Dissolução da União Soviética: diferenças entre revisões

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A '''dissolução da [[União Soviética]]''' ocorreu em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração nº. 142-Н do [[Soviete Supremo da União Soviética]]. A declaração reconheceu a independência das antigas [[Repúblicas da União Soviética|repúblicas soviéticas]] e criou a [[Comunidade de Estados Independentes]] (CEI). No dia anterior, o presidente soviético [[Mikhail Gorbachev]], o oitavo e último [[Lista de líderes da União Soviética|líder da União Soviética]], renunciou, declarou seu cargo extinto e entregou seus poderes - incluindo o controle dos códigos do [[Bomba nuclear|arsenal nuclear]] soviético - para o [[Presidente da Rússia|presidente russo]], [[Boris Iéltsin]]. Naquela noite às 19h32, a [[Bandeira da União Soviética|bandeira soviética]] foi baixada do [[Kremlin de Moscou]] pela última vez e a substituída pela [[Bandeira da Rússia|bandeira russa]] pré-revolucionária.<ref>{{citar jornal|url=http://www.nytimes.com/learning/general/onthisday/big/1225.html#article |título=Gorbachev, Last Soviet Leader, Resigns; U.S. Recognizes Republics' Independence |obra= New York Times |acessodata=27 de abril de 2015}}</ref>
A '''dissolução da [[União Soviética]]''' ocorreu em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração nº. 142-Н do [[Soviete Supremo da União Soviética]]. A declaração reconheceu a independência das antigas [[Repúblicas da União Soviética|repúblicas soviéticas]] e criou a [[Comunidade de Estados Independentes]] (CEI). No dia anterior, o presidente soviético [[Mikhail Gorbachev]], o oitavo e último [[Lista de líderes da União Soviética|líder da União Soviética]], renunciou, declarou seu cargo extinto e entregou seus poderes - incluindo o controle dos códigos do [[Bomba nuclear|arsenal nuclear]] soviético - para o [[Presidente da Rússia|presidente russo]], [[Boris Iéltsin]]. Naquela noite às 19h32, a [[Bandeira da União Soviética|bandeira soviética]] foi baixada do [[Kremlin de Moscou]] pela última vez e a substituída pela [[Bandeira da Rússia|bandeira russa]] pré-revolucionária.<ref>{{citar jornal|url=http://www.nytimes.com/learning/general/onthisday/big/1225.html#article |título=Gorbachev, Last Soviet Leader, Resigns; U.S. Recognizes Republics' Independence |obra= New York Times |acessodata=27 de abril de 2015}}</ref>


Anteriormente, de agosto a dezembro, todas as repúblicas individualmente, incluindo a própria [[Rússia]], se separaram da União. Na semana anterior da dissolução formal da URSS, 15 repúblicas - todas, exceto os [[Estados bálticos]] e a [[Geórgia]] - assinaram o [[Protocolo de Alma-Ata]] estabelecendo formalmente a CEI e declarando que a União Soviética tinha deixado de existir.<ref>{{citar jornal|url= http://www.nytimes.com/1991/12/22/world/end-soviet-union-text-declaration-mutual-recognition-equal-basis.html |título=The End of the Soviet Union; Text of Declaration: 'Mutual Recognition' and 'an Equal Basis'|obra= New York Times |data=22 de dezembro de 1991 |acessodata=30 de março de 2013}}</ref><ref>{{citar jornal|url=http://www.nytimes.com/learning/general/onthisday/big/1225.html#article |título=Gorbachev, Last Soviet Leader, Resigns; U.S. Recognizes Republics' Independence |obra= New York Times |acessodata=30 de março de 2013}}</ref> As [[revoluções de 1989]] e a dissolução da URSS também assinalaram o fim da [[Guerra Fria]].
Após a [[Segunda Guerra Mundial]], o [[crescimento econômico]] soviético foi rápido o suficiente para dar credibilidade às estimativas de [[Nikita Kruschev]] de que o padrão de vida na União Soviética ultrapassaria o dos [[Estados Unidos]] antes de 1970, e o capitalismo seria "enterrado"<ref>ver [http://en.wikiquote.org/wiki/Nikita_Khrushchev Khrushchev na Wikiquote]</ref> antes do final do século corrente. No entanto, a política de [[perestroika|abertura econômica]] e [[glasnost|política]] levada a cabo por [[Mikhail Gorbatchev]], [[Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética|secretário-geral do Partido Comunista]] no final dos [[anos 1980]], desencadeou mobilizações pela independência de povos minoritários no país. Sob pressão externa e atravessando uma crise econômica, o governo central concordou com a reorganização do país numa [[União das Repúblicas Socialistas Soviéticas]], conferindo maior poder às administrações locais.


Várias das [[ex-repúblicas soviéticas]] têm mantido laços estreitos com a [[Federação Russa]], o [[Estado sucessor]] da URSS, e formaram organizações multilaterais, como a [[Comunidade Econômica Eurasiática]], a [[União da Rússia e Bielorrússia]], a [[União Aduaneira da Eurásia]] e a [[União Econômica Eurasiática]] para reforçar a cooperação econômica e militar. Algumas, no entanto, se distanciaram e se juntaram à [[Organização do Tratado do Atlântico Norte]] (OTAN) e à [[União Europeia]].
O golpe de agosto de 1991 praticamente abriu as comportas para o movimento de independência das repúblicas que compunham a União Soviética. As repúblicas do Báltico já tinham tentado separar-se em 1990, mas foram severamente reprimidas. Com o fracasso do golpe, o cenário mudou totalmente. As forças conservadoras estavam derrotadas e quem mandava realmente era Bóris Ieltsin – e não mais Gorbatchev, cujo poder estava completamente esvaziado.


