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==Introdução==
==Introdução==
A mitologia grega era assunto principal nas aprendizagens das crianças da Grécia antiga, como meio de orientá-las no entendimento de fenômenos naturais e em outros acontecimentos que ocorriam sem o intermédio dos humanos.<ref name=GregIntro> Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/mit/mit00.asp Introdução à mitologia grega]". [http://greciantiga.org Grecia Antiga.Org]. Acesso: 30 de agosto, 2008. </ref> Com a [[tecnologia]] precária da época, as [[ciência]]s – como a [[medicina]], a [[física]], a [[matemática]], e outras áreas voltadas para o estudo racionais – tinham muito menos desenvolvimento que áreas como a [[filosofia]] e, por isso, os gregos usavam a imaginação para atribuir a causa dos fenômenos a seu redor. Fundamentalmente, os poetas da Grécia antiga — tidos como pessoas escolhidas pelos deuses para relatar suas histórias — escreviam textos que não explicavam racionalmente a origem das coisas, mas utilizavam lendas, isto é, histórias imaginárias, para interpretá-las.<ref name=brasilescolamito>Gabriela Cabral. "[http://www.brasilescola.com/filosofia/mito-filosofia.htm O mito e a Filosofia]. BrasilEscola. Acesso: 28 de Setembro, 2008 </ref>
A mitologia grega era assunto principal nas aprendizagens das crianças da Grécia antiga, como meio de orientá-las no entendimento de fenômenos naturais e em outros acontecimentos que ocorriam sem o intermédio dos humanos.<ref name=GregIntro> Ribeiro Jr, Wilson A. "[http://greciantiga.org/mit/mit00.asp Introdução à mitologia grega]". [http://greciantiga.org Grecia Antiga.Org]. Acesso: 30 de agosto, 2008. </ref> Com a [[tecnologia]] precária da época, as [[ciência]]s – como a [[medicina]], a [[física]], a [[matemática]], e outras áreas voltadas para os estudos racionais – tinham muito menos desenvolvimento que áreas como a [[filosofia]] e, por isso, os gregos usavam a imaginação para atribuir a causa dos fenômenos a seu redor. Fundamentalmente, os poetas da Grécia antiga — tidos como pessoas escolhidas pelos deuses para relatar suas histórias — escreviam textos que não explicavam racionalmente a origem das coisas, mas utilizavam lendas, isto é, histórias imaginárias, para interpretá-las.<ref name=brasilescolamito>Gabriela Cabral. "[http://www.brasilescola.com/filosofia/mito-filosofia.htm O mito e a Filosofia]. BrasilEscola. Acesso: 28 de Setembro, 2008 </ref>


Para o povo grego, embora a [[sabedoria]] plena e completa pertencesse aos deuses, os homens poderiam desejá-la e amá-la, tornando-se um filosófo (philo= ''amizade, amor fraterno, respeito''; sophia= ''sabedoria'').<ref name=OlhoMundoTrabalho>Terra, Ernani. De Nícola, José. ''Português: De olho no mundo do trabalho''. Editora Scipione (1ª Edição, 2006). pág.98, cap.16. </ref>
Para o povo grego, embora a [[sabedoria]] plena e completa pertencesse aos deuses, os homens poderiam desejá-la e amá-la, tornando-se um filósofo (philo= ''amizade, amor fraterno, respeito''; sophia= ''sabedoria'').<ref name=OlhoMundoTrabalho>Terra, Ernani. De Nícola, José. ''Português: De olho no mundo do trabalho''. Editora Scipione (1ª Edição, 2006). pág.98, cap.16. </ref>


===Classificação===
===Classificação===
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A descoberta da [[Micenas|Civilização miscênica]] pelo [[arqueólogo]] amador alemão [[Heinrich Schliemann]] no [[século XIX]], e a descoberta da [[Civilização minóica]] em [[Creta]] pelo arqueólogo britânico [[Sir Arthur Evans]] no [[século XX]], ajudaram a esclarecer muitas dúvidas a respeito dos épicos de Homero e outras questões da mitologia, como as crenças em deuses e em heróis. A evidência sobre os mitos e os rituais nos lugares da Miscênica e da Minóica é inteiramente monumental, uma vez que a [[escrita linear B|linear B]] (método de escrita antigo, encontrado em Creta e na Grécia) era usada principalmente para o registro de inventários, embora os nomes de deuses e de heróis tenham sido dificilmente revelados.<ref name=BritanGrek />
A descoberta da [[Micenas|Civilização miscênica]] pelo [[arqueólogo]] amador alemão [[Heinrich Schliemann]] no [[século XIX]], e a descoberta da [[Civilização minóica]] em [[Creta]] pelo arqueólogo britânico [[Sir Arthur Evans]] no [[século XX]], ajudaram a esclarecer muitas dúvidas a respeito dos épicos de Homero e outras questões da mitologia, como as crenças em deuses e em heróis. A evidência sobre os mitos e os rituais nos lugares da Miscênica e da Minóica é inteiramente monumental, uma vez que a [[escrita linear B|linear B]] (método de escrita antigo, encontrado em Creta e na Grécia) era usada principalmente para o registro de inventários, embora os nomes de deuses e de heróis tenham sido dificilmente revelados.<ref name=BritanGrek />


Schliemann começou seu trabalho em [[1870]], com o intuito de averigar se as histórias que ouvia de seu pai quando criança, a respeito dos épicos homéricos, eram verdadeiras; numa madrugada, juntamente com sua esposa, conseguiu encontrar dois [[diadema]]s de ouro, 4.066 [[plaqueta]]s, 16 [[estatueta]]s, 24 [[colar]]es de ouro, [[Anel|anéis]], [[agulha]]s, [[pérola]]s (total de 8.700 artefatos) e pesquisas posteriores deixaram certezas que a mítica cidade de Tróia existiu no local há milênios.<ref name=ArquioMito>Sem Nome. "[http://www.arqueologyc.hpg.ig.com.br/grecia.htm Arqueologia: Grécia Antiga]". [http://www.arqueologyc.hpg.ig.com.br Portal Arqueologia]. Acesso: 31 de agosto, 2008. </ref>
Schliemann começou seu trabalho em [[1870]], com o intuito de averiguar se as histórias que ouvia de seu pai quando criança, a respeito dos épicos homéricos, eram verdadeiras; numa madrugada, juntamente com sua esposa, conseguiu encontrar dois [[diadema]]s de ouro, 4.066 [[plaqueta]]s, 16 [[estatueta]]s, 24 [[colar]]es de ouro, [[Anel|anéis]], [[agulha]]s, [[pérola]]s (total de 8.700 artefatos) e pesquisas posteriores deixaram certezas que a mítica cidade de Tróia existiu no local há milênios.<ref name=ArquioMito>Sem Nome. "[http://www.arqueologyc.hpg.ig.com.br/grecia.htm Arqueologia: Grécia Antiga]". [http://www.arqueologyc.hpg.ig.com.br Portal Arqueologia]. Acesso: 31 de agosto, 2008. </ref>


Existem desenhos geométricos em cerâmica datados do século VIII a.C que retratam o Ciclo de Tróia, como também as aventuras de [[Hércules]].<ref name=BritanGrek /> Por dois motivos, essas representações visuais dos mitos possuem enorme importância: em primeiro lugar, muitos mitos gregos foram comprovados em desenhos de [[vaso]]s antes do que na literatura escrita–das doze elaborações sobre Hércules, por exemplo, somente a aventura de [[Cérbero]] é apresentada pela primeira vez em um texto literário<ref>Homero, ''Iliad'', 8. Poema épico sobre a [[Guerra de Tróia]]. </ref>–e, em segundo lugar, as fontes visuais muitas vezes fornecem cenas míticas que não são apresentadas em quaisquer fontes literárias existentes. Em alguns casos, a primeira represenção conhecida de um mito na arte geométrica antecede, em questão de muitos anos e séculos, a sua primeira aparição conhecida na poesia arcaica.<ref name=F.Graf /> Nos Períodos Arcaico (750–c. 500 a.C), Clássico ( 480–323 a.C), e Helenístico, Homero e várias outras personalidades surgem para completar as evidências literárias da existência da mitologia grega.
Existem desenhos geométricos em cerâmica datados do século VIII a.C que retratam o Ciclo de Tróia, como também as aventuras de [[Hércules]].<ref name=BritanGrek /> Por dois motivos, essas representações visuais dos mitos possuem enorme importância: em primeiro lugar, muitos mitos gregos foram comprovados em desenhos de [[vaso]]s antes do que na literatura escrita–das doze elaborações sobre Hércules, por exemplo, somente a aventura de [[Cérbero]] é apresentada pela primeira vez em um texto literário<ref>Homero, ''Iliad'', 8. Poema épico sobre a [[Guerra de Tróia]]. </ref>–e, em segundo lugar, as fontes visuais muitas vezes fornecem cenas míticas que não são apresentadas em quaisquer fontes literárias existentes. Em alguns casos, a primeira representação conhecida de um mito na arte geométrica antecede, em questão de muitos anos e séculos, a sua primeira aparição conhecida na poesia arcaica.<ref name=F.Graf /> Nos Períodos Arcaico (750–c. 500 a.C), Clássico ( 480–323 a.C), e Helenístico, Homero e várias outras personalidades surgem para completar as evidências literárias da existência da mitologia grega.


==História==
==História==
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[[Imagem:Kerenyi karoly.jpg|rith|thumb|Para Karl Kerényi, mitologia é "um corpo de material contido nos contos sobre deuses, seres semelhantes a deuses, batalhas heróicas e viagens para o submundo mitológico é a melhor palavra grega para seus contos conhecidos, mas não mais propícios à remodelagens."]]
[[Imagem:Kerenyi karoly.jpg|rith|thumb|Para Karl Kerényi, mitologia é "um corpo de material contido nos contos sobre deuses, seres semelhantes a deuses, batalhas heróicas e viagens para o submundo mitológico é a melhor palavra grega para seus contos conhecidos, mas não mais propícios à remodelagens."]]


