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Inocêncio III
Info/Papa
Atividade eclesiástica
Fim do pontificado 16 de julho de 1216 (18 anos)
Predecessor Celestino III
Sucessor Honório III
Ordenação e nomeação
Dados pessoais
Categoria:Igreja Católica
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo
Lista de papas

Papa Inocêncio III, nascido Lottario dei Conti di Segni ou Lotário de Conti (Anagni, 1160/1161Perugia, 16 de julho de 1216), foi papa da Igreja Católica de 22 de fevereiro de 1198 até à data da sua morte. Lotário nasceu na família nobre dos Conti, Condes de Segni, Itália, e estudou nas mais importantes universidades de sua época: Teologia em Paris e Direito em Bolonha. Aos vinte e um anos tornou-se um clérigo importante em Roma, e escreveu dois livros notáveis: “De Miseria Condicionis Humane" (“A miséria da condição humana”) e “De missarum mysteriis” (“Sobre o mistério da missa”). Sendo considerado jovem, forte, erudito, inteligente e hábil foi eleito papa em 1198, com apenas trinta e um anos de idade.

Como papa, Inocêncio deixou claro sua concepção própria de poder dos papas logo no início de seu reinado, como Vigário e Representante de Cristo que goza de poder direto para o governo da Igreja Católica e sua hierarquia, e também, como possuindo um poder indireto que o permitia interferir excepcionalmente em questões políticas para salvaguardar os interesses e necessidades da Igreja. Inocêncio também possuía uma ideia particular sobre o Sacro Império Romano-Germânico, ao qual considerava, justamente fundado pelo poder indireto da Igreja e do papa no século IX, para criar um estado para defender a fé católica. Assim, Inocêncio recuperou o poder da Igreja sobre a Itália, especialmente sobre Roma e os Estados Pontifícios, que havia sido destruído pelo Sacro Imperador Henrique VI e pela dinastia Hohenstaufen, bem como expandiu sua autoridade por toda a Europa. Também reformou e moralizou a Igreja, a Cúria Romana, o episcopado, e o clero, e aprovou novas Ordens religiosas, como os Franciscanos e os Dominicanos.

Inocêncio também convocou o mais importante concílio da Idade Média, o Quarto Concílio de Latrão, que destaca-se por ter definido o papel da Eucaristia na Igreja por meio da declaração do dogma da transubstanciação, da doutrina que “fora da Igreja não há salvação”, da obrigatoriedade da confissão anual e de novas leis sobre a consanguinidade e o casamento. Considerando que era sua função como papa defender a Igreja e a cristandade, convocou e organizou sete cruzadas, das quais as mais importantes foram a Quarta, que criou o Império Latino de Constantinopla no Oriente Médio, a Quinta Cruzada, e a Cruzada Albigense, que extinguiu definitivamente o catarismo no sul da França.

Discussões historiográficas[editar | editar código-fonte]

Uma vez que Inocêncio é considerado um papa muito relevante, sua vida e suas obras foram vastamente estudadas por diferentes historiadores de escolas historiográficas diferentes, cujas ideias sobre o papel do papa são muitas vezes contraditórias[1]. A visão historiográfica dominante sobre Inocêncio é de que ele foi um “super-homem”, um herói ou vilão, essencialmente, um grande “homem político”. Essa descrição, por sua vez, possui opostos: ou a exaltação de suas virtudes, um “culto à personalidade” de Inocêncio, ou sua caracterização como um grande vilão. O primeiro caso, isto é o culto a sua personalidade, foi disseminado principalmente pela historiografia eclesiástica, católica conservadora, e positivista, por exemplo, Friedrich Emanuel von Hurter (1787-1865) e Ferdinand Gregorovius (1821-1891). Para esses historiadores, o reinado de Inocêncio é um antecessor do Estado moderno, impondo ordem dentro de uma sociedade desorganizada[2].

O segundo caso, isto é, a visão negativa de Inocêncio foi difundida principalmente, pela historiografia nacionalista e liberal, por exemplo, Albert Hauck (1845-1918), Johannes Haller (1865-1947) e Paul Johnson (1928). Hauck e Haller, historiadores protestantes e nacionalistas alemães, defendiam a ideia de que Inocêncio era um papa exclusivamente político, hipócrita e oportunista [3]. A origem da visão negativa de Inocêncio encontra-se no pensamento iluminista laicista e anticlerical, do século XVIII, que defende que a Igreja Católica e o papa traíram o Evangelho e o próprio Jesus Cristo ao se ligar ao poder político[3].

Existe ainda uma terceira escola de historiadores sobre quem foi Inocêncio e qual seu papel na Europa e na Igreja, do qual faz parte, por exemplo, Leandro Duarte Rust. Para esses estudiosos, a discussão se Inocêncio foi um “papa religioso” ou um “papa político” é dicotômica e reducionista, pois Inocêncio foi na verdade as duas coisas. Assim, foi um papa dotado que buscou alcançar objetivos eclesiásticos e ao mesmo tempo um homem político e um senhor feudal[4]. Assim, em Inocêncio os objetivos espirituais e políticos estão ligados uns aos outros como uma única coisa[5].

Existe também uma quantidade importante de historiadores que considera Inocêncio como um teocrata ou hierocrata, como Jacques Heers e Hilário Franco Junior. Uma teocracia é um regime político exercido pela casta sacerdotal, "onde, portanto, não há distinção entre o agente político e o religioso"[6]. Assim, para esses historiadores, o papado de Inocêncio foi um Estado que controlou e absorveu os demais poderes civis, instalando, portanto, um sistema de caráter centralizado. De maneira mais abrangente, a palavra também significa um regime em que o poder eclesiástico se considera como superior ao político, caracterizando toda a Idade Média[6].

Outros historiadores, porém, consideram a descrição de Inocêncio e do papado medieval como teocrático essencialmente incorreta, pois Inocêncio não absorveu os poderes locais, mas fortaleceu eles como seus aliados e defensores do papado, típico da dinâmica de poder do feudalismo[6]. Também criticam a ideia de que teocracia é qualquer regime em que o poder eclesiástico é considerado ao político, pois essa definição ignora "o contexto concreto desse período: tanto as situações em que o poder político se sobrepôs objetivamente ao poder clerical e o controlou, quanto às lutas entre o poder temporal e espiritual, mostrando grande resiliência e sucesso da parte dos senhores"[6]. Assim, muitos historiadores concluíram que Inocêncio não foi um teocrata, como Will Durant, August Franzen e outros[6], pois Inocêncio reconhecia a independência e distinção entre os poderes políticos e espirituais, distinção que também existia na prática, "em que havia claramente agentes sociais políticos, e outros eclesiásticos. Porém, embora eles estivessem em simbiose e dependência mútua, eram distintos um do outro, e, portanto, não havia teocracia propriamente dita"[6].

Concepção do poder dos papas[editar | editar código-fonte]

Iluminura de Inocêncio na Chronique Croisade, British Library.

Inocêncio era um teólogo que deu contribuições importantes para várias áreas da doutrina católica, porém, sua marca decisiva foi no campo da teologia política[7]. Para Inocêncio, o papa goza da "plenitude de poderes" (“plenitudo potestatis”) para o governo da Igreja, pois ele é o Vigário de Cristo, expressão que, embora já existisse, foi Inocêncio que colocou em uso corriqueiro. Assim, para Inocêncio, o papa exerce poder espiritual direto sobre patriarcas, arcebispos, bispos, clérigos e sob todos os cristãos, até mesmo reis e imperadores, pois, como papa, está acima de todos os homens, e abaixo só de Deus[8]. O exercício desse poder, para Inocêncio, tinha por finalidade última a salvação das almas da condenação ao inferno, portanto, era parte essencial da missão da Igreja[9].

Para Inocêncio, o papa também possui de poder político direto e indireto. Esse poder é direto nos Estados Pontifícios e demais reinos que lhe renderam vassalagem, e também indireto, fundado em seu poder espiritual, se estendendo a todos os governos terrestres, permitindo-lhe interferir em matéria política. Esse poder indireto em assuntos sociais, porém, só é exercido in ratione peccati - “em razão do pecado”, quando o papa pode impor decretos políticos, especialmente, o mais grave de todos, que é depor um senhor (rei, príncipe, imperador etc.) de seu reino e conceder a liderança a um novo senhor[10]. Dessa maneira, o reinado de Inocêncio, serviu politicamente como a “última instância ética” da Europa, assim como a ONU na atualidade[10].

As ideias sobre o poder pontifício de Inocêncio não são novas, porém seu de pensamento é original por ser uma sistematização de concepções preexistentes, expressa por ele de uma forma nova com simbolismos da Bíblia. Para justificar doutrinariamente esse poder, Inocêncio usou várias passagens bíblicas, especialmente dos Evangelhos, que interpretou de maneira figurada. O caso mais famoso e é a alegoria das “duas espadas”, retirada de Lc 22:38, criada originalmente por São Bernardo de Claraval. Inocêncio defende que Cristo deu a São Pedro, primeiro papa, e por isso a todos os papas, “duas espadas”, que representam o poder temporal e espiritual. O papa só usa a “espada espiritual” diretamente, mas a “espada temporal”, usada pelo imperador e pelos reis deve servir indiretamente para o castigo dos inimigos da Igreja e a salvação das almas[10].