== Histórico ==
Já no mês seguinte, setembro, as repúblicas da [[Letônia]], [[Estônia]] e [[Lituânia]], uma após a outra, reafirmaram, agora em caráter definitivo, suas declarações de independência. A própria [[Rússia]] foi um dos primeiros países a reconhecer a independência dessas repúblicas. Estava aberto o processo para as outras, que em sua grande maioria também se declararam independentes. Outra consequência importante do golpe foi a suspensão, determinada por Ieltsin em toda a Rússia, das atividades do [[Partido Comunista]], que implicou até mesmo o confisco de seus bens. A [[KGB]], o poderoso serviço secreto soviético, teve sua cúpula dissolvida.
{{União Soviética}}
=== Antecedentes ===
{{Artigo principal|Previsões de colapso da União Soviética|Era Gorbachev (1985-1991)|Revoluções de 1989|Tentativa de golpe de Estado na União Soviética em 1991}}
[[Imagem:West and East Germans at the Brandenburg Gate in 1989.jpg|thumb|Alemães em pé em cima do [[Muro de Berlim]], na [[Alemanha Oriental]], em 1989, que [[Queda do Muro de Berlim|começaria a ser destruído]] no dia seguinte]]
[[Ficheiro:BaltskýŘetěz.jpg|miniaturadaimagem|Corrente humana na [[Lituânia]] durante a [[Cadeia Báltica]], 23 de agosto de 1989.]]
[[Ficheiro:Civilian with PM Md. 1963 during the Romanian Revolution of 1989.jpg|thumb|Civis armados durante a [[Revolução Romena]]. A revolução foi a única derrubada violenta de um [[Estado comunista]] no [[Pacto de Varsóvia]].]]
[[Imagem:Econ collapse.png|thumb|A contração das economias ex-socialistas depois das [[Revoluções de 1989]]]]


Após a [[Segunda Guerra Mundial]], o [[crescimento econômico]] soviético foi rápido o suficiente para dar credibilidade às estimativas de [[Nikita Kruschev]] de que o padrão de vida na União Soviética ultrapassaria o dos [[Estados Unidos]] antes de 1970, e o capitalismo seria "enterrado"<ref>ver [http://en.wikiquote.org/wiki/Nikita_Khrushchev Khrushchev na Wikiquote]</ref> antes do final do século corrente. No entanto, a política de [[perestroika|abertura econômica]] e [[glasnost|política]] levada a cabo por [[Mikhail Gorbatchev]], [[Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética|secretário-geral do Partido Comunista]] no final dos [[anos 1980]], desencadeou mobilizações pela independência de povos minoritários no país. Sob pressão externa e atravessando uma crise econômica, o governo central concordou com a reorganização do país numa [[União das Repúblicas Socialistas Soviéticas]], conferindo maior poder às administrações locais.
Gorbatchev admitiu a implosão da União Soviética, mas ainda tentou manter o vínculo entre as repúblicas, propondo a assinatura do chamado Tratado da União. Mas suas palavras não tiveram eco, e o processo de separação se tornou irreversível. Em 4 de setembro de 1991, [[Gorbatchev]], como presidente da União Soviética, [[Boris Iéltsin]], na qualidade de presidente da Rússia, e mais os líderes de outras nove repúblicas, em sessão extraordinária do Congresso dos Deputados do Povo, apresentaram um plano de transição para criar um novo Parlamento, um Conselho de Estado e uma Comissão Econômica Inter-Republicana. Embora tentasse estabelecer os parâmetros para uma nova união entre as diversas repúblicas, esse plano, na verdade, significava o desmantelamento formal da estrutura tradicional do poder soviético. De qualquer forma, a proposta acabou sendo aprovada.

Percebendo a importância de Gorbatchev para a estabilidade da nação, naquele momento, Ieltsin prometeu o apoio da República russa ao novo plano. Enquanto isso, os líderes ocidentais também davam sinais de uma clara preferência pela permanência de Gorbatchev no poder, embora demorassem a assumir o compromisso de uma ajuda econômica mais efetiva à União Soviética. O agravamento da situação econômica era justamente o que tornava mais delicada a posição de Gorbatchev. Decididamente, o povo soviético tinha perdido a paciência com os problemas econômicos, que se manifestavam na vida diária de cada cidadão. A desorganização da economia era visível nas prateleiras vazias dos supermercados e nas filas intermináveis para comprar os produtos mais corriqueiros, como sabonete ou farinha de trigo.


Em agosto de 1991, um [[golpe de estado]] depôs Gorbachev por três dias; a [[linha-dura]] do Partido Comunista tentou reassumir o controle da URSS e impedir o prosseguimento das reformas. Liderada por [[Boris Ieltsin]], a população revoltosa forçou a volta de Gorbachev ao governo. Em resposta ao golpe, o Partido Comunista soviético foi banido da Rússia pelo então presidente Ieltsin. Após sua restituição, Gorbachev não possuía mais que um poder esvaziado, e o controle da União fora enfraquecido. Em [[25 de dezembro]] de 1991 Gorbachev renunciou à presidência da URSS e em [[31 de dezembro]] todas as funções administrativas do país cessaram de existir.
Em agosto de 1991, um [[golpe de estado]] depôs Gorbachev por três dias; a [[linha-dura]] do Partido Comunista tentou reassumir o controle da URSS e impedir o prosseguimento das reformas. Liderada por [[Boris Ieltsin]], a população revoltosa forçou a volta de Gorbachev ao governo. Em resposta ao golpe, o Partido Comunista soviético foi banido da Rússia pelo então presidente Ieltsin. Após sua restituição, Gorbachev não possuía mais que um poder esvaziado, e o controle da União fora enfraquecido. Em [[25 de dezembro]] de 1991 Gorbachev renunciou à presidência da URSS e em [[31 de dezembro]] todas as funções administrativas do país cessaram de existir.

