Rollback: diferenças entre revisões
m |
Fiz ligações internas, adicionei novas informações, referências, a seção "Ver também", dados do Wikidata, três portais e uma imagem. |
||
Linha 1: | Linha 1: | ||
{{Título em itálico}} |
{{Título em itálico}} |
||
{{Info/Genérico/Wikidata|imagem=M102 howitzers during Operation Urgent Fury.jpg|legenda=[[Obus]]eiro [[M102 (obus)|M102]] estadounidense disparando, em 3 de Novembro de 1983, durante a ''Operation Urgent Fury'' ([[invasão de Granada]]).}} |
|||
{{Ver desambig|o mecanismo de reversão de transação em banco de dados|SGBD|prefixo=Se procura}} |
{{Ver desambig|o mecanismo de reversão de transação em banco de dados|SGBD|prefixo=Se procura}} |
||
'''''Rollback''''' ('reversão') em [[ciência política]], é uma [[estratégia]] [[geopolítica]] que consiste em forçar uma mudança nas principais políticas de um [[Estado]], geralmente, [[mudança de regime|substituindo o regime]] vigente. Contrasta com o termo [[contenção]], que significa evitar a expansão daquele Estado, e com ''[[détente]]'', que corresponde a uma relação de trabalho com aquele Estado. A maior parte das discussões de ''rollback'' na literatura acadêmica refere-se à [[política externa dos Estados Unidos]] em relação aos [[Anexo:Lista de estados comunistas atuais|países comunistas]] durante a [[Guerra Fria]]. A estratégia de ''rollback'' foi tentada na [[Guerra da Coreia ]] ([[1950]]) e em [[Cuba]], na [[Invasão da Baía dos Porcos]] ([[1961]]), sem sucesso, mas teve êxito no episódio da [[invasão de Granada]], em [[1983]]. |
|||
Na [[Segunda Guerra Mundial]], o ''rollback'' de governos considerados hostis aos EUA também foi usado, em [[1943]], contra a Itália e, em 1945, contra a Alemanha e o [[Japão]].<ref>{{Citation |first=Russell F |last=Weigley |title=The American Way of War: A History of United States Military Strategy and Policy |year=1977 |pages=145, 239, 325, 382, 391}}.</ref><ref>{{Citation |first=Sidney |last=Pash |chapter=Containment, Rollback and the Onset of the Pacific War, 1933–1941 |editor1-first=G Kurt |editor1-last=Piehler |editor2-first=Sidney |editor2-last=Pash |title=The United States and the Second World War: New Perspectives on Diplomacy, War, and the Home Front |year=2010 |pages=38–67}}.</ref> Em 2001, a mesma estratégia foi usada no |
Na [[Segunda Guerra Mundial]], o ''rollback'' de governos considerados hostis aos EUA também foi usado, em [[1943]], [[Campanha da Itália|contra a Itália fascista]] e, em 1945, contra a [[Alemanha Nazista]] e o [[Império do Japão]].<ref>{{Citation |first=Russell F |last=Weigley |title=The American Way of War: A History of United States Military Strategy and Policy |year=1977 |pages=145, 239, 325, 382, 391}}.</ref><ref>{{Citation |first=Sidney |last=Pash |chapter=Containment, Rollback and the Onset of the Pacific War, 1933–1941 |editor1-first=G Kurt |editor1-last=Piehler |editor2-first=Sidney |editor2-last=Pash |title=The United States and the Second World War: New Perspectives on Diplomacy, War, and the Home Front |year=2010 |pages=38–67}}.</ref> Em 2001, a mesma estratégia [[Guerra do Afeganistão (2001–2021)|foi usada no Afeganistão]] (contra o [[Taliban]]) e, [[Invasão do Iraque em 2003|2003, no Iraque]] (contra [[Saddam Hussein]]). |
||
Quando usado contra um governo estabelecido, o ''rollback'' é, às vezes, denominado "[[mudança de regime]]".<ref>{{cite book| first =Robert | last = Litwak|title=Regime Change: U.S. Strategy Through the Prism of 9/11 |publisher=Johns Hopkins U.P. |url= https://archive.org/details/regimechange00robe/page/109|page=109| isbn = 9780801886423}}</ref> |
Quando usado contra um governo estabelecido, o ''rollback'' é, às vezes, denominado "[[mudança de regime]]".<ref>{{cite book| first =Robert | last = Litwak|title=Regime Change: U.S. Strategy Through the Prism of 9/11 |publisher=Johns Hopkins U.P. |url= https://archive.org/details/regimechange00robe/page/109|page=109| isbn = 9780801886423}}</ref> |
||
== ''Rollback'' na Guerra Fria == |
== ''Rollback'' na Guerra Fria == |
||