Inocêncio emitiu várias declarações e documentos sobre sua ideia própria do poder dos papas, dos quais pode-se destacar seu sermão de coroação, a bula Sicut universitatis (1198), Apostolicae Sedis Primatus (1199), Deliberatio Domini Papae Inocentii (1200), Venerabilem (1202). Assim, já no sermão de Inocêncio no dia de sua coroação como papa, ele declarou:

Quem sou eu e qual minha linhagem para que eu aceite um lugar acima dos reis? Pois para mim disseram os profetas: “Ponho-te neste dia sobre as nações, e sobre os reinos, para arrancares, e para derrubares, e para destruíres, e para arruinares; e também para edificares e para plantares”. E para mim disseram os apóstolos: “Eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo desligares na terra será desligado no céu”. O sucessor de São Pedro é o Vigário de Cristo, ele foi estabelecido como mediador entre Deus e o homem, abaixo de Deus e acima do homem, menor do que Deus, porém maior que o homem, julgando todos e não sendo julgado por ninguém, a não ser pelo Senhor[8].

Igualmente, no seu mais famoso decreto, a bula Sicut universitatis, de 30 de outubro de 1198, oito meses após eleito, Inocêncio faz outra declaração ressaltando sua concepção sobre o poder do papado:

Como Deus, criador de todas as coisas, colocou dois grandes astros no céu, o astro maior para presidir ao dia e o astro menor para presidir à noite, assim no firmamento da Igreja Universal, que é chamada com o nome de céu, constituiu duas grandes dignidades: a maior para, como aos dias, presidir às almas e a menor para, como às noites, presidir aos corpos, e estas são a autoridade pontifícia e o poder real. Além disso, assim como a lua recebe a sua luz do sol e na realidade é menor do que este em quantidade e também em qualidade e igualmente em posição e efeito, assim o poder real recebe o esplendor da sua dignidade da autoridade pontifícia; e quanto mais adere à visão desta, mais é ornada de luz maior, e quanto mais se afasta das suas vistas, tanto mais vai perdendo seu esplendor[11].

Assim, “a ordem social defendida pelo papa é uma unidade formal, unitária e baseada na desigualdade e complementariedade de suas partes. Existem dois poderes distintos para o governo do mundo, o poder temporal e espiritual, tal como no governo do planeta existem dois astros, o sol e a lua. Embora de natureza diversa, os dois poderes devem estar unidos um ao outro, pois só assim podem concorrer para o funcionamento da sociedade, como o sol e a lua ligam-se entre si para o funcionamento da Natureza. Porém, frisa o papa, como a lua é inferior ao sol, assim o poder temporal é inferior ao espiritual, e só brilha quando se aproxima do esplendor da Igreja e de seus objetivos transcendentais” [12]. A escolha do simbolismo do sol e da lua, por sua vez, foi possivelmente retirado da linguagem astrológica, onde o Sol representava o poder espiritual, e a Lua, o poder temporal,[13] mostrando a importância da astrologia no imaginário e na mentalidade medieval[14]. Por fim, uma das frases mais notáveis que encerram a ideia de Inocêncio sobre seu poder, foi na bula "Apostolicae Sedis Primatus" de 1199, no qual diz "a Pedro foi dado o governo não só da Igreja Universal, mas do mundo todo" (Petro non solum universam Ecclesiam sed totum reliquit saeculum gubernandum)[12].

Inocêncio também elaborou uma doutrina própria sobre o poder dos papas sobre o Sacro Império Romano-Germânico, que ele expôs nas bulas “Deliberatio Domini Papae Inocentii” de 1200 e e Venerabilem de 1202 [15]. Nos dois documentos, Inocêncio defende que o papa pode interferir no Sacro Império por duas razões: devido a sua “origem” e sua “finalidade” (principaliter et finaliter). Na origem (principaliter), o Sacro Império Romano foi transferido (translatio imperii) do então Império Bizantino, em 800, para o Reino Franco pela Igreja. Na finalidade (finaliter), o imperador aceita a imposição de sua dignidade pelo papa por meio da coroação e unção, para defender a fé e a Igreja. Inocêncio assim reinterpretou o ato da coroação do imperador pelo papa, e da própria ideia da criação histórica do Sacro Império[16].

No século IX, a fundação e a “transferência do Império Romano”, sob o reinado de Carlos Magno, foi considerada como uma experiência tendo o próprio Deus como autor. Assim, nem o rei franco, nem o papa, nem o povo foram responsáveis pela transferência imperial, mas, sim, Deus, que se manifesta na própria história. Inocêncio reinterpretou esse ato como uma ordem jurídica do papa, que desejava criar um protetor mais eficaz para a Igreja. Assim, a translatio imperii se torna o exemplo mais importante do poder indireto do pontífice de intervir nos reinos, devido ao pecado e às necessidades da Igreja. Em última análise, possibilitava ao papa, politicamente, criar o próprio Império Romano[16].

Início de vida[editar | editar código-fonte]

Castelo nobre de Gavignano na atualidade, local de nascimento de Inocêncio.

O nome de batismo do pontífice era Lotário, pertencendo à família nobre italiana Conti, cujo chefe gozava do título de conde da cidade de Segni. A família Conti, foi fundada provavelmente pelo pai de Lotário, Trasimundo, que casou-se com uma importante nobre romana, Claricia Scotti. A filiação de sua mãe tornava Lotário sobrinho do Papa Clemente III (1187-1191), porém, a carreira eclesiástica de Lotário foi construída por seus próprios esforços, e não por nepotismo. Lotário nasceu no Castelo nobre de Gavignano, perto de Anagni, em 1160 ou 1161[7].

Lotário recebeu sua educação inicial em Roma, e posteriormente estudou nas duas mais importantes universidades do renascimento de sua época: teologia, na Universidade de Paris, curso então ministrado por teólogos famosos como Pedro de Corbeil e Stephen Langton. Quando se tornou papa, Inocêncio nomeará seus antigos professores para vários cargos eclesiásticos importantes. Posteriormente, Lotário estudou Direito Canônico na Universidade de Bolonha, curso presidido por Huguccio de Pisa, também notável professor e jurista na época, ao qual Lotário também se manterá próximo como papa, submetendo alguns de seus decretos pontifícios para correções e sugestões de Huguccio. Apesar de sua formação teológica, Inocêncio se destacou, sobretudo, como um grande jurista[17]. Quando tornou-se adulto, Inocêncio era fisicamente pequeno e possuía uma saúde delicada, frequentemente ficando doente, porém, sua limitação física era compensada por uma personalidade forte e um espírito sagaz[18].

Desde 1181, Lotário, com então vinte e um anos, foi convidado a retornar para Roma para trabalhar para a Cúria. Nesse momento, ocupou diversos cargos eclesiásticos durante os curtos reinados de Lúcio III (1181-1185), Urbano III (1185-1187), Gregório VIII (1187-1187) e Clemente III (1187-1191). O Papa Gregório VIII ordenou-lhe subdiácono, e Clemente III o tornou cardeal-diácono de São Jorge em Velabro e São Sérgio e Baco, em 1190. Mais tarde, tornou-se Cardeal-Presbítero de Santa Pudenziana[19]. Durante o pontificado de Celestino III (1191-1198), um membro da família Orsini, inimigo dos Conti, Lotário viveu exilado, possivelmente, em Anagni, dedicando-se, principalmente, à meditação e à escrita[17]. Durante seu exílio, escreveu dois tratados de teologia. O primeiro é o “De Miseria Condicionis Humane" (“Sobre a miséria da condição humana”). O segundo é o “De missarum mysteriis”, também chamado de “De sacro altares mysterio” ou ainda “Mysteriorum legis et sacramenti eucharistiae liber sex, de quadripartitu species nuptiarum” (“Sobre o mistério da missa”, “Sobre o sagrado mistério do altar” e “Lei misteriosa e do sacramento da eucaristia, Livro Seis, Sobre as quatro espécies de núpcias”). As obras de Inocêncio seguiam a tradição teológica monástica alegórica. O tratado “De Miseria Condicionis Humane” reconheceu uma grande popularidade em sua época, sobrevivendo em mais de 600 manuscritos. O De sacro altares mysterio, por sua vez, expõe doutrinas sobre as núpcias entre o homem e a mulher, Deus e as almas, Cristo e a Igreja[20].

Pintura de Inocêncio na Basílica de São Paulo Extramuros, local em que estão pintados todos os papas da Igreja Católica até a atualidade. No retrato, Inocêncio é representando como um papa jovem, tal como seria no momento da sua eleição.