Aprovado o plano de mudanças, faltava ainda conseguir a assinatura do Tratado da União com todas as repúblicas. Mas em 1º de dezembro de 1991 a situação se precipitou com a consolidação da independência da Ucrânia, aprovada em plebiscito por 90% da população. Uma semana depois, numa espécie de golpe branco contra Gorbatchev, os presidentes das repúblicas da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, reunidos na cidade de Brest (Bielorrússia), criaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI), decretando o fim da União Soviética. Diante disso, [[James Baker]], secretário de Estado norte-americano, declarou: “O Tratado da União, sonhado pelo presidente Gorbatchev, nunca esteve tão distante. A União Soviética não existe mais”. De fato, em 17 de dezembro Gorbatchev foi comunicado de que a União Soviética desapareceria oficialmente na passagem de Ano Novo. No dia 21 de dezembro, os líderes de 11 das 15 repúblicas soviéticas reuniram-se em [[Almaty|Alma-Ata]], então capital do [[Cazaquistão]], para referendar a decisão da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia e oficializar a criação da Comunidade de Estados Independentes ([[Comunidade dos Estados Independentes|CEI]]) e o fim da [[União Soviética]].

Anteriormente, de agosto a dezembro, todas as repúblicas individualmente, incluindo a própria [[Rússia]], se separaram da União. Na semana anterior da dissolução formal da URSS, 15 repúblicas - todas, exceto os [[Estados bálticos]] e a [[Geórgia]] - assinaram o [[Protocolo de Alma-Ata]] estabelecendo formalmente a CEI e declarando que a União Soviética tinha deixado de existir.<ref>{{citar jornal|url= http://www.nytimes.com/1991/12/22/world/end-soviet-union-text-declaration-mutual-recognition-equal-basis.html |título=The End of the Soviet Union; Text of Declaration: 'Mutual Recognition' and 'an Equal Basis'|obra= New York Times |data=22 de dezembro de 1991 |acessodata=30 de março de 2013}}</ref><ref>{{citar jornal|url=http://www.nytimes.com/learning/general/onthisday/big/1225.html#article |título=Gorbachev, Last Soviet Leader, Resigns; U.S. Recognizes Republics' Independence |obra= New York Times |acessodata=30 de março de 2013}}</ref> As [[revoluções de 1989]] e a dissolução da URSS também assinalaram o fim da [[Guerra Fria]].

O colapso do poder soviético foi um processo extremamente importante na [[história]] do final do {{séc|XX}}. No entanto, existem discrepâncias na determinação da origem deste desastre. Há diversas opiniões. Nesse sentido, diz-se que a discussão teórica sobre as reais causas do colapso foi marcada por pretensões ideológicas de um ou outro lado, isto é, tanto de analistas [[marxista]]s como [[liberalismo|liberais]].<ref>Harris, 1999, p.180</ref> Vários analistas alegam que a União Soviética na verdade não representa o verdadeiro "[[marxismo]]", mas um [[Estado]] [[Autoritarismo|autoritário]], baseado em um único [[partido]] liderado por uma [[oligarquia]] mais interessada em permanecer no poder do que na transição para o sistema socioeconômico comunista baseado no marxismo e, portanto, sua queda ocorre sem prejuízo destas ideias.<ref>Heilboner, 1990; How, 1990.</ref> Outros marxistas, ignorando os argumentos materiais, argumentam que a queda se deveu à incompetência política dos indivíduos em particular, que nem mesmo a queda da URSS representa um fracasso do marxismo reconhecido nas práticas políticas do Partido Bolchevique e, em particular, na atuação de [[Lenin]].<ref>Perlo 1991:11</ref> Várias das [[ex-repúblicas soviéticas]] têm mantido laços estreitos com a [[Federação Russa]], o [[Estado sucessor]] da URSS, e formaram organizações multilaterais, como a [[Comunidade Econômica Eurasiática]], a [[União da Rússia e Bielorrússia]], a [[União Aduaneira da Eurásia]] e a [[União Econômica Eurasiática]] para reforçar a cooperação econômica e militar. Algumas, no entanto, se distanciaram e se juntaram à [[Organização do Tratado do Atlântico Norte]] (OTAN) e à [[União Europeia]].

== Contexto ==
[[Imagem:West and East Germans at the Brandenburg Gate in 1989.jpg|thumb|Alemães em pé em cima do [[Muro de Berlim]], na [[Alemanha Oriental]], em 1989, que [[Queda do Muro de Berlim|começaria a ser destruído]] no dia seguinte]]
[[Ficheiro:BaltskýŘetěz.jpg|miniaturadaimagem|Corrente humana na [[Lituânia]] durante a [[Cadeia Báltica]], 23 de agosto de 1989.]]
[[Ficheiro:Civilian with PM Md. 1963 during the Romanian Revolution of 1989.jpg|thumb|Civis armados durante a [[Revolução Romena]]. A revolução foi a única derrubada violenta de um [[Estado comunista]] no [[Pacto de Varsóvia]].]]


