Caiapós: diferenças entre revisões

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Os '''caiapós''',<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 313.</ref> também conhecidos como '''kayapó''', '''kaiapó''', '''mẽbêngôkre'''<ref>{{Citar periódico |url=https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/2175-8034.2019v21n1p170 |titulo=Limites e lugares: entre caminhos mẽbêngôkre |data=2019-10-07 |acessodata=2021-02-07 |jornal=Ilha Revista de Antropologia |número=1 |ultimo=Oliveira |primeiro=Ester de Souza |ultimo2=Passos |primeiro2=João Lucas Moraes |paginas=170–196 |lingua=pt |doi=10.5007/2175-8034.2019v21n1p170 |issn=2175-8034}}</ref> ou '''mebêngôkre''' ([[endônimo]]s),<ref>''Povos indígenas no Brasil''. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo/177. Acesso em 13 de junho de 2016.</ref> são um grupo étnico [[macro-jê|jê]] (um grupo linguístico de [[povos indígenas do Brasil]]), habitantes da [[Amazônia]] [[brasil]]eira.
Os '''caiapós''',<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 313.</ref> também conhecidos como '''Kayapó''', '''kaiapó''', '''Mebengôkre'''<ref>{{Citar periódico |url=https://periodicos.ufsc.br/index.php/ilha/article/view/2175-8034.2019v21n1p170 |titulo=Limites e lugares: entre caminhos mẽbêngôkre |data=2019-10-07 |acessodata=2021-02-07 |jornal=Ilha Revista de Antropologia |número=1 |ultimo=Oliveira |primeiro=Ester de Souza |ultimo2=Passos |primeiro2=João Lucas Moraes |paginas=170–196 |lingua=pt |doi=10.5007/2175-8034.2019v21n1p170 |issn=2175-8034}}</ref> ou '''Mebengôkre''' ([[endônimo]]s),<ref>''Povos indígenas no Brasil''. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo/177. Acesso em 13 de junho de 2016.</ref> são um grupo étnico [[macro-jê|jê]] (um grupo linguístico de [[povos indígenas do Brasil]]), habitantes da [[Amazônia]] [[brasil]]eira.


== História ==
== História ==
Ocupantes desde tempos imemoriais de àreas no interior do [[Brasil]], os caiapós habitavam pequenas aldeias em que viviam de [[caça]], [[pesca]], [[milho]], [[mandioca]], [[mel]], e [[frutas]]. No século [[XVIII]], na região nordeste do atual Estado de [[São Paulo]], o grupo etnico teve seu primeiro contato com as populações de origem europeia, bandeirantes que eram liderados por [[Bartolomeu Bueno da Silva]] - o Anhanguera - buscavam por ouro, pedras preciosas e indios para serem comercializados com escravos. <ref name="Não-nomeado-xZY2-1"/>
Ocupantes desde tempos imemoriais de áreas no interior do [[Brasil]], os caiapós habitavam pequenas aldeias em que viviam de [[caça]], [[pesca]], [[milho]], [[mandioca]], [[mel]], e [[frutas]]. No século [[XVIII]], na região nordeste do atual Estado de [[São Paulo]], o grupo etnico teve seu primeiro contato com as populações de origem europeia, bandeirantes que eram liderados por [[Bartolomeu Bueno da Silva]] - o Anhanguera - buscavam por ouro, pedras preciosas e índios para serem comercializados com escravos. <ref name="Não-nomeado-xZY2-1"/>


Já na região da [[Bacia hidrográfica|bacia]] inferior do [[rio Tocantins]], no começo do [[século XIX]] os caiapós começaram a sofrer ataques dos homens [[brancos]], que mataram e [[Escravidão indígena no Brasil|escravizaram]] muitos caiapós. Ainda que mais numerosos que os invasores, as [[borduna]]s dos caiapós nada podiam fazer diante dos [[mosquete]]s dos invasores. Como resultado, os caiapós [[Migração humana|migraram]] para o oeste. Trinta anos depois, porém, os homens brancos voltaram a atacar os caiapós. Desta vez, houve uma cisão entre os caiapósː uma parte deles queria estabelecer a paz com os homens brancos, e outra parte queria continuar a fuga para o oeste. Os caiapós que optaram pela relação amistosa com os brancos desapareceram, em grande parte vitimados por [[peste]]s trazidas pelos brancos.
Já na região da [[Bacia hidrográfica|bacia]] inferior do [[rio Tocantins]], no começo do [[século XIX]] os caiapós começaram a sofrer ataques dos homens [[brancos]], que mataram e [[Escravidão indígena no Brasil|escravizaram]] muitos caiapós. Ainda que mais numerosos que os invasores, as [[borduna]]s dos caiapós nada podiam fazer diante dos [[mosquete]]s dos invasores. Como resultado, os caiapós [[Migração humana|migraram]] para o oeste. Trinta anos depois, porém, os homens brancos voltaram a atacar os caiapós. Desta vez, houve uma cisão entre os caiapósː uma parte deles queria estabelecer a paz com os homens brancos, e outra parte queria continuar a fuga para o oeste. Os caiapós que optaram pela relação amistosa com os brancos desapareceram, em grande parte vitimados por [[peste]]s trazidas pelos brancos.
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Nas décadas de [[Década de 1950|1950]] e [[Década de 1960|1960]], houve uma tentativa de aproximação por parte de agentes do governo brasileiro com a intenção de pacificar os caiapós. Como resultado, hoje, a maior parte dos caiapós está em contato permanente com a sociedade brasileira.<ref>''Povos indígenas no Brasil''. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo/181. Acesso em 13 de junho de 2016.</ref>
Nas décadas de [[Década de 1950|1950]] e [[Década de 1960|1960]], houve uma tentativa de aproximação por parte de agentes do governo brasileiro com a intenção de pacificar os caiapós. Como resultado, hoje, a maior parte dos caiapós está em contato permanente com a sociedade brasileira.<ref>''Povos indígenas no Brasil''. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo/181. Acesso em 13 de junho de 2016.</ref>


Nos [[Década de 1980|anos 1980]], dois caiapós se tornaram conhecidos do grande públicoː [[Tutu Pombo]] e [[Raoni]]. O primeiro, como o primeiro líder indígena brasileiro a explorar comercialmente as [[Terras indígenas|reservas indígenas]], ao permitir a extração de ouro e [[mogno]] em troca de dinheiro. O segundo, como um defensor do [[meio ambiente]] e do modo de vida tradicional indígena.
Nos [[Década de 1980|anos 1980]], dois caiapós se tornaram conhecidos do grande públicoː [[Tutu Pombo]] e [[Raoni]]. O primeiro, como o primeiro líder indígena brasileiro a explorar comercialmente as [[Terras indígenas|reservas indígenas]], ao permitir a extração de ouro e [[mogno]] em troca de dinheiro. O segundo, como um defensor do [[meio ambiente]] e do modo de vida tradicional


== Língua ==
== Língua ==
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Sua principal atividade econômica é a [[agricultura itinerante]] praticada por homens, mulheres e meninos. Através do método de desbravar e queimar ([[queimada]]), cada par limpa um local na floresta de cerca de cinquenta por trinta metros onde estabelecem suas [[Horta (agricultura)|hortas]], nas quais semeiam [[batata]], [[cará]], [[mandioca]], [[algodão]], [[milho]] e, ao lado das árvores, plantam [[cupá]], uma videira com [[gavinha]]s comestíveis. Alguns grupos introduziram, em suas hortas, [[arroz]], [[feijão]], [[mamão]] e [[tabaco]]. Usam [[fertilizante]]s e [[pesticida]]s.
Sua principal atividade econômica é a [[agricultura itinerante]] praticada por homens, mulheres e meninos. Através do método de desbravar e queimar ([[queimada]]), cada par limpa um local na floresta de cerca de cinquenta por trinta metros onde estabelecem suas [[Horta (agricultura)|hortas]], nas quais semeiam [[batata]], [[cará]], [[mandioca]], [[algodão]], [[milho]] e, ao lado das árvores, plantam [[cupá]], uma videira com [[gavinha]]s comestíveis. Alguns grupos introduziram, em suas hortas, [[arroz]], [[feijão]], [[mamão]] e [[tabaco]]. Usam [[fertilizante]]s e [[pesticida]]s.


