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Linha do Dão

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Linha do Dão
Antiga estação de Figueiró, antes do seu restauro
Antiga estação de Figueiró, antes do seu restauro
Antiga estação de Figueiró, antes do seu restauro
Bitola:Bitola estreita
Unknown route-map component "exCONTg"
L.ª TuaTua (proj. ab.)
Unknown route-map component "exABZrg" Unknown route-map component "exCONTl"
Covilhã (proj. ab.)
Unknown route-map component "exBHF"
49,3 Viseu
Unknown route-map component "exCONTr" Unknown route-map component "exABZrf"
L.ª VougaSernada do Vouga
Unknown route-map component "exHST"
47,6 Vildemoinhos(ant. Vil-de-Moinhos)
Unknown route-map component "exHST"
45,9 Tondelinha(ant. Tondellinha)
Unknown route-map component "exHST"
42,8 Travassós de Orgens
Unknown route-map component "exBHF"
41,0 Figueiró
Unknown route-map component "exTUNNEL1"
Túnel de Figueiró
Transverse water Unknown route-map component "exWBRÜCKE" Transverse water
Ponte de Mosteirinho
Unknown route-map component "exHST"
38,2 Mosteirinho
Unknown route-map component "exBHF"
36,5 Torredeita(ant. Torre d'Eita)
Unknown route-map component "exHST"
35,0 Várzea
Unknown route-map component "exBHF"
32,4 Farminhão
Unknown route-map component "exTUNNEL1"
Túnel da Parada
Unknown route-map component "exBHF"
29,8 Parada de Gonta
Unknown route-map component "exBHF"
26,8 Sabugosa
Unknown route-map component "exHST"
24,2 Casal do Rei
Unknown route-map component "exHST"
22,5 Naia
Unknown route-map component "exBHF"
20,5 Tondela
Transverse water Unknown route-map component "exWBRÜCKE" Transverse water
19,0 Ponte de Tinhela × R. Dinha
Unknown route-map component "exHST"
16,5 Porto da Lage(ant. Pêgo)
Unknown route-map component "exBUE"
× EM632
Unknown route-map component "exBHF"
14,5 Tonda
Unknown route-map component "exGRENZE"
11,0 TNDSCD
Unknown route-map component "exHST"
9,0 Nagozela
Unknown route-map component "exBHF"
6,0 Treixedo
Transverse water Unknown route-map component "exWBRÜCKE" Transverse water
Ponte de Treixedo × R. Dão
Unknown route-map component "exSTR" Continuation backward
L.ª Beira AltaVilar Formoso
Track turning from left Unknown route-map component "xKRZu" Track turning right
Pontão da Linha da Beira Alta
Right side of cross-platform interchange Unknown route-map component "exCPICr"
0,0 Santa Comba Dão
Straight track Unknown route-map component "exCONTf"
Coimbra(proj. abandonado)
Continuation forward
L.ª Beira AltaPampilhosa
 Nota: Este artigo é sobre a extinta ligação ferroviária de Viseu à Linha do Beira Alta em Santa Comba - Dão. Para a extinta ligação ferroviária de Viseu à Linha do Norte em Aveiro, veja Linha do Vouga.

A Linha do Dão, originalmente conhecida como Ramal de Viseu e Linha de Santa Comba a Viseu, é uma ferrovia histórica de via estreita (1000 mm) situada no centro de Portugal. Abriu em 25 de Novembro de 1890[1], tendo o serviço ferroviário de passageiros sido suspenso em 1988 e o de mercadorias em 1972; a infraestrutura viária (carris, travessas, e balastro) foi quase totalmente retirada até 1999.

Caracterização

Material circulante

Locomotivas originais da Linha do Dão[2]
N.ºDenominação
1Beira Alta
2Vizeu
3Santa Comba
4Tondella
5Dão
6Viriato

Para o início das operações desta linha, foram adquiridas, à firma alemã Maschinenfabrik Esslingen, 6 locomotivas, cada uma de 25 toneladas.[2] À casa belga Societé Internationale de Braine-le-Comte foram encomendados 4 furgões, e 20 carruagens, sendo uma de salão, duas de primeira classe, 6 de segunda classe, 8 de terceira classe, e 3 mistas de primeira e segunda classes.[2] Foram, igualmente, fornecidos 40 vagões pelas Oficinas Metalúrgicas de Nivelles, sendo 12 fechados, 2 preparados para o transporte de peixe, 14 de plataformas, e 12 de bordas altas.[2]