Na linguagem estratégica militar estadunidense, a estratégia de ''rollback'' significa destruir o exército inimigo e ocupar o país, tal como foi feito na [[Guerra Civil Americana]] (no setor dos [[Confederados]]) e na [[Segunda Guerra Mundial]], contra a [[Alemanha]] e o [[Japão]]. |
Na linguagem estratégica militar estadunidense, a estratégia de ''rollback'' significa destruir o exército inimigo e ocupar o país, tal como foi feito na [[Guerra Civil Americana]] (no setor dos [[Confederados]]) e na [[Segunda Guerra Mundial]], contra a [[Alemanha]] e o [[Japão]]. |
||
A noção de ''rollback'' militar contra a [[União Soviética]] foi proposta pelo estrategista conservador [[James Burnham]]<ref>Daniel Kelly, ''James Burnham and the struggle for the world: a life'' (2002) p. 155</ref> e outros estrategistas, no [[pós-guerra]] (final da [[década de 1940]]), e pela [[Harry S. Truman|administração Truman]], contra a [[Coreia do Norte]], durante a [[Guerra da Coreia]]. |
A noção de ''rollback'' militar contra a [[União Soviética]] foi proposta pelo estrategista conservador [[James Burnham]]<ref>Daniel Kelly, ''James Burnham and the struggle for the world: a life'' (2002) p. 155</ref> e outros estrategistas, no [[pós-guerra]] (final da [[década de 1940]]), e pela [[Harry S. Truman|administração Truman]], contra a [[Coreia do Norte]], durante a [[Guerra da Coreia]] (''ver: [[Doutrina Truman]]''). Em 7 de Maio de 1945 (véspera da [[Dia da Vitória na Europa]]) em conferência na [[Áustria]] com [[Robert Porter Patterson|Robert P. Patterson]], futuro [[Secretário da Guerra dos Estados Unidos|secretário da guerra]],<ref>{{citar web|url=https://www.fjc.gov/node/1386151|título=Patterson, Robert Porter, Sr. |
||
|autor=|data=|publicado=Federal Judicial Center {{en}}|acessodata=4 de junho de 2022|arquivourl=|arquivodata=|urlmorta=}}</ref> O general [[George S. Patton|George Patton]] declarou: |
|||
{{cquote|(...) ''Devemos manter nossas botas polidas, ''[[baioneta]]s'' afiadas, e apresentarmo-nos fortes perante o ''[[Exército Vermelho]]''. Esta é a única linguagem que eles entendem e respeitam. <br />''(...)'' Não vamos dar tempo para que eles ''([[soviéticos]])'' consigam suprimentos. Se dermos, teremos apenas vencido e desarmado a Alemanha mas teremos falhado na libertação da Europa; teremos perdido a guerra!'' <ref>Mattson, Ed. <span class="plainlinks">[https://www.google.com.br/books/edition/Down_on_Main_Street/oK7gDwAAQBAJ?hl=pt-BR&gbpv=1&dq=Let%E2%80%99s+not+give+them+time+to+build+up+their+supplies+patton&pg=PT154&printsec=frontcover ''Down on Main Street.'']</span> BookWhirl Publishing, 28 de Outubro de 2014, {{en}}, ISBN 9781618565266 Consultado em 4 de junho de 2022.</ref>}} |
|||
O [[governo dos Estados Unidos]] também chegou a considerar o ''rollback'', durante a [[Revolta de 1953 na Alemanha Oriental]] e na [[Revolução Húngara de 1956]], mas descartou essa possibilidade, considerando o risco de um conflito direto com a [[União Soviética]].<ref>Stöver, Bernd (2004), "Rollback: an offensive strategy for the Cold War", in Junker, Detlef (ed.), ''United States and Germany in the era of the Cold War, 1945 to 1990, A handbook'', 1: 1945–1968, pp. 97–102.</ref><ref>Rick Perlstein, ''Before the Storm: Barry Goldwater and the Unmaking of the American Consensus'' (2002)</ref> |
|||
Afinal, em vez de um ''rollback'' militar ostensivo, os Estados Unidos se concentraram principalmente na [[guerra psicológica]] de longo prazo e na assistência militar, aberta ou clandestina, para deslegitimar regimes pró-comunistas e ajudar os insurgentes. Essas |
O [[governo dos Estados Unidos]] também chegou a considerar o ''rollback'', durante a [[Revolta de 1953 na Alemanha Oriental]] e na [[Revolução Húngara de 1956]], mas descartou essa possibilidade, considerando o risco de um conflito direto com a União Soviética.<ref>Stöver, Bernd (2004), "Rollback: an offensive strategy for the Cold War", in Junker, Detlef (ed.), ''United States and Germany in the era of the Cold War, 1945 to 1990, A handbook'', 1: 1945–1968, pp. 97–102.</ref><ref>Rick Perlstein, ''Before the Storm: Barry Goldwater and the Unmaking of the American Consensus'' (2002)</ref> |