Recolhem [[mel]] e [[fruto]]s de [[palmeira]]s silvestres como o [[babaçu]]. A [[castanha-do-pará]], que anteriormente era recolhida pelas mulheres para seu autoconsumo, hoje é recolhida pelos homens e vendida a compradores estatais ou privados. O [[óleo]] certificado de castanha, feito pelos caiapós da [[Terra Indígena Baú]], de [[Novo Progresso]], recebeu o selo verde, uma certificação que atesta práticas legais e impulsiona a venda para as indústrias de [[cosmético]]s. No entanto, a sua substituição por outras [[matéria-prima|matérias-primas]] tem feito os caiapós venderem o óleo para a indústria de [[biocombustível]] a um preço dez vezes menor.<ref>[http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100226/not_imp516424,0.php Caiapós têm dificuldade para vender óleo certificado de castanha] - ''[[O Estado de S.Paulo]]'', 26 de fevereiro de 2010 (visitado em 26-2-2010).</ref>
Recolhem [[mel]] e [[fruto]]s de [[palmeira]]s silvestres como o [[babaçu]]. A [[castanha-do-pará]], que anteriormente era recolhida pelas mulheres para seu autoconsumo, hoje é recolhida pelos homens e vendida a compradores estatais ou privados. O [[óleo]] certificado de castanha, feito pelos caiapós da [[Terra Indígena Baú]], de [[Novo Progresso]], recebeu o selo verde, uma certificação que atesta práticas legais e impulsiona a venda para as indústrias de [[cosmético]]s. No entanto, a sua substituição por outras [[matéria-prima|matérias-primas]] tem feito os caiapós venderem o óleo para a indústria de [[biocombustível]] a um preço dez vezes menor.<ref>[http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100226/not_imp516424,0.php Caiapós têm dificuldade para vender óleo certificado de castanha] - ''[[O Estado de S.Paulo]]'', 26 de fevereiro de 2010 (visitado em 26-2-2010).</ref> indígena.

== Notas sobre o trabalho de campo ==
O Relatório de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Las Casas foi devidamente aprovado, tendo sido seu resumo publicado no Diário Oficial da União em 25 de agosto de 2003, época em que a Terra foi oficialmente reconhecida como Indígena. Este fato, por sua vez, foi contestado por ocupantes de Las Casas, que alegavam direito ao contraditório. A Funai, por sua vez, respondeu às contestações e reiterou a necessidade do reconhecimento dos direitos indígenas àquela porção do território nacional. A Terra foi homologada finalmente em 2009, mas continua ocupada por regionais. Como consta no artigo 231, parágrafo 1º, da Constituição de 1988, são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. (BRASIL, 1988). Este, por sua vez, é complementado por legislação infraconstitucional através do Decreto 1775/96 e Portaria 14/963.

Ainda que o processo de regularização fundiária de uma Terra Indígena seja imensamente mais complexo, cabe ao coordenador de um GT de identificação e delimitação, a partir da realização de um trabalho de campo marcado por situações bastante peculiares, promover uma espécie de “adequação” das narrativas indígenas sobre seu território, que são fluidas e incorporam agências heterogêneas, para uma linguagem jurídica e administrativa que é, por sua própria natureza, hermética (LIMA, 2008). A despeito das dificuldades concernentes à realização de trabalhos como estes (afinal, o tempo é exíguo e a situação em campo é geralmente tensa) é possível construir boas interpretações em situações como estas, como demonstrarei. Por outro lado, talvez o fato mais compensador seja perceber como o olhar antropológico, bem embasado, pode contribuir para a garantia de direitos.

== Histórias de ontem ==
Da “pacificação” ao processo de reconstrução de Las Casas no Sudeste do Estado do Pará, ano de 1996. Um pequeno grupo de Caiapós deixa a Terra Indígena homônima. O destino é a antiga aldeia Las Casas, onde funcionara um Posto de Atração do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) entre os anos de 1940-1965. Entre os membros daquele pequeno grupo estão Parityk, Tapiri, Maria Eugênia e Pedro Aybi. Juntamente com suas famílias nucleares, formam um grupo bastante heterogêneo4. Não obstante, reconhecem-se como òmbikwa, termo para indicar relações de parentesco5 e “companheirismo” designando “pessoas que se que cuidam mutuamente” (VIDAL, 1977). Parityk, Tapiri e Maria Eugênia estabeleceram seus primeiros contatos ainda na década de 1950, quando da “pacificação” dos índios Xicrin. Ao passo que Parityk e Tapiri faziam parte da expedição de guerreiros Xicrins, Maria Eugênia (uma Caiapó órfã criada na Missão Dominicana de Conceição do Araguaia, PA), juntamente com seu marido Paulo Kryt6, auxiliava o sertanista Miguel Araújo, na “pacifi cação”. A criação do Posto Las Casas atendia a essa necessidade, sendo que os Caiapós Xicrin eram considerados como o grupo mais belicoso. Além de atacar outros subgrupos Caiapós, também guer4. Existem índios Kubenkrankeng, Xicrin, Gorotire e Mekrãgnoti vivendo em Las Casas.

O “parentesco” aqui é tratado como um sistema capaz de estruturar e reproduzir os grupos sociais, determinando as relações sociais e criando relações que envolvem reciprocidade, dádiva e solidariedade. Além de sua dimensão simbólica e ideológica, creio que o parentesco diz respeito a um sistema de atitudes que ajuda a organizar, através de suas terminologias, o próprio funcionamento da vida social. 6 Há também um outro casal importante para nesse processo de construção da aldeia de Las Casas e na “pacificação” Xicrin: Tereza e Luís Xapire.

== A reconstrução do território e as percepções indígenas ==
Como disse, em 1996 os Caiapós conseguiram reunir as condições necessárias para retornar para Las Casas. Para lá, voltaram Parityk, Tapiri e Maria Eugênia, juntamente com Pedro Aybi. Ao chegarem, procederam à limpeza do terreno, erigindo algumas habitações ao estilo tradicional Caiapó, dotando aos poucos a aldeia com a infraestrutura que seus habitantes apreciam8. Em 2001, viviam em uma única aldeia, empreendendo expedições cotidianas de caça, coleta, pesca e também de controle territorial, realizadas individual ou coletivamente. Todos, inclusive as crianças, falavam a língua indígena e os homens utilizam o português com os regionais. Maria Eugênia era a única mulher bilíngue. O grupo estava composto por 50 índios, membros de três famílias extensas: aquela de Maria Eugênia; de Parityk e Tapiri. Em sua maioria, a população de Las Casas era de mulheres, velhos e crianças. Trata-se de um grupo bastante heterogêneo, já que são provenientes de várias Terras e subgrupos. A comunidade era pequena, o que dificultava, por exemplo, a realização de complexos cerimoniais, mas fortalecia os laços de solidariedade entre seus membros.

Para os Caiapós, de modo geral, uma aldeia deve ser um espaço trabalhado pelo que chamaríamos de “agência humana” e transformado em um campo amplo, limpo e circular. Neste lugar são construídas as habitações indígenas que estão voltadas para o centro da aldeia ou pátio cerimonial. Em torno das moradias, devem ser cultivadas pequenas roças e os campos próximos da aldeia são deixados para a coleta. Na zona limítrofe desse domínio propriamente humano localizam-se os cemitérios, pois é sinal de afeição guardar os mortos por perto.

== Considerações sobre o papel do xamã, dos velhos e dos mortos ==
A hipótese que levanto é que só poderia mesmo ser um xamã, acompanhado por um grupo de “velhos”, os primeiros a retornar, justamente por que são eles que detêm os conhecimentos sobre o cosmos, os “tempos” e as “histórias antigas”. Essas pessoas possuem a sabedoria, a experiência, a força em seus pensamentos e suas ações podem ter implicações globais. O xamã tem a função de mediar a relação dos Caiapós com os mortos e outros seres sobrenaturais e esse exercício foi essencial. De acordo com a minha interpretação, aliás, o retorno para a área precisou ser duplamente negociado. Além da necessidade de se resolver um impasse fundiário, os Caiapós precisaram negociar com os próprios mortos de forma a criar as possibilidades para voltar a viver naquela área. Para tanto, Parityk precisou “viajar” para o lugar dos mortos, já que possuía essa capacidade. A partir de sua morte simbólica, passou a “ver todas as coisas”, adquirindo a capacidade de transitar por diferentes domínios. Pode-se dizer inclusive que a proposta de limites territoriais de Las Casas foi fortemente determinada pelos conhecimentos de Parityk, socialmente inscritos e simbolicamente interpretados. Naquele contexto, ele tomou para si a responsabilidade de criar o processo de aproximação e negociação com os próprios mortos e, para tanto, precisou reinterpretar o caráter dessa relação. Ao fazê-lo, gerou uma nova maneira de se contar a história. Isto é, os mortos parecem ter sido transformados em aliados dos índios, tornando-se símbolos de resistência na luta pela terra14.<ref>{{citar livro|url=https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/20635/1/Direito%2C%20territorio%20e%20sentimento_2015.pdf|título=Direito, território e sentimento|ultimo=Melo|primeiro=Juliana Gonçalves|editora=editora = Juliana Gonçalves de Melo|ano=15/12/2014|local=Brasília|página=86 até 91|páginas=6}}</ref>


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| [[Alibertia|marmelada-do-campo]]
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| ''[[Alibertia]]'' sp.
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| pỳ kumrenx
| pỳ kumrenx
| [[Bixa orellana|urucu]] (1 de 3 variedades)
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| pintura corporal
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Não usam [[bebida alcoólica|bebidas fermentadas]] nem plantas [[alucinógena]]s.
Não usam [[bebida alcoólica|bebidas fermentadas]] nem plantas [[alucinógena]]s.


