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Linha do Sabor

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Linha do Sabor
Antiga estação de Duas Igrejas, hoje sem serviço.
Antiga estação de Duas Igrejas, hoje sem serviço.
Antiga estação de Duas Igrejas, hoje sem serviço.
Bitola:Bitola estreita
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Vimioso(pj. abd.)
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P. St. Adrião(pj. abd.)
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Zamora (pj. abd.)
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Miranda do Douro(pj. abd.)
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105,3 Duas Igrejas-Miranda
Unknown route-map component "exHST"
99,7 Fonte de Aldeia
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94,0 Sendim
Unknown route-map component "exHST"
88,3 Urrós(ant. Urroz)
Unknown route-map component "exHST"
81,5 Sanhoane
Unknown route-map component "exBHF"
78,0 Variz
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T. ChacimM. C.os (pj. abd.)
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72,5 Mogadouro
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68,8 Vilar de Rei
Unknown route-map component "exBHF"
58,7 Bruçó
Unknown route-map component "exSTR" + Unknown route-map component "GRENZE2rg" + Unknown route-map component "GRENZE2lg"
MGDFEC
Unknown route-map component "exBHF"
49,3 Lagoaça
Unknown route-map component "exHST"
47,0 Fornos-Sabor
Unknown route-map component "exBHF"
42,3 Freixo de Espada à Cinta
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39,1 Macieirinha
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33,4 Carviçais
Unknown route-map component "exHST"
32,8 Fonte do Prado
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30,8 Mós
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25,4 Felgar
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22,6 Carvalhal
Unknown route-map component "exHST"
16,4 Larinho
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12,3 Moncorvo
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Gricha
Unknown route-map component "exWBRÜCKE"
P.te Pocinho× Rio Douro
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Track turning from right + Unknown route-map component "exBS2c1"
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L.ª DouroPorto
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0,0 Pocinho
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L.ª B.A.V. F. Naves (pj. abd.)
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L.ª DouroBarca d’Alva (des.)

A Linha do Sabor é uma linha ferroviária portuguesa de via estreita, extinta, que ligava a Estação de Pocinho, na Linha do Douro, à estação de Duas Igrejas - Miranda, em (Duas Igrejas / Dues Eigreijas), nos arredores de Miranda do Douro / Miranda de l Douro, no extremo nordeste do país. Embora tenha começado a ser planeada em 1877[1], o seu primeiro troço, entre Pocinho e Carviçais, só foi inaugurado em 1911[2], tendo sido concluída com a chegada a Miranda do Douro, em 1938.[3][4] Os serviços ferroviários foram encerrados em 1988.[5]

Caracterização

Os seus primeiros quilómetros são de uma rara beleza, que lhe valeram o lugar na conhecida canção Eu vou a Miranda ver os pauliteiros, nos versos

História

Ponte do Pocinho, junto ao início da linha.

Antecedentes e primeiros projectos

O troço até ao Pocinho da Linha do Douro foi aberto no dia 10 de Janeiro de 1887.[1]

Planeada desde 1877, a construção da Linha do Sabor tinha como objectivo fornecer uma ligação ferroviária ao Planalto de Miranda, atravessando os Concelhos de Moncorvo, Freixo, Mogadouro, Vimioso e Miranda do Douro; esta região possuía uma forte produção agrícola, principalmente em termos de pecuária, e importantes recursos naturais, destacando-se as minas de ferro em Torre de Moncorvo e os depósitos de mármore e alabastro de Santo Adrião, em Vimioso.[1][6][7] No entanto, apesar da sua riqueza, esta zona encontrava-se muito deficiente em termos de comunicações, com a rede viária pouco desenvolvida; com efeito, nos princípios do Século XX, a Estrada Real n.º 9, entre a região da Beira e a fronteira com Espanha, passando por Moncorvo e Mogadouro, ainda estava no início da sua construção, faltando atravessar o Rio Douro junto ao Pocinho.[7] Por outro lado, a Linha também deveria servir o tráfego internacional na província em Zamora.[1]

Em Setembro de 1878, o engenheiro e estadista João Crisóstomo de Abreu e Sousa apresentou um relatório sobre os caminhos de ferro em Portugal, aonde previu a construção de várias ligações ferroviárias; entre as linhas projectadas, encontrava-se uma entre Miranda do Douro e a foz do Rio Sabor, na Linha do Douro, para transportar alabastro de Vimioso e os minérios de Reboredo, e que continuava para Sul até Vila Franca das Naves, na Linha da Beira Alta.[8]

Planeamento

Estação de Duas Igrejas-Miranda.