[[Sigmund Freud]] introduziu uma concepção transhistórica e biológica do homem e uma visão do mito como expressão de idéias reprimidas. A interpretação dos sonos é uma base da interpretação freudiana dos mitos e seu conceito de sonhos reconhece a importância das relaçõex contextuais para a interpretação de qualquer elemento individual de um sonho. Essa sugestão encontraria um importante ponto de acercamento entre as visões estruturalistas e psicoanalísticas dos mitos no pensamento de Freud.<ref>Caldwell, R. S. (1995), ''The Origin of the Gods: A Psychoanalytic Study of Greek Theogonic Myth'', p.344, Oxford University Press. ISBN 0-19-507266-9</ref> Carl Jung extendeu o enfoque transhistórico e psicológico com sua teoria do [[inconsciente coletivo]] e os arquétipos (patronos arcaicos herdados), às vezes codificiados nos mitos, que surgem dela.<ref name=BritanGrek /> Segundo Jung, "os elementos estruturais que forma os mitos devem ser apresentados na psique inconsciente".<ref>Jung, C. G.; Kerényi, K. (2001 reimpr.), ''The Psychology of the Child Archetype'' ''Essays on a Science of Mythology'', p.85, Princeton University Press. ISBN 0-691-01756-5.</ref> Comparando a metodologia de Jung com a teoria de Joseph Campbell, Robert A. Segal conclui que "para interpretar um mito, Campbell simplesmente identifica os arquétipos nele. Uma interpretação de ''A Odisséia'', p. ex., mostraria como a vida de Odisseu se ajusta a um patrono heróico. Jung, pelo contrário, considera a identificação de arquétipos meramente o primeiro passo na interpretação de um mito".<ref> Segal, R. A. (4 de abril de 1990). ''The Romantic Appeal of Joseph Campbell''. Christian Century: p.332–335.</ref> [http://en.wikipedia.org/wiki/Karl_Kerenyi Károly Kerényi], um dos fundadores dos estudos modernas do mito grego, abandonou seus primeiros pontos de vista sobre os mitos para aplicar as teorias de arquétipos de Jung aos mitos gregos.<ref>Fritz, G. (1996 reimpr.), ''Greek Mythology: An Introduction'', p.38, John Hopkins University Press. ISBN 0-8018-5395-8.</ref>
[[Sigmund Freud]] introduziu uma concepção transhistórica e biológica do homem e uma visão do mito como expressão de idéias reprimidas. A interpretação dos sonos é uma base da interpretação freudiana dos mitos e seu conceito de sonhos reconhece a importância das relaçõex contextuais para a interpretação de qualquer elemento individual de um sonho. Essa sugestão encontraria um importante ponto de acercamento entre as visões estruturalistas e psicoanalísticas dos mitos no pensamento de Freud.<ref>Caldwell, R. S. (1995), ''The Origin of the Gods: A Psychoanalytic Study of Greek Theogonic Myth'', p.344, Oxford University Press. ISBN 0-19-507266-9</ref> Carl Jung extendeu o enfoque transhistórico e psicológico com sua teoria do [[inconsciente coletivo]] e os arquétipos (patronos arcaicos herdados), às vezes codificiados nos mitos, que surgem dela.<ref name=BritanGrek /> Segundo Jung, "os elementos estruturais que forma os mitos devem ser apresentados na psique inconsciente".<ref>Jung, C. G.; Kerényi, K. (2001 reimpr.), ''The Psychology of the Child Archetype'' ''Essays on a Science of Mythology'', p.85, Princeton University Press. ISBN 0-691-01756-5.</ref> Comparando a metodologia de Jung com a teoria de Joseph Campbell, Robert A. Segal conclui que "para interpretar um mito, Campbell simplesmente identifica os arquétipos nele. Uma interpretação de ''A Odisséia'', p. ex., mostraria como a vida de Odisseu se ajusta a um patrono heróico. Jung, pelo contrário, considera a identificação de arquétipos meramente o primeiro passo na interpretação de um mito".<ref> Segal, R. A. (4 de abril de 1990). ''The Romantic Appeal of Joseph Campbell''. Christian Century: p.332–335.</ref> [http://en.wikipedia.org/wiki/Karl_Kerenyi Károly Kerényi], um dos fundadores dos estudos modernos do mito grego, abandonou seus primeiros pontos de vista sobre os mitos para aplicar as teorias de arquétipos de Jung aos mitos gregos.<ref>Fritz, G. (1996 reimpr.), ''Greek Mythology: An Introduction'', p.38, John Hopkins University Press. ISBN 0-8018-5395-8.</ref>


===Teorias da origem===
===Teorias da origem===
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[[Imagem:Cornelis van Haarlem - Venus en Adonis.jpg|thumb|right|Vênus e Adônis, por Cornelis Corneliszoon van Haarlem.]]
[[Imagem:Cornelis van Haarlem - Venus en Adonis.jpg|thumb|right|Vênus e Adônis, por Cornelis Corneliszoon van Haarlem.]]


A arqueologia e a mitologia, numa outra consideração, tem revelado que os gregos foram inspirador por algumas civilizações da [[Ásia Menor]] e do [[Oriente Próximo]]. [[Adônis]] parece ser o equivalente grego - mais claramente nos cultos do que em seus mitos - de um "deus moribundo" do Oriente Próximo. Tudo indica que [[Cíbele]], por sua vez, tem suas raízes na [[Anatólia|cultura anatólica]], enquanto grande parte da [[iconografia]] de [[Afrodite]] surge das deusas semíticas. Existem possíveis paralelismos entre as gerações divinas mais antigas (Caos e seus filhos) e [[Tiamat]] em ''[[Enuma Elish]]''.<ref>Edmunds, L. (1990), ''Approaches to Greek Myth'', p.184, John Hopkins University Press. ISBN 0-8018-3864-9.</ref><ref>Segal, R. A. (1991), ''Adonis: A Greek Eternal Child Myth and the polis'', Cornell University Press. ISBN 0-8014-2473-9.</ref> Segundo o estudioso Meyer Reinhold, "os conceitos teogônicos do Oriente Próximo, incluindo a sucessão divina mediante a violência e os conflitos gerados pelo poder, encontraram seu caminho [...] na mitologia grega."<ref> Reinhold, M. (20 de outubro de 1970). ''The Generation Gap in Antiquity''. Proceedings of the American Philosophical Society 114 (5): 347–365.</ref> Seguindo as origens indo-européias e do Oriente Próximo, alguns investigadores especulam sobre as obrigações da mitologia grega com as sociedade pré-helênicas: [[Creta]], [[Micenas]], [[Pilos]], [[Tebas]] e [[Orcómeno]].<ref name=burkert2324>Burkert, W. (2002), ''Greek Religion: Archaic And Classical'', p.23–24, Blackwell Publishing. ISBN 0-631-15624-0.</ref> Os historiadores da religião estavam fascinados por várias configurações de mitos aparentemente antigos relacionados com Creta (o deus como toro, Zeus e Europa, [[Pasífae]] que produz toro e dá a luz ao [[Minotauro; etc.). O professor Martin P. Nilsson concluiu que todos os grandes mitos da Grécia antiga estavam atados aos centros micênicos e âncorados em épocas pré-históricas.<ref>Wood, M. (1998), ''In Search of the Trojan War'', p.112, University of California Press. ISBN 0-520-21599-0.</ref> Todavia, de acordo com Burkert, a iconografia do período do palácio cretentese praticamente não tem dado confirmação alguma sobre a veracidade dessas teorias.<ref name=burkert2324 />
A arqueologia e a mitologia, numa outra consideração, tem revelado que os gregos foram inspirador por algumas civilizações da [[Ásia Menor]] e do [[Oriente Próximo]]. [[Adônis]] parece ser o equivalente grego - mais claramente nos cultos do que em seus mitos - de um "deus moribundo" do Oriente Próximo. Tudo indica que [[Cíbele]], por sua vez, tem suas raízes na [[Anatólia|cultura anatólica]], enquanto grande parte da [[iconografia]] de [[Afrodite]] surge das deusas semíticas. Existem possíveis paralelismos entre as gerações divinas mais antigas (Caos e seus filhos) e [[Tiamat]] em ''[[Enuma Elish]]''.<ref>Edmunds, L. (1990), ''Approaches to Greek Myth'', p.184, John Hopkins University Press. ISBN 0-8018-3864-9.</ref><ref>Segal, R. A. (1991), ''Adonis: A Greek Eternal Child Myth and the polis'', Cornell University Press. ISBN 0-8014-2473-9.</ref> Segundo o estudioso Meyer Reinhold, "os conceitos teogônicos do Oriente Próximo, incluindo a sucessão divina mediante a violência e os conflitos gerados pelo poder, encontraram seu caminho [...] na mitologia grega."<ref> Reinhold, M. (20 de outubro de 1970). ''The Generation Gap in Antiquity''. Proceedings of the American Philosophical Society 114 (5): 347–365.</ref> Seguindo as origens indo-européias e do Oriente Próximo, alguns investigadores especulam sobre as obrigações da mitologia grega com as sociedades pré-helênicas: [[Creta]], [[Micenas]], [[Pilos]], [[Tebas]] e [[Orcómeno]].<ref name=burkert2324>Burkert, W. (2002), ''Greek Religion: Archaic And Classical'', p.23–24, Blackwell Publishing. ISBN 0-631-15624-0.</ref> Os historiadores da religião estavam fascinados por várias configurações de mitos aparentemente antigos relacionados com Creta (o deus como toro, Zeus e Europa, [[Pasífae]] que produz toro e dá a luz ao [[Minotauro; etc.). O professor Martin P. Nilsson concluiu que todos os grandes mitos da Grécia antiga estavam atados aos centros micênicos e âncorados em épocas pré-históricas.<ref>Wood, M. (1998), ''In Search of the Trojan War'', p.112, University of California Press. ISBN 0-520-21599-0.</ref> Todavia, de acordo com Burkert, a iconografia do período do palácio cretentese praticamente não tem dado confirmação alguma sobre a veracidade dessas teorias.<ref name=burkert2324 />


==Influência na arte ocidental==
==Influência na arte ocidental==

Revisão das 21h14min de 5 de outubro de 2008


O busto de Zeus instituído em Otricoli (Sala Rotonda, Museu Pio-Clementino, Vaticano).

Mitologia grega é o estudo do órgão de histórias pertencentes aos gregos antigos, relacionadas aos seus deuses e heróis, à natureza do mundo e suas origens, ao significado de seu próprio culto e de suas práticas rituais, e, consecutivamente, ao envolvimento dos povos e dos países diante desse órgão. Para muitos estudiosos modernos, entender os mitos gregos é o mesmo que lançar luz sobre a compreensão da sociedade grega antiga e seu comportamento.[1] O mito grego explica as origens do mundo e os pormenores das vidas e aventuras de uma ampla variedade de deuses, deusas, heróis, heroínas e outras criaturas mitológicas.

Ao longo dos tempos, esses mitos foram expressos através de uma extensa coleção de narrativas que constituem a literatura grega e também na representação de outras artes, como a Pintura da Grécia Antiga e a pintura vermelha em cerâmica grega. Inicialmente divulgados em tradição oral-poética, hoje esses mitos são tratados apenas como parte da literatura grega. Essa literatura abrange as mais conhecidas fontes literárias da Grécia Antiga: os poemas épicos Ilíada, Odisséia– atribuídos à Homero e que focam sobre os acontecimentos em torno da Guerra de Tróia, destacando a influência de deuses e de outros seres – e também a Teogonia e Os Trabalhos e os Dias, trabalhos produzidos por Hesíodo. Os mitos também estão preservados nos Hinos homéricos, em fragmentos de poemas do Ciclo Épico, na poesia lírica, no âmbito dos trabalhos das tragédias do século V a.C, nos escritos de poetas e eruditos do Período Helenístico e em outros documentos de escritores do Império Romano, como Plutarco e Pausanias.