== O Clube da Esquina e a mineiridade como repertório ==
== Cosmologia ==
Uma das frases que mais ouvi de muitos interlocutores durante a pesquisa sobre o Clube da Esquina foi “Eles são tão mineiros”. Achei válido então começar a discussão sobre os temas escolhidos para a música do grupo tratando dessa identidade mineira, que é mais perceptível na música analisada do que uma identidade nacional, brasileira ou de outras regiões específicas como o Rio de Janeiro, de onde também são muitos integrantes. Na audição das músicas procurei o que era mineiro ali e me surpreendi ao descobrir que talvez a mineiridade não fosse apenas um tema, mas um repertório de temas do Clube da Esquina. Nessa abordagem, é importante diferenciar “mineiridade” de “mineirice”, sendo o último um conceito ligado à esperteza escondida ou disfarçada em uma aparência de ingenuidade, atribuída aos mineiros, muitas vezes de forma pejorativa, como um estereótipo. Já o primeiro, que investigo aqui, está relacionado ao que é culturalmente comum entre eles, características, tradições e hábitos frequentemente encontrados nos habitantes de Minas Gerais, mas que não devem ser entendidas como regras absolutas.

== O Clube da Esquina e a articulação entre o local e o global ==
Se os ouvintes e certa parte da crítica tocam sempre na questão da mineiridade da música do Clube da Esquina, em minhas conversas com alguns integrantes do grupo a escolha pelo que é universal pareceu muito mais pensada. Algumas vezes pude perceber um certo incômodo com a rotulação de sua obra como mineira. Para Ronaldo Bastos, a ligação com Minas virou algo “institucional”, o “Clube ficou acomodado sob esse ponto de vista”. “Não tenho nenhum problema com a mineiridade. Ela está lá, mas não pensávamos nisso. Tínhamos muito mais uma visão universal94”. Fernando Brant chama a atenção para a mesma questão: “’Sou do mundo, sou Minas Gerais95’... mas pode ver que o mundo vem primeiro96”. Segundo Rafael Senra Coelho. O reconhecimento internacional da música do Clube da Esquina e de Milton Nascimento é realmente grande. Entretanto, entendo que dita pelos músicos do grupo, essa fala mostra uma marcação de posição, uma tentativa de valorização desse fenômeno musical, principalmente como uma crítica ao fato de a tropicália ter mais espaço na mídia e nos estudos acadêmicos brasileiros mesmo não tendo, segundo essas fontes, uma grande repercussão no exterior. Digo isso porque essas frases apareceram diversas vezes como uma comparação com o movimento tropicalista. Acredito que seja também uma tentativa de afirmar o Clube da Esquina como movimento cultural, o que é importante para alguns integrantes. O Clube da Esquina reuniu músicos de diversas partes do Brasil, mas além de ser o local de reunião e produção de músicas, Minas Gerais está presente de várias formas nas canções, como vimos anteriormente. Segundo Viveiros Martins, a constituição do grupo se deu, na cidade de Belo Horizonte, pela vivência de experiências coletivas que mostraram àqueles jovens que eles tinham valores em comum sobre os quais era possível falar.<ref>{{citar livro|url=https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/21534/21534.PDF|título=“De tudo se faz canção”: Sobre as escolhas
temáticas na música do Clube da Esquina|ultimo=Silva|primeiro=Clara Cyrino|editora=editora = Clara Cyrino|ano=Setembro de 2012|local=Rio de Janeiro|página=18, 37, 39, 41.|páginas=4}}</ref>

== Espaços, práticas e ideias sobre o cosmos ==
Os Caiapós definem como domínios diferentes a terra, o céu, o mundo aquático e subterrâneo. Estes domínios, cada qual com seus atributos e entidades, comporiam a geografia universal e forneceriam importantes elementos sobre o sentido de seu mundo. Em termos gerais, estes espaços, com seus seres e potencialidades distintas, possuem uma importância não apenas pragmática, mas também simbólica e cognitiva, sendo capazes de informar sobre a ordem do mundo.


O domínio subterrâneo se situaria dentro da terra kwoikwai inhôt, geograficamente a oeste. Seria este o lugar da escuridão eterna e também o mundo dos kuben-kamrik, homens canibais que se alimentam de carne crua e sangue (Giannini, 1991 b: 49). Embora alguns informantes afirmem que estes seres não mais existem é bom lembrar que na concepção de mundo indígena nada é estático. Desse modo, o passado pode voltar a qualquer momento, caso os índios não controlem suas potências e formas de relacionamento com outros domínios do cosmos, advindo daí a importância que cada um domine suas próprias forças e poderes. O domínio celeste ou koikwa krai, se situaria à leste. Para os Caiapós, o céu é sustentado por um tronco em cuja base está uma anta que o rói cotidianamente. Esta ação, todavia, é perigosa, já que pode provocar a queda do céu sobre a terra e isto acarretaria o fim do mundo. Para evitar que isto aconteça, é preciso flechar a anta e, através desta prática, o tronco que sustenta o céu se regenera e a vida segue seu fluxo. Contudo, a anta sempre retorna ao pé do céu e reinicia seu trabalho, ficando furiosa quando os índios caçam mais do que deviam (Giannini, 1991b: 50).


A aldeia, para os Caiapós, representaria o locus da humanidade propriamente dita, já que é o lugar em que os Mebengôkre tornam-se humanos através de várias cerimônias que promovem sua “humanização”82. Este seria ainda o local em que se dá o fluxo da vida social e é também onde ocorreria a domesticação, principalmente pela ação das mulheres, de plantas e animais. Nos campos próximos dela, são realizadas atividades de coleta, havendo ainda um cemitério indígena no espaço limítrofe da aldeia.


Ao nível das técnicas de cultivo, os Caiapós deixam que suas roças tenham sempre uma cobertura vegetal, pois isto ajuda a evitar o excesso de insolação e erosão do solo. Plantam também uma grande variedade de cultiváveis em uma mesma roça e isto evita o aparecimento de pragas. O plantio se faz de maneira a aproveitar o máximo do solo, havendo uma avaliação entre as qualidades do solo e as melhores espécies para serem nele cultivadas. As margens dos rios e seus arredores, por sua vez, são os locais preferidos, pois são os mais férteis devido à umidade do solo. Um outro aspecto muito importante diz respeito ao fato de que os índios costumam alternar os locais em que fazem suas roças e isto ajuda a recuperar o solo. O pousio, que consiste em deixar a “terra descansando” e escolher um novo local para plantio, é uma prática muito recorrente e importante para evitar o desgaste da terra. É bom lembrar que as roças antigas continuam produtivas por muitos anos: a cultura do inhame subsiste por 05 a 08 anos; a da banana por 10 anos e o urucum por mais de 20 anos. Estes locais, portanto, tornam-se especialmente atrativos em virtude disso e também por que sabem que estes são lugares em que os animais costumam estar (cf. Posey, 1984). Em Las Casas as terras consideradas boas para plantar são aquelas situadas nos arredores da aldeia e também aquelas situadas às margens de rios e córregos. Em termos gerais, os índios limpam a área a ser cultivada entre os meses de março a maio, e todos parecem colaborar com esta atividade. Por volta de junho, os homens fazem a derrubada das árvores maiores e formando corredores de plantação84. Em agosto queimam o material lenhoso e, em setembro, tanto homens quanto mulheres fazem a semeadura. Apesar da cooperação masculina, o trabalho de cultivo é, todavia, eminentemente feminino. São as mulheres que passeiam pelas roças buscando o alimento cotidiano e são também elas que cuidam destas roças e preparam os alimentos em suas fogueiras. São também elas que preparam e nutrem o fogo que é um elemento de fundamental importância. Em Las Casas, os homens costumam se dirigir cotidianamente para os campos e serras inscritas em seu território para caçar. A caça, todavia, não é organizada por uma liderança ou por um grupo de caçadores. Ao que parece, não existe nenhuma coerção explícita nesse sentido de modo que os homens caçam quando têm vontade de fazê-lo. Os índios caçam individualmente ou criam pequenos grupos com este fim, isto também depende de seus ânimos91.