||
Afinal, em vez de um ''rollback'' militar ostensivo, os Estados Unidos se concentraram principalmente na [[guerra psicológica]] de longo prazo e na assistência militar, aberta ou clandestina, para deslegitimar regimes pró-comunistas e ajudar os insurgentes. Essas iniciativas começaram já em [[1945]] na [[Europa Oriental]], e incluíram o fornecimento de armas aos combatentes pela independência, nos [[Estados bálticos]] e na [[Ucrânia]]. Outro iniciativa precoce foi contra a [[Albânia]], em [[1949]], após a derrota das forças comunistas na [[Guerra Civil Grega]], naquele ano. Nesse caso, um grupo de agentes foi enviado pelos britânicos e pelos americanos para tentar provocar uma guerra de [[guerrilha]], mas a operação foi denunciada aos soviéticos pelo [[agente duplo]] britânico [[Kim Philby]], o que levou à captura ou morte imediata dos agentes.<ref>{{Citation |first=Tim |last=Weiner |title=Legacy of Ashes: The History of the CIA |place=New York |publisher=Doubleday |year=2007 |pages=45–46}}.</ref> |
|||
=== Coreia === |
=== Coreia === |
||
Na [[Guerra da Coreia]], os Estados Unidos e a [[Organização das Nações Unidas]] endossaram oficialmente uma política de ''rollback'' do regime norte-coreano,e forças da ONU cruzaram o [[paralelo 38]]. |
Na [[Guerra da Coreia]], os Estados Unidos e a [[Organização das Nações Unidas]] endossaram oficialmente uma política de ''rollback'' do regime norte-coreano, e forças da ONU cruzaram o [[paralelo 38]].<ref>{{Citation |first=James I |last=Matray |title=Truman's Plan for Victory: National Self-Determination and the Thirty-Eighth Parallel Decision in Korea |journal=Journal of American History |date=setembro de 1979 |volume=66 |issue=2 |pages=314–33 |jstor=1900879 |publisher=JStor |doi=10.2307/1900879}}.</ref> O governo chinês reagiu, e as forças da ONU foram obrigadas a recuar de volta ao paralelo 38. O fracasso da estratégia de ''rollback'' contribuiu para a decisão dos EUA de voltar à estratégia alternativa de [[contenção]], apesar de sua defesa pelo general [[Douglas MacArthur]], mudou o compromisso dos Estados Unidos com a ''[[détente]]'' sem ''rollback''.<ref>{{Citation |first=Bruce |last=Cumings |title=The Korean War: A History |year=2010 |pages=25, 210}}.</ref><ref>{{cite book|last=James L. Roark|title=Understanding the American Promise, Volume 2: From 1865: A Brief History of the United States|url=https://books.google.com/books?id=ZMlH-LpGRTYC&pg=PA740|year=2011|publisher=Bedford/St. Martin's|page=740|display-authors=etal|isbn=9781457608483}}</ref> |
||
=== China === |
=== China === |
||
Um esforço mais ambicioso foi feito em novembro de [[1950]], na chamada [[Operação Paper]],<ref>[https://apjjf.org/-Peter-Dale-Scott/3436/article.html Operation Paper: The United States and Drugs in Thailand and Burma] Por Peter Dale Scott. ''The Asia-Pacific Journal: Japan Focus'', 1º de novembro de 2010.</ref> que incluía o fornecimento de armamento às tropas [[Kuomintang| chinesas nacionalistas]], no leste da [[Birmânia]], para a Divisão 93 sob o comando do general Li Mi, com o objetivo de invadir a província chinesa de [[Yunnan]]. Todas as curtas investidas de Li Mi contra a [[China]] foram rapidamente repelidas, e depois de mais um fracasso, em agosto de [[1952]], os Estados Unidos começaram a reduzir seu apoio.<ref>Alfred W. McCoy, ''The Politics of Heroin'' (Chicago: Lawrence Hill Books/ Chicago Review Press, 2001), 168-74; Victor S. Kaufman, “Trouble in the Golden Triangle: The United States, Taiwan and the 93rd Nationalist Division,” ''China Quarterly,'' No. 166 (June 2001), 440-56."</ref> |