História

Planeamento e construção

Uma lei de 26 de Janeiro de 1876, que estabeleceu as directrizes para a construção de vários caminhos de ferro, previa a instalação de um ramal, em bitola reduzida, que ligasse a Linha da Beira Alta à cidade e região de Viseu.[1] A construção desta ligação, então denominada de Ramal de Viseu, foi estabelecida, com uma bitola de 1 metro, numa proposta de lei de 9 de Janeiro de 1883, que foi autorizada em 26 de Abril.[1] O concurso foi aberto no dia 30 de Agosto, com uma garantia de juro de 5,5%, possibilidade de resgate em 15 anos, e despesas de exploração com os limites máximo e mínimo fixados.[1]

No entanto, e tal como acontecera com a Linha de Mirandela, cujas condições eram semelhantes, não surgiram quaisquer concorrentes, devido principalmente ao reduzido prazo de resgate; assim, foi aberto um novo concurso, em 21 de Novembro, com melhores condições.[1] Porém, só apareceu um interessado, o empresário Henry Burnay, tendo o contrato provisório sido elaborado em 24 de Dezembro; este contrato foi aprovado pela lei de 26 de Maio do ano seguinte, que continha, no entanto, uma cláusula, de que a constituição dos membros da direcção ou da administração da sociedade responsável pela exploração deveria ser, maioritariamente, formada por indivíduos de nacionalidade portuguesa.[1] Esta condição foi introduzida pelo ministro António Augusto de Aguiar, que ficou conhecido pelo seu patriotismo.[2]

A firma de Henry Burnay não quis, no entanto, aceitar este ponto, e desistiu do contrato.[1] Um novo concurso foi, assim, aberto em 11 de Dezembro, tendo sido aceite a proposta apresentada por um sindicato, constituído pelo Visconde da Macieira, Fernando Palha, H. J. Moser, e o Conde da Foz.[1][2] A base de adjudicação foi estabelecida em 22:880$000 por quilómetro, para o governo garantir à empresa a formação de um juro de 5½ por cento, se a as receitas de exploração fossem inferiores a 700$000 por quilómetro.[2] O contrato provisório foi estabelecido em 23 de Janeiro de 1885, aprovado por uma lei de 30 de Junho, e tornado definitivo em 29 de Julho.[1] Este documento foi assinado pelo Ministro das Obras Públicas, Fontes Pereira de Melo, e pelo procurador-geral da Coroa, Martens Ferrão, em representação do governo.[2]

Estes concessionários, que naquela altura também detinham os direitos para a construção da linha entre entre Foz Tua e Mirandela, fundaram, em 22 de Outubro de 1885, a Companhia Nacional de Caminhos de Ferro, para construir estas duas ligações[2]; com efeito, a transferência da concessão do Ramal de Viseu para esta empresa já tinha sido concedida por um alvará de 1 de Outubro do mesmo ano.[1]

O planeamento desta linha foi atrasado por várias solicitações, tendo sido estudadas inúmeras variantes, nas quais trabalharam um grande número de engenheiros; só nos finais de 1887 é que foi aprovado o projecto para o troço entre Santa Comba Dão e Tondela, tendo o projecto total da linha sido homologado em Março de 1888.[2] A construção das infra-estruturas foi, então, contratada com o Visconde de Barreiros, que já se tinha celebrizado pela execução de obras importantes no Brasil; no entanto, os constantes atrasos no planeamento da linha, e a reduzida compensação por quilómetro do empreiteiro, fizeram com que este rescindisse o contrato em Janeiro de 1890.[2] Nesta altura, a construção estava consideravelmente a meio, faltando instalar algumas pontes e acabar outras, realizar a maior parte das expropriações nos últimos 20 quilómetros junto a Viseu, fazer o Túnel de Fonte de Arcada e a trincheira correspondente, e acabar a construção da maior parte das estações e apeadeiros, que ainda se encontravam no começo.[2] Previa-se, naquela altura, que a construção da linha só iria terminar em cerca de ano e meio.[2]

A Companhia colocou, à frente dos trabalhos, o engenheiro Diniz da Motta, que se tinha distinguido pela construção da Linha de Mirandella, e que, nessa altura, se encontrava a laborar no Caminho de Ferro da Beira Baixa.[2] Retomaram-se, assim, os trabalhos, que avançaram rapidamente, de dia e de noite, devido, principalmente, aos esforços de Diniz da Motta; também foi relevante o papel dos engenheiros Bettencourt e Abecassiz, e dos condutores Oliveira Duarte e Valladas, que chefiavam os 4 sectores nos quais a linha estava dividida.[2]

Inauguração

A cerimónia de inauguração deste caminho de ferro foi realizada em 24 de Novembro de 1890[2], tendo sido aberto ao serviço no dia seguinte.[1][3]