Na véspera da ''[[perestroika]]'', no início de 1980, havia fortes indícios de que alguns aspectos da economia não funcionavam bem:
Na véspera da ''[[perestroika]]'', no início de 1980, havia fortes indícios de que alguns aspectos da economia não funcionavam bem:
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O mau estado das telecomunicações e tecnologias de processamento de informação não foi acidental. O sistema soviético de estrutura de poder se destinava a intercâmbio rápido de informação não sujeito a censura e/ou supervisão do partido. Sem dúvida, a baixa prioridade dada à criação de uma rede de telefones moderna pode ser interpretada mais como insegurança do [[Partido Comunista da União Soviética]] do que falta de conhecimento e recursos técnicos. O mesmo pode ser dito da prática de fechar com [[cadeado]] os computadores à disposição das empresas comerciais e estabelecer como um "crime contra o Estado" a posse não autorizada de uma máquina de cópia. O aparato de planejamento central não fez a transição de uma economia em crescimento com base na fabricação de equipamentos pesados para uma economia baseada em altas tecnologias de comunicação e [[microeletrônica]]. No Ocidente, essa transição teve lugar na década de 1970, mas a URSS optou por continuar a investir recursos na área de máquinas pesadas.
O mau estado das telecomunicações e tecnologias de processamento de informação não foi acidental. O sistema soviético de estrutura de poder se destinava a intercâmbio rápido de informação não sujeito a censura e/ou supervisão do partido. Sem dúvida, a baixa prioridade dada à criação de uma rede de telefones moderna pode ser interpretada mais como insegurança do [[Partido Comunista da União Soviética]] do que falta de conhecimento e recursos técnicos. O mesmo pode ser dito da prática de fechar com [[cadeado]] os computadores à disposição das empresas comerciais e estabelecer como um "crime contra o Estado" a posse não autorizada de uma máquina de cópia. O aparato de planejamento central não fez a transição de uma economia em crescimento com base na fabricação de equipamentos pesados para uma economia baseada em altas tecnologias de comunicação e [[microeletrônica]]. No Ocidente, essa transição teve lugar na década de 1970, mas a URSS optou por continuar a investir recursos na área de máquinas pesadas.


Outros grandes inconvenientes do sistema de planejamento soviético teriam sido:
== Crise na União Soviética ==
Atualmente, não há uma avaliação única e uma análise exaustiva das razões que levaram ao colapso da URSS. Entre os muitos fatores que influenciaram esse processo estão os seguintes:


# Sua máquina burocrática enorme que, como mencionado anteriormente, não tinha meios modernos de gestão (telecomunicações, computadores, eletrônicos);
# Sua máquina burocrática enorme que, como mencionado anteriormente, não tinha meios modernos de gestão (telecomunicações, computadores, eletrônicos);
# O problema da alocação de recursos. Nos negócios, os gerentes foram sujeitos a uma fiscalização pelos chefes de gabinete, a fim de assegurar que se encaixassem em uma lista de regras e regulamentos, o que teve várias consequências inesperadas. O montante da ajuda concedida às empresas na forma de bônus de incentivo era determinado pelo número de empregados, o que levou à contratação de um grande número de trabalhadores desnecessários.<ref>FMI 1990:31 </ref> As cotas de produção foram definidas em termos quantitativos por si só, o que resultou na produção de baixa qualidade. Estes valores puramente quantitativos foram um convite para responder a estas cotas de forma enganosa: "Desde que os [[salário]]s, [[bônus]] e promoções dependiam de terem sido atingidos os objetivos definidos pelo plano, o sistema de planejamento central induzia, ou melhor, distorcia os resultados".<ref>Armstrong, 1989:24 </ref> Além disso, as empresas muitas vezes incharam suas necessidades de [[matérias-primas]] e exigências de investimento, na esperança de ter o suficiente para satisfazer ou exceder as metas quantitativas definidas de produção;
# O problema da alocação de recursos. Nos negócios, os gerentes foram sujeitos a uma fiscalização pelos chefes de gabinete, a fim de assegurar que se encaixassem em uma lista de regras e regulamentos, o que teve várias consequências inesperadas. O montante da ajuda concedida às empresas na forma de bônus de incentivo era determinado pelo número de empregados, o que levou à contratação de um grande número de trabalhadores desnecessários.<ref>FMI 1990:31 </ref> As cotas de produção foram definidas em termos quantitativos por si só, o que resultou na produção de baixa qualidade. Estes valores puramente quantitativos foram um convite para responder a estas cotas de forma enganosa: "Desde que os [[salário]]s, [[bônus]] e promoções dependiam de terem sido atingidos os objetivos definidos pelo plano, o sistema de planejamento central induzia, ou melhor, distorcia os resultados".<ref>Armstrong, 1989:24 </ref> Além disso, as empresas muitas vezes incharam suas necessidades de [[matérias-primas]] e exigências de investimento, na esperança de ter o suficiente para satisfazer ou exceder as metas quantitativas definidas de produção;
# Os [[orçamento]]s brandos de que fala Catherine Verdery.<ref>Verdery, 1991:442</ref> Eles foram um meio de não garantir a sobrevivência das empresas mais aptas. Qualquer empresa deficitária recebia recursos para superar os maus momentos. E a gestão sofria com problemas de recursos e acumulação desnecessária, além do [[emprego]] e o investimento praticamente desnecessário.
# Os [[orçamento]]s brandos de que fala Catherine Verdery.<ref>Verdery, 1991:442</ref> Eles foram um meio de não garantir a sobrevivência das empresas mais aptas. Qualquer empresa deficitária recebia recursos para superar os maus momentos. E a gestão sofria com problemas de recursos e acumulação desnecessária, além do [[emprego]] e o investimento praticamente desnecessário.
# . A ineficiência e estagnação da economia planificada soviética, expressa de forma mais aguda pela escassez crônica de mercadorias, a queda dos preços do petróleo, que naquela época era a principal fonte de divisas necessárias para pagar as importações, incluindo alimentos;
# heterogeneidade étnica, cultural e civilizacional das partes constituintes da URSS (as chamadas "repúblicas sindicais"), supressão dos resquícios da "autonomia" nacional local;
# Modelo de "Nomenklatura" do sistema político soviético, estagnação de pessoal e degradação da elite política. A rápida perda de autoridade na sociedade do Comitê Central do PCUS. O enriquecimento tácito da nomenklatura soviética, a presença de sistemas de distribuição fechados, a corrupção da classe dominante tendo como pano de fundo a estagnação da economia do modelo "socialista" e o relativo empobrecimento da população nos anos 1980;
# A natureza autoritária do sistema político soviético. Ausência, na prática, de direitos civis e liberdades elementares entre a população, perseguição à liberdade de expressão, coletivismo forçado, domínio de uma ideologia, isolacionismo, censura;
#O desenvolvimento industrial e econômico desigual dentro do país, o crescente atraso econômico, tecnológico e científico em relação aos países pós-industriais do Ocidente e a dependência de importações (tanto bens de alta tecnologia quanto bens elementares como trigo). O atraso crônico no padrão de vida dos países ocidentais;
#Uma parcela desproporcionalmente grande do PIB direcionada para áreas não produtivas (aparelho estatal, exército, KGB);
#Uma nova rodada da Guerra Fria e da corrida armamentista desencadeada, principalmente, pelo governo estadunidense de Ronald Reagan;
#Gastos excessivos financiando países sob a influência de Moscou;
#Monocentrismo no mecanismo de tomada de decisão. Todas as decisões importantes foram tomadas no "centro sindical", o que gerou ineficiência, burocracia, perda de tempo e insatisfação com as autoridades regionais;
#O crescente descontentamento da população associado às constantes interrupções no fornecimento de alimentos e outros bens essenciais, o sistema de cartões (cupons), introduzido em todos os lugares no final da década de 1980.
#Instabilidade política, protestos e, por fim, dissidência.