Em 8 de janeiro de 1198, no mesmo dia em que Celestino III morreu, os cardeais se reuniram no Septizonium, o edifício de Roma em que então se realizava as eleições papais, os cardeais decidiram se trancar voluntariamente para realizar a eleição, razão pela qual, esse é considerado o primeiro conclave[21]. Pela primeira vez, os eleitores votaram por escrutínio (per scrutinium). Alguns cardeais foram eleitos escrutinadores; contaram os votos, registraram o resultado e o anunciaram para o resto do Sacro Colégio[22]. No primeiro escrutínio, o cardeal Giovanni di Salerno recebeu o maior número de votos (dez), mas declarou que não aceitaria as eleições para o pontificado.[23] No segundo escrutínio, os cardeais uniram seus votos[24] a favor do cardeal Lotário de Conti, então com de 37/38 anos, que era o mais jovem de todos os cardeais[25]. Ele aceitou sua eleição e tomou o nome de Inocêncio III, talvez como uma referência ao seu antecessor Inocêncio II (1130-1143), que tinha conseguido afirmar a autoridade do papado sobre o imperador (em contraste com a política recente de Celestino III)[26]. Como papa mostrou uma inteligência aguçada, visão clara da realidade, habilidade diplomática e sentido prático[20]. Para satirizar a eleição de um papa tão novo, o poeta alemão Walther von der Vogelweide (c. 1170 - c. 1230), contemporâneo de Inocêncio, compôs um verso famoso em que canta "Ai! O papa é demasiado jovem"[27].

Reformas na Cúria Romana e na Igreja[editar | editar código-fonte]

Escultura que descreve São Domingos se ajoelhando e recebendo a aprovação de sua Ordem do Papa Inocêncio. Tumba de São Domingos de J.J. Berthier, Paris, 1895.

Inocêncio considerava o papado uma força moralizadora e reformadora da Igreja, e a si mesmo um exemplo a ser seguido pelos fiéis. Assim, desde que se tornou pontífice, Inocêncio adotou algumas das ideias propagadas pelas reformas religiosas de sua época. Em primeiro lugar, desde sua eleição, praticou pessoalmente, de forma moderada, a “vida apostólica”, como era chamada na época uma vida mais simples baseada na pobreza dos apóstolos de Jesus Cristo. De fato, a pesquisa histórica recente tem ressaltado como Inocêncio era um homem profundamente religioso, que praticava um verdadeiro asceticismo e uma devoção interiorizada[28]. Assim, renunciou ao uso de vestuários luxuosos e passou a usar apenas uma túnica de lã branca sem adornos, bem como substituiu a louça e os talheres de metal por outros de vidro e madeira, mais simples[29]. Ele também fazia homilias ao clero e ao povo, semanalmente, durante a missa, aumentou os serviços de caridade da Cúria, e aos sábados lavava os pés de doze mendigos, bem como distribuía moedas aos pobres presentes. Inocêncio tornou-se especialmente notável pelo financiamento ao Hospital junto à Igreja de Santa Maria de Sassia, o “Hospital do Espírito Santo”, em Roma. Também promovia audiências públicas diárias nas quais qualquer fiel, desde que agendasse previamente, podia ter acesso a ele[30].

Inocêncio também recriou a Cúria Romana, decretou normas de sobriedade e equilíbrio, castigando os funcionários que falsificavam e vendiam bulas (“tráfico de bulas”), e retomou o costume de presidir três vezes por semana as reuniões do Colégio dos Cardeais, criando um relacionamento estreito com sua Corte. Inocêncio também mandou bulas de advertência exigindo correção de abusos de padres e bispos em toda a Europa, imponto o celibato, lutando contra a simonia e exigindo o uso de vestes adequadas pelos clérigos[30].

Inocêncio também aprovou a criação de novas ordens religiosas para a reforma da Igreja, sendo as duas mais famosas a Ordem de São Domingos de Gusmão, em 1205, e de São Francisco de Assis, em 1210, e outras, como segue no quadro abaixo[31]:

Inocêncio também esteve muito preocupado com o culto divino e ordenou a liturgia romana em sua última fase e em seus traços gerais, quando esta se tornou, na Igreja latina, a “liturgia secundum usum romanae curiae" (“liturgia segundo o uso da Cúria romana”). Foi a liturgia de Inocêncio que se espalhou e se popularizou pelo Ocidente devido a sua propagação pelos frades menores da Ordem franciscana, que em sua Regra II, seguem as orações da Cúria Romana[32].

Relações com os países europeus[editar | editar código-fonte]

Relações com a Itália[editar | editar código-fonte]

Contexto político da Itália[editar | editar código-fonte]

Mapa da Itália em 1154, 44 anos antes de Inocêncio se tornar papa. O Reino da Sicília em verde, os Estados Pontifícios em amarelo, o Ducado de Espoleto em roxo, e a Toscana em laranja. O Reino da Sicília, Espoleto e Toscana foram dominadas pelo Sacro Império no reinado do Imperador Henrique VI.

O reinado de Inocêncio e suas ações estão profundamente enraizadas no contexto e nas características próprias da política e da Igreja Católica na Idade Média, sendo incompreensíveis para a mentalidade contemporânea, profundamente diferente daquele período [5]. Foram essenciais para as ações do papa a situação da Itália, especialmente a relação da Itália com o Sacro Império Romano-Germânico. Na época de Inocêncio, a Itália estava dividida em três partes: o Norte/Leste, controlado pelo Sacro Império (e composto de um conjunto de cidades/comunas poderosas, todas subordinadas ao Sacro Imperador), o Centro, controlado pelo papado – os Estados Pontifícios, e o Sul, controlado pelos normandos – o Reino da Sicília.

O Sacro Império Romano, por sua vez, foi fundado no século IX, por Carlos Magno, e era considerado o “coração da experiência política europeia” [33], consistindo nessa época territorialmente na Alemanha, Áustria, Itália do Norte, Luxemburgo, Países Baixos e Suíça. O seu chefe, o Sacro Imperador se destacava entre os demais monarcas europeus, sendo considerado dotado de uma missão transcendental especial, que é a defesa do papa, da Igreja e da fé católica. Por isso o Sacro Imperador era coroado e ungido pelo papa, em Roma (a Romzug), como sinal de sua excelência e importância. Porém essa coroação gerou duas interpretações diferentes sobre o poder do imperador e do papa. Para os imperadores, especialmente da dinastia Hohenstaufen, era apenas uma benção, e não tinha nenhum valor jurídico. Já, para a Igreja e o papado, implicava que o candidato só se tornava imperador caso fosse ungido e coroado pelo papa. Inocêncio será um defensor dessa última posição[33].

Mapa do Sacro Império em 1190, em que vê-se claramente sua dominação sobre a Itália do Norte.

A dinastia da família Hohenstaufen, por outro lado, que ascendeu ao poder com Conrado III (c. 1138-1152), e se tornou a família reinante no Sacro Império nos séculos XII e XIII, defendiam a independência do Sacro Império diante da Igreja [34]. Uma grande inimiga e opositora dos Hohenstaufen foi uma família da Saxônia, os Welfen (ou “Guelfos”), duques da Baviera, Suábia e Francônia. Uma vez que os Hohenstaufen, eram também chamados de Waiblingen (ou “Gibelinos”), nome de sua terra natal, o conflito entre as duas família ficou conhecida como “guerra dos guelfos e gibelinos”. Essa competição será usada posteriormente por Inocêncio [16].

A família Hohenstaufen passou a defender os poderes e posses imperiais na Itália do Norte, sendo reconhecido como suserano desse território pelas cidades da região. Posteriormente, o Imperador Henrique VI (1165-1197), casou-se com a filha do rei normando da Sicília, Constança de Hauteville (1154-1198), e assim, com a morte do rei da Sicília, em 1189, este território também se torna posse de Henrique VI e parte do Sacro Império. Henrique também nomeou vários homens de sua confiança para as cidades da Itália do Norte. Assim, graças a Henrique, os Hohenstaufens restauraram o poder imperial que chegou ao seu auge [16].

Conflitos e guerras na Itália[editar | editar código-fonte]

Esculturas do Imperador Frederico II e de Inocêncio na torre da prefeitura de Colônia, Alemanha, feito em 1865. Graças a Frederico, Inocêncio pode controlar a Itália inteira.

Quando Inocêncio se tornou papa, havia se passado um ano desde a morte do Imperador Henrique VI, em 1197. Henrique havia cercado o papado e dominado a Itália do Norte e do Sul. Porém, o vazio de poder gerado pela morte de Henrique, não foi preenchido por ninguém, pois ele havia nomeando seu filho com Constança de Altavila (pertencente à Sicília), Frederico II, que então tinha apenas três anos, como o próximo Imperador. Porém, após sua morte, senhores do Sacro Império responsáveis pela eleição imperial desconsideraram essa nomeação e fizeram uma nova eleição, onde se dividiram entre dois partidos, o primeiro, composto pela maioria, elegeu Filipe da Suábia, em 8 de março de 1198, irmão de Henrique VI e defensor das políticas dos Hohenstaufen[16].

