetes rasos e tão escassos que uma quente semana de verão é bastante para secá-los; a caça rareia.''"<ref name=niskier/>


Coelho Neto foi um dos folcloristas que, com visão [[Romantismo no Brasil|romântica]], procuraram resgatar a imagem da [[capoeira (arte marcial)|capoeira]] no país, até então vista como uma prática de marginais, como sendo um esporte genuinamente brasileiro; defendia que fosse ensinada nas escolas e nas forças armadas, nestas últimas como técnica de defesa pessoal.<ref>{{citar web|url= http://dialnet.unirioja.es/servlet/dcart?info=link&codigo=2693477&orden=163696 |título=A Capoeira Contemporânea: antigas questões, novos desafios |autor=Vivian Luiz Fonseca |data=junho de 2008|publicado=Recorde: Revista de História do Esporte, volume 1, número 1 |acessodata=21 de janeiro de 2012}}</ref>
Coelho Netto foi um dos folcloristas que, com visão [[Romantismo no Brasil|romântica]], procuraram resgatar a imagem da [[capoeira (arte marcial)|capoeira]] no país, até então vista como uma prática de marginais, como sendo um esporte genuinamente brasileiro; defendia que fosse ensinada nas escolas e nas forças armadas, nestas últimas como técnica de defesa pessoal.<ref>{{citar web|url= http://dialnet.unirioja.es/servlet/dcart?info=link&codigo=2693477&orden=163696 |título=A Capoeira Contemporânea: antigas questões, novos desafios |autor=Vivian Luiz Fonseca |data=junho de 2008|publicado=Recorde: Revista de História do Esporte, volume 1, número 1 |acessodata=21 de janeiro de 2012}}</ref>


Jorge Amado, no livro ''Vida de Luis Carlos Prestes: o cavaleiro da esperança'', resume a obra de Coelho Neto:
Jorge Amado, no livro ''Vida de Luis Carlos Prestes: o cavaleiro da esperança'', resume a obra de Coelho Netto:


“Na Academia Brasileira de Letras, amiga, um homem do país dos rios falava da Grécia. Coelho Neto era de um dos três estados amazônicos, Amazonas, Pará, Maranhão, seus destinos ligados ao grande rio. Havia o cearense, o português, o sírio, o índio, o homem rico e o homem pobre, não havia mulheres, havia a selva, a tragédia, o drama, o inferno em vida. A Amazônia era milhares de romances, de artigos, de poemas. Coelho Neto era símbolo e o chefe de toda uma literatura. Dos homens que haviam substituído na prosa a geração de Aluísio Azevedo, de Raul Pompéia, de Machado de Assis, de Euclides da Cunha e na poesia a geração de Castro Alves. Coelho Neto, ''Príncipe dos Escritores Brasileiros'', considerado o maior de todos os que escreviam no país naquele momento, a literatura dando-lhe um lugar na Câmara, outro lugar na direção de um clube de futebol, dando-lhe empregos. Publicou duzentos livros. Sua letra bonita encheu milhares de folhas de papel, frases, adjetivos, verbos, substantivos, imagens trabalhadas, períodos estudados, os problemas da língua portuguesa de Lisboa caprichosamente analisados. Nem uma linha nesses milhões de linhas sobre os homens lutando na Amazônia, nem uma linha, nem um desaforo, nem um xingamento, contra os que vendiam a Amazônia. A literatura de toda essa geração sem fibra, sem nervos, toda uma geração vendida por migalhas, é a mais sórdida, inútil e falsa literatura do mundo. Mulatos do nordeste e do norte, mestiços do sul, imigrantes de São Paulo, falando todos eles na Grécia. São Luís do Maranhão não é uma cidade do Norte do Brasil: é a ''Atenas Brasileira'', se orgulhando de falar português puro.
“Na Academia Brasileira de Letras, amiga, um homem do país dos rios falava da Grécia. Coelho Netto era de um dos três estados amazônicos, Amazonas, Pará, Maranhão, seus destinos ligados ao grande rio. Havia o cearense, o português, o sírio, o índio, o homem rico e o homem pobre, não havia mulheres, havia a selva, a tragédia, o drama, o inferno em vida. A Amazônia era milhares de romances, de artigos, de poemas. Coelho Netto era símbolo e o chefe de toda uma literatura. Dos homens que haviam substituído na prosa a geração de Aluísio Azevedo, de Raul Pompéia, de Machado de Assis, de Euclides da Cunha e na poesia a geração de Castro Alves. Coelho Netto, ''Príncipe dos Escritores Brasileiros'', considerado o maior de todos os que escreviam no país naquele momento, a literatura dando-lhe um lugar na Câmara, outro lugar na direção de um clube de futebol, dando-lhe empregos. Publicou duzentos livros. Sua letra bonita encheu milhares de folhas de papel, frases, adjetivos, verbos, substantivos, imagens trabalhadas, períodos estudados, os problemas da língua portuguesa de Lisboa caprichosamente analisados. Nem uma linha nesses milhões de linhas sobre os homens lutando na Amazônia, nem uma linha, nem um desaforo, nem um xingamento, contra os que vendiam a Amazônia. A literatura de toda essa geração sem fibra, sem nervos, toda uma geração vendida por migalhas, é a mais sórdida, inútil e falsa literatura do mundo. Mulatos do nordeste e do norte, mestiços do sul, imigrantes de São Paulo, falando todos eles na Grécia. São Luís do Maranhão não é uma cidade do Norte do Brasil: é a ''Atenas Brasileira'', se orgulhando de falar português puro.
A política vendia o país, contraía empréstimos, girava em torno de um produto, ora a borracha, ora o café, ora o açúcar, os literatos ignoravam o país. O povo ignorava os literatos e estes vendiam seus livros em Portugal, quando os vendiam. Para essa geração de sensibilidade de moça-da-cidade-pequena o Brasil não existiu. A literatura era escada para empregos, o livro e o artigo matéria para brilho social. Foi essa geração, amiga, quem pariu num aborto cretino a célebre frase: ''a literatura é um sorriso da sociedade''. A sociedade bailava nos salões pagando com ouro estrangeiro a orquestra, pagando com dólar, libra, com marco, com franco, os vestidos, os sapatos, os sorrisos das mulheres, os sorrisos dos literatos. A tradição de luta e de brasileirismo da literatura nacional se perdia nesses desfibrados, maus escritores além de tudo, reles imitadores de quanta porcaria se publicava na Europa. Comprados por míseros empregos, respondendo à sensibilidade de uma burguesia que não a possuía, preocupados com ridículas questiúnculas gramaticais, trancados numa torre que não era de cristal porque não era de um vidro fosco e opaco, esses mulatos pernósticos do Maranhão, de Pernambuco e da Bahia, esses filhos de imigrantes de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que falavam em Grécia e Paris. Traíam a sua missão de escritor, desconheciam seu povo, empregavam sua voz apenas em cantar ditirambos aos vendedores da pátria. Resultavam da classe que enriquecia à base da entrega do Brasil aos imperialismos. Por isso mesmo tinham de ser neutros, apolíticos e medíocres.”
A política vendia o país, contraía empréstimos, girava em torno de um produto, ora a borracha, ora o café, ora o açúcar, os literatos ignoravam o país. O povo ignorava os literatos e estes vendiam seus livros em Portugal, quando os vendiam. Para essa geração de sensibilidade de moça-da-cidade-pequena o Brasil não existiu. A literatura era escada para empregos, o livro e o artigo matéria para brilho social. Foi essa geração, amiga, quem pariu num aborto cretino a célebre frase: ''a literatura é um sorriso da sociedade''. A sociedade bailava nos salões pagando com ouro estrangeiro a orquestra, pagando com dólar, libra, com marco, com franco, os vestidos, os sapatos, os sorrisos das mulheres, os sorrisos dos literatos. A tradição de luta e de brasileirismo da literatura nacional se perdia nesses desfibrados, maus escritores além de tudo, reles imitadores de quanta porcaria se publicava na Europa. Comprados por míseros empregos, respondendo à sensibilidade de uma burguesia que não a possuía, preocupados com ridículas questiúnculas gramaticais, trancados numa torre que não era de cristal porque não era de um vidro fosco e opaco, esses mulatos pernósticos do Maranhão, de Pernambuco e da Bahia, esses filhos de imigrantes de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que falavam em Grécia e Paris. Traíam a sua missão de escritor, desconheciam seu povo, empregavam sua voz apenas em cantar ditirambos aos vendedores da pátria. Resultavam da classe que enriquecia à base da entrega do Brasil aos imperialismos. Por isso mesmo tinham de ser neutros, apolíticos e medíocres.”