Um esforço mais ambicioso foi feito em novembro de [[1950]], na chamada [[Operação Paper]],<ref>[https://apjjf.org/-Peter-Dale-Scott/3436/article.html Operation Paper: The United States and Drugs in Thailand and Burma] Por Peter Dale Scott. ''The Asia-Pacific Journal: Japan Focus'', 1º de novembro de 2010.</ref> que incluía o fornecimento de armamento às tropas [[Kuomintang| chinesas nacionalistas]], no leste da [[Birmânia]], para a Divisão 93 sob o comando do general [[Li Mi]], com o objetivo de invadir a província chinesa de [[Yunnan]]. Todas as curtas investidas de Li Mi contra a [[China]] foram rapidamente repelidas, e depois de mais um fracasso, em agosto de [[1952]], os Estados Unidos começaram a reduzir seu apoio.<ref>Alfred W. McCoy, ''The Politics of Heroin'' (Chicago: Lawrence Hill Books/ Chicago Review Press, 2001), 168-74; Victor S. Kaufman, “Trouble in the Golden Triangle: The United States, Taiwan and the 93rd Nationalist Division,” ''China Quarterly,'' No. 166 (June 2001), 440-56."</ref> |
||
=== Administração Reagan === |
=== Administração Reagan === |
||
⚫ | |||
⚫ | A estratégia de ''rollback'' ganhou significativo espaço nos Estados Unidos, durante a [[década de 1980]]. O [[Ronald Reagan|governo Reagan]], instado pela [[Heritage Foundation]] e outros [[Conservadorismo nos Estados Unidos|conservadores]] influentes a armar movimentos como os ''[[Mujahedin]]'', no [[Afeganistão]], os ''[[Contras]]'', na [[Nicarágua]], e outros, em [[Angola]] e no [[Camboja]]. Os Estados Unidos invadiram a ilha de |
||
⚫ | |||
⚫ | A prática dessas intervenções no [[Terceiro Mundo]], por parte do governo Reagan, visando fazer frente à influência global da União Soviética, no final da |
||
⚫ | A estratégia de ''rollback'' ganhou significativo espaço nos Estados Unidos, durante a [[década de 1980]]. O [[Ronald Reagan|governo Reagan]], instado pela [[Heritage Foundation]] e outros [[Conservadorismo nos Estados Unidos|conservadores estadounidenses]] influentes a armar movimentos como os ''[[Mujahedin]]'', no [[Afeganistão]], os ''[[Contras]]'', na [[Nicarágua]], e outros, em [[Angola]] e no [[Camboja]]. Os Estados Unidos [[Invasão de Granada|invadiram a ilha de Granada]] em [[1983]], para, alegadamente, proteger cidadão americanos que ali viviam e restaurar o governo constitucional, derrubado por um [[golpe]].<ref>{{cite book|author=Thomas Carothers|title=In the Name of Democracy: U.S. Policy Toward Latin America in the Reagan Years|url=https://books.google.com/books?id=1NDaha23lSAC&pg=PA113|year=1993|publisher=U. of California Press|pages=113–15|isbn=9780520082601}}</ref><ref>H. W. Brands, Jr., "Decisions on American Armed Intervention: Lebanon, Dominican Republic, and Grenada," ''Political Science Quarterly'' (1987) 102#4 pp. 607-624 [https://www.jstor.org/stable/2151304 in JSTOR]</ref> A invasão se deu apesar de a [[Carta da ONU]] proibir o uso da força pelos Estados membros, exceto em casos de autodefesa ou quando autorizado pelo [[Conselho de Segurança da ONU]]. O Conselho de Segurança da ONU não havia autorizado a invasão.<ref>John M. Karas and Jerald M. Goodman, "The United States Action in Grenada: An Exercise in Real Politik", 16 U. Miami Inter-Am. L. Rev. 53 (1984), [http://repository.law.miami.edu/umialr/vol16/iss1/]</ref><ref>Robert J. Beck, julho de 2008, Max Planck Encyclopedia of Public International Law, [http://opil.ouplaw.com/view/10.1093/law:epil/9780199231690/law-9780199231690-e1292 Oxford Public International Law]</ref><ref>{{Cite journal |jstor = 423822|title = The Invasion of Grenada, 1983 and the Collapse of Legal Norms|journal = Journal of Peace Research|volume = 23|issue = 3|pages = 229–246|last1 = Waters|first1 = Maurice|year = 1986|doi = 10.1177/002234338602300303}}</ref><ref> Abram Chayes, 15 de novembro de 1983, [https://www.nytimes.com/1983/11/15/opinion/1-grenada-was-illegally-invaded.html "Grenada Was Illegally Invaded"]</ref> Da mesma forma, a [[Assembléia Geral das Nações Unidas]] adotou a Resolução 38/7 da Assembléia Geral (por 108 votos a 9, com 27 abstenções), que "lamenta profundamente a [[intervenção armada]] em [[Granada (país)|Granada]], que constitui uma flagrante violação do [[direito internacional]]".<ref name=UN_GA_Resolution_38_7>{{cite web |url=https://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/38/7|title=United Nations General Assembly resolution 38/7 |publisher=United Nations |date= 2 de novembro de 1983}}</ref> Uma resolução semelhante no Conselho de Segurança das Nações Unidas recebeu amplo apoio, mas foi vetada pelos Estados Unidos.