O segundo partido, composto por uma minoria, elegeu um gibelino, família tradicionalmente inimiga dos Hohenstaufen, Otto IV de Brunswick, em 9 de julho de 1198. Dessa maneira, o Sacro Império entrou em uma longa guerra civil entre os dois partidos, que impediu o exercício do poder imperial por qualquer um dos candidatos. Dessa maneira, Inocêncio, aproveitou-se da situação e reconstruiu o poder papal italiano, que havia sido profundamente diminuído por Henrique. A própria cidade de Roma era chefiada por uma elite desobediente ao papa, dominados por funcionários imperiais nomeados por Henrique VI. Assim, Inocêncio procurou impor uma suserania eficaz sobre a cidade de Roma e sobre os Estados Pontifícios[16].

Parte da Torre dei Conti ainda existente na atualidade, construído por Inocêncio como quartel-general de sua família e residência de seu irmão, Ricardo dei Conti.

Inocêncio construiu um quartel-general para a sua família, a Torre dei Conti, perto do fórum romano, onde residiu seu irmão, Ricardo de Conti, e que usou para eliminar seus inimigos e dominar a cidade de Roma. Inocêncio também recuperou as terras papais invadidas pelo imperador Henrique VI: Romagna e Marca de Ancona, Espoleto e parte da Toscana. Para cada uma das áreas conquistadas, cardeais eram designados rectores ou enviados como legados com funções políticas, surgindo uma rede governos provinciais estáveis e duradouros no território papal [16]. Em seguida, Inocêncio compôs e liderou a “Liga Lombarda”, pela qual as comunas da Itália do Norte se reuniram militarmente e expulsaram seus senhores alemães impostos pelo Império durante o reinado de Henrique VI, e voltaram a ser administradas por italianos de forma independente, tornando-se aliados ao papado[16].

A parte final de seu plano de dominação sobre a Itália foi efetivado graças à imperatriz viúva de Henrique VI, Constança de Altavila, e o filho do casal, Frederico II. Constança, pertencente à família que comandava o Reino normando da Sicília desde o século XI, foi abandonada pelos alemães após a morte de Henrique e, assim, não podendo governar o Reino da Sicília, aproximou-se do papa e lhe rendeu vassalagem e obediência [16]. A partir daí, o papa tornou-se protetor de Frederico e de suas posses na Itália do Sul. Quando Constança morreu, em 1198, por ser tutor de Frederico, Inocêncio tornou-se senhor da Sicília e iniciou uma série de guerras, que duraram dez anos, contra nobres alemães que desejavam para si o controle desse reino. No fim das guerras, a Sicília estava solidamente sob o controle papal, e o poder imperial estava efetivamente arruinado e extinto em toda a Itália[35].

Relações com o Sacro Império Romano-Germânico[editar | editar código-fonte]

Iluminura que representa o imperador Otto IV em 1209 sendo recebido no portão de uma cidade por Inocêncio. Otto é acompanhado de dois cortesões e Inocêncio é acompanhado por um cardeal. No fundo da iluminura, no entanto, um navio já se aproxima com as tropas de Frederico II, que partiran contra Otto IV em 1212, apenas três anos depois de sua consagração pelo papa.

Tendo estabelecido uma base de poder na Itália, Inocêncio pôde interferir também no conflito existente no Sacro Império. Entre os dois candidatos ao trono, Otto comunicou sua eleição ao papa como um partidário da Igreja e aliado do papa. Já Felipe, da dinastia Hohenstaufen, adotou claramente as políticas de sua família, e se considerou independente da Igreja[36].

Inocêncio, inicialmente, manteve-se neutro no conflito, expondo sua opinião na bula Deliberatio Domini Papae Inocentii de 1200. Porém, em 1 de março de 1201, manifestou-se abertamente a favor de Otto IV, reconhecendo-o como rei e oferecendo a unção e coroação pontifícia que o tornaria sacro imperador. Felipe da Suábia protestou energicamente contra o papa em uma carta de 1201, e a resposta do pontífice se deu em março de 1202, por meio do famoso decreto Venerabilem[37].

Nesse decreto, Inocêncio reconhece que o direito de eleger o líder do Sacro Império pertence aos príncipes e senhores eleitores, por costume consuetudinário. Porém essa eleição torna o líder apenas rei da Alemanha, é somente sua unção e coroação em seguida pelo papa que o torna verdadeiramente imperador. Inocêncio também defende que é direito do papa, como consagrador do rei, examinar a pessoa eleita e invalidar a eleição, se necessário. Do mesmo modo, defendeu que, em caso de dupla eleição imperial, após certo tempo, o papa poderia favorecer um candidato, Inocêncio justificou esse direito por considerar a Igreja a fundadora do Sacro Império[16].

Posteriormente, Felipe da Suábia é assassinado e Otto IV de Brunswick se torna, indiscutivelmente, o rei, em 1208, sendo ungido e coroado imperador pelo papa, em 1209, após jurar defender os direitos da Igreja. Porém, em seguida, Otto quebra seus juramentos e invade o Reino da Sicília, que considera um território imperial, não reconhecendo mais os poderes do papa sobre essa região. Assim o papa excomunga e depõe Otto em 1210[38]. No mesmo ano, os senhores alemães responsáveis pela eleição do imperador acatam a decisão de Inocêncio e, também, depõem Otto, elegendo como novo rei Frederico II, então com dezesseis anos[39].

Dessa maneira, o Sacro Império passa por mais quatro anos de guerra, quando Otto finalmente é derrotado e Frederico considerado o novo rei em 1215. Originalmente Frederico, “devido a sua educação e proximidade com Inocêncio, é considerado o elo capital de uma nova ordem social que dissolveu as querelas entre o Sacro Império e o papado, e especialmente entre a dinastia Hohenstaufen e os papas”[39]. Assim, Inocêncio se tornou o grande vitorioso e o artífice dessa nova ordem, mostrando seu poder sob o mais importante estado da Europa[39].

Relações com a Inglaterra[editar | editar código-fonte]

Bordado de Inocêncio na "Magna Carta - An Embroidery", um bordado do texto completo e das imagens referentes ao artigo da "Magna Carta" da wikipédia inglesa, feita pela artista Cornelia Parker em 15 de junho de 2014, para comemorar o 799º aniversário do documento, na British Library.

Inocêncio teve um papel fundamental na política do Reino da Inglaterra, que se tornou um feudo do próprio papa[40]. Depois da morte do Rei Ricardo Coração de Leão em 1199, seu irmão, João Sem Terra tornou-se o monarca. João, seguindo o costume no trato com a hierarquia da Igreja estabelecida pelos seus antecessores, controlava a Igreja, usando e distribuindo livremente os cargos de bispos, abades e demais benefícios eclesiásticos. Assim, em 1205, na eleição do arbispo da arquidiocese de Canterbury, ocorre uma dupla eleição. Os monges da Christ-Church consideravam que era seu direito eleger um monge de seu monastério como arbebispo, enquanto o Rei João decidiu nomear o bispo de Norwich, João de Gray para essa dignidade. A causa foi levada até o Papa Inocêncio, que então anulou a dupla eleição, e designou como arcebipo de Canterbury um candidato próprio: Stephen Langton, conhecido na época por sua erudição e santidade. o Rei João não aceitou a decisão do papa e decidiu romper as relações com a Igreja Romano e o papado, dizendo que "a Inglaterra já possuí muitos arcebispos, bispos e prelados instruídos para poder recusar os que Roma nos impôe[40].

Inocêncio respondeu em 26 de maio de 1207, ameaçando o Rei João de excomunhão, e o Reino da Inglaterra com um interdito. O Rei João então disse que assassinaria e tortuaria todos os clérigos enviados por Roma a Inglaterra[41]. Dessa forma, Inocêncio proclamou o interdito em 24 de março de 1208, o Rei João reagiu expulsando os clérigos fiéis a Roma de seus cargos e confiscando seus bens, enquanto os bispos fugiram da Inglaterra para não serem mortos. Alguns membros da nobreza se rebelaram em nome do papa e foram severamente torturados e mortos. Assim, Inocêncio, com aprovação da maioria dos nobres e bispos ingleses, em 1211 desligou todos os súditos e vassalos do juramento de fidelidade com o Rei João, autorizando sua deposição, e depois, em 1212, depôs oficialmente o Rei e deu o Reino da Inglaterra para o Rei da França Felipe Augusto, que deveria executar a sentença conquistando a Inglaterra em uma cruzada contra o Rei João[42].