Quando o conselheiro Emídio Navarro passou pela pasta das Obras Públicas, levou a cabo um plano de desenvolvimento do transporte ferroviário em Portugal[7]; no âmbito deste programa, foram realizados estudos às ligações ferroviárias complementares às Linhas do Douro e Minho.[7] Em poucos dias, foram criadas várias brigadas, para a realização dos estudos; a análise da Linha de Pocinho a Miranda foi dirigida pelo engenheiro Augusto Luciano Simões de Carvalho.[7]

No entanto, no projecto de lei de 1887 para a construção de vários caminhos de ferro a Norte do Mondego, esta Linha não foi contemplada, devido à sua natureza complementar, tendo sido relegada para uma futura providência; ainda assim, foram feitos, em 1888, os estudos para o uso de via larga, tendo sido calculado que o custo quilométrico seria de 49:000$000 réis para a primeira secção, e de 14:000$000 réis nas seguintes.[7][9]

Um estudo dos depósitos no Reboredo, realizado pelos engenheiros Lourenço Malheiro e Pedro Victor da Costa Sequeira, preconizava a construção de um caminho de ferro, que iria ser bastante importante, não só pelo transporte de minério, mas também pelas suas relações transfronteiriças.[7] Nessa altura, foi elaborado um projecto para a primeira secção, do Pocinho a Carviçais, pelo engenheiro Manuel F. da Costa Serrão; esta parte da linha seria a mais difícil e dispendiosa, pela elevada quantidade de obras de arte necessárias, devido ao reduzido espaço disponível e aos grandes desníveis a vencer.[7] Devia empregar-se a via larga, de forma a evitar a necessidade de transbordos no Pocinho, e para possibilitar uma futura ligação internacional.[7][1] Numa monografia publicada em 1890 na Revista de Obras Públicas, Costa Serrão defendia o prolongamento da linha até à região de Zamora, em Espanha.[9]

Porém, com a crise de 1890, o erário público ficou bastante reduzido, tendo sido suspensas quase todas as obras ferroviárias no território nacional, incluindo as projectadas; no entanto, as populações ao longo da futura Linha continuaram a reclamar a sua construção, reclamando das precárias condições em que se encontravam as vias de comunicação.[7]

Em 6 de Outubro de 1898, foi publicado, por exortação de Elvino de Brito, um decreto, que ordenou o estudo e classificação dos caminhos de ferro que ainda não dispusessem de um projecto, a Norte do Rio Mondego e a Sul do Rio Tejo, de forma a integrá-los em planos gerais da rede ferroviária.[10][11] Um dos membros da comissão técnica responsável pelo planeamento das linhas, Simões de Carvalho, conseguiu que o projecto da Linha do Pocinho a Miranda fosse inserida no plano, com via larga[7]; desta forma, seria facilitada a futura ligação internacional, baseada no estudo de 1890 de Costa Serrão.[9] No entanto, as corporações consultivas discordaram do uso da via larga[7], devido à extrema dificuldade que a construção iria oferecer, e pelo facto de se considerar que as previsões de tráfego eram demasiado optimistas; por seu lado, os militares também defenderam o uso de via estreita, devido à proximidade do traçado em relação à fronteira.[7][1][9] Assim, o Conselho Superior de Obras Públicas propôs uma solução intermédia, que preconizava a utilização de via métrica em todo o percurso da Linha, mas com um ramal de bitola ibérica entre o Pocinho e as Minas de Reboredo; a passagem pela Ponte do Pocinho seria realizada em via algaliada.[1][7] A utilização deste tipo de via, e de curvas de raio reduzido, tinham como propósito reduzir os custos de construção.[12] Esta solução foi aceite, tendo a Linha sido, assim, inserida no Plano da Rêde Complementar das Linhas do Minho e Douro, decretado em 13 de Fevereiro de 1900.[10] Neste documento, também se encontrava a referência à Transversal de Trás-os-Montes, que ligaria as Linhas do Sabor, Tâmega, Corgo, Tua, e Basto.[11] Entretanto, uma lei de 14 de Julho de 1899 tinha autorizado o dispêndio de 3 milhões de reais na construção de várias linhas, nas quais não se encontrava, no entanto, a Linha do Pocinho a Miranda, uma vez que não se encontrava ainda classificada, e porque se previa que o seu custo iria ser superior ao permitido.[7]