<ref name=Zunes>{{Cite journal |last=Zunes |first=Stephen |title=The U.S. Invasion of Grenada: A Twenty Year Retrospective |publisher=Foreign Policy in Focus |date=outubro de 2003 |url=http://www.globalpolicy.org/empire/history/2003/10grenada.htm}}</ref><ref name="un veto">{{cite web |url=https://www.un.org/depts/dhl/resguide/scact_veto_en.shtml |title=United Nations Security Council vetoes |publisher=United Nations |date=28 de outubro de 1983}}</ref> |
||
⚫ | A prática dessas intervenções no [[Terceiro Mundo]], por parte do governo Reagan, visando fazer frente à influência global da União Soviética, no [[Guerra Fria (1979–1985)|final da Guerra Fria]], foi a marca da chamada [[Doutrina Reagan]].<ref>{{cite book|editor-first=Alexander |editor-last=DeConde |title=Encyclopedia of American foreign policy|url=https://archive.org/details/encyclopediaofam03deco|year=2002|publisher=Scribner|page=[https://archive.org/details/encyclopediaofam03deco/page/273 273]|isbn=9780684806594 }}</ref> Seus críticos argumentam que a Doutrina Reagan levou a uma intensificação desnecessária dos conflitos em países periféricos, além de provocar efeitos de ''[[Blowback (inteligência)|blowback]]'' (consequências indesejadas de uma operação de ''rollback'').<ref>[http://www.thenation.com/article/blowback Blowback]. ''[[The Nation]]''</ref> Assim, ao facilitar a transferência de grandes quantidades de armas para várias partir do mundo e treinar líderes militares nessas regiões, a Doutrina Reagan acabou por fortalecer alguns movimentos políticos e militares que acabaram por se virar contra os Estados Unidos, a exemplo da [[Al-Qaeda]] no Afeganistão. Por outro lado, a União Soviética acabou por abandonar a [[guerra do Afeganistão (1979–1989)|guerra do Afeganistão]]. O apoio americano aos rebeldes ajudou a drenar os cofres soviéticos e a esgotar seus recursos humanos, contribuindo para a crise geral da nação e, finalmente, para [[Dissolução da União Soviética|sua desintegração]].<ref>{{cite book|editor-first=Ruud |editor-last=Van Dijk |title=Encyclopedia of the Cold War|url=https://books.google.com/books?id=rUdmyzkw9q4C&pg=PA751|year=2008|publisher=Taylor & Francis |place=US|page=751|isbn=9780203880210 }}</ref><ref>{{Citation |first=James |last=Mann |title=The Rebellion of Ronald Reagan: A History of the End of the Cold War |year=2009}}.</ref> |
||
== Ver também == |
|||
* [[Ações de derrubada de governos patrocinadas pela CIA]] |
|||
* [[Doutrina da Soberania Limitada|Doutrina da Soberania Limitada (Brejnevismo)]] |
|||
* [[Espionagem na Guerra Fria]] |
|||
* [[Ocupações soviéticas]] |
|||
* [[OTAN]] |
|||
* [[Pacto de Varsóvia]] |
|||
* [[Plano Dulles]] |
|||
{{referências}} |
{{referências}} |
||
== Leitura adicional == |
== Leitura adicional == |
||
* Bodenheimer, Thomas, and Robert Gould. ''Rollback!: Right-wing Power in U.S. Foreign Policy'' (1999), hostile to the strategy |
* Bodenheimer, Thomas, and Robert Gould. ''Rollback!: Right-wing Power in U.S. Foreign Policy'' (1999), hostile to the strategy |
||
* Bowie, Robert R., and Richard H. Immerman. ''Waging Peace: How Eisenhower Shaped an Enduring Cold War Strategy'' (1998). |
* Bowie, Robert R., and Richard H. Immerman. ''Waging Peace: How Eisenhower Shaped an Enduring Cold War Strategy'' (1998). |
||
Linha 40: | Linha 60: | ||
* Stöver, Bernd. "Rollback: an offensive strategy for the Cold War," in Detlef Junker, ed. ''United States and Germany in the era of the Cold War, 1945 to 1990, A handbook: volume 1: 1945--1968'' (2004) pp. 97–102. |
* Stöver, Bernd. "Rollback: an offensive strategy for the Cold War," in Detlef Junker, ed. ''United States and Germany in the era of the Cold War, 1945 to 1990, A handbook: volume 1: 1945--1968'' (2004) pp. 97–102. |
||
{{Portal3|Guerra Fria|História|Relações internacionais}} |
|||
{{Guerra Fria}} |
{{Guerra Fria}} |
||
Revisão das 13h35min de 4 de junho de 2022