Porém, assim que o Rei Felipe Augusto preparou uma frota marítima para invadir a Inglaterra, o Rei João procurou o representante do papa na Inglaterra, Pandulfo, em 13 de maio de 1213, reconhecendo Stephen Langton como arcebispo, permitindo a volta dos bispos exilados, prometendo indenização aos clérigos prejudicados, e além disso, entregou em vassalagem todo o Reino da Inglaterra e da Irlanda para o Papa Inocêncio, que se tornaria o senhor e suserano desses territórios, e assim, entregando anualmente, como era costume entre os vassalos na época, um tributo de mil moedas de prata. A submissão do Rei João foi total, entregando-se a proteção de Inocêncio[42]. Imediatamente, Inocêncio retirou as penas sobre a Inglaterra e não permitiu mais sua invasão por Felipe.

O enfraquecimento do poder do Rei João foi aproveitado pelos nobres que iniciaram a Primeira Guerra dos Barões em 1215, e tendo vencido João, imporam a ele a Magna Carta, em 15 de junho de 1215, limitando o poder do monarca inglês. O Rei João recorreu ao papa Inocêncio como seu suserano em seguida, e o papa anulou a Magna Carta por considerá-la uma violação dos direitos tradicionais do rei inglês como seu vassalo, e suspendeu e depôs Stephen Langton que apoiou o documento[42]. Apenas um ano depois, em 1216, tanto Inocêncio como o Rei João faleceriam.

Relações com a França[editar | editar código-fonte]

Na França, Inocêncio interviu principalmente em questões matrimoniais envolvendo seu Rei, Felipe II ou Felipe Augusto. Com a morte de sua primeira esposa, Isabel de Hainaut, Felipe casou-se por razões políticas com a princesa Ingeborg da Dinamarca em 1193, esperando que o irmão de Ingeborg, Canuto VI, ajudasse numa possível guerra contra a Inglaterra[43]. Já em 1193 Felipe anunciou que desejava divorciar-se de Ingeborg, o que foi aprovado por alguns bispos franceses no mesmo ano, e Ingeborg foi trancada contra a sua vontade em um mosteiro para ficar longe do Rei e da Corte francesa. O papa da época, Celestino III, considerou o divórcio inválido, mas apenas pode protestar contra a sentença, sem tomar nenhuma atitude concreta. Assim, desconsiderando a decisão do papa Celestino, em 1196 Felipe casou-se com Inês de Merânia, filha de um rico e poderoso senhor alemão[43].

Porém, em 1198 quando Inocêncio tornou-se papa, a situação mudou radicalmente. Inocêncio insistiu na sentença emitida por seu antecessor, defendeu energicamente Ingeborg, que considerava a verdadeira esposa de Felipe e rainha da França, e dessa forma, emitiu um interdito contra todo o Reino da França, ordenando assim, o fechamento de todas as igrejas[43]. Dessa forma, em março de 1201, no concílio de Soissons, Felipe reconheceu Ingeborg como sua legítima esposa publicamente, disse que jamais se separaria dela e voltou a viver com Ingeborg, levando-a no seu cavalo logo após a declaração, quando então, Inocêncio retirou o interdito da França. Porém, logo em seguida, Felipe rejeitou novamente Ingeborg e trancou ela, dessa vez, numa torre em Étampes, de onde a rainha pediu socorro novamente a Inocêncio. O papa continuou insistindo na necessidade de Felipe conviver com Ingeborg, o que ele só fez em 1213, porque Felipe precisava do apoio da Dinamarca na sua expedição contra a Inglaterra[43]. O Rei Felipe também apelou para Inocêncio diversas outras vezes, como no acordo de paz firmado em Vexin com o Rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão em 1198, ou para organizar uma cruzada contra o Rei inglês João Sem Terra, que não veio a acontecer. Dessa forma, Inocêncio teve um papel fundamental no Reino da França e nas decisões tomadas por seu Rei, Felipe Augusto[44].

Relações com os Reinos espanhóis[editar | editar código-fonte]

A Península Ibérica cristã estava dividida entre quatro estados: Portugal, Castela, Aragão e Navarra, localizadas no norte da Península, único local em que o Islã não conseguiu conquistar devido a sua geografia montanhosa[45]. Na época de Inocêncio, os monarcas da ibéricos frequentemente se uniam por alianças matrimoniais, porém, essas alianças frequentemente eram condenáveis para a lei canônica vigente da Igreja, que proibia casamento entre parentes[46], e assim, os abusos matrimoniais existentes foram duramente punidos por Inocêncio, que interviu nos reinos de Aragão e Leão.

Em Aragão, seu Rei, Pedro II (1196-1213) tentou casar-se com sua parente, Branca de Navarra, porém desistiu do matrimônio devido justamente a oposição de Inocêncio[46]. Assim, em 1204, casou-se com Maria de Montpellier, não por amor, mas para incorporar ao seu reino os domínios da esposa. O mesmo Pedro II, ainda em 1204, desejando ser coroado pelo papa, partiu para Roma, onde foi ungido no monastério de São Pancrácio pelo cardeal-bispo do Porto, e coroado em seguida pelo Papa. Nesse momento, Pedro jurou fidelidade a Igreja. Depois, dirigiu-se a Basílica de São Pedro, onde depositou no altar o cetro e a coroa, e foi armado cavaleiro, recebendo a espada, de Inocêncio. Ali, Pedro entregou o Reino de Aragão a Inocêncio e seus sucessores, declarando-se vassalo do papa e comprometendo-se a pagar uma renda de 250 masmodines (moeda espanhola). Inocêncio concedeu a Pedro e seus sucessores o privilégio de ser coroado em Saragoça pelo arcebispo de Tarragona, alterando o costume existente, pelo qual o rei de Aragão recebia a coroa sem uma cerimônia especial no momento que era armado cavaleiro aos vinte anos[46]. Pedro II, posteriormente, trouxe a Inocêncio a tentativa de se divorciar de sua esposa, Maria de Montpellier, alegando que ela havia contraído antes outro matrimônio com o conde de Cominges, que ainda estava vivo. O papa, porém, considerou o primeiro matrimônio de Maria como nulo e sem validade, e confirmou a autenticidade do matrimônio de Pedro, impedindo a separação, apesar da proximidade do relacionamento dos dois[47].

Por um motivo semelhante, Inocêncio teve de intervir no Reino de Leão. O seu monarca, Afonso IX (1188-1230), havia casado com Teresa de Portugal, filha de Sancho I de Portugal, seu primo. O Papa Celestino III ordenou que eles deviam separar-se devido ao parentesco, e como não foi obedecido, sentenciou um interdito sobre o Reino de Leão e Portugal, o que obrigou que o casal se separasse e Teresa se retirasse para um monastério. O Rei Afonso, em seguida, decidiu casar-se com Berengária de Castela, filha do Rei de Castela Afonso VIII, que porém, também era parente de Afonso IX. Por causa desse segundo matrimônio, Inocêncio enviou um legado papal que colocou os Reinos de Leão e Castela em interdito, e castigou Afonso IX com a excomunhão, por um "monstruoso incesto"[47]. Afonso pediu dispensa das leis de proibição de consanguinidade ao papa, porém não foi atendido. Depois de seis anos vivendo juntos, finalmente o casal se separou, embora tenha tido vários filhos antes disso[47].

Em Portugal, Inocêncio repreendeu severamente seu monarca, Sancho I, por não cumprir seus deveres de rei e cristão, especialmente por não ter pago o tributo feudal que seu pai, o Rei Afonso Henriques prometeu anualmente ao Papa Lúcio II, além de intervir excessivamente na vida e nos cargos da Igreja. Porém, no seu testamento, Sancho I se arrependeu de sua conduta e se reconciliou com Inocêncio, atendendo suas exigências[47].

Inocêncio foi especialmente importante para a Península Ibérica por ter se interessado profundamente pela Reconquista, e concedeu a todos os soldados que participaram da Batalha de Navas de Tolosa de 1212, os mesmos privilégios da participação de uma cruzada, além de ter repetidamente ajudado o Rei de Castelo na guerra contra o Islã[47].

Relações com outros Reinos[editar | editar código-fonte]

Mapa da Europa em 1216 e sua relação com o Papa Inocêncio III e a Santa Sé. A cor azul são os Estados Pontifícios, vermelha os estados vassalos, e verde os estados aliados de Inocêncio.

Inocêncio também interferiu política e religiosamente em todos os outros países da Europa, de forma muito mais frequente e eficaz que seus antecessores ou sucessores[48]. O papa era suserano e senhor feudal da Inglaterra, Portugal, Aragão, Dinamarca e Polônia, Boêmia, Hungria, Dalmácia e de vários outros pequenos territórios. Dessa forma, surgiu efetivamente uma importante "feudalidade papal" construída sobre a forte autoridade moral de Inocêncio[49].

Inocêncio, também interviu ativamente na hierarquia da Igreja da Noruega, Suécia, Dinamarca e Islândia, especialmente defendendo que os bispos deviam ser eleitos de forma livre, sem intervenção dos senhores. Na Polônia, reformou o clero, apoiando o arbebispo Henrique de Gnesen, e exigindo o tributo anual do Reino ao papado, ordenou que os nobres não atrapalhassem a coleta do dízimo, assim como repreendeu o Rei Ladislau III por ter perseguido o bispo Henrique, e tomou o ducado da Cracóvia como seu vassalo[50].