Em termos pragmáticos, costumam sair bem cedo e caminhar até o pé de serra mais próximo, o que leva aproximadamente uma hora, para utilizar seus remanescentes florestais para a caça. Além destes locais, os campos são igualmente utilizados e neles os Caiapós encontram principalmente jabutis e tatus. A degradação da área, cujas paisagens foram transformadas em pastagens e a presença de regionais tem dificultado e até mesmo impedido o acesso dos Caiapós.


Em relação aos mortos, os Caiapós acreditam que eles se transformam em karon, um termo que tem sido traduzido pela palavra alma ou essência vital (Lukesch 1969; Fisher, 2003). Todos os animais e certas plantas possuem karon e os Caiapós chamam aos seus mortos de mekaron93. Acredita-se que estes seres, que representam a alteridade radical, possuem sentimentos e emoções exacerbadas, já que suas aldeias transformaram-se em territórios especiais da saudade94. De acordo com os índios de Las Casas, os mortos permanecem vagando pelos lugares em que estiveram quando pertenciam à “sociedade dos vivos”. Também afirmam que sua essência ou karon jamais se extingue. Em certo sentido, os índios parecem acreditar também que há uma espécie de continuidade entre a vida e a morte. Ora, os mortos preservam memórias da vida anterior que não só indicam quem eram seus parentes e os lugares em que andaram95, como também seriam capazes de sentir emoções que são propriamente humanas, como a saudade, a inveja, a ira. Aliás, uma diferença fundamental entre os vivos e os mortos seria o fato de que os segundos, não se esforçam para controlar, ainda que em termos relativos, seus próprios estados emotivos. Esta seria uma distinção essencial, já que os vivos esforçam-se por controlar certos sentimentos, reconstituição destas mortes, os índios encontram uma outra maneira de falar de sua história e fortalecer os vínculos afetivos com o lugar. Como dito, Las Casas foi primeiramente ocupada pelos Irã’a Mraire, que não resistiram ao contato e morreram ainda na década de 1930. Depois deles, nesta mesma região, guerrearam entre si os subgrupos Caiapós Gorotire, Kubenkrankeng e Xicrin. Percebendo este estado de guerra latente -- e também interessado na abertura destas terras para a colonização nacional -- o Governo Federal e o Serviço de Proteção aos Índios implantaram neste mesmo lugar o Posto de Atração Las Casas,levando para lá mulheres órfãs e recém casadas na Missão Dominicana de Conceição do Araguaia-Pa. Estas pessoas ajudariam a “pacificar” os índios Xicrins, na época muito temidos pela população regional e também pelos próprios Caiapós.<ref>{{citar livro|url=https://core.ac.uk/download/pdf/30369099.pdf|título=A REINVENÇÃO DA SOCIEDADE:
Cotidiano e Território entre os Mebengokré (Caiapó) de Las Casas|ultimo=Melo|primeiro=Juliana Gonçalves|editora=editora = Juliana Gonçalves Melo|ano=2004|local=Florianópolis|página=63 ao 75|páginas=10}}</ref>

Há um mundo [[Céu (religião)|celeste]] do qual provém a [[humanidade]]. Os primeiros seres humanos que chegaram à [[Terra]] vieram de lá por uma longa [[corda]], igual [[formiga]]s por um [[Tronco (órgão vegetal)|tronco]]. Isto foi possível porque um homem viu um [[tatu]] e o seguiu até que entrou num buraco, que depois foi usado pelas pessoas para vir a este mundo. Também as plantas celestes baixaram do mundo celestial quando a filha da [[chuva]] brigou com a mãe, desceu a este mundo e foi acolhida por um homem, a quem entregou as plantas.
Há um mundo [[Céu (religião)|celeste]] do qual provém a [[humanidade]]. Os primeiros seres humanos que chegaram à [[Terra]] vieram de lá por uma longa [[corda]], igual [[formiga]]s por um [[Tronco (órgão vegetal)|tronco]]. Isto foi possível porque um homem viu um [[tatu]] e o seguiu até que entrou num buraco, que depois foi usado pelas pessoas para vir a este mundo. Também as plantas celestes baixaram do mundo celestial quando a filha da [[chuva]] brigou com a mãe, desceu a este mundo e foi acolhida por um homem, a quem entregou as plantas.


Muitos relatos explicam os fatos [[cultura]]is, desde a obtenção do [[fogo]] até a casa da [[onça-pintada]]. As [[dança]]s são levadas muito a sério, pois explicam a relação com a natureza, a sociedade e a história.
Muitos relatos explicam os fatos [[cultura]]is, desde a obtenção do [[fogo]] até a casa da [[onça-pintada]]. As [[dança]]s são levadas muito a sério, pois explicam a relação com a natureza, a sociedade e a história.


== Nós,os Mebengôkre (Kayapó-Menkragnoti), que estamos hj juntos no   Instituto Kabu ==
== Nós,os Mebengôkre (Kayapó-Menkragnoti), que estamos hj juntos no Instituto Kabu ==
O governo deve nos consultar para não acontecer coisas ruim:  O governo fez uma BR-163 (Rodovia no Brasil) sem nos consultar. O governo federal liberou a licença de instalação sem sequer os consultar.
O governo deve nos consultar para não acontecer coisas ruim:  O governo fez uma BR-163 (Rodovia no Brasil) sem nos consultar. O governo federal liberou a licença de instalação sem sequer os consultar.



Revisão das 14h54min de 14 de dezembro de 2022

 Nota: Não confundir com Caapores. Para a língua falada pelos cayapós, veja Língua caiapó.
Caiapó
Kayapó
Mebêngôkre
Jovens caiapós
População total

11 675 (Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena/Secretaria Especial de Saúde Indígena, 2014)[1]

Regiões com população significativa
Pará Pará
 Mato Grosso
Nordeste de  São Paulo [2]
Línguas
Caiapó
Religiões
Animismo
Etnia
Nativo-americanos
Grupos étnicos relacionados
Caiapós-xicrins, Caiapós-mecranotis, Caiapós-paus-d'arco, Caiapós-metuctires, Caiapós-cubem-cram-quens, Caiapós-gorotires, Caiapós-cocraimoros, Caiapós-aucres, Caiapós-cararaôs,Caiapós-quicretuns

Os caiapós,[3] também conhecidos como Kayapó, kaiapó, Mebengôkre[4] ou Mebengôkre (endônimos),[5] são um grupo étnico (um grupo linguístico de povos indígenas do Brasil), habitantes da Amazônia brasileira.

História

Ocupantes desde tempos imemoriais de áreas no interior do Brasil, os caiapós habitavam pequenas aldeias em que viviam de caça, pesca, milho, mandioca, mel, e frutas. No século XVIII, na região nordeste do atual Estado de São Paulo, o grupo etnico teve seu primeiro contato com as populações de origem europeia, bandeirantes que eram liderados por Bartolomeu Bueno da Silva - o Anhanguera - buscavam por ouro, pedras preciosas e índios para serem comercializados com escravos. [2]

Já na região da bacia inferior do rio Tocantins, no começo do século XIX os caiapós começaram a sofrer ataques dos homens brancos, que mataram e escravizaram muitos caiapós. Ainda que mais numerosos que os invasores, as bordunas dos caiapós nada podiam fazer diante dos mosquetes dos invasores. Como resultado, os caiapós migraram para o oeste. Trinta anos depois, porém, os homens brancos voltaram a atacar os caiapós. Desta vez, houve uma cisão entre os caiapósː uma parte deles queria estabelecer a paz com os homens brancos, e outra parte queria continuar a fuga para o oeste. Os caiapós que optaram pela relação amistosa com os brancos desapareceram, em grande parte vitimados por pestes trazidas pelos brancos.