Todos esses fatores ajudaram a moldar uma economia única, que tem se caracterizou pela escassez, longas filas, o acúmulo de trabalhos desnecessários, o [[personalismo]], a [[corrupção]] persistente, que chegou a "o empregado que escondeu algo sob o balcão para guardar para seus amigos ou parentes, ou até mesmo para receber [[suborno]]".<ref>Verdery 1991:423 </ref> E, como mencionado, a estrutura de poder foi um obstáculo à inovação tecnológica, ou a favor da [[concorrência]]. Havia poucas recompensas para diretores de empresas que aplicassem processos de produção novos ou mais eficazes.<ref>Berliner 1976</ref><ref>Gregory & Stuart 1990:213</ref>
Todos esses fatores ajudaram a moldar uma economia única, que tem se caracterizou pela escassez, longas filas, o acúmulo de trabalhos desnecessários, o [[personalismo]], a [[corrupção]] persistente, que chegou a "o empregado que escondeu algo sob o balcão para guardar para seus amigos ou parentes, ou até mesmo para receber [[suborno]]".<ref>Verdery 1991:423 </ref> E, como mencionado, a estrutura de poder foi um obstáculo à inovação tecnológica, ou a favor da [[concorrência]]. Havia poucas recompensas para diretores de empresas que aplicassem processos de produção novos ou mais eficazes.<ref>Berliner 1976</ref><ref>Gregory & Stuart 1990:213</ref>


Outra razão do colapso foi o gigantismo de organizações como a [[KGB]], o [[Exército Vermelho|exército]], o [[Partido Comunista da União Soviética|Partido Comunista]] e o complexo militar-industrial que utilizavam uma enorme porcentagem dos recursos financeiros do país. Estas instituições estavam drenando as finanças: nada era negado ao KGB, ao partido e aos militares. Enquanto isso, a população vivia virtualmente uma existência comparada ao [[Terceiro mundo]].<ref>{{Citar livro|autor=Oleg Kalugin |título=SpyMaster - My 32 years in Intelligence and Espionage against the West |subtítulo= |idioma=inglês |local=Great Britain |editora=Butler and Tanner Ltd.|ano=1994|páginas=109 e 110|isbn=1 85685 071 4}}</ref>
Outra razão do colapso foi o gigantismo de organizações como a [[KGB]], o [[Exército Vermelho|exército]], o [[Partido Comunista da União Soviética|Partido Comunista]] e o complexo militar-industrial que utilizavam uma enorme porcentagem dos recursos financeiros do país. Estas instituições estavam drenando as finanças: nada era negado ao KGB, ao partido e aos militares. Enquanto isso, a população vivia virtualmente uma existência comparada ao [[Terceiro mundo]].<ref>{{Citar livro|autor=Oleg Kalugin |título=SpyMaster - My 32 years in Intelligence and Espionage against the West |subtítulo= |idioma=inglês |local=Great Britain |editora=Butler and Tanner Ltd.|ano=1994|páginas=109 e 110|isbn=1 85685 071 4}}</ref>

=== Crise Economica ===
{{Ver artigo principal|Rublo soviético|Economia da União Soviética|Planos Quinquenais|Economia planificada}}
Em seus últimos anos, a União Soviética passava por uma profunda crise  econômica, porém, ela sozinha não é o suficiente para explicar sua desagregação  territorial. A Economia da União Soviética era organizada aos moldes do  “Socialismo Real” – também chamado de Socialismo Realmente Existente” – onde a propriedade, ao invés de privada como no modelo capitalista, era estatal;  e os preços eram “escolhidos” por uma burocracia. Todos os setores econômicos  – agricultura, pecuária, indústria, etc. e etc. – estavam sujeitos ao planejamento econômico estatal. Isso significa que a burocracia, previamente, planeja a  quantidade que vai produzir, onde vai produzir, etc.[[Imagem:Econ collapse.png|thumb|A contração das economias ex-socialistas depois das [[Revoluções de 1989]]]]A economia da União Soviética foi a segunda do mundo em termos de PIB  (paridade do poder de compra) sistema de relações sociais na esfera da produção, troca e distribuição de produtos de vários setores da economia nacional. A  participação da economia soviética representou cerca de 20% da produção  industrial mundial. No entanto, esses indicadores são macroeconômicos  absolutos, em termos de indicadores macroeconômicos relativos, a URSS não  estava no nível dos trinta primeiros desta lista, ou seja: era inferior a todos os Estados capitalistas desenvolvidos (países da Europa Ocidental, EUA, Canadá e  Japão).