Em Dezembro de 1901, o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria encarregou o conselho de administração da companhia dos Caminhos de Ferro do Estado de preparar e abrir o concurso para a construção da Ponte do Pocinho[13], e uma portaria de 1 de Dezembro de 1902 abriu um novo concurso para a construção da Ponte, utilizando a bitola ibérica.[1] A construção foi concessionada à Empreza Industrial Portugueza.[7] O local da ponte foi bastante próximo do que tinha sido previsto no anteprojecto de 1887, com uma rasante em rampa para começar desde logo a vencer o desnível existente entre o Rio e o planalto.[7] Nesta altura, surgiu a questão se o ramal privativo das minas deveria ir até Reboredo, ou ter apenas as dimensões indispensáveis para o transporte dos minérios; com efeito, previa-se que a construção iria ser bastante onerosa e complicada, devido às difíceis condições no terreno, pelo que a via estreita se apresentava mais apta, devido à sua maior flexibilidade e adaptação ao relevo.[7] Fazer a linha em via algaliada seria, assim, perder as vantagens inerentes a construir apenas em bitola métrica.[7] Por outro lado, a via algaliada permitiria evitar os transbordos de minério no Pocinho, e reduzir, assim, os custos de transporte, que já iriam ser bastante elevados, devido à distância a percorrer até ao porto de embarque.[7] Além disso, as vias entre as minas e a futura estação de Reboredo teriam forçosamente de ser em via reduzida, pelo que teria sempre de se realizar as operações de transbordo naquela interface.[7] Assim, chegou-se à conclusão que a utilização de duas bitolas distintas seria desnecessária, devido à facilidade com que os transbordos seriam realizados no Pocinho, pelo que se decidiu avançar com a construção da linha apenas em bitola métrica.[7] Não se colocou de parte, no entanto, uma terceira hipótese, de utilizar via algaliada na Ponte do Pocinho, de forma a se poder instalar uma estação de transbordo na margem Norte do Rio Douro, aonde havia mais espaço disponível do que no Pocinho.[7]

Nos inícios de 1903, o Ministro das Obras Públicas, Conde de Paçô Vieira, apresentou uma proposta para a construção, por parte do Estado, de vários caminhos de ferro em Portugal, financiada pelo Fundo Especial de Caminhos de Ferro, um órgão governamental de auxílio financeiro aos caminhos de ferro; a linha do Pocinho a Miranda também poderia ser instalada pelo Governo, ou contratada, com recurso a garantias de juro.[14][12] A atenção prestada ao transporte ferroviário por Paçô Vieira provocou uma multiplicação dos requerimentos e pedidos por parte de várias instituições públicas e privadas, para a construção de caminhos de ferro; no caso da Linha do Sabor, foi a população de Miranda do Douro que mais apoiou este projecto.[6] Assim, uma portaria datada de 9 de Março de 1903 ordenou a execução dos estudos para toda a linha, em via métrica; este documento também procurou adjudicar a construção e gestão desta linha à iniciativa particular, com uma garantia de juro de 5,5%.[1]