A principal fonte para a pesquisa de detalhes sobre a mitologia grega são as evidências arqueológicas que descobrem e descobriram decorações e outros artefatos, como desenhos geométrios em cerâmica, datados do século VIII a.C, que retratam cenas do ciclo trojano e das aventuras de Hércules. Sucedendo os períodos Arcaico, Clássico e Helenístico, Homero e várias outras personalidades aparecem para completar as provas dessas existências literárias.[2]

A mitologia grega teve ampla influência sobre a cultura, as artes e a literatura da civilização ocidental e continua a ser parte do patrimônio e da linguagem do ocidente: ela ganhou destaque sobre todas as outras mitologias pelo fato de que a Grécia antiga–seu pensamento e sua civilização–exerceu uma estrondosa influência nos continentes, sobretudo no ocidental e, da mesma forma como diversas ciências, como a física, a geografia, a biologia, a zoologia, a história e outras áreas humanas, como a ética, a política e a democracia originaram-se com o povo grego e foram profundamente aproveitados pelos primeiros povos ocidentais, a mitologia da Grécia antiga também é estudada e constituiu-se ao longo dos tempos de uma grande fonte de inspiração para artistas que notaram uma relação entre temas mitológicos e a sua relevância com o contemporâneo. [3][4]

Introdução

A mitologia grega era assunto principal nas aprendizagens das crianças da Grécia antiga, como meio de orientá-las no entendimento de fenômenos naturais e em outros acontecimentos que ocorriam sem o intermédio dos humanos.[5] Com a tecnologia precária da época, as ciências – como a medicina, a física, a matemática, e outras áreas voltadas para os estudos racionais – tinham muito menos desenvolvimento que áreas como a filosofia e, por isso, os gregos usavam a imaginação para atribuir a causa dos fenômenos a seu redor. Fundamentalmente, os poetas da Grécia antiga — tidos como pessoas escolhidas pelos deuses para relatar suas histórias — escreviam textos que não explicavam racionalmente a origem das coisas, mas utilizavam lendas, isto é, histórias imaginárias, para interpretá-las.[6]

Para o povo grego, embora a sabedoria plena e completa pertencesse aos deuses, os homens poderiam desejá-la e amá-la, tornando-se um filósofo (philo= amizade, amor fraterno, respeito; sophia= sabedoria).[7]

Classificação

A gama de personagens, seres e ambientes que formam a Mitologia grega podem ser separados em três partes, sendo a última um apêndice para a literatura mitológica, de onde conseguimos grande parte das informações sobre os mitos:

1. Raças, divindades, criaturas; personagens em geral, que abrange os Ventos, Centauros, Ctónicos, Ciclopes, Dragões, Erínias, Gigantes, Górgonas, Hecatônquiros, Harpia, Musas, Moiras, Mortais, Ninfas, Deuses olímpicos, Deuses primordiais, Sátiros e Titãs.
1 a. Aqui também é incluído os heróis Héracles, Aquiles, Odisseu, Jasão, Argonautas, Perseu, Édipo, Teseu e Triptolemos.
2. Lugares, que abrange os ambientes em que essas figuras, na imaginação dos gregos, viveram suas aventuras, que são Delfos, Delos, Olímpia, Hades (reino), Atlântida, Olimpo, Tróia, e Temiscira.
3. Literatura mitológica clássica, inclui o estudo da Literatura antiga grega, que contou com nomes como Homero, que incluía em sua narrativa a crença de deuses.

Religião

Embora muitas vezes confundida com a religião, a mitologia é um conjunto de crenças enraizadas em relatos fictícios e imaginários, enquanto que essa outra envolve rituais dentro de procedimentos com a finalidade de estabelecer vínculos com a espiritualidade.[5]

Motivo de estudo da mitologia grega

Toda mitologia, de forma geral, é bastante vista pelos estudiosos modernos como um modo de entender o planeta, seus acontecimentos e nossas próprias vidas, e é bastante usada nos temas da história e nas escolas como método de ensino. Maria Lucia Gili Massi, chefe da área de desenvolvimento de recursos humanos, apontou numa entrevista de maio de 2005, que os "mitos ajudam a entender relações humanas."[8] Para o Professor de Literatura e História da Arte Fábio Brazil, conhecer os mitos, "sejam eles polinésios, tupinambás, maias, sumérios ou gregos não é o estudo de um fenômeno local e temporal, é o estudo e conhecimento da resposta simbólica do homem diante da natureza interna e externa à sua psique [...]", e reforça que os mitos gregos "[são] para nós um ato de auto conhecimento."[9] Seguindo uma ligação, segundo Brazil, olhar o mito pela face da religião fará com que olhemos também seus desdobramentos na história e na arte; se olharmos o mito pela face da arte, olharemos, inevitavelmente, seus desdobramentos na religião e na história e, por último, se o olharmos através da história, inevitavelmente seremos obrigados a olhá-lo também na arte e na religião.[9]

Fontes da Mitologia grega

Prometeu Traz Fogo à Humanidade. (1817, pelo alemão Heinrich Füger): o mito de Prometeu foi apresentado pela primeira vez por Hesíodo e, mais tarde, constituiu na base de uma trilogia de peças dramáticas, possivelmente iniciada por Ésquilo, que consiste nas peças Prometeu Acorrentado, Prometeu Desacorrentado e Prometeu, o Condutor do Fogo.[nota 1]

A origem dos mitos da Grécia não deriva puramente da civilização grega, mas de uma mistura entre a cultura dos indo-europeus, pré-gregos, e até mesmo dos asiáticos, egípcios e outros povos com as quais os gregos estabeleceram contato.[10] A mitologia grega é conhecida nos dias de hoje através da literatura grega e de expressões artísticas visuais que datam do Período Geométrico[nota 2] em diante.[11] Entender como nós, contemporâneos, tivemos a oportunidade de arrecadar informações tão antigas quanto são os mitos gregos é o objetivo deste capítulo.

Fontes literárias

A narração mítica desempenhou um papel importante em quase todos os gêneros da literatura grega. No entanto, o único manual mitográfico que sobreviveu da Grécia antiga foi a famosa Biblioteca Mitológica, de Pseudo-Apolodoro,[12] que tenta conciliar os contos contraditórios dos poetas e fornece um resumo da mitologia grega e suas lendas históricas.[13]

Entre as fontes literárias da primeira era, destacam-se os dois poemas épicos de HomeroIlíada e Odisséia. Completando esse Ciclo Épico, temos escritas de poetas cujos documentos foram perdidos ao longo do tempo. Apesar da sua denominação tradicional, os Hinos homéricos, hinos em coral da primeira fase da então-denominada Poesia lírica,[14] não possuem relação alguma com Homero.[15] Hesíodo, possível contemporâneo de Homero, produziu Teogonia, o documento mais recente sobre mitos gregos, que elabora uma genealogia dos deuses e explica a origem dos Titãs e dos Gigantes. Os Trabalhos e os Dias, também de Hesíodo, é um poema didático sobre a vida da agricultura que apresenta os mitos de Prometeu, Pandora e da Era dos Homens. O poeta dá conselhos sobre a melhor maneira de ter sucesso em um mundo perigoso tornado ainda mais arriscado por esses deuses.[2]

O poeta romano Ovídio - aqui representado por Anton von Werner -, conservou detalhes da mitologia grega presentes em trabalhos posteriores em muitas de suas obras.

Os poetas líricos direcionaram por vezes seus temas aos mitos, todavia esse tratamento ficou cada vez menor, enquanto que sua alusões à narrativa cresceu. Os poetas líricos gregos, como Píndaro e Simónides de Ceos, e os poetas bucólicos, incluindo Teócrito, forneceram incidentes mitológicos individuais.[16] Além disso, o mito foi tema central no drama Ateniense: os dramaturgos trágicos Eurípides, Sófocles e Ésquilo produziram seus enredos envolvendo a Era dos Heróis e a Guerra de Tróia. Muitas das grandes históricas trágicas (ou seja, Agamemnon e seus filhos, Édipo, Jasão e Medéia, etc.) trouxeram em sua forma clássica estas peças trágicas.

Os historiadores Heródoto e Diodoro Sículo, e os geógrafos Pausânias e Estrabão, que viajaram ao redor do mundo grego e anotaram as histórias que ouviram, forneceram numerosos mitos locais, apresentando diversas vezes versões alternativas pouco conhecidas dos mitos.[16] Heródoto, especialmente, procurou as várias tradições apresentando e encontrando as raízes históricas ou mitológicas no conflito entre a Grécia e o Oriente.[17]

A poesia da Era Helenística e Romana, que embora tenha sido composta mais como literatura do que um exercício de culto aos mitos, contém muitos detalhes importantes que de outra forma seriam perdidos. Essa categoria inclui:

1. Os poetas romanos Ovídio, Sêneca e Virgílio.
2. Os poetas gregos da Antiguidade tardia: Antonino Liberal e Quinto de Esmirna.
3. Os poetas gregos do Período Helenístico: Apolónio de Rodes, Calímaco, Eratóstenes e Partênios.
4. Antigos romances de gregos e romanos, como Apuleio, Petrônio e Heliodoro.

Em contrapartida com o gênero lírico, a Fabulae e a Astronomica do escritor romano Higino são duas composições não-poéticas importantes sobre o mito. As obras Imagens e Descrições, de Filóstrato e Calístrato (respectivamente), são dois trabalhos literários úteis para o estudo dos mitos gregos.

Finalmente, o apologista cristiano Arnóbio, citando práticas religiosas para desacreditá-las, e vários outros escritores bisantinos proporcionam detalhes importantes dos mitos, alguns deles procedentes de obras gregas perdidas durante os anos. Entre estes, inclui-se os léxicos de Hesíquio, o Suda, e os tratados de John Tzetzes e de Eustácio. O ponto de vista moralizador cristão a respeito dos mitos gregos se resume no dito ἐν παντὶ μύθῳ καὶ τὸ Δαιδάλου μύσος / en panti muthōi kai to Daidalou musos ("em todo mito está a profanação de Dédalo"), sobre o que disse Sudas que alude o papel de Dédalo ao satisfazer a "luxúria anti-natural" de Pasífae pelo trono de Poseidon: "Desde que a origem e a culpa desses males se atribuíram a Dédalo e foi odiado por eles, se converteu no objeto do provérbio." [18]

Fontes arqueológicas

Aquiles (esq.) mata um prisioneio de Tróia diante de Caronte, numa pintura-vermelha etrusquiana, realizada no fim do século IV e início do século III a.C.