Ao mesmo tempo, a URSS produziu 4 vezes menos caminhões que os  EUA, 8 vezes menos materiais sintéticos, dez vezes menos computadores  eletrônicos, 7 vezes menos papel e papelão, dezenas de vezes menos eletrodomésticos, o comprimento das ferrovias era de 2,5 vezes menos do que  nos EUA, estradas pavimentadas - 10 vezes menos, o número de telefones  instalados - 15 vezes menos do que nos EUA.

==== Histórico ====
Após sua consolidação, em 1922, a URSS estava defasada pelos recentes conflitos  que se desenrolaram em seu território – a [[Primeira Guerra Mundial]] e a [[Guerra  Civil Russa]] – e o governo de [[Lenin|Lênin]] tomou medidas desesperadas para revitalizar  a economia e reconstruir o país. Assim, adotou-se, em março de 1921, a Nova  Política Econômica - conhecida pela sigla, em inglês, NEP [''New Economic  Politic''] -, programa de medidas com o objetivo de reconstruir a nação. Alguns  aspectos da NEP representaram, de certo modo, um retorno a práticas  capitalistas: permitiram-se, por exemplo, a liberdade de comércio interno e de  salários, a criação de empresas privadas e o empréstimo de capitais estrangeiros  – embora, neste último aspecto o plano não tenha sido bem-sucedido. <ref>{{Citar web|url=https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/nep.htm|titulo=NEP (Nova Política Econômica)|acessodata=2022-07-29|website=Mundo Educação|lingua=pt-br}}</ref> <ref>{{Citar web|url=https://brasilescola.uol.com.br/historiag/revolucao-russa.htm|titulo=Revolução Russa: o que foi, causas, consequências|acessodata=2022-07-29|website=Brasil Escola|lingua=pt-br}}</ref> Cabia ao Estado, porém, a supervisão geral da economia e o controle de setores  vitais, como comércio exterior, sistema bancário e indústrias de base.

Em busca de uma rápida industrialização do país, [[Josef Stalin|Stalin]] levou adiante, em seu  governo, a nacionalização da economia (ou seja, o abandono do modelo  econômico da NEP) e a execução dos planos quinquenais, em uma política  econômica definida desde 1928. Assim, por meio do [[Economia planificada|planejamento econômico  estatal]], elaborado por técnicos do governo para períodos pré-definidos de cinco  anos, a União Soviética desenvolveu a indústria pesada, explorando reservas de  carvão, ferro e petróleo, produzindo aço e ampliando a instalação da rede de  energia elétrica; e mecanizou a agricultura e promoveu uma imensa coletivização  do campo.<ref>{{Citar web|url=https://brasilescola.uol.com.br/historiag/governo-stalin.htm|titulo=Stalinismo: o que foi, contexto, características|acessodata=2022-07-29|website=Brasil Escola|lingua=pt-br}}</ref>

A URSS conseguiu superar a crise de 1929 praticamente intacta e registrou  expressivo crescimento econômico enquanto o resto do mundo capitalista  enfrentava o declínio. Em 1922, ano de criação da URSS, menos de 1/3 de sua  produção econômica era estatal. Progressivamente, até o ano de 1931, o setor  privado encolheu enquanto o estatal aumentou até este último atingir a totalidade  da produção.<ref>CAMERA, Augusto; FABIETTI, Renato.Elementi di storia – XX secolo. Bolonha: Zanichelli,  1999. p. 1273</ref>
[[Ficheiro:SUR 100 1991 F.jpg|miniaturadaimagem|Uma nota de 100 Rublos Soviéticos. Destaca-se a silhuieta de Vladmir Lênin, considerado fundador do Estado Soviético.]]
Durante a Segunda Guerra Mundial, a URSS sofreu, de longe, as maiores baixas  humanas do conflito e sua parte ocidental estava em ruínas após anos de  ocupação da Alemanha Hitlerista: 65 mil quilômetros de trilhos ferroviários  estavam destruídos; e cerca de 100 mil fazendas coletivas encontravam-se em  ruínas. Além disso, mais de 26 milhões de pessoas tinham morrido na guerra e  outros 25 milhões estavam desabrigados, morando em locais improvisados.  Porém, o país emergiu com enorme prestígio internacional ao lado dos outros  aliados e como uma potencia militar inquestionável. Stalin comandou,  energeticamente, a reconstrução do país e esteve a frente de uma enorme  mobilização nacional.<ref>Cf. VOLKOGONOV, Dmitri. ''Stalin: triunfo e tragédia''. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004. v.2. p. 522</ref> Durante a Guerra Fria, o país continuou registrando taxas de crescimento elevadas, embora a maior parte de seus esforços estivessem voltados para a indústria pesada e os bens de consumo foram deixados a segundo plano: “A economia de comando, mobilizada com suas características típicas: estatização geral das atividades, planejamento centralizado, proliferação de agencias centrais de controle, ditadura política, relegação a um plano secundário, dos interesses imediatos e das demandas das pessoas comuns por condições melhores de vida, de trabalho, de transporte, etc. (...) Mais uma vez, os cintos deveriam ser apertados... e as consciências e vontades, mobilizados”<ref name=":0">Reis Filho, Daniel Aarão; “Crise e Desagregação do Socialismo”. P. 15-16</ref>