Nas décadas de 1950 e 1960, houve uma tentativa de aproximação por parte de agentes do governo brasileiro com a intenção de pacificar os caiapós. Como resultado, hoje, a maior parte dos caiapós está em contato permanente com a sociedade brasileira.[6]

Nos anos 1980, dois caiapós se tornaram conhecidos do grande públicoː Tutu Pombo e Raoni. O primeiro, como o primeiro líder indígena brasileiro a explorar comercialmente as reservas indígenas, ao permitir a extração de ouro e mogno em troca de dinheiro. O segundo, como um defensor do meio ambiente e do modo de vida tradicional

Língua

A língua caiapó pertence ao tronco linguístico macrojê. O conhecimento da língua portuguesa varia de grupo para grupo, dependendo de seu grau de interação social com a sociedade não índigena.[7]

Denominação

O termo Kayapó é um exônimo que data do início do século XIX, tendo sido criado por grupos indígenas vizinhos desta etnia. Significa 'homens semelhantes aos macacos' e está, provavelmente, ligado a certos rituais do grupo, nos quais os homens dançam usando máscaras de macaco. O endônimo dos chamados kayapó é mebengokre, que significa, literalmente, 'homens do buraco (ou poço) d'água'.[8][9]

Subgrupos

Os caiapós são um grupo indígena brasileiro que se divide nos subgrupos:kayapó-aucre, kayapó-cararaô, caiapó-cocraimoro, caiapó-cubem-cram-quem, caiapó-gorotire, caiapó-mecranoti, caiapó-metuctire, caiapó-pau-d'arco, caiapó-quicretum e caiapó-xicrim. No passado, eram também chamados de coroados, e os de Mato Grosso, coroás.

Economia

Sua principal atividade econômica é a agricultura itinerante praticada por homens, mulheres e meninos. Através do método de desbravar e queimar (queimada), cada par limpa um local na floresta de cerca de cinquenta por trinta metros onde estabelecem suas hortas, nas quais semeiam batata, cará, mandioca, algodão, milho e, ao lado das árvores, plantam cupá, uma videira com gavinhas comestíveis. Alguns grupos introduziram, em suas hortas, arroz, feijão, mamão e tabaco. Usam fertilizantes e pesticidas.

Recolhem mel e frutos de palmeiras silvestres como o babaçu. A castanha-do-pará, que anteriormente era recolhida pelas mulheres para seu autoconsumo, hoje é recolhida pelos homens e vendida a compradores estatais ou privados. O óleo certificado de castanha, feito pelos caiapós da Terra Indígena Baú, de Novo Progresso, recebeu o selo verde, uma certificação que atesta práticas legais e impulsiona a venda para as indústrias de cosméticos. No entanto, a sua substituição por outras matérias-primas tem feito os caiapós venderem o óleo para a indústria de biocombustível a um preço dez vezes menor.[10] indígena.

Notas sobre o trabalho de campo

O Relatório de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Las Casas foi devidamente aprovado, tendo sido seu resumo publicado no Diário Oficial da União em 25 de agosto de 2003, época em que a Terra foi oficialmente reconhecida como Indígena. Este fato, por sua vez, foi contestado por ocupantes de Las Casas, que alegavam direito ao contraditório. A Funai, por sua vez, respondeu às contestações e reiterou a necessidade do reconhecimento dos direitos indígenas àquela porção do território nacional. A Terra foi homologada finalmente em 2009, mas continua ocupada por regionais. Como consta no artigo 231, parágrafo 1º, da Constituição de 1988, são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. (BRASIL, 1988). Este, por sua vez, é complementado por legislação infraconstitucional através do Decreto 1775/96 e Portaria 14/963.

Ainda que o processo de regularização fundiária de uma Terra Indígena seja imensamente mais complexo, cabe ao coordenador de um GT de identificação e delimitação, a partir da realização de um trabalho de campo marcado por situações bastante peculiares, promover uma espécie de “adequação” das narrativas indígenas sobre seu território, que são fluidas e incorporam agências heterogêneas, para uma linguagem jurídica e administrativa que é, por sua própria natureza, hermética (LIMA, 2008). A despeito das dificuldades concernentes à realização de trabalhos como estes (afinal, o tempo é exíguo e a situação em campo é geralmente tensa) é possível construir boas interpretações em situações como estas, como demonstrarei. Por outro lado, talvez o fato mais compensador seja perceber como o olhar antropológico, bem embasado, pode contribuir para a garantia de direitos.

Histórias de ontem

Da “pacificação” ao processo de reconstrução de Las Casas no Sudeste do Estado do Pará, ano de 1996. Um pequeno grupo de Caiapós deixa a Terra Indígena homônima. O destino é a antiga aldeia Las Casas, onde funcionara um Posto de Atração do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) entre os anos de 1940-1965. Entre os membros daquele pequeno grupo estão Parityk, Tapiri, Maria Eugênia e Pedro Aybi. Juntamente com suas famílias nucleares, formam um grupo bastante heterogêneo4. Não obstante, reconhecem-se como òmbikwa, termo para indicar relações de parentesco5 e “companheirismo” designando “pessoas que se que cuidam mutuamente” (VIDAL, 1977). Parityk, Tapiri e Maria Eugênia estabeleceram seus primeiros contatos ainda na década de 1950, quando da “pacificação” dos índios Xicrin. Ao passo que Parityk e Tapiri faziam parte da expedição de guerreiros Xicrins, Maria Eugênia (uma Caiapó órfã criada na Missão Dominicana de Conceição do Araguaia, PA), juntamente com seu marido Paulo Kryt6, auxiliava o sertanista Miguel Araújo, na “pacifi cação”. A criação do Posto Las Casas atendia a essa necessidade, sendo que os Caiapós Xicrin eram considerados como o grupo mais belicoso. Além de atacar outros subgrupos Caiapós, também guer4. Existem índios Kubenkrankeng, Xicrin, Gorotire e Mekrãgnoti vivendo em Las Casas.

O “parentesco” aqui é tratado como um sistema capaz de estruturar e reproduzir os grupos sociais, determinando as relações sociais e criando relações que envolvem reciprocidade, dádiva e solidariedade. Além de sua dimensão simbólica e ideológica, creio que o parentesco diz respeito a um sistema de atitudes que ajuda a organizar, através de suas terminologias, o próprio funcionamento da vida social. 6 Há também um outro casal importante para nesse processo de construção da aldeia de Las Casas e na “pacificação” Xicrin: Tereza e Luís Xapire.

A reconstrução do território e as percepções indígenas

Como disse, em 1996 os Caiapós conseguiram reunir as condições necessárias para retornar para Las Casas. Para lá, voltaram Parityk, Tapiri e Maria Eugênia, juntamente com Pedro Aybi. Ao chegarem, procederam à limpeza do terreno, erigindo algumas habitações ao estilo tradicional Caiapó, dotando aos poucos a aldeia com a infraestrutura que seus habitantes apreciam8. Em 2001, viviam em uma única aldeia, empreendendo expedições cotidianas de caça, coleta, pesca e também de controle territorial, realizadas individual ou coletivamente. Todos, inclusive as crianças, falavam a língua indígena e os homens utilizam o português com os regionais. Maria Eugênia era a única mulher bilíngue. O grupo estava composto por 50 índios, membros de três famílias extensas: aquela de Maria Eugênia; de Parityk e Tapiri. Em sua maioria, a população de Las Casas era de mulheres, velhos e crianças. Trata-se de um grupo bastante heterogêneo, já que são provenientes de várias Terras e subgrupos. A comunidade era pequena, o que dificultava, por exemplo, a realização de complexos cerimoniais, mas fortalecia os laços de solidariedade entre seus membros.

Para os Caiapós, de modo geral, uma aldeia deve ser um espaço trabalhado pelo que chamaríamos de “agência humana” e transformado em um campo amplo, limpo e circular. Neste lugar são construídas as habitações indígenas que estão voltadas para o centro da aldeia ou pátio cerimonial. Em torno das moradias, devem ser cultivadas pequenas roças e os campos próximos da aldeia são deixados para a coleta. Na zona limítrofe desse domínio propriamente humano localizam-se os cemitérios, pois é sinal de afeição guardar os mortos por perto.