A descoberta da Civilização miscênica pelo arqueólogo amador alemão Heinrich Schliemann no século XIX, e a descoberta da Civilização minóica em Creta pelo arqueólogo britânico Sir Arthur Evans no século XX, ajudaram a esclarecer muitas dúvidas a respeito dos épicos de Homero e outras questões da mitologia, como as crenças em deuses e em heróis. A evidência sobre os mitos e os rituais nos lugares da Miscênica e da Minóica é inteiramente monumental, uma vez que a linear B (método de escrita antigo, encontrado em Creta e na Grécia) era usada principalmente para o registro de inventários, embora os nomes de deuses e de heróis tenham sido dificilmente revelados.[2]

Schliemann começou seu trabalho em 1870, com o intuito de averiguar se as histórias que ouvia de seu pai quando criança, a respeito dos épicos homéricos, eram verdadeiras; numa madrugada, juntamente com sua esposa, conseguiu encontrar dois diademas de ouro, 4.066 plaquetas, 16 estatuetas, 24 colares de ouro, anéis, agulhas, pérolas (total de 8.700 artefatos) e pesquisas posteriores deixaram certezas que a mítica cidade de Tróia existiu no local há milênios.[19]

Existem desenhos geométricos em cerâmica datados do século VIII a.C que retratam o Ciclo de Tróia, como também as aventuras de Hércules.[2] Por dois motivos, essas representações visuais dos mitos possuem enorme importância: em primeiro lugar, muitos mitos gregos foram comprovados em desenhos de vasos antes do que na literatura escrita–das doze elaborações sobre Hércules, por exemplo, somente a aventura de Cérbero é apresentada pela primeira vez em um texto literário[20]–e, em segundo lugar, as fontes visuais muitas vezes fornecem cenas míticas que não são apresentadas em quaisquer fontes literárias existentes. Em alguns casos, a primeira representação conhecida de um mito na arte geométrica antecede, em questão de muitos anos e séculos, a sua primeira aparição conhecida na poesia arcaica.[11] Nos Períodos Arcaico (750–c. 500 a.C), Clássico ( 480–323 a.C), e Helenístico, Homero e várias outras personalidades surgem para completar as evidências literárias da existência da mitologia grega.

História

A mitologia grega mudou com o tempo para a acomodação da evolução de sua própria cultura. Os primeiros habitantes da Península Balcânica foram povos agricultores que atribuíam um espírito a cada aspecto da natureza. Finalmente, estes espíritos vagos assumiram a forma humana e entraram na mitologia local como deuses e deusas.[21] Quando as tribos do norte invadiram a península, trouxeram consigo um novo panteão de deuses e crenças, voltadas à conquista, à força e à valentia, à batalha e ao heroísmo violento. Outras divindades mais antigas que povoavam a mente dos habitantes agrícolas se fundiram com aquelas dos invasores mais poderosos, ou então desvaneceram-se na insignificância.[22]

Descrição topográfica da península balcânica

Após a metade do período arcaico, que possuía mitos sobre as relações entre homens e deuses masculinos, os heróis tornaram-se cada vez mais aclamados, indicando o desenvolvimento paralelo da pederastia pedagógica, que pensa-se ter sido introduzido por volta de 630 a.C. Nos finais do século V a.C, os poetas haviam atribuído pelo menos um eromenos à todos os deuses importantes, exceto Ares e outras figuras lendárias.[23] Outros mitos anteriormente existentes, como o de Aquiles e o de Pátroclo, foram reinterpretadas como mitologia homossexual.[24]

O sentido da poesia épica foi criar ciclos históricos, e resultar num desenvolvimento de um senso da cronologia mitológica; assim, a mitologia grega desdobra-se como uma etapa no desenvolvimento do mundo e do homem.[25] As auto-contradições nas histórias fazem com que seja impossível montar um cronograma absoluto a respeito da Mitologia grega, mas podemos elaborar uma cronologia concordável. A história mitológica do mundo pode ser dividida em 3 ou 4 grandes períodos:

1. Mito da origem ou da era dos deuses: é a teogonia, o nascimento dos deuses, os mitos sobre a origem do planeta, dos deuses e da raça humana.
2. Era em que os homens e os deuses se mesclam livremente: histórias das primeiras interações entre deuses, semi-deuses e mortais juntos.
3. Era dos heróis (era heróica), onde a atividade divina ficou mais limitada. As últimas e maiores lendas heróicas são da Guerra de Tróia e suas consequências (consideradas por alguns investigadores como um quarto período separado).[26]

Embora a Era dos deuses tem sido freqüentemente alvo de interesse pelos alunos contemporâneos da mitologia grega, os autores arcaicos e clássicos possuíam uma clara preferência pela Era dos heróis. As heróicas Ilíada e Odisséia, por exemplo, estavam e ainda se encontram atualmente sobre maior destaque que a Teogonia e que os hinos homéricos – e prevaleceram em popularidade e continuidade. Sob a influência de Homero, o culto heróico conduziu uma reestruturação na vida espiritual, expresso na separação entre o reino dos deuses do reino dos mortos (heróis), e dos deuses olímpicos dos ctónicos.[27] No O Trabalho e Os Dias, Hesíodo monta um esquema de quatro Era dos homens (ou Raças): de Ouro, de Prata, de Bronze e de Ferro. Estas raças ou eras são criações separadas dos mitos dos deuses, correspondendo à Era Dourada ao reino de Cronos e sendo as seguintes raças criações de Zeus. Hesíodo intercalou a Era (ou Raça) dos heróis pouco depois da Idade do Bronze. A ultima idade foi a Idade do Ferro. Em Metamorfoses, Ovídio segue o conceito de Hesíodo e apresenta essas quatro idades.

Era dos deuses

Cosmogonia e cosmologia

Veja também: Deuses primordiais e Genealogia dos deuses gregos
Amor vincit omnia (O Amor Conquista Tudo), representação do deus do amor, Eros, por Michelangelo Merisi da Caravaggio, (1601-1602).

"Mitos de origem" ou "mitos de criação", na mitologia grega, são termos alusivos à intenção de fazer com que o universo torne-se compreensível e com que a origem do mundo seja explicada.[29] Além de ser o mais famoso, o relato mais coerente e mais bem estruturado sobre o começo das coisas, a Teogonia de Hesíodo também é visto como didático, onde tudo se inicia com o Caos: o vazio primitivo e escuro que precede toda a existência.[28] Dele, surge Gaia (a Terra), e outros seres divinos primordiais: Eros (atração amorosa), Tártaro (escuridão primeva) e Érebo.[28] Sem intermédio masculino, Gaia deu à luz Urano, que então a fertilizou. Dessa união entre Gaia e Urano, nasceram primeiramente os Titãs: seis homens e seis mulheres (Oceano, Céos, Créos, Hiperião, Jápeto, Téia e Reia, Têmis, Mnimonise, Febe, Tétis e Cronos); e logo os Ciclopes de um só olho e os Hecatônquiros (ou Centimanos). Contudo, Urano, embora tenha gerado estas divindades poderosas, não as permitiu de sair do interior de Gaia e elas permaneceram obedientes ao pai.[30] Somente Cronos, "o mais jovem, de pensamentos tortuosos e o mais terrível dos filhos"[31], castrou o seu pai–com uma foice produzida das entranhas da mãe Gaia–e lançou seus genitais no mar, libertando, assim, todos os irmãos presos no interior da mãe. A situação final foi que Urano não procriou novamente, mas o esperma que caiu de seus genitais cortados produziu a deusa Afrodite, saída de uma espuma da água, ao mesmo tempo que o sangue de sua ferida gerou as Ninfas Melíades, as Erínias e os Gigantes, quando atingiu a terra.[30] Sem a interferência do pai, Cronos tornou-se o rei dos deuses com sua irmã e esposa Reia como cônjuge e os outros Titãs como sua corte.

O pensamento antigo grego considerava a teogonia–que engloba a cosmogonia e a cosmologia, temas desssa subseção–como o protótipo do gênero poético e lhe atribuía poderes quase mágicos. Por exemplo: Orfeu, o poeta e músico da mitologia grega, proclamava e cantava as teogonias com o intuito de acalmar ondas e tormentas–como consta no poema épico Os Argonautas, de Apolónio de Rodes–e também para acalmar os corações frios dos deuses do mundo inferior, quando descia à Hades. A importância da teogonia encontra-se também no Hino Homérico à Hermes, quando Hermes inventa a lira e a primeira coisa que faz com o instrumento em mãos é cantar o nascimento dos deuses.[32]

Cronos Mutilando Urano, por Giorgio Vasari e Gherardi Christofano (século XVI). Palazzo Vecchio, Florença.

Contudo, a Teogonia não é somente o único e mais completo tratado da mitologia grega que se conservou até nossos dias, mas também o relato mais completo no que diz respeito a função arcaica dos poetas, com sua larga invocação premilinar das Musas. Foi também tema de muitos poemas perdidos, incluindo os atribuídos à Orfeu, Museu, Epimênides, Ábaris e outros profetas legendários, cujos versos costumavam ser usados em rituais privados de purificação e em religião de mistérios. Inclusive, há indícios de que Platão se familirizou com alguma versão da teogonia órfica.[33] Poucos fragmentos dessas obras sobreviveram em citações de filósofos neoplatonistas e em fragmentos recentemente desenterrados, escritos em papiro. Um desses documentos, o papiro de Derveni, demonstra atualmente que pelo menos no século V a. C. existiu um poema teogônico-cosmogônico de Orfeu. Este poema tentou superar a Teogonia de Hesíodo e a genealogia dos deuses se ampliou com o surgimento de Nix (a Noite), marcando um começo definitivo que havia surgido antes dos seres Urano, Cronos e Zeus.[34][35]

Deuses gregos

Veja também: Deuses olímpicos e Monte Olimpo
Os Doze Deuses Gregos (Zeus no trono), por Nicolas-André Monsiau (1754- 1837), finais do séc. XVIII.

Quando Cronos tomou o lugar de Urano, tornou-se tão perverso quanto o pai. Com sua irmã Reia, procriou os primeiros deuses olímpicos (Héstia, Deméter, Hera, Hades, Posídon e Zeus), mas logo os devorou enquanto nasciam, pelo medo de que um deles o destronasse. Mas Zeus, o filho mais novo, com a ajuda da mãe, conseguiu escapar do destino e travou uma guerra contra seu progenitor, cujo vencedor ganharia o trono dos deuses.[30] Ao final, com a força dos Cíclopes–a quem libertou do Tártaro–Zeus venceu e condenou Cronos e os outros Titãs na prisão do Tártaro, depois de obrigar o pai a vomitar seus irmãos.[30] Para a mitologia clássica, depois dessa destituição dos Titãs, um novo panteão de deuses e deusas surgiu. Entre os principais deuses gregos estavam os olímpicos- cuja limitação de seu número para doze parece ter sido uma idéia moderna, e não antiga [37] - que residiam no Olimpo abaixo dos olhos de Zeus. Nesta fase, os olímpicos não eram os únicos deuses que os gregos adoravam: existiam uma variedade de divindades rupestres, como o deus-cabra , as ninfasNáiades (que moravam nas nascentes), Dríades (espíritos das árvores) e as Nereidas (que habitavam o mar) —, deuses de rios, Sátiros e outras divindades que residiam em florestas, bosques e mares. Além dessas criaturas, existiam no imaginário grego seres como as Erínias (ou Fúrias) (que habitavam o submundo), cuja função era perseguir os culpados de homicídio, má conduta familiar, heresia ou perjúrio.[38]

Para honrar o antigo panteão grego, compôs-se os famosos hinos homéricos (conjunto de 33 canções).[15] Alguns estudiosos, como Gregory Nagy, consideram que os hinos homéricos são simples prelúdios, se comparado com a Teogonia, onde cada hino invoca um deus.[39] No entanto, os deuses gregos, embora poderosos e dignos de homenagens como as presentes nestes hinos, eram essencialmente humanos (praticavam violência, possuíam ciúme, coléra, ódio e inveja, tinham grandezas e fraquezas humanas), embora fossem donos de corpos físicos ideais.[40] De acordo com o estudioso Walter Burkert, a definição para essa característica do antropomorfismo grego é que "os deuses da Grécia são pessoas, e não abstrações, idéias ou conceitos".[41] Independentemente de suas formas humanas, os deuses gregos tinham muitas habilidades fantásticas, sendo as mais importantes: ter a condição de ser imúne a doenças, feridas e ao tempo; ter a capacidade de se tornar invisível; viajar longas distâncias instantaneamente e falar através de seres humanos sem estes saberem. Os gregos consideravam a imortalidade — que era assegurada pela alimentação constante de ambrosia e pela ingestão de néctar — como a característica distintiva dos deuses.[40][42]

Uma abelha captura néctar do interior de uma flor: para os gregos antigos, ingerir néctar conferia aos deuses a extensão de sua juventude.