A URSS tinha, em seu solo, uma fortuna praticamente incalculável<ref name=":2">Nações do Mundo: União Soviética. São Paulo: Editora Cidade Cultural. 1980. P-3912 </ref>. A URSS tinha,  em sua última década de existência 1/3 de todas as reservas conhecidas no mundo  de carvão mineral e, na época de sua dissolução, os geólogos esperavam confirmar  que se tratava, na verdade, de 2/3 das reservas mundiais conhecidas. Desde da  sua época imperial, os russos sabiam da existência de reservas petrolíferas em  seus territórios e, na região do Cáucaso, ele já era extraído desde de antes da  Primeira Guerra Mundial, produzindo, sozinho, metade da demanda global da  época. 
Nos anos 70-80, a URSS estava em primeiro lugar no mundo na produção de  quase todos os tipos de produtos das indústrias básicas, aço, ferro fundido,  máquinas-ferramentas, locomotivas diesel, locomotivas elétricas, tratores,colheitadeiras, estruturas de concreto pré-moldado, minério de ferro, coque,  geladeiras, tecidos de lã, sapatos de couro, óleo animal, leite, produção de gás  natural, produção de fertilizantes à base de potássio, madeira serrada, urânio de  reator (50% da produção mundial produção), borracha sintética, tecidos de  algodão, açúcar granulado, tubos de aço, tijolos, transporte ferroviário de  mercadorias e passageiros, produção de vários tipos de equipamentos militares,  de acordo com o número total de lançamentos de naves espaciais (50% do total  de lançamentos no mundo), colheita bruta de batata, beterraba sacarina; em segundo lugar no mundo em termos de captura de peixes e outros frutos do mar,  o número de ovelhas, o número de porcos, a produção de eletricidade, mineração  de ouro, a produção de cimento, alumínio primário, fertilizantes nitrogenados,  fertilizantes fosfatados, mineração de carvão, mineração de carvão, o  comprimento total das ferrovias, volume de negócios de carga de automóveis,  frete aéreo e de trafego de passageiros.
A riqueza em recursos naturais da União Soviética fica em evidencia quando se  compara a sua produção de minérios e combustíveis com a deus competidores  mais próximos:<ref>Dados referentes a meados da década de 1980. Fonte: ''“A Riqueza de Uma Terra Imensa”''. Nações  do Mundo: União Soviética. São Paulo: Editora Cidade Cultural. 1980. P-45-67

6 </ref>
[[Ficheiro:Taxa de Crescimento médio da econômia da União Soviética por período.jpg|alt=Neste gráfico, vemos a taxa de crescimento da economia soviética ao longo de períodos específicos. Observe que nas suas duas últimas décadas de existência, se registrou crescimento econômico, ainda que modestos. |miniaturadaimagem|Neste gráfico, vemos a taxa de crescimento da economia soviética ao longo de  períodos específicos. Observe que nas suas duas últimas décadas de existência, se registrou crescimento econômico, ainda que modestos. |297x297px]]

# . A URSS estava produzindo 254 milhões de toneladas de minério de ferro por  ano, estando a frente do Brasil (92 toneladas) e dos Estados Unidos (75  toneladas);
# . A URSS produziu 716 milhões de toneladas de Carvão Mineral, estando, por  menos de 4 milhões, a frente dos EUA (712 milhões) e 47 milhões a mais que  a China (669 milhões);
# . Também era, de longe, líder mundial de exportação de petróleo, despachando  mais de 3 milhões de barris por dia para países sob sua influência e para a  Europa Ocidental capitalista, suprindo, sozinha, 20% da demanda global. A  URSS tinha uma produção de petróleo estimada em 12 mil de barris de  petróleo por dia, estando, por uma diferença de mais de 3 mil barris, a frente  do segundo colocado – os Estados Unidos – com 8.68 mil de barris por dia e  frente por mais de 6 milhões barris do terceiro colocado – a Arábia Saudita – que produzia cerca de 5 mil barris por dia – a URSS produzia 2,5 vezes mais  petróleo que a Arábia Saudita, hoje maior produtora mundial;
# . A URSS tinha em seu território uma vasta quantidade de diamantes – hoje, as  jazidas pertencem à Rússia – e ela era uma das principais produtoras  mundiais, ao lado dos países Africanos. Ela produziu cerca de 10.700 quilates  de diamantes, estando em terceiro lugar, atrás por pouca diferença da  Botsuana (10.731) e do Zaire, o primeiro colocado (11.438). Sua média era de  12 milhões de quilates por ano;
# Por último, a URSS era uma das maiores produtoras mundiais de ouro.  Produziu 332.8 quilos de ouro, estando a frente do Canadá, que produziu 70.6,  por uma larga diferença de 262,2 e atrás da África do Sul, que produziu 679.6 quilos; Estes dados demonstram que, embora enfrentasse um quadro de estagnação econômica – quando não, a desaceleração -, o país se mantinha como uma  potencia industrial de sua época. Além disso, embora a URSS apresentasse  índices de crescimento e produtividades baixos, ela continuou crescendo – embora em ritmo progressivamente mais lento – até meados de dois anos antes  de seu colapso. Observe, a seguir, a evolução da taxa de crescimento da URSS:

{| class="wikitable"
| colspan="2" |Taxas de crescimento anual médio da União Soviética (1950-1985)<ref>SEGRILLO, Ângelo. O declínio da União Soviética. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 259</ref>
|-
|1950-1959
|5,7%
|-
|1960-1969
|5,2%
|-
|1970-1975
|3,7%
|-
|1976-1979
|2,6%
|-
|1980-1985
|2%
|}
[[Ficheiro:URSS.TAXA.DE.CRESCIMENTO.jpg|miniaturadaimagem|276x276px|Taxa de crescimento da econômia soviética nos seus últimos dez anos de existencia. Observerve que, embora atravessasse uma crise econômica, ela consegiu registrar índices positivos - ainda que modestos - até dois anos antes de sua dissolução.]]
Vários fatores explicam esse declínio da produtividade soviética. Houve uma  palpável agitação entre os trabalhadores da URSS, registrando-se greves e  tentativas – todas fracassadas – de se formarem sindicatos livres, independentes  do PCUS. Haviam outros problemas como o desperdício e falta de disciplina no  trabalho, expressas no popular ditado “eles fingem que nos pagam e nós fingimos  que trabalhamos”. Havia ainda um outro problema crônico: o alcoolismo.