Rollback | |
---|---|
Obuseiro M102 estadounidense disparando, em 3 de Novembro de 1983, durante a Operation Urgent Fury (invasão de Granada). | |
Características | |
Classificação | estratégia política |
Localização | |
[ Editar Wikidata ] [ Editar infocaixa ] |
Rollback ('reversão') em ciência política, é uma estratégia geopolítica que consiste em forçar uma mudança nas principais políticas de um Estado, geralmente, substituindo o regime vigente. Contrasta com o termo contenção, que significa evitar a expansão daquele Estado, e com détente, que corresponde a uma relação de trabalho com aquele Estado. A maior parte das discussões de rollback na literatura acadêmica refere-se à política externa dos Estados Unidos em relação aos países comunistas durante a Guerra Fria. A estratégia de rollback foi tentada na Guerra da Coreia (1950) e em Cuba, na Invasão da Baía dos Porcos (1961), sem sucesso, mas teve êxito no episódio da invasão de Granada, em 1983.
Na Segunda Guerra Mundial, o rollback de governos considerados hostis aos EUA também foi usado, em 1943, contra a Itália fascista e, em 1945, contra a Alemanha Nazista e o Império do Japão.[1][2] Em 2001, a mesma estratégia foi usada no Afeganistão (contra o Taliban) e, 2003, no Iraque (contra Saddam Hussein).
Quando usado contra um governo estabelecido, o rollback é, às vezes, denominado "mudança de regime".[3]
Rollback na Guerra Fria
Na linguagem estratégica militar estadunidense, a estratégia de rollback significa destruir o exército inimigo e ocupar o país, tal como foi feito na Guerra Civil Americana (no setor dos Confederados) e na Segunda Guerra Mundial, contra a Alemanha e o Japão.
A noção de rollback militar contra a União Soviética foi proposta pelo estrategista conservador James Burnham[4] e outros estrategistas, no pós-guerra (final da década de 1940), e pela administração Truman, contra a Coreia do Norte, durante a Guerra da Coreia (ver: Doutrina Truman). Em 7 de Maio de 1945 (véspera da Dia da Vitória na Europa) em conferência na Áustria com Robert P. Patterson, futuro secretário da guerra,[5] O general George Patton declarou:
“ | (...) Devemos manter nossas botas polidas, baionetas afiadas, e apresentarmo-nos fortes perante o Exército Vermelho. Esta é a única linguagem que eles entendem e respeitam. (...) Não vamos dar tempo para que eles (soviéticos) consigam suprimentos. Se dermos, teremos apenas vencido e desarmado a Alemanha mas teremos falhado na libertação da Europa; teremos perdido a guerra! [6] |
” |
O governo dos Estados Unidos também chegou a considerar o rollback, durante a Revolta de 1953 na Alemanha Oriental e na Revolução Húngara de 1956, mas descartou essa possibilidade, considerando o risco de um conflito direto com a União Soviética.[7][8]
Afinal, em vez de um rollback militar ostensivo, os Estados Unidos se concentraram principalmente na guerra psicológica de longo prazo e na assistência militar, aberta ou clandestina, para deslegitimar regimes pró-comunistas e ajudar os insurgentes. Essas iniciativas começaram já em 1945 na Europa Oriental, e incluíram o fornecimento de armas aos combatentes pela independência, nos Estados bálticos e na Ucrânia. Outro iniciativa precoce foi contra a Albânia, em 1949, após a derrota das forças comunistas na Guerra Civil Grega, naquele ano. Nesse caso, um grupo de agentes foi enviado pelos britânicos e pelos americanos para tentar provocar uma guerra de guerrilha, mas a operação foi denunciada aos soviéticos pelo agente duplo britânico Kim Philby, o que levou à captura ou morte imediata dos agentes.[9]
Coreia
Na Guerra da Coreia, os Estados Unidos e a Organização das Nações Unidas endossaram oficialmente uma política de rollback do regime norte-coreano, e forças da ONU cruzaram o paralelo 38.[10] O governo chinês reagiu, e as forças da ONU foram obrigadas a recuar de volta ao paralelo 38. O fracasso da estratégia de rollback contribuiu para a decisão dos EUA de voltar à estratégia alternativa de contenção, apesar de sua defesa pelo general Douglas MacArthur, mudou o compromisso dos Estados Unidos com a détente sem rollback.[11][12]