== Obras ==
== Obras ==
{{AP|[[Anexo:Lista de obras de Coelho Neto|Lista de obras de Coelho Neto]]}}
{{AP|[[Anexo:Lista de obras de Coelho Netto|Lista de obras de Coelho Netto]]}}
Dentre os principais trabalhos publicados por Coelho Neto, destacam-se:
Dentre os principais trabalhos publicados por Coelho Netto, destacam-se:
*''[[:s:A Conquista|A Conquista]]''
*''[[:s:A Conquista|A Conquista]]''
*''[[:s:Turbilhão|Turbilhão]]''
*''[[:s:Turbilhão|Turbilhão]]''
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== {{Bibliografia}} ==
== {{Bibliografia}} ==
* [[Afrânio Coutinho|COUTINHO, Afrânio]]; SOUSA, J. Galante de. ''Enciclopédia de literatura brasileira''. [[São Paulo]]: Global.
* [[Afrânio Coutinho|COUTINHO, Afrânio]]; SOUSA, J. Galante de. ''Enciclopédia de literatura brasileira''. [[São Paulo]]: Global.
* COELHO NETO, Zita. ''Coelho Neto, Meu Pai e Grande Amigo''. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1964. (Ano do centenário de nascimento de Coelho Neto)
* COELHO NETTO, Zita. ''Coelho Netto, Meu Pai e Grande Amigo''. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1964. (Ano do centenário de nascimento de Coelho Netto)
* DANTAS, Paulo. ''Coelho Neto''. São Paulo: Melhoramentos, 1953.
* DANTAS, Paulo. ''Coelho Netto''. São Paulo: Melhoramentos, 1953.
* MENEZES, Raimundo de. ''Dicionário literário brasileiro''. 2ª edição. Rio de Janeiro: LTC, 1978.
* MENEZES, Raimundo de. ''Dicionário literário brasileiro''. 2ª edição. Rio de Janeiro: LTC, 1978.


== {{Ligações externas}} ==
== {{Ligações externas}} ==
{{Correlatos
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* {{Link||2=http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=417&sid=94 |3=Biografia}} no sítio oficial da [[Academia Brasileira de Letras]]
* {{Link||2=http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=417&sid=94 |3=Biografia}} no sítio oficial da [[Academia Brasileira de Letras]]
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[[Categoria:Contistas do Maranhão]]
[[Categoria:Contistas do Maranhão]]

Revisão das 14h22min de 26 de maio de 2013

 Nota: Para outros significados, veja Coelho Neto (desambiguação).


Coelho Netto
Coelho netto.jpg
Nome completo Henrique Maximiano Coelho Netto
Nascimento 21 de fevereiro de 1864
Caxias
Morte 28 de novembro de 1934 (70 anos)
Rio de Janeiro
Nacionalidade  Brasileiro
Ocupação Escritor e político
Escola/tradição Simbolismo/Modernismo

Henrique Maximiano Coelho Netto (Caxias, 21 de fevereiro de 1864Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1934) foi um escritor (cronista, folclorista, romancista, crítico e teatrólogo), político e professor brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras onde foi o fundador da Cadeira número 2.[1]

Foi considerado o "Príncipe dos Prosadores Brasileiros", numa votação realizada em 1928 pela revista O Malho.[1] Apesar disto, foi consideravelmente combatido pelos modernistas, sendo pouco lido desde então, em verdadeiro ostracismo intelectual e literário.[2]

Nas palavras de Arnaldo Niskier: "A vitória do modernismo se fez como se houvesse necessidade de abater um grande inimigo, no caso, Coelho Netto"[3]

Biografia

Filho do português Antônio da Fonseca Coelho com a índia Ana Silvestre Coelho, que mudaram-se do Maranhão para o Rio de Janeiro quando o filho contava apenas seis anos de idade.[1]

Estudou no Colégio Pedro II, onde realizou os cursos preparatórios e ingressou na Faculdade de Medicina, que abandonou em seguida, matriculando-se em 1883 na Faculdade de Direito de São Paulo.[1]

No curso jurídico Coelho Netto expande suas revoltas, logo se envolvendo no movimento de alunos contra um professor e, para evitar represálias, transfere-se para a faculdade do Recife, e ali conclui o primeiro ano tendo por principal mestre Tobias Barreto.[1]

Após este lapso, retorna para São Paulo, e logo participa de movimentos abolicionistas e republicanos, entrando em choque com os professores, não chegando a concluir o curso.[1]

Sem se formar, retorna em 1885 para o Rio onde, ao lado de escritores como Olavo Bilac, Luís Murat, Guimarães Passos e Paula Ney forma um grupo cujas experiências vem a retratar no romance "A Conquista", de 1899.[1]

Ativo na campanha pela extinção da escravatura, alia-se a José do Patrocínio; labora como colaborador do jornal Gazeta da Tarde e, depois, para o A Cidade do Rio, onde foi secretário, ocasião em que inicia a publicação de seus textos literários.[1]

Ficheiro:Henrique Maximiano Coelho Netto.png
Coelho Netto, na maturidade.