Inocêncio também interferiu na Hungria, na guerra civil em que se disputava a coroa desde 1197, entre André II e Emérico. Inocêncio escolheu Emérico como o autêntico monarca, que em agradecimento, seguiu os conselhos de Inocêncio e perseguiu ferozmente os hereges do seu país, especialmente os bogomilos da Bósnia[50]. O Reino da Bulgária, por sua vez, foi fundado na época do reinado de Inocêncio por seu primeiro rei, Joanitzes, que procurou Inocêncio, pedindo as bençãos do papa e obediência ao papado, que Inocêncio aceitou em 1202, criando um arcebispado primaz nesse país, em Tirnovo.. Inocêncio também uniu-se aos monarcas da Escandinávia para combater os últimos pagãos no norte, nas "Cruzadas do Norte"[50].

Cruzadas[editar | editar código-fonte]

Quarta Cruzada[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Quarta Cruzada

A Primeira Cruzada reconquistou a Terra Santa de Jerusalém em 1099, que passou a fazer parte do Reino de Jerusalém. Porém, Saladino (c. 1138-1193), sultão do Egito, tomou novamente Jerusalém em 1187, que, portanto, estava novamente sob poder do Islã no reinado de Inocêncio. Dessa forma, assim que Inocêncio tornou-se papa iniciou uma campanha para unir os reinos cristãos e preparar uma nova cruzada para retomar a Terra Santa e ajudar os estados cruzados remanescentes no Oriente Médio. Inocêncio considerava a reconquista da Terra um objetivo essencial e primordial, e mostrou sua forte vontade de convocar uma cruzada já em seus primeiros documentos como pontífice[51]. Inocêncio assim tentou convencer os reis europeus a iniciarem a campanha militar, porém foi ignorado. Em vez disso, desde 1199 um conjunto de nobres poderosos decidiu embarcar na nova cruzada, dos quais se destacam Simão IV de Montfort, Luís I de Blois, Teobaldo III de Champanhe, Godofredo de Villehardouin, Bonifácio I de Montferrat e Balduíno de Flandres[52].

Em 1201 o grupo de cruzados foi até Veneza realizar um pacto com seu doge, Enrico Dandolo, para tornar possível a expedição militar. Assim, Veneza forneceu barcos, marinheiros e cavalos para realizar a cruzada, desde que os cruzados pagassem 85.000 marcos de prata antes de 1202 pela ajuda, além de ficar com metade do espólio de guerra. Inocêncio aprovou a nova empreitada, desde que os cruzados não ferissem nenhum cristão oriental na expedição. Dessa forma, a Quarta Cruzada partiu em 1202, comandada por Bonifácio I de Montferrat. Posteriormente, já em 9 de novembro de 1202 os venezianos comandados por Enrico Dandolo saquearam a cidade de Zara[51], crime que foi firmemente condenado por Inocêncio, que excomungou os participantes. Posteriormente, em 1203, quando chegaram a Constantinopla, o Imperador Bizantino Aleixo V Ducas impediu que os cruzados entrassem na cidade, que então foi cercada pelos cruzados em 1204, saqueada, o Imperador Aleixo V Ducas morto, e o Império Bizantino declarado extinto pelos cruzados e substituído por um novo, o Império Latino de Constantinopla, cujo primeiro imperador foi Balduíno I[53]. Dessa forma, a quarta cruzada nunca chegou, de fato, a Jerusalém.

Balduíno escreveu a Inocêncio, dizendo que fundação do novo Império permitia uma base melhor para lutar contra o Islã, e que a Igreja Oriental poderia finalmente se unir ao papado, aceitando sua autoridade. Inocêncio sentiu uma dor profunda pelo saque de Constantinopla, condenando esse ato, porém, considerou a criação do novo Império Latino um grande triunfo que castigou os cristãos orientais por sua deslealdade ao papado e permitiria recuperar a Terra Santa mais facilmente[54]. Assim, desde 1207 Inocêncio tentou organizar uma nova cruzada, a Quinta, coisa que conseguiu fazer através do IV Concílio de Latrão, porém, somente em 1215.

Cruzada Albigente[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Cruzada Albigense
Iluminura medieval das "Grandes Chroniques de France", do Papa Inocêncio investindo Arnaldo Amaury para pregar a Cruzada Albigense. Biblioteca de Sainte-Geneviève, Paris.

O catarismo foi considerado a heresia mais perigosa, poderosa e sectária da Idade Média[55]. Suas doutrinas possivelmente vieram do Oriente (como a Bulgária),[56] e consistiam em um sincretismo de vários crenças, como o dualismo típico da gnose, que considerava o mundo dividido em dois princípios, o bem, exclusivamente espiritual, e o mal, que consistia na matéria, e a cada princípio correspondia um deus próprio, assim havia um deus do bem, e outro deus do mal[57]. Os cátaros se dividiam em duas castas, os "Puros" ou "Perfeitos", praticavam a totalidade da doutrina cátara, incluindo a proibição do casamento e a "endura", um suicídio ritual para libertar o fiel do corpo, e os leigos, que tinham uma vida comum e sustentavam os "Perfeitos"[58]. Os cátaros assim, condenavam a Encarnação de Jesus, os sacramentos, o casamento, a bondade da matéria, o monoteísmo e o juramento entre os homens, que compunha o elo essencial da sociedade medieval[59]. Além disso, o catarismo professava um ódio profundo contra o catolicismo, o que se exteriorizava em saques de igrejas e assassinatos de clérigos e fiéis[60].

No sul da França, o catarismo era forte e protegido pela nobreza local, especialmente no Languedoc e na Aquitânia, porque a doutrina da maldade da matéria cátara, permitia aos nobres confiscar os bens da Igreja nessas regiões. Os cátaros já haviam sido combatidos anteriormente, sem sucesso, pelos Papas Alexandre III e Lúcio III, que convocaram expedições militares contra eles. Inocêncio, inicialmente não era um partidário do uso da violência contra os cátaros, justificando-se dizendo que "desejava a conversão dos pecadores, e não seu extermínio"[60]. Dessa maneira, em 1198, enviou missionários para converter os cátaros do sul da França pacificamente, comandados por Rainerio e Guido, depois substituído por João Paulo, cardeal de Santa Prisca. Em 1203, enviou novos missionários, dois cistercienses da Abadia de Fontfroide, Raul de Fontfroide e Pedro de Castelnau, a quem se juntou Arnaldo Amaury, como legado papal[61].

Em 1203, Pedro de Castelnau repreendeu duramente de forma pública a conduta do conde de Toulouse Raimundo VI (1156-1222), que protegia os cátaros e não dava apoio aos missionários e a defesa da fé católica. Alguns dias depois, em 15 de fevereiro, Pedro foi assassinado por um súdito de Raimundo[61]. Não se sabe se Raimundo teve participação no crime, porém foi considerado cúmplice na época. Quando Inocêncio soube do assassinato, considerou Pedro um mártir e um santo, depôs Raimundo, desligou seus súditos do juramento de fidelidade, e o excomungou. A morte de Pedro também convenceu Inocêncio que a evangelização era inútil, assim o papa escreveu ao Rei da França Felipe Augusto, bem como aos condes franceses que lutassem contra Raimundo e o depusessem, e encarregou seu legado, Arnaldo Amaury de pregar uma cruzada na França para combater os cátaros. Quem participasse dessa Cruzada receberia os mesmos benefícios, indulgências e privilégios dos soldados de uma cruzada rumo a Terra Santa, porém, sem ter que fazer a exaustiva e perigosa viagem rumo ao Oriente Médio. Isso tornou a Cruzada muito atrativa e popular, especialmente no norte da França[62].

Iluminura medieval da British Library do Papa Inocêncio excomungando os cátaros ou albigenses (à esquerda), e uma batalha contra os albigenses realizada pelos cruzados (à direita).

Assim, Arnaldo reuniu um exército cruzado em Lyon em 1209, que invadiu as cidades de Béziers, Narbona e Carcassone. Quando o nobre Simão IV de Montfort voltou da Quarta Cruzada, ele foi nomeado pelo exército seu novo líder e suserano dos territórios conquistados[63]. Em 1213, Raimundo rendeu-se e entregou-se completamente ao papa Inocêncio, que então concedeu o condado de Tolouse a Simão de Montfort. Nos locais conquistados pelos cruzados, a nobreza local era deposta, os cátaros eram expulsos da região ou convertidos, e aqueles que se recusassem a se converter eram queimados como hereges[62]. Embora em 1213 a cruzada tenha sido declarada encerrada por Inocêncio, ainda houve uma série de conflitos nessa região entre o rei francês e o descendente de Raimundo, seu filho, Raimundo VII, que só foi encerrado pelo Tratado de Paris de 1229[64]. Aproximadamente um milhão de pessoas morreram na cruzada albigense[65].