Considerações sobre o papel do xamã, dos velhos e dos mortos

A hipótese que levanto é que só poderia mesmo ser um xamã, acompanhado por um grupo de “velhos”, os primeiros a retornar, justamente por que são eles que detêm os conhecimentos sobre o cosmos, os “tempos” e as “histórias antigas”. Essas pessoas possuem a sabedoria, a experiência, a força em seus pensamentos e suas ações podem ter implicações globais. O xamã tem a função de mediar a relação dos Caiapós com os mortos e outros seres sobrenaturais e esse exercício foi essencial. De acordo com a minha interpretação, aliás, o retorno para a área precisou ser duplamente negociado. Além da necessidade de se resolver um impasse fundiário, os Caiapós precisaram negociar com os próprios mortos de forma a criar as possibilidades para voltar a viver naquela área. Para tanto, Parityk precisou “viajar” para o lugar dos mortos, já que possuía essa capacidade. A partir de sua morte simbólica, passou a “ver todas as coisas”, adquirindo a capacidade de transitar por diferentes domínios. Pode-se dizer inclusive que a proposta de limites territoriais de Las Casas foi fortemente determinada pelos conhecimentos de Parityk, socialmente inscritos e simbolicamente interpretados. Naquele contexto, ele tomou para si a responsabilidade de criar o processo de aproximação e negociação com os próprios mortos e, para tanto, precisou reinterpretar o caráter dessa relação. Ao fazê-lo, gerou uma nova maneira de se contar a história. Isto é, os mortos parecem ter sido transformados em aliados dos índios, tornando-se símbolos de resistência na luta pela terra14.[11]

Espécies de árvores plantadas pelos Kayapó[12]
Nome Kayapó Nome em português Nome científico alimento usos
motu marmelada Alibertia edulis Sim isca/caça
roi-krãti marmelada-do-campo Alibertia sp. isca/caça
ongrê araticum Annona crassiflora Sim
jacá jaca Artocarpus intergrifoliam Sim
roi-ti-(mrã) tucumã Astrocaryum tucuma Sim sal
woti tucum ou cumari Astrocaryum vulgare Sim óleo
pi'ỳ castanha-do-pará Bertholletia excelsa Sim
pỳ kumrenx urucu (1 de 3 variedades) Bixa orellana pintura corporal
pỳ poi ti urucu (1 de 3 variedades) Bixa orellana
pỳ krã re urucu (1 de 3 variedades) Bixa orellana
kutenk murici Byrsonima crassifolia Sim
pri kà ti piqui (1 de 3 variedades) Caryocar villosum Sim
pri krã ti piqui (1 de 3 variedades) Caryocar villosum isca/caça
pri kumrenx piqui (1 de 3 variedades) Caryocar villosum Sim
pdigô ngrã ngrã lima Citrus aurantiifolia Sim
pidgô ti laranja-da-terra Citrus aurantium Sim
pidgô poi re limão Citrus × limonia Sim
kapê café Coffea arabica Sim
kudjá redjô cereja Kayapó Cordia sp. Sim isca/caça
kremp uxi Endopleura uchi Sim
pidjô nore jambo Syzygium jambos Sim isca/caça
kamere kàk açaí Euterpe oleracea Sim isca/caça
mroti, mrotire jenipapo Genipa americana Sim pintura corporal
pi-ô-tire mangaba Hancornia speciosa Sim
moi (motx) jatobá Hymenaea courbaril Sim isca/caça
kohnjô-kô, jaka, kryre, poire, tire ngrãngrã, tyk ingá (6 variedades) Inga spp. Sim isca/caça
kromu sapucaia Lecythis usitata Sim
pi'ỳ tê krê ti sapucaia Lecythis usitata var. paraensis Sim
kuben poi re manga Mangifera indica Sim
krwya no kamrek maçaranduba Manilkara huberi isca/caça, isca/pesca
ngrwa ràre buritirana Mauritia martiana Sim
ngrwa buriti Mauritia flexuosa Sim
rikre inajá Attalea maripa Sim sal
kamere bacaba Oenocarpus bacaba Sim isca/caça
babaçu Attalea speciosa Sim sal/óleo
ngra djàre piaçaba Attalea funifera Sim
kamô pariri Parinari montana Sim isca/caça
kaprã abacate Persea americana Sim
pĩ panhê ka tire bacuri Platonia insignis Sim isca/caça
atwyra krã krê imbaúba Pourouma cecropiifolia Sim isca/caça
kamokô tuturuba Pouteria macrophylla Sim isca/caça
pidjó kamrek goiaba Psidium guajava Sim
tytyti diô banana-brava Ravenala guyanensis Sim
biri biribá Rollinia mucosa Sim
miêchet ti jurubeba Solanum paniculatum Sim
bàrere-krã-kryre taperebá Spondias lutea Sim
kuben krã ti cacau Theobroma cacao Sim isca/pesca
bàri-djó cupuaçu Theobroma grandiflorum Sim

São bons caçadores, mas, atualmente, a caça não é abundante. Entre as presas que conseguem obter, se destacam os da família Tayassuidae. Os homens tecem cestos, cintos e faixas para carregar e fabricam paus, lanças, arcos e flechas para a caça. As mulheres fabricam pulseiras, fitas e cordas.

Atualmente, os caiapós do Pará são tidos como os índios mais ricos do Brasil. Sua riqueza vem da exploração de mogno, ouro e óleo de castanha-do-pará, além de dividendos de róialtis advindos da mineração industrial em suas terras.[13]

Organização social

Em 2 de junho de 2010, o cacique Akiaboro, líder geral de todas as aldeias Caiapó, fala à imprensa após participar da 13ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista. Foto:Renato Araújo/ABr.

Cada comunidade é independente das demais, mas todas apresentam a mesma estrutura. Se constrói uma aldeia com uma praça central para as festas e, ao redor, as casas de cada família. O ngobe é a "casa dos homens", situada no extremo norte da praça, onde eles se reúnem, praticam trabalhos artesanais e pernoitam. Os homens se dividem em dois lados, cada um com um benadióro (chefe) e seus oopen (partidários).

As casas das esposas do chefe estão uma no extremo leste da aldeia e outra a oeste. São seminômades. Várias vezes ao ano, correm pelas florestas para a caça, coleta e estabelecimento de novas colheitas; alguns desses períodos são curtos e breves e outros relativamente longos, durante os quais abandonam a aldeia. Como comunidades sobreviventes, se mencionam os kubenkrâkên, gorotire, xikrin, menkragnoti e metüktire.

Uma forma organizativa fundamental através da qual cada pessoa se articula em sua comunidade é o grupo patronímico ou seguimento de nomes. As meninas e as mulheres formam o mesmo grupo das irmãs do pai, enquanto que os meninos e os homens são do grupo dos irmãos da mãe.

Jovens índias caiapós do Pará participando de cerimônia

O sistema de parentesco se assemelha ao tipo Omaha, o qual permitiria pensar em linhagens patrilineares, que, no entanto, não existem ou são substituídas pela adesão a segmentos determinados pela descendência em linha cruzada: cada pessoa pertence a uma categoria de acordo com sua idade, sexo e número de filhos. Os guerreiros (maiores de 17 anos) participam das assembleias no ngobe, onde se tomam as decisões políticas.

O matrimônio se contrai em idade precoce, por vezes consentido pelas mães dos noivos, sendo proibida a união entre primos cruzados. Se trata de um evento público que está previsto após a menarca (primeira menstruação) das meninas (entre 10 e 12 anos). As mães e tias dos recém-casados preparam e interrompem sem prejuízos a noite de núpcias. O divórcio é possível, mas o segundo casamento é privado.

A decoração do corpo é uma questão importante na sociedade. Dedica-se bastante tempo para raspar o cabelo e fazer desenhos coloridos na pele. Homens, mulheres e crianças ficam com a parte superior da cabeça completamente raspada. As mulheres deixam cair para trás o resto do cabelo, enquanto os homens fazem um rolo. Levam grinaldas de penas, brincos, colares e cintos e alguns homens usam um disco em seu lábio inferior. Anteriormente, todos os homens o portavam.

Não usam bebidas fermentadas nem plantas alucinógenas.