Casou-se em 1890 com Maria Gabriela Brandão, filha do professor Alberto Olympio Brandão, com quem teve catorze filhos. Neste mesmo ano é nomeado secretário de governo do estado e em 1891 ocupa a direção de Negócios do Estado.[1]

Em 1892 é nomeado para o magistério de História da Arte na Escola Nacional de Belas Artes. Depois leciona literatura no Colégio Pedro II; nesta atividade é nomeado, em 1910, para as cátedras de História do Teatro e Literatura Dramática na Escola de Arte Dramática do Rio, da qual foi mais tarde seu diretor.[1]

Na política tornou-se deputado federal pelo estado natal, em 1909, reeleito em 1917. Ocupou ainda diversos cargos, e integrou diversas instituições culturais.[1] [1]

Em 1923, converteu-se ao Espiritismo, proferindo um discurso no Salão da Guarda Velha no Rio de Janeiro sobre sua adesão.[4] Sobre a matéria, o "Jornal do Brasil" publicou entrevista com o escritor (7 de junho de 1923, anteriormente intransigente adversário do Espiritismo, e que a ele se converteu após ter participado, na extensão do seu escritório, de uma conversa ao telefone entre a sua neta, falecida em tenra idade, e a mãe dela.[5]

Sua vida divide-se, assim, em três fases distintas: na primeira, aquela em que procura se firmar como escritor; a segunda, quando integra o movimento pela Academia, participa da política e obtém reconhecimento e consagração e, finalmente, a terceira, na qual experimenta os ataques modernistas e o consequente esquecimento.[2]

Academia Brasileira de Letras

Coelho Netto "operando" Artur de Azevedo, numa encenação que imita a Lição de Anatomia de Rembrandt - com Olavo Bilac (que assina), entre outros intelectuais que formaram o grupo fundador da ABL.

Coelho Netto esteve ao lado de Lúcio de Mendonça, idealizador da Academia Brasileira, nas primeiras reuniões que trataram da criação desta entidade literária, e realizadas nos dois últimos meses de 1896.[6]

Foi eleito seu presidente no ano de 1926, sucedendo à primeira gestão de Afonso Celso, e foi seguido por Rodrigo Otávio.[7]

Em 1928, Coelho Netto, que havia sempre recebido hostilidades de Oswald de Andrade, emitiu um parecer em que confere ao escritor menção honrosa no julgamento do concurso de romance da ABL; apesar de participar do movimento modernista, publicamente anti-academicista, Andrade por duas vezes concorreu a uma vaga naquele sodalício.[8]

Literatura

O autor, o mais lido no país durante muitos anos, usou de diversos pseudônimos ao longo de sua vida, nas publicações tanto do Rio de Janeiro quanto de outras cidades, dentre os quais Amador Santelmo, Anselmo Ribas, Ariel, Blanco Canabarro, Caliban, Charles Rouget, Democ, Fur-Fur, Manés, N. Puck ou Tartarin.[1]

Sua extensa obra não se prendia a um só gênero,[1] embora seja considerado integrante do parnasianismo. Sua fecunda produção valeu-lhe a crítica de ser um "fabricante de romances".[2]

Mesmo nos tempos atuais, sua obra é vista como cheia de "pompa e formalismos", dotado de "artifícios retóricos" que foram rejeitados posteriormente pelos autores regionalistas, tal como Lima Barreto, e modernistas.[9]

Lima Barreto, por exemplo, chegou a publicar artigos em periódicos literários, como a Revista Contemporânea e A Lanterna em os quais direciona ataques a Coelho Netto, e sua visão tradicional da literatura; dizia que este preocupava-se somente com o estilo, vocabulário e passava ao largo das questões sociais, políticas e morais, deixando de usar a escrita como instrumento de transformação social.[9]