A pesquisa histórica moderna está dividida sobre a real necessidade da realização da Cruzada Albigense, enquanto alguns historiadores defendem que ela foi absolutamente necessária, pois os cátaros representavam, devido a suas doutrinas, um perigo social autêntico para a existência da Europa[66], outros historiadores, consideram que a Cruzada foi movida por intolerância religiosa e constituiu um genocídio[62].

Outras cruzadas e expedições militares[editar | editar código-fonte]

Ao longo do seu reinado Inocêncio organizou sete cruzadas, as mais notáveis foram a Quarta e a Quinta Cruzada, consideradas como partes das nove grandes cruzadas contra o Islã. Além da cruzada albigense, a cruzada contra os árabes na Espanha e a cruzada contra o Rei João Sem-Terra da Inglaterra, que, porém, não foi concretizada[67].

Inocêncio também convocou a mais importante campanha das Cruzadas do Norte contra as últimas nações pagãs no Mar Báltico: é a cruzada evangelizadora da Livônia (atualmente a Letônia e Estônia), que era a penúltima região pagã da Europa. Para esse fim, Inocêncio criou uma ordem militar específica, a “Ordem Livônia dos Irmãos da Espada”, fundada em 1202. Posteriormente, a Ordem atacou e apoderou-se da Lituânia, última nação pagã ainda existente. Assim, Inocêncio teve participação essencial no ciclo de conversão e cristianização definitivo do continente europeu[67].

IV Concílio de Latrão[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Quarto Concílio de Latrão
Ilustração contemporânea de Inocêncio III convocando a Quinta Cruzada no IV Concílio de Latrão de 1215.

Inocêncio convocou um novo Concílio em 19 de abril de 1213 pela bula Vineam domini Sabaoth, para ser celebrado, em novembro de 1215, na Basílica de São João de Latrão, em Roma. Ele enviou a bula de convocação não só aos bispos e prelados, de forma geral (que compõem os “padres” ou “pais” conciliares, com direito de voto e fala), mas, também, aos cabidos de todas as catedrais, que deviam enviar algum representante ao concílio, bem como aos superiores das ordens militares e monásticas, aos patriarcas orientais e aos monarcas cristãos[68].

Compareceram, ao Concílio, 404 bispos (embora convidados, os patriarcas orientais não participaram), 71 primazes e metropolitas, e 800 abades e priores, e todos os outros reinos cristãos enviaram representantes. Com esses participantes, o Concílio teve três sessões, em 11, 20 e 30 de novembro. Inocêncio inaugurou o Concílio dia 11 com dois sermões de abertura, onde disse que o Concílio devia convocar uma nova cruzada e reformar a Igreja. No fim do sínodo, o papado e os próprios bispos emitiram 70 Cânones novos, bem como convocaram a Quinta cruzada, que partiria em 1216 da Sicília[69].

O Quarto Concílio de Latrão destaca-se por ter definido o papel da Eucaristia na Igreja por meio da declaração do dogma da transubstanciação, da doutrina que “fora da Igreja não há salvação” e da obrigatoriedade da confissão anual. Foi a maior realização de Inocêncio, teve a maior participação de bispos da Antiguidade, Idade Média e da Idade Moderna, e é considerado o ponto triunfante do próprio papado medieval. De fato, todos os decretos do IV Latrão foram considerados essenciais e, incorporados na legislação da Igreja[70].

Morte[editar | editar código-fonte]

A tumba de Inocêncio do século XIX na Basílica de São João de Latrão, Roma.

Já em 1215, Inocêncio teve um ataque de malária, mas conseguiu se recuperar da doença. No mesmo ano estava esgotado física e mentalmente, o que expressa escrevendo em uma carta pessoal: “não disponho de lazer para meditar as coisas supramundanas. Mal posso respirar. Devo viver tanto para os outros que quase chego a esquecer de mim mesmo”[71]. Porém, após o IV Concílio de Latrão, na primavera de 1216, Inocêncio mudou-se para o norte da Itália, em uma tentativa de conciliar as cidades marinheiras de Pisa e Gênova, para motivá-los a unir-se para a Quinta Cruzada[72]. Nesse momento Inocêncio adoeceu novamente de malária, e morreu em 16 de julho de 1216), com cinquenta e cinco ou cinquenta e seis anos[73].

Na noite seguinte, invadiram a casa em que Inocêncio estava hospedado e roubaram seu corpo, e, somente no dia 18 de julho encontraram seu cadáver novamente, despido e em decomposição, quando então foi rapidamente sepultado na Igreja de São Lourenço, de Perugia (não se trata da catedral da cidade, mas de outra igreja dedicado ao mesmo santo, hoje inexistente). Em 1891, o Papa Leão XIII, admirador de Inocêncio, ordenou que seu corpo fosse transferido para a Basílica de São João de Latrão, em Roma, onde reside atualmente[74].

Legado para a Igreja e o Direito[editar | editar código-fonte]

Retrato de Inocêncio sobre a porta da Casa da Câmara no Capitólio dos EUA, com outras vinte e três figuras de mármore que retratam personagens históricos fundamentais para a criação da lei e da democracia americana. Inocêncio foi considerado um dos maiores preservadores do direito romano na Idade Média pelos Pais Fundadores dos Estados Unidos[17].

Inocêncio é considerado o mais importante papa medieval[74], e o papa mais poderoso da Igreja de todos os tempos[75], e como tal, deixou um amplo legado para a Igreja Católica, a Europa, o direito, e, para a posteridade de forma geral. O historiador Battista Mondin declara que, devido ao prestígio de seu reinado, é estranho que Inocêncio não seja apelidado como "o Grande"[76]. O historiador Hans Wolter declara que "com Inocêncio III o papado foi por um breve período de tempo a potência principal e o guia da cristandade ocidental"[7]. Porém, seu reinado também constituiu uma virada para a história da Igreja, porque após sua morte, seus sucessores não conseguiram manter a posição política de hegemonia mundial alcançada por Inocêncio, e tornaram-se cada vez mais fracos[77], por isso, como disse o historiador alemão Ferdinand Gregorivius, com Inocêncio "o papado atingiu uma posição vertiginosa e insustentável"[78].

O legado mais importante de Inocêncio foi sem dúvida no direito, pois ele foi um notável jurista, canonista e criador de leis, tendo escrito mais de seis mil cartas como papa[74]. Inocêncio ordenou a seu notário, o sudiácono Pedro Collivacino, que colecionasse os decretos dos primeiros doze anos de seu reinado, obra que foi concluída em 1209. Assim, pela bula Devotioni vestrae de 1210, Inocêncio publicou sua coleção de decretos como tendo força de lei universal para a consulta dos clérigos e juristas, transmitindo-a a Universidade de Bolonha para estudo[79]. A coleção de Inocêncio é considerada uma das cinco grandes coleções de leis canônicas da Igreja, as "Quinque Compilationes Antique", ao qual surgiram antes do próprio sobrinho de Inocêncio, o Papa Gregório IX, publicar uma nova e importante coleção, ao qual, usando muitos decretos de Inocêncio, influenciará de forma permanente o direito canônico na Igreja, incluindo o atual Código de Direito Canônico da Igreja Católica, de 1983[80]. Algumas leis e procedimentos jurídicos de Inocêncio, também foram adotados por Reinos e estados e estiveram vigentes até o século XVIII[81].

Além disso, como Inocêncio compreendia muitos princípios, normas e procedimentos do direito romano, aplicou-os ao direito canônico, e assim, esses princípios, até então desconhecidos, puderam ser usados no direito civil, e também no direito moderno e atual[82]. Por exemplo, Inocêncio introduziu[nota 1] em seus documentos o princípio legal "publice utilitatis intersit, ne crimina remaneant impunita" ("É de interesse do bem público que os crimes não fiquem impunes"), ao qual significa, que cabe aos governantes e juízes punir os crimes cometidos. Ele retirou esse princípio do comentário de Juliano (c. 110 – c. 170) a "Lex Aquilia", um conjunto de leis elaborada no século III a.C., ainda na República Romana. Juliano argumentou que os erros (maleficia em latim) não devem ficar impunes. Inocêncio mudou a sentença, substituindo "maleficium" por "crimen". Originalmente, "maleficium" poderia, no direito romano, significar um erro privado, assim como um delito ou um erro público (um crime). Ao mudar a palavra para "crimen", Inocêncio tirou a sentença do direito privado e introduziu ela no direito público. Esse princípio foi absorvido pelo direito medieval e depois pelo direito moderno graças a Inocêncio[84].