O Clube da Esquina e a mineiridade como repertório

Uma das frases que mais ouvi de muitos interlocutores durante a pesquisa sobre o Clube da Esquina foi “Eles são tão mineiros”. Achei válido então começar a discussão sobre os temas escolhidos para a música do grupo tratando dessa identidade mineira, que é mais perceptível na música analisada do que uma identidade nacional, brasileira ou de outras regiões específicas como o Rio de Janeiro, de onde também são muitos integrantes. Na audição das músicas procurei o que era mineiro ali e me surpreendi ao descobrir que talvez a mineiridade não fosse apenas um tema, mas um repertório de temas do Clube da Esquina. Nessa abordagem, é importante diferenciar “mineiridade” de “mineirice”, sendo o último um conceito ligado à esperteza escondida ou disfarçada em uma aparência de ingenuidade, atribuída aos mineiros, muitas vezes de forma pejorativa, como um estereótipo. Já o primeiro, que investigo aqui, está relacionado ao que é culturalmente comum entre eles, características, tradições e hábitos frequentemente encontrados nos habitantes de Minas Gerais, mas que não devem ser entendidas como regras absolutas.

O Clube da Esquina e a articulação entre o local e o global

Se os ouvintes e certa parte da crítica tocam sempre na questão da mineiridade da música do Clube da Esquina, em minhas conversas com alguns integrantes do grupo a escolha pelo que é universal pareceu muito mais pensada. Algumas vezes pude perceber um certo incômodo com a rotulação de sua obra como mineira. Para Ronaldo Bastos, a ligação com Minas virou algo “institucional”, o “Clube ficou acomodado sob esse ponto de vista”. “Não tenho nenhum problema com a mineiridade. Ela está lá, mas não pensávamos nisso. Tínhamos muito mais uma visão universal94”. Fernando Brant chama a atenção para a mesma questão: “’Sou do mundo, sou Minas Gerais95’... mas pode ver que o mundo vem primeiro96”. Segundo Rafael Senra Coelho. O reconhecimento internacional da música do Clube da Esquina e de Milton Nascimento é realmente grande. Entretanto, entendo que dita pelos músicos do grupo, essa fala mostra uma marcação de posição, uma tentativa de valorização desse fenômeno musical, principalmente como uma crítica ao fato de a tropicália ter mais espaço na mídia e nos estudos acadêmicos brasileiros mesmo não tendo, segundo essas fontes, uma grande repercussão no exterior. Digo isso porque essas frases apareceram diversas vezes como uma comparação com o movimento tropicalista. Acredito que seja também uma tentativa de afirmar o Clube da Esquina como movimento cultural, o que é importante para alguns integrantes. O Clube da Esquina reuniu músicos de diversas partes do Brasil, mas além de ser o local de reunião e produção de músicas, Minas Gerais está presente de várias formas nas canções, como vimos anteriormente. Segundo Viveiros Martins, a constituição do grupo se deu, na cidade de Belo Horizonte, pela vivência de experiências coletivas que mostraram àqueles jovens que eles tinham valores em comum sobre os quais era possível falar.[14]

Espaços, práticas e ideias sobre o cosmos

Os Caiapós definem como domínios diferentes a terra, o céu, o mundo aquático e subterrâneo. Estes domínios, cada qual com seus atributos e entidades, comporiam a geografia universal e forneceriam importantes elementos sobre o sentido de seu mundo. Em termos gerais, estes espaços, com seus seres e potencialidades distintas, possuem uma importância não apenas pragmática, mas também simbólica e cognitiva, sendo capazes de informar sobre a ordem do mundo.


O domínio subterrâneo se situaria dentro da terra kwoikwai inhôt, geograficamente a oeste. Seria este o lugar da escuridão eterna e também o mundo dos kuben-kamrik, homens canibais que se alimentam de carne crua e sangue (Giannini, 1991 b: 49). Embora alguns informantes afirmem que estes seres não mais existem é bom lembrar que na concepção de mundo indígena nada é estático. Desse modo, o passado pode voltar a qualquer momento, caso os índios não controlem suas potências e formas de relacionamento com outros domínios do cosmos, advindo daí a importância que cada um domine suas próprias forças e poderes. O domínio celeste ou koikwa krai, se situaria à leste. Para os Caiapós, o céu é sustentado por um tronco em cuja base está uma anta que o rói cotidianamente. Esta ação, todavia, é perigosa, já que pode provocar a queda do céu sobre a terra e isto acarretaria o fim do mundo. Para evitar que isto aconteça, é preciso flechar a anta e, através desta prática, o tronco que sustenta o céu se regenera e a vida segue seu fluxo. Contudo, a anta sempre retorna ao pé do céu e reinicia seu trabalho, ficando furiosa quando os índios caçam mais do que deviam (Giannini, 1991b: 50).


A aldeia, para os Caiapós, representaria o locus da humanidade propriamente dita, já que é o lugar em que os Mebengôkre tornam-se humanos através de várias cerimônias que promovem sua “humanização”82. Este seria ainda o local em que se dá o fluxo da vida social e é também onde ocorreria a domesticação, principalmente pela ação das mulheres, de plantas e animais. Nos campos próximos dela, são realizadas atividades de coleta, havendo ainda um cemitério indígena no espaço limítrofe da aldeia.


Ao nível das técnicas de cultivo, os Caiapós deixam que suas roças tenham sempre uma cobertura vegetal, pois isto ajuda a evitar o excesso de insolação e erosão do solo. Plantam também uma grande variedade de cultiváveis em uma mesma roça e isto evita o aparecimento de pragas. O plantio se faz de maneira a aproveitar o máximo do solo, havendo uma avaliação entre as qualidades do solo e as melhores espécies para serem nele cultivadas. As margens dos rios e seus arredores, por sua vez, são os locais preferidos, pois são os mais férteis devido à umidade do solo. Um outro aspecto muito importante diz respeito ao fato de que os índios costumam alternar os locais em que fazem suas roças e isto ajuda a recuperar o solo. O pousio, que consiste em deixar a “terra descansando” e escolher um novo local para plantio, é uma prática muito recorrente e importante para evitar o desgaste da terra. É bom lembrar que as roças antigas continuam produtivas por muitos anos: a cultura do inhame subsiste por 05 a 08 anos; a da banana por 10 anos e o urucum por mais de 20 anos. Estes locais, portanto, tornam-se especialmente atrativos em virtude disso e também por que sabem que estes são lugares em que os animais costumam estar (cf. Posey, 1984). Em Las Casas as terras consideradas boas para plantar são aquelas situadas nos arredores da aldeia e também aquelas situadas às margens de rios e córregos. Em termos gerais, os índios limpam a área a ser cultivada entre os meses de março a maio, e todos parecem colaborar com esta atividade. Por volta de junho, os homens fazem a derrubada das árvores maiores e formando corredores de plantação84. Em agosto queimam o material lenhoso e, em setembro, tanto homens quanto mulheres fazem a semeadura. Apesar da cooperação masculina, o trabalho de cultivo é, todavia, eminentemente feminino. São as mulheres que passeiam pelas roças buscando o alimento cotidiano e são também elas que cuidam destas roças e preparam os alimentos em suas fogueiras. São também elas que preparam e nutrem o fogo que é um elemento de fundamental importância. Em Las Casas, os homens costumam se dirigir cotidianamente para os campos e serras inscritas em seu território para caçar. A caça, todavia, não é organizada por uma liderança ou por um grupo de caçadores. Ao que parece, não existe nenhuma coerção explícita nesse sentido de modo que os homens caçam quando têm vontade de fazê-lo. Os índios caçam individualmente ou criam pequenos grupos com este fim, isto também depende de seus ânimos91.

Em termos pragmáticos, costumam sair bem cedo e caminhar até o pé de serra mais próximo, o que leva aproximadamente uma hora, para utilizar seus remanescentes florestais para a caça. Além destes locais, os campos são igualmente utilizados e neles os Caiapós encontram principalmente jabutis e tatus. A degradação da área, cujas paisagens foram transformadas em pastagens e a presença de regionais tem dificultado e até mesmo impedido o acesso dos Caiapós.