Num de seus artigos, Barreto escreveu: "Em um século deste, o Senhor Coelho Netto ficou sendo unicamente um plástico, um contemplativo, magnetizado pelo Flaubert da Mme Bovary, com as suas Chinesices de estilo, querendo como os Goncourts, pintar com a palavra escrita (...) mas que não fez de seu instrumento artístico um veículo de difusão das idéias de seu tempo..."[9]

Um outro fator é apontado por estudiosos como responsável pelo desconhecimento póstumo de sua obra, apesar da grande qualidade dos textos, e reside no fato de que as mesmas era editadas pela Lello, na cidade portuguesa do Porto; esse esquecimento, que perpassa mesmo no meio erudito e acadêmico, continuou mesmo após a publicação em 1958, pela editora Nova Aguilar, de uma coletânea em três volumes intitulada Obra Seleta.[10]

Em sua obra distingue-se claramente o romantismo, movimento vigente no final do século XIX e começo do XX, eivado de sentimentos de formação de uma identidade nacional; também se pode ver o registro do rural e o urbano, com os retratos da então capital federal.[10]

Opiniões

Foi dos primeiros autores a manifestar preocupações ecológicas; assim como Euclides da Cunha, escrevia contra o desmatamento e as queimadas na Amazônia, deixando manifestos tais como o que diz: "Com a morte das árvores, desaparecem as fontes: rios que rolavam águas abundantes derivam agora de filetes rasos e tão escassos que uma quente semana de verão é bastante para secá-los; a caça rareia."[3]

Coelho Netto foi um dos folcloristas que, com visão romântica, procuraram resgatar a imagem da capoeira no país, até então vista como uma prática de marginais, como sendo um esporte genuinamente brasileiro; defendia que fosse ensinada nas escolas e nas forças armadas, nestas últimas como técnica de defesa pessoal.[11]

Jorge Amado, no livro Vida de Luis Carlos Prestes: o cavaleiro da esperança, resume a obra de Coelho Netto:

“Na Academia Brasileira de Letras, amiga, um homem do país dos rios falava da Grécia. Coelho Netto era de um dos três estados amazônicos, Amazonas, Pará, Maranhão, seus destinos ligados ao grande rio. Havia o cearense, o português, o sírio, o índio, o homem rico e o homem pobre, não havia mulheres, havia a selva, a tragédia, o drama, o inferno em vida. A Amazônia era milhares de romances, de artigos, de poemas. Coelho Netto era símbolo e o chefe de toda uma literatura. Dos homens que haviam substituído na prosa a geração de Aluísio Azevedo, de Raul Pompéia, de Machado de Assis, de Euclides da Cunha e na poesia a geração de Castro Alves. Coelho Netto, Príncipe dos Escritores Brasileiros, considerado o maior de todos os que escreviam no país naquele momento, a literatura dando-lhe um lugar na Câmara, outro lugar na direção de um clube de futebol, dando-lhe empregos. Publicou duzentos livros. Sua letra bonita encheu milhares de folhas de papel, frases, adjetivos, verbos, substantivos, imagens trabalhadas, períodos estudados, os problemas da língua portuguesa de Lisboa caprichosamente analisados. Nem uma linha nesses milhões de linhas sobre os homens lutando na Amazônia, nem uma linha, nem um desaforo, nem um xingamento, contra os que vendiam a Amazônia. A literatura de toda essa geração sem fibra, sem nervos, toda uma geração vendida por migalhas, é a mais sórdida, inútil e falsa literatura do mundo. Mulatos do nordeste e do norte, mestiços do sul, imigrantes de São Paulo, falando todos eles na Grécia. São Luís do Maranhão não é uma cidade do Norte do Brasil: é a Atenas Brasileira, se orgulhando de falar português puro. A política vendia o país, contraía empréstimos, girava em torno de um produto, ora a borracha, ora o café, ora o açúcar, os literatos ignoravam o país. O povo ignorava os literatos e estes vendiam seus livros em Portugal, quando os vendiam. Para essa geração de sensibilidade de moça-da-cidade-pequena o Brasil não existiu. A literatura era escada para empregos, o livro e o artigo matéria para brilho social. Foi essa geração, amiga, quem pariu num aborto cretino a célebre frase: a literatura é um sorriso da sociedade. A sociedade bailava nos salões pagando com ouro estrangeiro a orquestra, pagando com dólar, libra, com marco, com franco, os vestidos, os sapatos, os sorrisos das mulheres, os sorrisos dos literatos. A tradição de luta e de brasileirismo da literatura nacional se perdia nesses desfibrados, maus escritores além de tudo, reles imitadores de quanta porcaria se publicava na Europa. Comprados por míseros empregos, respondendo à sensibilidade de uma burguesia que não a possuía, preocupados com ridículas questiúnculas gramaticais, trancados numa torre que não era de cristal porque não era de um vidro fosco e opaco, esses mulatos pernósticos do Maranhão, de Pernambuco e da Bahia, esses filhos de imigrantes de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que falavam em Grécia e Paris. Traíam a sua missão de escritor, desconheciam seu povo, empregavam sua voz apenas em cantar ditirambos aos vendedores da pátria. Resultavam da classe que enriquecia à base da entrega do Brasil aos imperialismos. Por isso mesmo tinham de ser neutros, apolíticos e medíocres.”