Cada deus descende de uma genealogia própria, prossegue interesses próprios, tem uma certa área de especialização, e é regido por uma personalidade singular; no entanto, essas descrições surgem a partir de uma infinidade de locais arcaicos variantes, que não coincidem sempre com elas. Quando esses deuses eram aludidos na poesia, na oração ou em cultos, essas práticas eram realizadas mediante uma combinação de seus nomes e epitetos, que os identificavam por essas distinções do resto de suas próprias manifestações (e.x. Apolo Musageta era "Apolo, [como] chefe das Musas").

A maioria dos deuses foram associados a aspectos específicos de suas vidas: Afrodite, por exemplo, era deusa do amor e da beleza, Ares era deus da guerra, Hades o deus da morte, e Atena a deusa da sabedoria e da coragem.[43][44] Certos deuses, como Apolo e Dionísio, apresentam personalidades complexas e mais de uma função, enquanto outros, como Héstia e Hélios, revelam pequenas personificações. Os templos gregos mais impressionantes tendiam a estar dedicados a um número limitado de deuses, que foram o centro de grandes cultos panhelênicos. Interessantemente, muitas regiões dedicavam seus cultos a deuses menos conhecidos. Muitas cidades também honravam os deuses mais conhecidos com ritos locais característicos e lhes associavam mitos desconhecidos em outros lugares. Durante a era heróica — que veremos num capítulo próximo — o culto dos heróis (ou semi-deuses) complementou a dos deuses.

Era dos deuses e dos mortais

Veja também: Eras do homem
Venus (Afrodite na mitologia grega) e Anchises, por Annibale Carracci: o relacionamento entre a deusa da beleza (conhecida como Vênus na mitologia greco-romana) e um homem mortal, demonstra como ficou frequente as relações entre deuses e humanos no imaginário grego.

Unindo a idade em que os deuses viviam sós e a idade em que a interferência divina nos assuntos humanos era limitada, havia uma era de transição em que os deuses e os homens (mortais) se misturaram livremente. Estes foram os primeiros dias do mundo, quando os grupos se misturavam com mais liberdade do que fizeram depois. A maior parte das crenças dessas histórias foram reveladas posteriormente na obra Metamorfoses de Ovídio, e frequentemente são divididas em dois grupos temáticos: histórias de amor e histórias de castigo.[45] Ambas histórias tratam do envolvimento dos deuses com os humanos, seja de uma forma ou de outra:

  • Os contos de amor muitas vezes envolvem incesto, sedução ou violação de uma mulher mortal por parte de um deus, resultando em uma descendência histórica. Essas histórias sugerem geralmente que as relações entre deuses e mortais precisam ser evitadas, sendo que raramente esses envolvimentos possuem finais felizes.[46] Em poucos casos, uma divindade feminina procura um homem mortal e vive com ele, como no Hino Homérico à Afrodite, onde a deusa convive com o príncipe Anchises e acaba concebendo o chefe troiano Enéias.[47]
  • Os contos de castigo envolvem a apropriação ou invenção de algum artefato cultural importante, como quando Prometeu roubou o fogo dos deuses e quando ele ou Licaão inventou o sacríficio, quando Tântalo roubou o néctar e a ambrósia da mesa de Zeus e de seus súditos, revelando-lhes o segredo dos deuses, ou quando Deméter ensinou agricultura e os Mistérios de Elêusis a Triptolemos, ou quando Mársias inventou os aulos e, com ela, ingressou num concurso musical ao lado de Apolo. As aventuras de Prometeu marcam um ponto entre a história dos deuses e a dos homens.[48] Um fragmento de papiro anônimado, datado do século III a.C., retrata vividamente o castido que Dionísio aplicou à Lucurgo, rei de Trácia, cujo reconhecimento de novos deuses chegou demasiado tarde, ocasionando horrivéis penalidades que se extenderam por toda vida.[49] A história da chegada de Dionísio para estabelecer seu culto em Trácia foi também o tema de uma trilogia de peças dramáticas do poeta antigo Ésquilo: como em As Bacantes, onde o rei de Tébas, Penteu, é castigo por Dionísio por ter sido desrespeitoso com as Ménades, suas adoradoras.[50][51]

Ainda no assunto de relação entre deuses e mortais, há um conto antigo baseado em um tema folclórico,[52] onde Deméter está procurando por sua filha Perséfone, depois de ter tomado a forma de uma anciã chamada Doso e recebido hospitalidade de Celéu, o rei de Elêusis em Ática. Por causa de sua hospitalidade, Deméter planejou fazer imortal seu filho Demofonte, como um ato de agradecimento, mas não pôde completar o ritual porque a mãe de Demofonte, Metanira, entrou e viu seu filho rodeado de fogo, visão essa que lhe provocou, instantâneamente, um grito agudo, que enfureceu Deméter, cuja lamentação veio depois, ao refletir o fato de que os "estúpidos mortais não entendem práticas divinas".[53]

Era heróica

A idade em que os heróis viveram na mitologia grega é conhecida como Era (ou Idade) Heróica.[55] A Era Heróica surgiu no Período Arcaico, quando os gregos imaginavam "heróis" (gr. ἥρωες; sg. ἥρως) como certos personagens de lendas épicas.[54] Embora sujeitos à mortalidade, os heróis/semi-deuses se diferenciavam dos humanos pelo fato de serem capazes de façanhas impossíveis, talvez pelo fato de serem frutos de uma relação entre um mortal e um deus.[54]

Após a ascensão do culto heróico, os deuses e os heróis constituíram a esfera sagrada e são invocados juntos nos juramentos e nas orações que são dirigidas a eles.[56] Em contraste com a era dos deuses, durante a heróica a lista de heróis nunca é fixa e definitiva; já não nascem grandes deuses, mas sempre podem surgir novos heróis do exército dos mortos. Outra importante diferença entre o culto dos deuses e o dos heróis é que o segundo dos dois se torna o centro da identidade do grupo local.[57]

Os eventos monumentais de Hércules são considerados o começo da era dos heróis. Também se anexam a eles três grandes sucessos militares: a expedição argonáutica e a Guerra de Tróia, como também a Guerra de Tebas.[58]

Hércules e os Heráclidas

Para mais detalhes sobre este tópico, ver Hércules e Invasões dóricas
Escultura de Hércules, artista desconhecido. Arte romana datada do séc. XV, Musei Capitolini, Roma, Itália.

Certos estudiosos acreditam que, por de trás das complexas histórias que envolvem o mito de Hércules (ou Herácles), existiu um homem verdadeiro, talvez um senhor de vassalos em Argos.[59] Outros sugerem que o mito de Hércules é uma alegoria da passagem anual do sol pelas doze constelações do zodíaco.[59] Existe um terceiro grupo que acredita que o mito deriva de outros culturas, revelando que a história de Hércules é uma adaptação regional de mitos heróicos já estabelecidos anteriormente. Embora a existência de todas essas e muitas outras especulações, a tradição afirma que Hércules foi filho de Zeus com a mortal Alcmena, neta de Perseu.[60] Suas fantásticas façanhas, que envolvem diversos temas folclóricos, proporcionaram muito material às lendas populares. É retratado como um sacrificador, um guerreiro dotado de imenso vigor físico, com força e proezas maravilhosas, protegido por armaduras e itens das quais utilizava com destreza, demonstrando superioridade às habilidades do homem mortal comum.[60] Quanto à iconografia, nas artes visuais — pelo menos no período arcaico — Hércules sempre fora apresentado com barba, pele de leão e clava nas mãos, com grandes músculos expostos nas pernas e nos braços.[61] Já no século IV, a popularidade do herói decresceu e, talvez um pouco por isso, suas características humanas foram reforçadas mais do que as heróicas, e passou a ser representado sem barba e frequentemente sem armas de combate.[60]

Na literatura, Eurípedes produziu a peça trágica Hércules (ou Hércules Enlouquecido, Hércules Furioso), onde explora o mito do herói, revelando a conturbada existência da figura em questão, que está prestes a cometer suícidio, mas que é encorajado a viver pelo amigo e rei de Atenas, Teseu.[62] Na peça As Traquinianas, Hércules aparece aqui através da escrita de Sófocles.[63] Esses dois textos da Grécia antiga, resguardados até os dias atuais, nos conferiram detalhes preciosos acerca dos mitos sobre o herói mais popular e interessante da mitologia grega.[60]

Os Heráclidas eram descendentes de Hércules. Nesta antiga escultura, o legendário herói e seu bebê Télefo. (Museu do Louvre, Paris.)

Hércules atingiu o mais alto prestígio social através de sua nomeação como ancestro oficial dos reis dóricos. Isto serviu provavelmente como legitimação para as invasões dóricas no Peloponeso. Um exemplo disto é o herói mitológico Hilo, epônimo de uma tribo dórica, que se converteu em Heráclida (nome que recebiam os numerosos descendentes de Hércules,[64] especialmente os descendentes de Hilo — outros Heráclidas existentes são Macária, Lamos, Manto, Tlepólemo e Télefo). Estes Heráclidas conquistaram os reinos peloponesos de Micenas, Esparta e Argos, alegando, segundo o mito, o direito de governá-los devido sua ascendência. A ascensão dos Heráclidas é muitas vezes denominada "Invasão Dórica" (ver artigo). Um fato interessante é que os reis lídios e, posteriormente, os reis macedôniso — como governantes de um mesmo reino — também passaram a ser Heráclidas.[65]

Embora Hércules tenha morrido, como é destino de todo mortal, por conta de seu lado humano (derivado da mãe Alcmea), alguns gregos — especialmente Píndaro, que o chamava de "herói-deus"[66] — acreditavam que, por conta de seu lado divino (advindo da descendência de Zeus), ele subiu ao Olimpo e tornou-se um deus.[60] A figura lendária deste herói, portanto, permeou durante algum tempo uma simbologia voltada à terra, aos heróis, ao homem mortal, mas também atencionada ao céu, aos deuses, ao divino, ao perfeito, ao que é ideal.[60] Essa figura mista que Hércules apresenta, em que o lado mortal e o lado divino se confundem, era muito reforçada em diversos cultos e sacrifícios realizados provavelmente em Creta, onde os gregos ofereciam-lhe sacrifícios primeiramente como herói e, somente depois, como um ser divino.[67]

Além das façanhas heróicas de Hércules, outros membros dessa primeira geração de heróis, como Perseu, Teseu, Deucalião e Belerofonte, realizaram feitos muito semelhantes à ele, sempre realizando-os solitariamente, sem nenhuma outra ajuda, o que aconteceu quando enfrentaram monstros como Quimera e Medusa em mitos que beiram à contos de fandas (esses combates solitários só apresentam ainda mais a capacidade sobrehumana dessas personagens). Enviar um herói a uma morte presumida é um tema frequente nesta primeira tradição heróica, como acontece nas lendas de Perseu e de Belerofonte.[68]

Argonautas

Jasão levando os Argonautas à buscar o Velo de Ouro. Arte da Roma Antiga. Autor desconhecido.