China
Um esforço mais ambicioso foi feito em novembro de 1950, na chamada Operação Paper,[13] que incluía o fornecimento de armamento às tropas chinesas nacionalistas, no leste da Birmânia, para a Divisão 93 sob o comando do general Li Mi, com o objetivo de invadir a província chinesa de Yunnan. Todas as curtas investidas de Li Mi contra a China foram rapidamente repelidas, e depois de mais um fracasso, em agosto de 1952, os Estados Unidos começaram a reduzir seu apoio.[14]
Administração Reagan
A estratégia de rollback ganhou significativo espaço nos Estados Unidos, durante a década de 1980. O governo Reagan, instado pela Heritage Foundation e outros conservadores estadounidenses influentes a armar movimentos como os Mujahedin, no Afeganistão, os Contras, na Nicarágua, e outros, em Angola e no Camboja. Os Estados Unidos invadiram a ilha de Granada em 1983, para, alegadamente, proteger cidadão americanos que ali viviam e restaurar o governo constitucional, derrubado por um golpe.[15][16] A invasão se deu apesar de a Carta da ONU proibir o uso da força pelos Estados membros, exceto em casos de autodefesa ou quando autorizado pelo Conselho de Segurança da ONU. O Conselho de Segurança da ONU não havia autorizado a invasão.[17][18][19][20] Da mesma forma, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou a Resolução 38/7 da Assembléia Geral (por 108 votos a 9, com 27 abstenções), que "lamenta profundamente a intervenção armada em Granada, que constitui uma flagrante violação do direito internacional".[21] Uma resolução semelhante no Conselho de Segurança das Nações Unidas recebeu amplo apoio, mas foi vetada pelos Estados Unidos.[22][23]
A prática dessas intervenções no Terceiro Mundo, por parte do governo Reagan, visando fazer frente à influência global da União Soviética, no final da Guerra Fria, foi a marca da chamada Doutrina Reagan.[24] Seus críticos argumentam que a Doutrina Reagan levou a uma intensificação desnecessária dos conflitos em países periféricos, além de provocar efeitos de blowback (consequências indesejadas de uma operação de rollback).[25] Assim, ao facilitar a transferência de grandes quantidades de armas para várias partir do mundo e treinar líderes militares nessas regiões, a Doutrina Reagan acabou por fortalecer alguns movimentos políticos e militares que acabaram por se virar contra os Estados Unidos, a exemplo da Al-Qaeda no Afeganistão. Por outro lado, a União Soviética acabou por abandonar a guerra do Afeganistão. O apoio americano aos rebeldes ajudou a drenar os cofres soviéticos e a esgotar seus recursos humanos, contribuindo para a crise geral da nação e, finalmente, para sua desintegração.[26][27]
Ver também
- Ações de derrubada de governos patrocinadas pela CIA
- Doutrina da Soberania Limitada (Brejnevismo)
- Espionagem na Guerra Fria
- Ocupações soviéticas
- OTAN
- Pacto de Varsóvia
- Plano Dulles
Referências
- ↑ Weigley, Russell F (1977), The American Way of War: A History of United States Military Strategy and Policy, pp. 145, 239, 325, 382, 391.
- ↑ Pash, Sidney (2010), «Containment, Rollback and the Onset of the Pacific War, 1933–1941», in: Piehler, G Kurt; Pash, Sidney, The United States and the Second World War: New Perspectives on Diplomacy, War, and the Home Front, pp. 38–67.
- ↑ Litwak, Robert. Regime Change: U.S. Strategy Through the Prism of 9/11. [S.l.]: Johns Hopkins U.P. p. 109. ISBN 9780801886423
- ↑ Daniel Kelly, James Burnham and the struggle for the world: a life (2002) p. 155
- ↑ «Patterson, Robert Porter, Sr.». Federal Judicial Center (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2022
- ↑ Mattson, Ed. Down on Main Street. BookWhirl Publishing, 28 de Outubro de 2014, (em inglês), ISBN 9781618565266 Consultado em 4 de junho de 2022.
- ↑ Stöver, Bernd (2004), "Rollback: an offensive strategy for the Cold War", in Junker, Detlef (ed.), United States and Germany in the era of the Cold War, 1945 to 1990, A handbook, 1: 1945–1968, pp. 97–102.