Em relação aos mortos, os Caiapós acreditam que eles se transformam em karon, um termo que tem sido traduzido pela palavra alma ou essência vital (Lukesch 1969; Fisher, 2003). Todos os animais e certas plantas possuem karon e os Caiapós chamam aos seus mortos de mekaron93. Acredita-se que estes seres, que representam a alteridade radical, possuem sentimentos e emoções exacerbadas, já que suas aldeias transformaram-se em territórios especiais da saudade94. De acordo com os índios de Las Casas, os mortos permanecem vagando pelos lugares em que estiveram quando pertenciam à “sociedade dos vivos”. Também afirmam que sua essência ou karon jamais se extingue. Em certo sentido, os índios parecem acreditar também que há uma espécie de continuidade entre a vida e a morte. Ora, os mortos preservam memórias da vida anterior que não só indicam quem eram seus parentes e os lugares em que andaram95, como também seriam capazes de sentir emoções que são propriamente humanas, como a saudade, a inveja, a ira. Aliás, uma diferença fundamental entre os vivos e os mortos seria o fato de que os segundos, não se esforçam para controlar, ainda que em termos relativos, seus próprios estados emotivos. Esta seria uma distinção essencial, já que os vivos esforçam-se por controlar certos sentimentos, reconstituição destas mortes, os índios encontram uma outra maneira de falar de sua história e fortalecer os vínculos afetivos com o lugar. Como dito, Las Casas foi primeiramente ocupada pelos Irã’a Mraire, que não resistiram ao contato e morreram ainda na década de 1930. Depois deles, nesta mesma região, guerrearam entre si os subgrupos Caiapós Gorotire, Kubenkrankeng e Xicrin. Percebendo este estado de guerra latente -- e também interessado na abertura destas terras para a colonização nacional -- o Governo Federal e o Serviço de Proteção aos Índios implantaram neste mesmo lugar o Posto de Atração Las Casas,levando para lá mulheres órfãs e recém casadas na Missão Dominicana de Conceição do Araguaia-Pa. Estas pessoas ajudariam a “pacificar” os índios Xicrins, na época muito temidos pela população regional e também pelos próprios Caiapós.[15]

Há um mundo celeste do qual provém a humanidade. Os primeiros seres humanos que chegaram à Terra vieram de lá por uma longa corda, igual formigas por um tronco. Isto foi possível porque um homem viu um tatu e o seguiu até que entrou num buraco, que depois foi usado pelas pessoas para vir a este mundo. Também as plantas celestes baixaram do mundo celestial quando a filha da chuva brigou com a mãe, desceu a este mundo e foi acolhida por um homem, a quem entregou as plantas.

Muitos relatos explicam os fatos culturais, desde a obtenção do fogo até a casa da onça-pintada. As danças são levadas muito a sério, pois explicam a relação com a natureza, a sociedade e a história.

Nós,os Mebengôkre (Kayapó-Menkragnoti), que estamos hj juntos no Instituto Kabu

O governo deve nos consultar para não acontecer coisas ruim:  O governo fez uma BR-163 (Rodovia no Brasil) sem nos consultar. O governo federal liberou a licença de instalação sem sequer os consultar.

Descobrimos depois que as existia um PBA( plano básico ambiental). Nossas comunidades não sabia sobre isso não foram consultadas.

Naquela época nós não aceitavas ou aceitávamos o PBA feito em nossa participação sem nossa participação. O governo teve que fazer outra PBA após conversar com todas as comunidades.

Nós é a nossa liderança ficamos indignados precisamos ir na justiça para defender nossos direitos nós juntamos e fechamos a rodovia correndo o risco de vida para defender nossos direitos.

Nós caiapó não temos medo, nós já fechamos a br-163 muitas vezes enfrentamos os caminhoneiros e governo juntos porque o governo federal não estava respeitando o nosso direito. Sabemos que temos direitos, mas o kubeb nem sempre cumpre a lei, já lutamos muito para o nosso direitos.

Na defesa de nossos direitos vamos trancar essa rodovia quantas vezes for necessárias.

Nos últimos anos grandes mineradores têm se instalados ao lado da nossa área. Essas empresas dizem que estão guardando liberação da Licença Ambiental, mas nós não sabemos se elas já fizeram os estudos de impacto ambiental . Nós não sabemos se esses estudos têm informações sobre os impactos sobre nossas terras e floresta. [16]

Realização do Protocolo de Consulta dos Kayapó-Menkragnoti Associados ao Instituto Kabu © Instituto Kabu | © Rede Xingu + Novo Progresso, Pará - 2019

TI Baú

Se a BR-163 roubou dos Kayapó o acesso ao rio Jamanxim – ainda hoje presente nas histórias contadas pelos anciãos – posseiros, madeireiros e garimpeiros que chegaram com a estrada conseguiram tirar deles uma área de 300 mil hectares em meio à luta pela demarcação.


Em 1991, a TI Baú foi declarada de posse indígena, com 1,85 milhão de hectares no sul do município de Altamira e no município de Novo Progresso. Invasores apoiados por políticos locais impediram várias vezes a demarcação física com agressões aos Kayapó e a funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Em 2003, quando a demarcação foi retomada e os conflitos se acirraram, os Mekrãgnotí aceitaram abrir mão de uma faixa equivalente a 3 mil km² no lado oeste da TI Baú, em troca da promessa de fim das invasões. Um termo de conciliação e ajustamento de conduta foi firmado entre Ministério Público Federal (MPF) de Santarém, Funai, Polícia Federal, Prefeitura de Novo Progresso, lideranças Kayapó, associações de fazendeiros, posseiros e garimpeiros. Com base neste acordo, a TI Baú foi reduzida para 1.543.460 hectares naquele ano. A homologação só aconteceu cinco anos depois, em 2008[17]

Ver também

Referências

  1. Povos indígenas no Brasil. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Meb%C3%AAng%C3%B4kre_(Kayap%C3%B3). Acesso em 27 de janeiro de 2019.
  2. a b https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=332308
  3. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 313.
  4. Oliveira, Ester de Souza; Passos, João Lucas Moraes (7 de outubro de 2019). «Limites e lugares: entre caminhos mẽbêngôkre». Ilha Revista de Antropologia (1): 170–196. ISSN 2175-8034. doi:10.5007/2175-8034.2019v21n1p170. Consultado em 7 de fevereiro de 2021 
  5. Povos indígenas no Brasil. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo/177. Acesso em 13 de junho de 2016.
  6. Povos indígenas no Brasil. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo/181. Acesso em 13 de junho de 2016.
  7. Povos indígenas no Brasil. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Meb%C3%AAng%C3%B4kre_(Kayap%C3%B3)#L.C3.ADngua. Acesso em 29 de janeiro de 2019.
  8. Povos indígenas no Brasil. Instituto Socioambiental. Nome
  9. Kayapó / Mebêngôkre. Site do XII Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.
  10. Caiapós têm dificuldade para vender óleo certificado de castanha - O Estado de S.Paulo, 26 de fevereiro de 2010 (visitado em 26-2-2010).
  11. Melo, Juliana Gonçalves (15/12/2014). Direito, território e sentimento (PDF). Brasília: editora = Juliana Gonçalves de Melo. p. 86 até 91. 6 páginas  Verifique data em: |ano= (ajuda)
  12. Posey, Darrell A. 1986. Manejo de floresta secundária, capoeira, campos e cerrados (Kayapó). In: Ribeiro, Darcy (editor); Ribeiro, Berta G. (coord.). Suma Etnológica Brasileira, Vol. 1: Etnobiologia, p. 172-186. Petrópolis: Vozes, Finep.
  13. Caiapós. Disponível em http://www.portalamazonia.com.br/amazoniadeaz/interna.php?id=320. Acesso em 27 de janeiro de 2019.
  14. Silva, Clara Cyrino (Setembro de 2012). “De tudo se faz canção”: Sobre as escolhas temáticas na música do Clube da Esquina (PDF). Rio de Janeiro: editora = Clara Cyrino. p. 18, 37, 39, 41.. 4 páginas  line feed character character in |título= at position 43 (ajuda); Verifique data em: |ano= (ajuda)
  15. Melo, Juliana Gonçalves (2004). A REINVENÇÃO DA SOCIEDADE: Cotidiano e Território entre os Mebengokré (Caiapó) de Las Casas (PDF). Florianópolis: editora = Juliana Gonçalves Melo. p. 63 ao 75. 10 páginas  line feed character character in |título= at position 27 (ajuda)
  16. Instituto, Kabu (2019). Protocolo de Consulta dos Kayapó-Menkragnoti associados ao Instituto Kabu (PDF). Pará: Edotores= Luís Carlos Sampaio, Rodrigo Balbueno, Thaís Mantovanelli, Biviany Rojas Garzón. p. 18 e 19. 2 páginas  line feed character character in |editora= at position 10 (ajuda)
  17. Instituto, kabu (2021). «O TERRITÓRIO». kabu. Pará. Consultado em 13 de dezembro de 2022 

Ligações externas

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