Graças a Inocêncio, a família Conti se estabeleceu solidamente como uma família com influência e importância em Roma, na Itália, nos Estados Pontifícios, e especialmente dentro do governo da Igreja Católica no século XIII, conseguindo prolongar sua influência até o século XIX. Dessa maneira, os Conti ainda puderam eleger outros dois papas de sua família no século XIII por meio do nepotismo e do costume de criar cardeais-sobrinhos: Gregório IX (1227-1241), sobrinho de Inocêncio e Alexandre IV (1254-1261), sobrinho-neto de Inocêncio. Enquanto Gregório, foi tornado cardeal por Inocêncio em 1198[85], Alexandre foi respectivamente tornado cardeal por Gregório em 1227[86]. Os papas da família de Inocêncio, seguindo o seu exemplo, foram grandes canonistas, lutaram contra a heresia e especialmente batalharam pelos direitos e poder do papado na Itália contra os Sacros Imperadores. Além disso, na Idade Média e no Renascimento cardeais importantes pertenciam a família Conti por influência de Inocêncio. Posteriormente, em 1721, já na Idade Moderna, os Conti elegeram seu último pontífice, Inocêncio XIII (1721-1724)[87].

Inocêncio também lançou as bases jurídicas que permitiriam posteriormente a fundação da Inquisição pontifícia[88] por seu sobrinho, o Papa Gregório IX, em 1231. Inocêncio criou uma instituição antecessora da Inquisição propriamente dita, conhecida como "Inquisição dos legados pontifícios", pelas quais funcionários nomeados pelo papa (os "legados pontifícios"), escolhidos normalmente entre os membros da Ordem Cisterciense, eram enviados temporariamente para julgar e condenar hereges onde Inocêncio considerava que os bispos não estavam trabalhando apropriadamente na extermínio da heresia.[89] Posteriormente, o Cânon 2 do IV Concílio de Latrão de 1215, redigido por Inocêncio, tornou obrigatório que todos os hereges identificados numa região fossem entregues aos poderes públicos, onde caso não se arrependessem, seriam condenados a morte.[89] A Inquisição pontifícia de fato, fundada por Gregório IX, transformou a Inquisição em um tribunal permanente, fundindo a ideia de Inocêncio de um tribunal independente dos bispos e que recorre a punições do Estado.

A concepção de poder dos papas e a teologia política de Inocêncio, por sua vez, será defendida ferozmente pelos papas que o sucederam, e, apesar das mudanças históricas, sobreviverá na mente do papado e da hierarquia da Igreja até o século XIX e XX, durando, portanto, em torno de 700 anos[90]. Assim, por exemplo, quando o Papa Alexandre VI, em 1493, divide as Américas entre Portugal e Espanha (ato predecessor do Tratado de Tordesilhas) ou o Papa Pio V depõe a Rainha Elizabeth I, em 1570, esses pontífices estavam seguindo a ideia de poder papal de Inocêncio[90].

O legado mais importante para a Igreja Católica de Inocêncio, foi sem dúvida, suas contribuições doutrinárias, especialmente os textos do IV Concílio de Latrão de 1215, que tiveram influência decisiva de Inocêncio. Assim, IV Latrão proclamou a transubstanciação e "presença real" de Jesus na Eucaristia, e a sentença que "fora da Igreja não há salvação" como dogmas e verdades infalíveis da doutrina católica, criou um direito novo para as relíquias (que só seriam consideradas autênticas com autorização do papa), uma nova disciplina por meio da obrigatoriedade da confissão anual, e, novas leis sobre a consanguinidade e o casamento, que a partir dali, passou a ser proibido apenas nos primeiros quatro graus de parentesco consanguíneo, sendo permitido nos outros (quinto, sexto, sétimo etc.), abolindo, portanto, nas normas anteriores que proibiam muitas vezes até o sétimo grau[91].

Simbologia[editar | editar código-fonte]

Vestuário e arte[editar | editar código-fonte]

As vestes não-litúrgicas usadas pelo Papa Inocêncio, tal como a da maioria dos papas nos séculos XI-XIII em ocasiões importantes como consistórios, audiências ou juramentos feudais, consistiam em uma longa casula gótica vermelha, o pálio, o fano (desde o século XII)[92] e uma forma primitiva de tiara papal, que consistia num capacete de tecido branco, com ínfulas negras e um círculo revestido de joias na parte inferior, ao qual poderia ser apenas um ornamento ou uma coroa, não estando claro para a pesquisa histórica[93]. Inocêncio também passou a usar uma cruz papal própria[94]. Dessa forma, em afrescos, pinturas, vitrais e iluminuras Inocêncio é normalmente representado usando esse vestuário de sua época.

Brasão[editar | editar código-fonte]

Inocêncio teve importância fundamental na construção e no desenvolvimento de uma simbologia própria para o papado. Desde o século XII, famílias de grande importância, especialmente da nobreza, passaram a adotar brasões como símbolos de seu poder e origem. Levando em consideração essa simbologia, ao se tornar pontífice, Inocêncio passou a usar o brasão da família Conti como símbolo pessoal de seu reinado, isto é, a águia xadrezada dourada e negra em um escudo vermelho[32].

A partir daí, todos os papas adotaram um brasão próprio. Inocêncio, assim, fundou, na Igreja, o uso de um dos símbolos mais duradouros associados ao papado até a atualidade[32]. Porém, originalmente, o brasão de Inocêncio consistia apenas no escudo, sem os elementos heráldicos exteriores, isto é, as chaves e a tiara papal, que foram incluídas nos brasões dos papas apenas no final do século XII, e atribuídas ao próprio brasão de Inocêncio[32].

Literatura e cultura popular[editar | editar código-fonte]

Os principais documentos escritos durante a vida de Inocêncio que discorrem sobre o seu reinado, são a Gesta Innocentii Papae III, de um autor anônimo da Cúria Romana que cobre os primeiros onze anos do reinado de Inocêncio, a De rebus a se gestis de Giraldus Cambrensis, a Chronica Andrensis de Guillelmus Andrensis, e Dialogus miraculorum de Caesarius Heisterbachensis. Pouco tempo de sua morte, Inocêncio aparece em um relato de Santa Lutgarda (1182-1246), ao qual afirmou ter tido uma visão mística na qual Inocêncio estava no purgatório implorando por indulgências dos vivos e fazendo penitência até o Juízo Final. Dante (1265-1321), por sua vez, citou o nome de Inocêncio, na Divina Comédia, no Paraíso, apenas pelo papa ter aprovado a Regra de São Francisco (Canto XI do Paraíso), não descrevendo o destino após a morte de Inocêncio[95]. Os documentos da sua época, retratam Inocêncio como um homem piedoso, correto e moralmente intocável, porém, nunca o consideram um santo[96].

A cultura popular atual, seja literária ou cinematográfica, reproduziu a imagem política negativa de Inocêncio. Dessa forma, no romance do escrito quando o mexicano Gerardo Laveaga sobre Inocêncio - "El Sueno De Inocencio: Ascenso Y Caida Del Papa Mas Poderoso De La Historia", ele retrata o papa como alguém faminto por poder, cínico, mentiroso, com tendências homossexuais e ateias. No romance de Laveaga, no fim de sua vida, Inocêncio, não obstante, percebe seus erros, e almejando corrigir suas ações, acaba assassinado em um complô arquitetado por seu próprio sobrinho, Ugolino di Anagni, que mais tarde se tornará o papa Gregório IX. Por sua vez, no livro “O Nome da Águia”, do escritor brasileiro Alexandre Lobão, Inocêncio é retratado como responsável direto pela corrupção da Igreja Católica, tendo criado as bases da Inquisição.[97]

No cinema, Inocêncio aparece frequentemente como coadjuvante em diversos documentários e filmes, especialmente em produções sobre a biografia de Francisco de Assis. Assim, nos filmes sobre São Francisco, “Fratello sole, sorella luna” (“Irmão sol, Irmão lua”) de 1972, de Franco Zeffirelli, bem como na minissérie “Chiara e Francesco”, de 2007, de Fabrizio Costa, Inocêncio aparece como alguém apático e manipulado pela Cúria Romana. Todas essas produções no qual o pontífice aparece seguem a mesma ideia: um homem político e indiferente. Nos filmes biográficos de São Francisco, o santo e o papa são cenograficamente colocados em contraste, como duas igrejas opostas entre si, em que Francisco aparece como movido pelo Evangelho, ao lado de Inocêncio, movido pela razão de Estado[98].

Notas

  1. O historiador K. Pennington também defende que, na verdade, os documentos jurídicos escritos por Inocêncio foram elaborados por funcionários e especialistas que trabalhavam na Chancelaria Papal, a instituição que publicava os documentos papais. Assim, ao discorrer sobre o princípio romano de "publice utilitatis intersit, ne crimina remaneant impunita", Pennington defende que esse princípio foi introduzido na documentação papal por um funcionário da Chancelaria possivelmente, e não por Inocêncio. Embora ele frise que sua conclusão não é definitiva, e é impossível saber com certeza a autoria dos documentos papais[82]. De fato, existe uma significativa controvérsia histórica sobre a influência e a autoria final dos documentos de Inocêncio, especialmente sobre quais documentos foram escritos pelo papa pessoalmente, e quais ele delegou a funcionários[83].

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