Único épico helenístico conservado até os dias atuais, Argonautica, de Apolônio de Rodes, narra o mito da jornada de Jasão e os Argonautas para recuperarem o Velo de Ouro da mítica terra de Cólquida. Em Argonautica, Jasão é impelido à sua busca pelo rei Pélias, que havia recebido uma profecia onde um homem de sandálias se tornaria seu nêmesis. Jasão perde uma sandália em um rio da região, chegando na corte de Pélias e iniciando, assim, a epopéia. Quase todos os membros da seguinte geração de heróis, assim como Hércules, partiram com Jasão ao Argo para buscar o velo de ouro.

Essa geração de heróis também inclui: o mito de Teseu, que partiu à Creta para enfrentar o Minotauro; Atalanta, a heroína feminina; e Meleagro, que por sua vez tinha um ciclo épico que rivalizava com a Ilíada e a Odisséia. Píndaro, Apolônio e Apolodoro se esforçaram em dar listas detalhadas sobre os Argonautas.[69]

Embora Apolônio tenha escrito seu poema no século III a.C, a composição da história dos argonautas é anterior à Odisséia, que demonstra familiaridades com os enredos de Jasão.[70][71] Em épocas antigas, a expedição mítica era considerada como um fato histórico, um incidente na abertura do Mar Negro ao comércio e à colonização grega.[70] Também tornou-se muito popular, cuja função vai desde a criação de novas lendas locais à inspiração de diversas tragédias gregas.[71]

Casa de Atreu e Ciclo Tebano

Veja também: Os Sete Contra Tebas
"Cadmo Semeando Dentes do Dragão", por Maxfield Parrish, 1908.

Entre o Argo (capítulo anterior) e a Guerra de Tróia (capítulo seguinte), houve uma geração conhecida por seus crimes. Isto inclui os feitos de Atreu e Tiestes em Argos. Atrás do mito da casa de Atreu (uma das principais dinastias heróicas juntamente com a Casa de Lábdaco), está o problema da devolução do poder e a forma de ascensão do trono. Os gêmeos Atru e Tiéstes com seus descendentes desempenharam o papel de protagonistas na tragédia acerca da devolução de poder em Micenas.[72]

O Ciclo Tebano trata dos sucessos associados especialmente à Cadmo, o fundador da cidade de Tebas, e, posteriormente, com os feitos de Laio e Édipo na mesma região; uma série de histórias que levaram ao saqueio final da cidade a mando dos Epigonis e d'Os Sete Contra Tebas (não se sabe se estes figuraram no épico original).[73] Acerca de Édipo, os antigos relatos épicos têm seguido um padrão diferente (no qual ele continuou governando Tebas depois da revelação de que Jocasta era sua mãe e também posteriormente ao seu casamento com uma mulher que se converteu em mãe de seus filhos) do que conhecemos graças às tragédias — especialmente a mais famosa do assunto, Édipo Rei, de Sófocles — e aos relatos mitológicos posteriores à este texto antigo.[74]

Guerra de Tróia e consequências

Para mais conhecimentos sobre este tópico, ver Guerra de Tróia
Na pintura A Fúria de Aquiles , de Tiepolo (1757, afresco, 300 x 300 cm, Villa Valmarana, Vicenza), Aquiles está enfurecido pela ameaça de Agamenom de tirar seu despojo da guerra, Briseis, e desembainha sua espada para espetá-lo. A súbita aparição de Minerva, que no afresco segura os cabelos de Aquiles, evita o assassinato.

A mitologia grega culmina na Guerra de Tróia, a famosa luta entre os gregos e os troianos, incluindo suas causas e consequências. Nos trabalhos homéricos, as principais histórias já haviam tomado forma e substância, e os temas individuais foram elaborados mais tarde, especialmente dentro dos enredos dos dramas gregos. A Guerra de Tróia adquiriu também um grande interesse para a cultura romana por conta das histórias de Enéas, herói troiano, cuja jornada à Tróia levou a fundação da cidade que um dia se converteria em Roma, e é recontada por Vírgilio em Eneida (cujo Livro II contém o relato mais famoso do saqueio de Tróia).[75][76]

O Ciclo da Guerra de Tróia, uma coleção de poemas épicos, começa com os sucessos que levaram a guerra: Éris e a maçã de ouro, o julgamento de Páris, o rapto de Helena, e o sacríficio de Ifigénia em Aulis. Para resgatar Helena, os gregos organizaram uma grande expedição abaixo do mando do irmão de Menelau, Agamemnon, rei de Argos ou de Micenas, mas os troianos não quiseram libertá-la. A Ilíada, que se desenrola no décimo ano da guerra, narra em uma de suas páginas o combate entre Agamemnon com Aquiles, que era até então o melhor guerreiro da Grécia, e também narra as consequências da morte de Pátroclo (amigo de Aquiles) e de Heitor, filho mais velho de Príamo. Antes da morte, se uniram aos troianos dois exóticos aliados: Pentesileia e Memnon.[76]

Ficheiro:Laocoon02.jpg
Escultura de Caio Plínio Segundo representando o Grupo de Laocoonte (Museu do Vaticano, Roma), personagens mortos por serpentes marinhas num espisódio da Guerra de Tróia, retratado na Ilíada e na Eneida.

Aquiles matou ambos, até Páris atingir seu calcanhar mortalmente com uma flecha (daí a expressão Calcanhar de Aquiles; para mais informações, veja o artigo do guerreiro). Antes de tomar Tróia, os gregos tiveram que roubar da cidadela a imagem de madeira de Palas Atenas. Finalmente, com a ajuda de Atenas, eles construíram o Cavalo de Tróia. Apesar das advertências de Cassandra (filha de Príamo), os gregos foram convencidos por Sinon — grego que, fingindo sua argumentação, conseguiu levar o gigantesco cavalo para dentro das muralhas de Atenas. O sacerdote Laocoonte tentou destruir o cavalo, mas acabou sendo impedido por serpentes marinhas que, com suas forças, o mataram. Ao anoitecer, a frota grega regressou e os guerreiros do cavalo abriram as portas da cidade.

O Ciclo Troiano proporcionou uma variedade de temas e se converteu em fonte principal de inspiração para os antigos artistas gregos (por exemplo, as métopas de Partenon representando o saqueio de Tróia). Essa preferência artística pelos temas procedentes do ciclo troiano nos indica sua importância para a antiga civilização grega.[75] O mesmo ciclo mitológico, posteriormente, também inspirou uma série de obras literárias da Europa. Os escritores europeus medievais troianos, desconhecedores da obra de Homero, encontraram na lenda de Tróia uma rica fonte de histórias heróicas e românticas e um marco que encorajou seus próprios ideais cortesãos e cavalarescos. Alguns autores do século XII, como Benoît de Sainte-Maure (em seu Poema de Tróia) e José Iscano (em seu De bello troiano), descrevem a guerra simplesmente reescrevendo a versão padrão que encontraram em Dictis e Dares, seguindo o conselho de Horácio e o exemplo de Virgílio: reescrever um poema de Tróia com veracidade, em lugar de contar algo completamente novo.[77]

Concepções greco-romanas

O mito era o coração da sociedade grega antiga; os gregos, crentes nas histórias e nas narrativas dos poetas, estabeleceram rituais, processos, sistemas, cultos e práticas cada vez mais fundamentadas nesses lendas heróicas, divinas e humanas. Desde aquele tempo, no entanto, o ser humano precisou criar concepções lógicas acerca dessas histórias, contadas apenas por poetas.[6] Segundo os estudiosos Victor Davis Hanson e John Heat, poucos duvidavam da veracidade dos mitos relatados, e Homero era a "educação da Grécia", atribuição que prova como os mitos gregos eram a verdade (o que hoje seria a ciência, e algumas formas de religião e crenças).[78]

Filosofia e mito

A filosofia surge através do mito, mas a ele acaba se opondo.[79] Nos finais do século V a.C., depois do auge da filosofia, da oratória, e da prosa, o destino e a veracidade dos mitos se tornaram incertos e as genealogias mitológicas deram lugar a uma nova concepção da origem das coisas, sendo que essa concepção tinha como prioridade a exclusão do supernatural (isto se mostra claro nas histórias tacidianas).[80] Enquanto os poetas e dramaturgos elaboravam os mitos, os historiadores e os filósofos desprezavam-os e criticavam-os.[81]

O Platão e o Aristóteles de Rafael no afresco A Escola de Atenas (provavelmente com as aparências de Da Vinci e de Michelangelo): exclusão dos estudos de Homero, das tragédias e das tradições mitológicas, para dar espaço à outras concepções, na utópia A República.

Certos filósofos radicais, como Xenófanes, começaram no século VI a. C. a rotular os textos dos poetas como blasfêmias: Xenófones queixava-se de que Homero e Hesíodo atribuiam aos deuses "tudo o que é vergonhoso e escandaloso entre os homens, pois os deuses roubam, matam, cometem adultério, e enganam uns aos outros".[82] Essa linha de pensamento encontrou sua expressão mais dramática em A República (acerca da justiça, do universo e dos diversos tipos de governo) e em Leis (que trata da lei divina e natural, da educação e da relação entre filosofia, política e religião) de Platão. Platão criou os seus próprios mitos alegóricos (como o de Er em A República), atacando os contos tradicionais dos trucos, e tratando os furtos e os adultérios como imorais, opondo-se ao papel central que vinham tomando na literatura grega. A crítica de Platão - que rotulava os mitos de " " -[83] foi o primeiro exercício e desafio sério à tradição mitológica homérica.[84] Aristóteles, por sua vez, criticou o enfoque filosófico pré-socrático quase-mitológico e destacou que "Hesíodo e os escritores telógicos estavam preocupados unicamente com o que lhes parecia plausível e não tinham respeito pelos outros [...] Mas não merece a pena tomar a sério os escritores que alardeiam o estilo mitológico; aqueles que procedem a demonstrar suas afirmações devem ser re-examinados".[80]Imagem:Plato-raphael.jpg

As explicações filosóficas, que pretendiam revisar as mitológicas, criaram consequências para seus autores: Anaxágoras, por exemplo, partiu para um auto-exílio fora de Atenas, por duvidar que a lua fosse uma deusa (explicação mitológica) e afirmar que, pelo contrário, vislumbrava em sua terra mares e montanhas.[79] Aristóteles, que não aceitava a explicação de que o titã Atlas carregava a terra e o céu nas costas (afirmação que rotulou de "ignorância e superstição do povo grego")[85], exilou-se por temer que terminasse como Sócrates, que obteve acusação de impiedade e morreu.[79] Sócrates foi condenado com 71 anos, acusado, entre outras coisas, de ateísmo e de corromper os jovens com seus ensinamentos. Meleto, um dos acusadores, havia argumentado que "[...]Sócrates é culpado do crime de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo Estado e de introduzir divindades novas; ele é ainda culpado de corromper a juventude. Castigo pedido: a morte". [86] Sócrates, após ficar preso a ferros durante 30 dias, morreu num método de veneno da prisão da época.[87]

Essas perseguições se extenderam épocas depois, atingindo seu auge na Idade média (onde o cristianismo substituiu a filosofia) e declinando durante o Renascimento e principalmente no Iluminismo (onde a filosofia grega começava a ser retomada e revisada).[79] Todavia, Platão não cuidou de separar si mesmo e sua sociedade da influência dos mitos: sua própria caracterização de Sócrates é baseada nos patronos tradicionais trágicos e homéricos, usados pelo filósofo para louvar a reta da vida de seu mentor:

A Morte de Sócrates (1787, MMA, NI), por David: nota-se entre os amigos de Sócrates e no carcereiro (o que lhe entrega a taça envenenada) uma profunda expressão de insatisfação.