No entanto, esta iniciativa falhou, pelo que uma carta de lei de 1 de Julho de 1903 autorizou o Estado Português a construir directamente a Linha do Pocinho a Miranda[1][7], utilizando os recursos do Fundo Especial.[15] Nesse mês, já se tinham iniciado os estudos da primeira secção da Linha, correspondente ao troço entre o Pocinho e Carviçais; o encarregado pelos estudos foi o engenheiro Themudo, sob a direcção de Affonso Cabral.[16] O projecto para a Ponte do Pocinho já tinha sido elaborado por Estevam Torres, tendo sido afecto ao Conselho Superior de Obras Públicas.[16]

No dia 15 do mesmo mês, um decreto ordenou que o troço em via algaliada fosse reduzido, deixando de ir até Reboredo, e passando a ser apenas até à margem Norte do Rio Douro, onde se estabeleceria um ponto de transbordo para os minérios; o resto da linha seria apenas em bitola métrica.[1][17]

Em Outubro, os estudos para a primeira secção da Linha estavam muito adiantados, prevendo-se o início dos trabalhos ainda para esse ano, a partir da margem direita do Rio Douro; para as obras, foi aplicada uma verba inicial de 50:000$000 réis, que seria reforçada no ano seguinte.[18]

Em 11 de Novembro, uma portaria estabeleceu que toda a linha deveria ser em via métrica, embora a Ponte devesse ser preparada para receber bitola ibérica[1]; desta forma, o transbordo das mercadorias passaria a ser realizado na Estação do Pocinho, que teve de ser profundamente modificada, de forma a acomodar estas novas funções.[19] Os planos para a linha e para a ponte foram regulados, correspondentemente, pelas portarias de 20 de Junho e 8 de Outubro do mesmo ano, e um decreto de 21 de Outubro voltou a estabelecer os subsídios para a construção.[1]

Construção e inauguração

Estação do Pocinho.

Troço do Pocinho a Carviçais

Em 15 de Novembro de 1903, foram inauguradas oficialmente as obras na Linha do Sabor, começando pela Ponte do Pocinho.[20] Em 14 de Fevereiro de 1905, os Caminhos de Ferro do Estado marcaram, para 21 de Março, o concurso referente às empreitadas B e C, no troço entre Pocinho e Moncorvo.[21] Em Outubro de 1905, já se estavam a realizar os estudos para o troço seguinte da Linha.[22]

As obras da Ponte terminaram em 1906, tendo o primeiro troço, entre Pocinho e Carviçais, sido inaugurado em 17 de Setembro de 1911.[23][2]

Troço de Carviçais a Lagoaça

Em 7 de Outubro de 1925, um comboio de adubos entre Lagoaça e Carviçais foi atingido por vários tiros junto à localidade de Fornos, ferindo gravemente um dos funcionários; a composição retornou para a Estação de Lagoaça, que foi invadida pela população, com o intuito de incendiar o comboio.[24] A tentativa falhou graças à rápida intervenção da Guarda Nacional Republicana, que foi chamada ao local.[24] Este episódio demonstrou a animosidade que a população possuía contra a introdução do transporte ferroviário naquela região.[24]

Coeficientes de exploração nas linhas tributárias da Linha do Douro, exceptuando a do Tua[25]
Linha1914192019221925
Corgo1,132,472,834,01
Tâmega1,011,962,924,64
Sabor1,431,962,939,49

A constante desorganização administrativa dos Caminhos de Ferro do Estado, agravada pela instabilidade política, e que se acentuou após a Revolta de 19 de Outubro de 1921, teve efeitos nefastos na gestão das suas linhas, com o coeficiente de exploração a aumentar.[25] As obras de construção foram interrompidas, prevendo-se, em Julho de 1926, que se iniciariam em breve as obras além da Estação de Carviçais, até ao Mogadouro.[26] Nesse ano, os trabalhos ainda estavam a avançar com dificuldade, não tendo sido possível levar a linha até Bruçó, como estava previsto.[27]