Obras

Ver artigo principal: Lista de obras de Coelho Netto

Dentre os principais trabalhos publicados por Coelho Netto, destacam-se:

  • A Conquista
  • Turbilhão
  • Romance Bárbaro (1914)
  • O Mistério (1920)
  • Fogo fátuo, romance, (1929)
  • Álbum de Caliban, contos, (1897)
  • Contos da vida e da morte, contos, (1927)
  • Mano, Livro da Saudade, romance, (1924)
  • A cidade maravilhosa, contos, (1928)
  • O polvo, romance (1924)
  • Rapsódias, contos, (1891)
  • Sertão (1897)
  • A Bico de Penna
  • Rei Negro (1914)
  • Capital Federal, Impressões de um sertanejo, romance, (1893)
  • A Conquista, romance, (1899)
  • Tormenta, romance, (1901)
  • Imortalidade, lenda, romance, (1926)
  • O Paraíso (1898)
  • Bazar
  • Fogo Fátuo (1930)
  • Fogo de vista (1923)
  • Teatrinho (1905), coletânea de textos dramáticos para crianças, parceria com Olavo Bilac

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n Academia Brasileira de Letras. «Biografia». Consultado em 21 de janeiro de 2012 
  2. a b c Adeítalo Manoel Pinho (2009). «O Sistema Literário de "A Conquista"» (PDF). Revista Literatura em Debate V.3, n.4, p. 109-128. Consultado em 22 de janeiro de 2012 
  3. a b Arnaldo Niskier (12 de fevereiro de 2010). «Coelho netto e a modernidade». Jornal do Commercio. Consultado em 25 de janeiro de 2012 
  4. CURY, Aziz. Legado de Bezerra de Menezes ISBN 978857513091-9
  5. Cronologia Espírita: 1914-1945 Tempos de Comoções in Grupo de Estudos Avançados Espíritas. Visitado em 4 Jun 2011.
  6. ABL. «Fundação». ABL. Consultado em janeiro de 2012  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  7. ABL. «Lista de Presidentes». ABL. Consultado em janeiro de 2012  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  8. Academia Brasileira de Letras. «Um Parecer de Coelho Netto» (PDF). Revista Brasileira - seção Guardados da Memória. Consultado em 25 de janeiro de 2012 
  9. a b c Juliana P. Rosa; Maria Cândida F. A. Neves (Novembro / 2010). «A construção literária no Brasil República e a formação do caráternacional a partir da obra de Lima Barreto» (PDF). Docentes FSD - ISSN: 2177-0441 – Número 2. Consultado em janeiro de 2012  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda)
  10. a b Rafael Ferreira Campos Mendes e Ewerton de Freitas Ignácio (novembro de 2010). «Entre dois modus vivendi: arcaísmo e modernidade em Turbilhão, de Coelho Netto» (PDF). Universidade Estadual de Goiás. Consultado em janeiro de 2012  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  11. Vivian Luiz Fonseca (junho de 2008). «A Capoeira Contemporânea: antigas questões, novos desafios». Recorde: Revista de História do Esporte, volume 1, número 1. Consultado em 21 de janeiro de 2012 

  • COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global.
  • COELHO NETTO, Zita. Coelho Netto, Meu Pai e Grande Amigo. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1964. (Ano do centenário de nascimento de Coelho Netto)
  • DANTAS, Paulo. Coelho Netto. São Paulo: Melhoramentos, 1953.
  • MENEZES, Raimundo de. Dicionário literário brasileiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: LTC, 1978.

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