Hanson e Heath estimam que a rejeição de Platão acerca da tradição homérica não obteve boa recepção pela base da civilização grega.[84] Nesta etapa, os mitos mais antigos se mantiveram em cultos locais e seguiram influenciando a poesia e constituindo o tema principal da pintura e da escultura na Grécia antiga.[80]

Complementamente, o dramaturgo do século V a.C. Eurípedes elaborava intertextualidade com as antigas tradições, embora ele tenha aplicado nos diálogos de suas personagens notas de dúvidas sobre a veracidade dessas histórias, mas o foco dessas peças era completamente voltada aos mitos. Curiosamente, muitas dessas obras de Eurípedes tinham como função responder à versões de um predecessor que havia inserido formas diferentes de um mesmo mito (assim, Eurípedes dava nova roupagem à lendas antigas). O dramaturgo impugna principalmente os mitos sobre os deuses e inicia sua crítica com um objetivo similiar ao previamente expresso por Xenócrates: "os deuses, como se representavam tradicionalmente, são demasiado antropomórficos".[82]

Racionalismo helenístico e romano

No Helenismo, a mitologia adquire o prestígio do conhecimento da elite que encontrava nos feitos de seus possessores algo pertencente a determinada classe. Ao mesmo tempo, o giro cético da idade clássica tornou-se ainda mais defendida e pronunciada.[88] O mitógrafo grego Evêmero, por exemplo, estabeleceu uma tradição cuja prioridade era buscar uma base histórica real para seres e eventos míticos.[89]

Cícero via-se como o defensor da ordem estabelecida, apesar de seu ceticismo em relação aos mitos e sua inclinação de fazer concepções mais filosóficas sobre as divindades.

O racionalismo hermenêutico (relativo à Hermes) acerca do mito tornou-se ainda mais popular sob o Império Romano, graças às teorias fisicalistas do estoicismo e graças à filosofia espicurista. Os estoicos apresentavam explicações dos deuses e dos heróis como fenômenos físicos, enquanto que os evêmeristas compreendiam-os como figuras históricas. Contudo, os estoicos — assim como os neoplatonistas — promoviam os significados morais da tradição mitológica, frequentemente basendo-se nas etimologias gregas.[90] Mediante sua mensagem epicuriana, Lucrécio buscava expulsar os temores supersticiosos das mentes de seus vizinhos e cidadãos.[91] Lívio, igualmente, é cético acerca da tradição mitológica e clama que não tinha como intenção ajuizar tais lendas.[88] O desafio dos romanos com um forte sentido apologético da tradição religiosa era defender essa tradição enquanto concediam que isto era frequentemente um terreno fértil para a superstição. O antiquário Varrão — que considerava a religião uma instituição romana de grande importância para a preservação do bem social — dedicou rigorosos anos de sua vida a estudar as origens dos cultos religiosos. Em sua Antiquitates Rerum Divinarum (que não sobreviveu aos nossos dias, embora De Civitate Dei, de Agostinho, conserva seu foco geral), Varrão argumenta que, enquanto o homem supersticioso teme os deuses, a autêntica persona religiosa os venera como parentes de uma mesma família.[91]

Em sua obra, existiam três tipos de deuses:

  • Os deuses da natureza: personificações de fenômenos como a chuva e o fogo.
  • Os deuses dos poetas: inventados pelos bardos sem escrúpulos para incitar as paixões.
  • Os deuses da cidade: inventados pelos sábios legisladores para iluminar e acalmar a população.

Cotta, um acadêmico romano, ridicularizou tanto a acepção literal dos mitos como a alegórica, declarando rotundamente que ambas não teriam lugar na filosofia.[88] Cícero, por sua vez, desprezava os mitos, mas, como Varrão, era enfático em seu apoio para a religião e suas consecutivas instituições estatais. É difícil saber quão baixo se extendia esse racionalismo na escala social.[88] Cícero afirma que ninguém (nem mesmo velhos, mulheres ou crianças, ou qualquer outro tipo de coisa) é tolo a ponto de crer nos terrores de Hades ou na existência de Cila, de centauros e de outras criaturas compósitas,[92]todavia, por outro lado, o orador queixa-se constantemente do caráter supersticioso e crédulo das pessoas.[93] De natura deorum é o resumo mais exaustivo dessa linha de pensamento fixada por Cícero.

Tendências sincronatórias

Para mais informações sobre essa seção, ver Mitologia romana
Na religião romana, o culto do deus grego Apolo (na imagem estátua romana de um original grego, no Musei Capitolini, Roma) foi sincronizado com o culto de Sol Invicto. A adoração do sol como protetor do império permanceu como principal culto imperial até ser substiuído pelo Cristianismo.

Durante a época do auge romano, apareceu uma tendência popular de sincronizar os múltiplos deuses gregos e estrangeiros em novos cultos estranhos e quase irreconhecíveis. A sincronização ocorreu principalmente pelo fato dos romanos terem um conjunto/panteão de mitos muito precário, fazendo com que a tradição de mitos gregos fossem misturadas com os principais deuses romanos (interligando equivalentes das duas tradições).[88] os deuses Zeus e Júpiter são exemplos desse envolvimento mitológico. Ainda nessa etapa de combinação entre duas tradições mitológicas, tudo indica que a associação dos romanos com a religião oriental resultou em mais sincronizações.[94] Um exemplo é o culto do sol, introduzido em Roma depois das campanhas de Aureliano na Síria. As divindades Mitra e Baal, ambas asiáticas, foram sincronizadas com o deus grego Apolo e com Hélio numa só figura, o Deus Sol Invicto — que possuía (na imaginação dos povos) atributos somados e, nas práticas de cultos, ritos conglomerados.[95] Apolo podia ser cada vez mais identificado na religião com Hélios ou incluso com Dionísio, mas os textos que recapitulavam seus mitos raramente refletiam essas metamorfoses. A literatura mitológica tradicional estava cada vez mais disassociada das práticas religiosas reais.

A coleção de Hinos Órficos e da Saturnália de Macróbio, conservadas desde o século II, também estão influídas pelas teorias racionalistas e pelas tendências sincronatórias. Os hinos órficos são um conjunto de composições poéticas pré-clássicas, atribuídas à Orfeu. Na realidade, estes poemas foram provavelmente compostos por vários poetas, e contém um rico conjunto de pistas sobre a mitologia pré-históricas da Europa. O objetivo da Saturnália é a de transmitir a cultura helênica que havia obtido de suas leituras, apesar de seu tratamento dos deuses ser contaminado pela mitologia e pela teologia egípcia e norte-africana (que também acabam afetando a interpretação de Virgílio). Na Saturnália, reaparecem os comentários mitográficos influídos pelos evemeristas, estoicos e pelos neoplatônicos.[90]

Declínio

No capítulo anterior, vimos como os gregos começaram a dar novas interpretações acerca das coisas, e como começaram a desacreditar dos poetas e dos dramaturgos, que insistiam em inventar narrativas e lendas sobre a origem de tudo. Ao tentar aprofundar sua compreensão sobre os mitos gregos, o homem da Grécia antiga encontrou certas limitações e contradições nessas histórias, o que desencadeou em uma série de processos filosóficos.[6] A filosofia surge justamente para compreender a verdade, mas de uma outra forma. Para uma das maiores intelectuais brasileira, Marilena Chaui, uma dessas contradições foi o fato de que os gregos começaram a realizar certas viagens marítimas e explorar algumas regiões das quais acreditavam serem habitadas por deuses, sendo que, quando a visitaram, puderam constatar que era povoada por seres humanos.[96]

Concepção de um trirreme da Grécia antiga: as explorações marítimas dos gregos – uma das primeiras do homem antigo – contribuíram para a decadência do mito.

A invenção do calendário por parte dos gregos, que conseguiram calcular o tempo como forma de prever e entender os estados térmicos e também o sol, a chuva e outros fatores climáticos, proporcionou uma grande mudança na crença dos mitos – antes vistos como feitos divinos imcompreensíveis.[97] A invanção da moeda como forma de trocas abstratas e a escrita alfabética para materializar textos antes apenas oratórios, além da invenção da política para a exposição das opiniões da sociedade, foram marcos da sociedade grega que, com o início dessa vida urbana e um tanto mais moderna, lançou bases para o artesanato, o comércio e outras criações que começaram a desprezar os mitos.[6]

Com essas mudanças, o homem se viu em uma necessidade de entendê-las e de desenvolvê-las, no que se criou a filosofia para suprir essa incompreensão.[97] Como podemos ver, as habilidades poderosas de mudança saíram das mãos dos deuses imaginários e foram assumidas pelos homens antigos (e se extendem até nossos dias, onde, por exemplo, acreditamos que uma boa administração política pode influenciar a vida de uma sociedade).

Interpretações modernas

Para informações adicionais sobre as sub-seções deste tópico, ver Psicologia analítica e Antropologia estruturalista
O alemão Winckelmann, através dos trabalhos de estudiosos como Gesner e Heyne, estabeleceu as primeiras distinções entre arte Grega, Greco-Romana e Romana.