- ↑ Rick Perlstein, Before the Storm: Barry Goldwater and the Unmaking of the American Consensus (2002)
- ↑ Weiner, Tim (2007), Legacy of Ashes: The History of the CIA, New York: Doubleday, pp. 45–46.
- ↑ Matray, James I (setembro de 1979), «Truman's Plan for Victory: National Self-Determination and the Thirty-Eighth Parallel Decision in Korea», JStor, Journal of American History, 66 (2): 314–33, JSTOR 1900879, doi:10.2307/1900879.
- ↑ Cumings, Bruce (2010), The Korean War: A History, pp. 25, 210.
- ↑ James L. Roark; et al. (2011). Understanding the American Promise, Volume 2: From 1865: A Brief History of the United States. [S.l.]: Bedford/St. Martin's. p. 740. ISBN 9781457608483
- ↑ Operation Paper: The United States and Drugs in Thailand and Burma Por Peter Dale Scott. The Asia-Pacific Journal: Japan Focus, 1º de novembro de 2010.
- ↑ Alfred W. McCoy, The Politics of Heroin (Chicago: Lawrence Hill Books/ Chicago Review Press, 2001), 168-74; Victor S. Kaufman, “Trouble in the Golden Triangle: The United States, Taiwan and the 93rd Nationalist Division,” China Quarterly, No. 166 (June 2001), 440-56."
- ↑ Thomas Carothers (1993). In the Name of Democracy: U.S. Policy Toward Latin America in the Reagan Years. [S.l.]: U. of California Press. pp. 113–15. ISBN 9780520082601
- ↑ H. W. Brands, Jr., "Decisions on American Armed Intervention: Lebanon, Dominican Republic, and Grenada," Political Science Quarterly (1987) 102#4 pp. 607-624 in JSTOR
- ↑ John M. Karas and Jerald M. Goodman, "The United States Action in Grenada: An Exercise in Real Politik", 16 U. Miami Inter-Am. L. Rev. 53 (1984), [1]
- ↑ Robert J. Beck, julho de 2008, Max Planck Encyclopedia of Public International Law, Oxford Public International Law
- ↑ Waters, Maurice (1986). «The Invasion of Grenada, 1983 and the Collapse of Legal Norms». Journal of Peace Research. 23 (3): 229–246. JSTOR 423822. doi:10.1177/002234338602300303
- ↑ Abram Chayes, 15 de novembro de 1983, "Grenada Was Illegally Invaded"
- ↑ «United Nations General Assembly resolution 38/7». United Nations. 2 de novembro de 1983
- ↑ Zunes, Stephen (outubro de 2003). «The U.S. Invasion of Grenada: A Twenty Year Retrospective». Foreign Policy in Focus
- ↑ «United Nations Security Council vetoes». United Nations. 28 de outubro de 1983
- ↑ DeConde, Alexander, ed. (2002). Encyclopedia of American foreign policy. [S.l.]: Scribner. p. 273. ISBN 9780684806594
- ↑ Blowback. The Nation
- ↑ Van Dijk, Ruud, ed. (2008). Encyclopedia of the Cold War. US: Taylor & Francis. p. 751. ISBN 9780203880210
- ↑ Mann, James (2009), The Rebellion of Ronald Reagan: A History of the End of the Cold War.
Leitura adicional
- Bodenheimer, Thomas, and Robert Gould. Rollback!: Right-wing Power in U.S. Foreign Policy (1999), hostile to the strategy
- Bowie, Robert R., and Richard H. Immerman. Waging Peace: How Eisenhower Shaped an Enduring Cold War Strategy (1998).
- Borhi, László. "Rollback, Liberation, Containment, or Inaction?: U.S. Policy and Eastern Europe in the 1950s," Journal of Cold War Studies, Fall 1999, Vol. 1 Issue 3, pp 67–110
- Grose, Peter. Operation Roll Back: America's Secret War behind the Iron Curtain (2000) revisão online
- Lesh, Bruce. "Limited War or a Rollback of Communism?: Truman, MacArthur, and the Korean Conflict," OAH Magazine of History, Oct 2008, Vol. 22 Issue 4, pp 47–53
- Meese III, Edwin. "Rollback: Intelligence and the Reagan strategy in the developing world," in Peter Schweizer, ed., The fall of the Berlin wall (2000), pp 77–86
- Mitrovich. Gregory. Undermining the Kremlin: America's Strategy to Subvert the Soviet Bloc 1947-1956 (2000)
- Stöver, Bernd. "Rollback: an offensive strategy for the Cold War," in Detlef Junker, ed. United States and Germany in the era of the Cold War, 1945 to 1990, A handbook: volume 1: 1945--1968 (2004) pp. 97–102.