Ao contrário do que se previa na imprensa regional daquela época, a inauguração deste caminho de ferro foi acompanhada de grandes festejos populares, tendo as habitações de Viseu sido decoradas para a ocasião.[2] A cerimónia foi acompanhada de bandas de música, que percorreram as ruas, tendo sido organizados, por duas sociedades públicas, um banquete, e um baile, para os habitantes da cidade e para os convidados.[2] Foi, igualmente, realizado um comboio inaugural, que percorreu a linha, parando em todas as estações, e no Viaduto da Ortigueira. Em cada estação, era esperado pelas populações e autoridades locais, com música e lançamento de foguetes; destaca-se principalmente, a passagem por Tondela, aonde foi construído um pavilhão expressamente para esta cerimónia.[2] À passagem pela cidade de Viseu, o comboio foi saudado pelos habitantes, que se aglomeraram junto à linha, e na estação.[2]

A linha foi construída de forma sólida, de forma a facilitar ao máximo o andamento das composições; continha 7 pontes, todas construídas pela firma Societé Internationale de Braine-le-Comte.[2] Após a construção, verificou-se que media 64,64 metros a mais do que o planeado, tendo a Companhia Nacional pedido ao governo, em 1902, o pagamento dos juros relativos a este excesso.[4]

Século XX

Em 1900, o número de passageiros nesta linha foi de 50.860, valor que cresceu para 54.116 em 1901; no mesmo troço, foram movimentadas, em regime de Grande Velocidade, 784 toneladas de carga em 1900, e 798 toneladas em 1901, tendo-se verificado um decréscimo no movimento de mercadorias em Pequena Velocidade, de 12.898 toneladas em 1900, para 11.993 em 1901.[5]

Declínio e encerramento

Durante um breve período da década de 1970, a Linha do Vouga foi encerrada, dando-se como justificação desta decisão o facto das antigas locomotivas a vapor provocarem incêndios. Até à sua reabertura, em 1975, com material a diesel — as célebres automotoras Allan - foi a Linha do Dão quem continuou a garantir a Viseu a afluência de comboios e a sua ligação à restante rede ferroviária nacional.

Em agosto de 1972, o serviço de mercadorias foi suspenso, sendo a Linha totalmente encerrada em 28 de setembro de 1988. A 1 de janeiro de 1990 seria a vez da Linha do Vouga ser encerrada pela segunda vez, entre Sernada do Vouga e Viseu, deixando esta capital de distrito com o título da «maior cidade europeia sem comboio». Entre 1997 e 1999 os carris foram levantados, bem como o balastro e as travessas, deixando o leito ferroviário sem mais nenhuma estrutura.

A estação de Viseu, terminal partilhado pelas Linhas do Dão e do Vouga, viria a ser demolida em 1994, sendo erguida no seu espaço uma rotunda. Sobra do conjunto da estação apenas um depósito metálico. Em Torredeita a população decidiu honrar a memória da linha de forma diferente, tendo sido reinstalado um pequeno troço com balastro, travessas e carris de uma ponta à outra da estação, e depositada aí uma locomotiva a vapor, acopolada a 3 vagões.

Ecopista do Dão

Ciclovia sobre leito da Linha do Dão, junto ao apeadeiro de Travassós de Orgens.

Em 2007, o troço da Linha do Dão entre Viseu e Figueiró foi convertido em ecopista, existindo atualmente em Vildemoinhos um posto de aluguer de bicicletas. O prolongamento da ecopista ao longo do restante traçado da Linha do Dão foi um projeto realizado no âmbito de uma parceria entre os municípios servidos pela linha — Viseu, Tondela e Santa Comba Dão. O projeto, denominado Ecopista do Dão, previa o restauro de todas as estações, apeadeiros e restantes e obras de arte da linha, bem como a instalação de iluminação pública ao longo de toda a ecopista. A Ecopista do Dão foi inaugurada a 2 de julho de 2011.

Ver também

Referências

  1. a b c d e f g h i j k TORRES, Carlos Manitto (16 de Março de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 71 (1686). 134 páginas 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u «Há 50 anos: A inauguração da linha de Santa Comba a Vizeu». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 42 (1271). 790 páginas. 1 de Dezembro de 1940 
  3. Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 41
  4. «Linhas Portuguezas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 15 (337). 11 páginas. 1 de Janeiro de 1902 
  5. «Linhas Portuguezas». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (342). 91 páginas. 16 de Março de 1902 

Bibliografia

  • Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 2006. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X 
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Ligações externas