A gênesis da moderna compreensão da mitologia grega é considerada por certos escolares como uma dupla reação dos finais do século XVIII contra "a tradicional atitude da animosidade do Cristianismo", onde a reinterpretação cristiana dos mitos como uma "mentira" ou "fábula" havia se conservado.[98] Na Alemanha, em cerca de 1795, houve um crescente interesse por Homero e pela mitologia grega. Em Gotinha, Johann Matthias Gesner começo a dar alma aos estudos gregos, enquanto seu sucessor, Christian Gottlob Heyne, trabalhou com Johann Joachim Winckelmann, e desenvolveu as bases para a pesquisa e investigação mitológica tanta na Alemanha como em outros lugares lugares.[99] Heyne abordou o mito como filólogo e moldou os alemães educados na concepção da antiguidade ao longo de quase meio século, durante o qual a Grécia antiga exerceu uma intensa influência na vida intelectual da Alemanha.[100]

A mitologia comparativa é a comparação dos mitos de diferentes culturas que possui a intenção de identificar os temas e as características compartilhadas.[101] A mitologia comparativa tem servido de uma variedade de fins acadêmicos. Por exemplo: os estudiosos têm utilizado as relações entre os diversos mitos para rastrear a evolução das religiões e das culturas, para propor origens comuns de diferentes culturas, e para apoiar várias teorias psicológicas. Falando em psicologia, as modernas interpretações do mito grego abriu espaço para uma abrangente compreensão psicológica acerca deles. Alguns estudiosos propõem que mitos de diferentes culturas revelam a mesma, ou semelhante, força psicológica no trabalho dessas culturas. Assim, alguns pensadores freudianos têm identificado histórias semelhantes à história grega de Édipo em culturas diferentes. Eles argumentam que estas histórias refletem as diferentes expressões do Complexo de Édipo nessas culturas.[102] De mesmo modo, pensadores junguianos têm identificado imagens, temas e padrões que aparecem, do mesmo modo, nos mitos de muitas culturas diferentes. Eles acreditam que essas semelhanças são resultados de arquétipos presentes no inconsciente coletivo dos níveis mentais de cada pessoa.[103]

Enfoques comparativos e psicanalíticos

Max Müller é considerado um dos fundadores da mitologia comparativa. Em seu Mitologia Comparativa (1867), Müller analisa a "perturbadora" similaridade entre as mitologias de "raças selvagens" com as primeiras raças européias.

O desenrolar da filologia comparativa no século XIX - junto com os descobrimentos etnológicos do século XX - fundou a ciência da mitologia. Desde o Romantismo, todo o estudo dos mitos era comparativo. Wilhelm Mannhardt, James Frazer e Stith Thompson ampliaram o foco comparativo para recoletar e classificar os temas do folclore e da mitologia.[104] Em 1871, Edward Burnett Tylor publicou seu Primitive Culture, onde aplicou o método comparativo com a intenção de explicar a origem e a evolução da religião.[105][106] O procedimento de Taylor de agrupar o material mítico, ritualístico e cultural de culturas ampliamente separadas influenciou tanto Carl Jung como Joseph Campbell. Max Müller aplicou a nova ciência da mitologia comparativa ao estudo dos mitos, no qual se detectou os restos distorcionados do culto à natureza ariana.[104] Bronisław Malinowski enfatizou as formas nas quais os mitos cumpriam funções sociais comuns. Claude Lévi-Strauss e outros estruturalistas compararam as relações formais e paternas em mitos de todo o mundo.[104]

Ficheiro:Kerenyi karoly.jpg
Para Karl Kerényi, mitologia é "um corpo de material contido nos contos sobre deuses, seres semelhantes a deuses, batalhas heróicas e viagens para o submundo mitológico é a melhor palavra grega para seus contos conhecidos, mas não mais propícios à remodelagens."

Sigmund Freud introduziu uma concepção transhistórica e biológica do homem e uma visão do mito como expressão de idéias reprimidas. A interpretação dos sonos é uma base da interpretação freudiana dos mitos e seu conceito de sonhos reconhece a importância das relaçõex contextuais para a interpretação de qualquer elemento individual de um sonho. Essa sugestão encontraria um importante ponto de acercamento entre as visões estruturalistas e psicoanalísticas dos mitos no pensamento de Freud.[107] Carl Jung extendeu o enfoque transhistórico e psicológico com sua teoria do inconsciente coletivo e os arquétipos (patronos arcaicos herdados), às vezes codificiados nos mitos, que surgem dela.[2] Segundo Jung, "os elementos estruturais que forma os mitos devem ser apresentados na psique inconsciente".[108] Comparando a metodologia de Jung com a teoria de Joseph Campbell, Robert A. Segal conclui que "para interpretar um mito, Campbell simplesmente identifica os arquétipos nele. Uma interpretação de A Odisséia, p. ex., mostraria como a vida de Odisseu se ajusta a um patrono heróico. Jung, pelo contrário, considera a identificação de arquétipos meramente o primeiro passo na interpretação de um mito".[109] Károly Kerényi, um dos fundadores dos estudos modernos do mito grego, abandonou seus primeiros pontos de vista sobre os mitos para aplicar as teorias de arquétipos de Jung aos mitos gregos.[110]

Teorias da origem

Veja também: Sincretismo
Júpiter e Tétis (1811), pelo francês neoclássico Dominique Ingres.

Existem diversas teorias sobre a origem da mitologia grega. De acordo com a Teoria Escritural, todas as lendas mitológicas procedem de relatos dos textos sagrados, no qual os feitos reais foram disfarçados e, posteriormente, alterados.[111] A Teoria Histórica, por sua vez, defende a tese de que todas as personas mencionadas na mitologia foram uma vez seres humanos reais, e as lendas sobre elas são meras adições de épocas posteriores (assim, supõem-se que a história de Éolo surgiu do fato de que este era governante de algumas ilhas do Mar Tirreno).[111] Já a Teoria Alegórica supõe que todos os mitos antigos eram alegóricos e simbólicos. Contudo, a Teoria Física se adere à idéia de que os elementos como ar, fogo e água foram originalmente objetos de adoração religiosa, sendo que as principais deidades passaram a ser personificações de esses poderes da natureza.[111] Max Müller tentou compreender uma forma religiosa indo-européia determinando sua manifestação "original". Em 1891, afirmou que "o descobrimento mais importante que se tem feito no século XIX a respeito da história antiga da humanidade [...] foi essa simples equação: Dyeus-pitar sânscrito = Zeus grego = Júpiter latino = Tyr nórdico.".[105] Em outros casos, perto dos paralelos o cárater e a função sugerem uma herança comum, mas a ausência de evidências linguísticas faz com que seja difícil prová-la, como na comparação entre Urano e o Varuna sânscrito, ou entre as Moiras e as Nornas.[112][113]

Vênus e Adônis, por Cornelis Corneliszoon van Haarlem.

A arqueologia e a mitologia, numa outra consideração, tem revelado que os gregos foram inspirador por algumas civilizações da Ásia Menor e do Oriente Próximo. Adônis parece ser o equivalente grego - mais claramente nos cultos do que em seus mitos - de um "deus moribundo" do Oriente Próximo. Tudo indica que Cíbele, por sua vez, tem suas raízes na cultura anatólica, enquanto grande parte da iconografia de Afrodite surge das deusas semíticas. Existem possíveis paralelismos entre as gerações divinas mais antigas (Caos e seus filhos) e Tiamat em Enuma Elish.[114][115] Segundo o estudioso Meyer Reinhold, "os conceitos teogônicos do Oriente Próximo, incluindo a sucessão divina mediante a violência e os conflitos gerados pelo poder, encontraram seu caminho [...] na mitologia grega."[116] Seguindo as origens indo-européias e do Oriente Próximo, alguns investigadores especulam sobre as obrigações da mitologia grega com as sociedades pré-helênicas: Creta, Micenas, Pilos, Tebas e Orcómeno.[117] Os historiadores da religião estavam fascinados por várias configurações de mitos aparentemente antigos relacionados com Creta (o deus como toro, Zeus e Europa, Pasífae que produz toro e dá a luz ao [[Minotauro; etc.). O professor Martin P. Nilsson concluiu que todos os grandes mitos da Grécia antiga estavam atados aos centros micênicos e âncorados em épocas pré-históricas.[118] Todavia, de acordo com Burkert, a iconografia do período do palácio cretentese praticamente não tem dado confirmação alguma sobre a veracidade dessas teorias.[117]

Influência na arte ocidental

O Nascimento de Vênus (c. 1485–1486, óleo sobre canvas, Uffizi, Florença), de Botticelli: uma Venus Pudica revivida para um novo ponto de vista da antiguidade pagã - muitos espectadores modernos a compreendem como o resumo do espírito renascentista.

A ampla adoção do Cristianismo no Ocidente não freou a popularidade dos mitos greco-romanos. Com o redescobrimento da antiguidade clássico no Renascimento, a poesia de Ovídio se converteu em uma influência importante para a imaginação dos poetas, dramaturgos, músicos e artistas ocidentais.[2][119] Desde os primeiros anos do Renascimento, personalidades como Leonardo da Vinci, Michelângelo e Rafael retrataram os temas pagãs da mitologia grega adicionando temas cristianos mais convencionais.[119] Mediante o latim e as obras de Ovídio, os mitos gregos influenciaram poetas medievais e renascentistas como Petrarca, Boccaccio e Dante, na Itália.[2]

No Norte da Europa, a mitologia grega nunca alcançou a mesma importância nas artes visuais, mas sua influência na literatura foi colossal. Os mitos gregos produziram efeitos na imaginação inglesa de nomes como Chaucer e John Milton e seguiu em destacando de Shakespeare à Robert Bridges, no século XX. Racine da França e Goethe da Alemanha reviveram os dramas do teatro grego antigo, re-interpretando os mitos mais antigos.[2][119] Embora o Iluminismo tenha extendido por toda a Europa uma reação contra os mitos gregos, estes continuaram sendo uma importante fonte de material para os dramaturgos, incluindo os autores de libretos de muitas óperas, como Händel e Mozart.[119] Em finais do século XVIII, o Romantismo proporcionou um aumento no entusiasmo da cultura grega, incluindo a mitologia. Na Grã-Bretanha, novas traduções em cima das tragédias gregas e das obras de Homero inspiraram poetas (como Alfred Tennyson, Keats, Byron e Shelley) e pintores contemporâneos (como Lord Leighton e Lawrence Alma-Tadema).[119] Em épocas mais recentes, os temas clássicos foram re-interpretados pelos dramaturgos Jean Anouilh, Jean Cocteau e Jean Giraudoux na França, Eugene O'Neill nos Estados Unidos e T.S. Eliot na Grã Bretanha, e por novelistas como James Joyce e André Gide.[2] Imitando Ovídio em Metamorfoses, o lusófono Cruz e Silva produziu doze metamorfoses, inteiramente influenciado pelo mito grego.[120] Na América do Sul, o polímata Monteiro Lobato - admirador do povo e da cultura grega antiga - explorou a tradição da mitologia grega cumprindo seus projetos ligados à um público infanto-juvenil (dessa forma, a obra de Lobato foi norteada através de sua compreensão de que o mito grego era o alimento do espírito, algo que ele especifica no mito nacional do Saci).[121]

Notas

  1. Prometeu Acorrentado: o texto da peça está em domínio público e pode ser lido em pdf ou em html através das seguinte ligações: Prometeu Acorrentado (html); Prometeu Acorrentado (pdf). Ligação externa: Ebooks Brasil.org.
  2. Período Geométrico: trata-se de uma fase da arte grega, caracterizada por pinturas em vasos, que data de 900 a.C à 800 a.C.

[nota 1]

Referências

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Bibliografia

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Fontes secundárias (em português, inglês e espanhol)

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Ligações externas

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