Como resultado da situação pela qual os Caminhos de Ferro do Estado se encontravam, o Estado resolveu passar a gestão das antigas linhas desta entidade para a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, em dia 27 de Março de 1927.[3][25] Foi, assim, com a CP que se inaugurou o troço até Lagoaça, em 6 de Julho de 1927.[1] Em 27 de Janeiro de 1928, foi assinado o contrato de trespasse das Linhas do Sabor e do Corgo, para a Companhia Nacional de Caminhos de Ferro, uma vez que, devido à sua maior experiência na gestão de linhas de via estreita, se apresentava mais apropriada para explorar estas ligações.[25] O contrato teria a duração de 30 anos, entrando em vigor no dia 11 de Março do mesmo ano.[25][3][4] Em troca da concessão, a Companhia teria de entregar ao Estado uma renda fixa, correspondente a 6% das receitas brutas do tráfego, e uma renda variável, que se baseava numa percentagem dos lucros líquidos; a condição da renda fixa foi criticada, uma vez que as linhas já eram por si próprias deficitárias, tendo como principal função complementar o tráfego de passageiros e mercadorias na Linha do Douro.[25] Caso as linhas dessem prejuízo, como sucedeu, o Estado cobriria até 70% do défice, excepto se essa situação se devesse a casos de Força maior ou de insuficiência de tarifas.[25]

Troço de Lagoaça ao Mogadouro

O Decreto 18190, de 28 de Março de 1930, classificou oficialmente a Linha do Sabor até ao Vimioso, com ligação às Pedreiras de Santo Adrião; encontrava-se, igualmente, incluída a Transversal de Chacim, que ligaria Macedo de Cavaleiros ao Mogadouro, transitando pela localidade de Chacim.[28]

A Companhia Nacional tomou, assim, a construção da empreitada N1, correspondente ao troço de Lagoaça ao Mogadouro, e que entrou ao serviço em 1 de Julho de 1930[1]; porém, a Direcção Geral de Caminhos de Ferro entendeu que o antigo plano dos trabalhos para aquele troço estava incompleto, e por isso ordenou que fossem realizados vários projectos e orçamentos, para duas casas de partido de conservação, habitações para os carregadores em Bruçó e Vilar do Rei e para o pessoal braçal em Mogadouro, um cais coberto para mercadorias, em Vilar do Rei, e um cais descoberto em Mogadouro.[29] Devido, no entanto, a atrasos na aprovação destes investimentos, a sua construção só se pôde iniciar em Agosto de 1930, tendo sido completos em 1932, junto com as últimas obras de assentamento naquele troço.[29], e estava em construção o troço entre Mogadouro e Urrós.[30]

Troço de Mogadouro a Duas Igrejas-Miranda

Estação de Sendim, em 1995.

Entretanto, continuaram os problemas de exploração; embora a Companhia Nacional tenha conseguido melhorar a gestão da linha, o que se reflectiu na redução das despesas e consequentemente no coeficiente de exploração, que baixou de uma média de 9,84 entre 1923 e 1925, para uma média de 1,78, entre 1929 a 1933, o balanço continuava a ser negativo.[25] Para conseguir o pagamento de 70% do défice por parte do Estado, como tinha sido acordado anteriormente, a Companhia Nacional teve de recorrer aos tribunais; o Tribunal Arbitral, num acórdão de 5 de Julho de 1932, deu razão à Companhia, declarando que esta não podia ser culpada das condições em que operava, devido aos difíceis traçados das linhas e aos problemas com o material circulante, que já era anterior aos contratos; por outro lado, estes factores explicavam, igualmente, a insuficiência das tarifas em cobrir as despesas.[25] Desta forma, o Estado foi condenado a pagar 2.764.000$00 escudos, por compensação do défice entre 1929 e 1931, relativo às Linhas do Sabor e do Corgo.[25] Outros factores que foram apontados como causadores desta situação foram a crise económica que se fazia sentir naquela altura, e o forte desenvolvimento do transporte rodoviário.[25]

Em 1932, começaram os serviços de ambulâncias postais nesta linha, que seriam suprimidos em 1972.[31] Em 1933, foi colocada uma trave de ferro sobre os carris, junto à estação de Mogadouro, para descarrilar o serviço correio proveniente do Pocinho; o maquinista conseguiu parar a composição, evitando, assim, um acidente.[32]

Em 15 de Novembro de 1934, uma comissão de Miranda do Douro foi recebida pelo ministro Duarte Pacheco, pedindo que fosse construída uma variante à Linha do Sabor.[33] Nesse ano, continuaram as obras entre Mogadouro e Urrós[34], e foi balastrado, com pedra britada, o troço entre Pocinho e Moncorvo.[35] Ainda no mesmo ano, o Conselho Superior de Caminhos de Ferro encontrava-se a estudar uma forma de melhorar as condições em que a Linha estava a ser operada; com efeito, a situação da Companhia Nacional continuava muito negativa, estando a empresa à beira de falir, ou de abandonar a gestão das Linhas do Sabor e Corgo.[34] Uma comissão que tinha sido formada para estudar este problema apontou um estudo do engenheiro Vasconcelos de Sá, que defendia o uso de automotoras, uma vez que permitiam separar o transporte de mercadorias e dos passageiros, e reduzir consideravelmente as despesas de exploração.[34]

No ano seguinte, continuaram as obras até Urrós, e foi aberto o concurso para a construção do troço desde aquela estação até Duas Igrejas.[36] Nesse ano, a Companhia Nacional renovou os componentes metálicos da via entre Pocinho e Moncorvo.[37] Na reunião do Conselho de Ministros de 10 de Janeiro de 1934, foi aprovada a minuta do contrato para a terceira empreitada da Linha do Vale do Sabor, que consistiu nas terraplanagens e instalação das infra-estruturas de via e das estações, cabos telefónicos, e estradas de acesso para Sendim e Duas Igrejas.[38]

O troço até Duas Igrejas-Miranda foi inaugurado em 22 de Maio de 1938.[3][4] A Ponte foi desde logo construída com a resistência necessária a uma possível adaptação a via larga.[20]

Movimento de mercadorias

Este caminho de ferro foi utilizado para importar adubos e trigo de adubos para esta região e escoar a produção agrícola; além dos minérios de carvalhal, eram exportadas laranjas de Mazouco, pão de Lagoaça e de Felgar, mantas e broas de milho de Miranda do Douro, cerejas de Variz, e lembranças do Menino Jesus da Cartolinha.[39][40]

Encerramento

Todos os serviços ferroviários na Linha do Sabor foram suspensos em 1988.[5]

Reabertura e transformação em ecopista

Entre os finais de 2011 e princípios de 2012, foi anunciado que a empresa multinacional anglo-australiana Rio Tinto estaria a planear vários investimentos, de forma a reabrir as Minas de Moncorvo[41][42]; uma das soluções apresentadas para o escoamento do minério passava pela construção de um caminho de ferro, no antigo traçado da Linha do Sabor, até ao Pocinho, utilizando os comboios a rede existente até aos Portos de Leixões ou Aveiro.[43] Propôs-se, igualmente, reavivar o antigo projecto de construção de uma linha entre o Pocinho e Vila Franca das Naves, na Linha da Beira Alta, como forma de facilitar o transporte do minério para Espanha.[43] No entanto, a companhia desmentiu estas notícias, tendo acusado a imprensa portuguesa de especulação.[41]

Nos inícios de 2012, a Rede Ferroviária Nacional declarou que pretendia transformar todo o antigo traçado da Linha do Sabor numa via verde, aproveitando o facto da via atravessar o Parque Natural do Douro Internacional.[44]

Ver também

Referências

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  2. a b Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p.12
  3. a b c d TORRES, Carlos Manitto (16 de Março de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 71 (1686): 134, 139 
  4. a b c Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p.62
  5. a b Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p.150
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Bibliografia

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Ligações externas