{{Quote|“O alcoolismo assola todas as faixas da sociedade. Já foi responsabilizado por ineficiência no trabalho, absenteísmo e crimes. Mais de 50 mil homens morreram de envenenamento agudo por álcool só em 1980. (...) O alcoolismo é citado como razão para metade dos divórcios. Nem mesmo um aumento de 300% do preço da vodca pareceter tido um efeito moderador”<ref>Nações do Mundo: União Soviética. São Paulo:Editora Cidade Cultural. 1980. P-30</ref>}}


Angelo Segrillo argumenta que gastos excessivos com setores não produtivos – como gastos militares com forças armadas e KGB – não foram determinantes  para o desmoronamento, já que os gastos soviéticos nesta área não cresceram  significativamente – e em seus últimos anos, diminuíram – quando comparada  com dados de períodos anteriores. Para ele, o colapso econômico deveu-se  principalmente a mudança do paradigma mundial de produção iniciado na  década de 1970, substituindo o modelo Fordista, onde a produção era  centralizada e com pouca flexibilidade – adotada com sucesso até então pela  rígida e inflexível “economia de comando” planejada – para o modelo toyotista,  que exigia uma flexibilidade, descentralização da produção e dinamismo – incompatível com o modelo econômico soviético.<ref>Segrillo, Angelo. O Declínio da URSS – Um Estudo das Causas. Record, 2000</ref>

Contudo, a retração economia, sozinha, ainda é incapaz de explicar o colapso do regime soviético. Nos seus últimos anos, a URSS foi capaz de manter uma taxa de crescimento quase constante e só registrou índices negativos dois anos antes de sua dissolução – em 1990, -4%; e 1991, -9% , o que demonstra que as reformas implantadas por Gorbatchev a partir de sua ascensão, em 1985, foram, em partes, as grandes responsáveis pelo agravamento – e não a causa – da crise.<ref>Segrllo, 2012, p.231</ref>

{{Quote|texto=“A julgar pela completa falta de preparo dos governos ocidentais para o súbito colapso de 1989-91, as previsões do iminente falecimento do inimigo ideológico do Ocidente não passavam de rebotalhos de retórica pública. O que levou a União Soviética com rapidez crescente para o precipício foi a combinação de glasnost, que equivalia à desintegração de autoridade, com uma perestroika que equivalia à destruição dos velhos mecanismos que faziam a economia mundial funcionar, sem oferecer qualquer alternativa; e consequentemente o colapso cada vez mais dramático do padrão de vida dos cidadãos. (...) Foi uma combinação explosiva, porque solapou as rasas fundações da unidade econômica e política da URSS”.|fonte=- Eric Hobsbawm, em "A Era dos Extremos"}}
[[Ficheiro:Leonid Brezhnev Portrait (1).jpg|miniaturadaimagem|[[Leonid Brejnev|Leonid Brezhnev]]. sua dministração ficaria conhecida pela estagnação econômica, corrupção e a [[Guerra do Afeganistão (1979–1989)|invasão do Afeganistão]] e posterior guerra<ref>{{Citar web|url=https://brasilescola.uol.com.br/guerras/ocupacao-sovietica-afeganistao.htm|titulo=Guerra do Afeganistão de 1979|acessodata=2022-07-29|website=Brasil Escola|lingua=pt-br}}</ref>.]]
Em tese, as reformas econômicas da Perestroika não surtiram efeito por que  descentralizaram o poder central sem que houvesse uma alternativa para exercer  as funções (neste caso, o livre mercado) que antes ele executava. Ao invés de  reformas, ela conduziu ao vazio e, por fim, ao colapso<ref name=":1">{{citar livro|título=A Era dos Extremos: O Breve Século XX (1914-1991)|ultimo=HOBSBAWM|primeiro=Eric J.|editora=Companhia das Letras|ano=1994|local=São Paulo}}</ref>.

Outros argumentam que, diferente da década de 1930 onde a URSS estava isolada  politicamente e economicamente do resto do mundo capitalista e conseguiu  registrar grande crescimento econômico em plena Grande Depressão, na década  de 1970 sua economia estava muito mais integrada no cenário global, tendo  relações econômicas com praticamente todas as grandes economias – inclusive  as economias capitalistas como a dos EUA, de quem comprava grãos e da Europa  Ocidental para quem exportava petróleo – e, nestas condições, não estava mais imune as crises que abalavam o resto do mundo. Os abalos nos preços de petróleo  desta década tiveram grande repercussão para a economia soviética. Neste  cenário, pode se dizer que a globalização foi uma das responsáveis pelo seu  desmoronamento.<ref>Rieger, Fernando Camara. "''A Estagnação Enomica dos anos 70 e a intervenção soviética no afeganistão: fatores para a queda da URSS''". Universidade Federal do Pampa: 2015.</ref>

A questão petrolífera é relevante na crise econômica soviética. Em reflexo ao  apoio dos Estados Unidos e de outras nações ocidentais ao Estado de Israel,, as principais nações Árabes exportadoras de petróleo anunciaram, simultaneamente, um boicote que elevou consideravelmente os  preços do petróleo. O preço do barril subiu 300% em 1973 e o mundo padeceu  com grave crise energética<ref>Odel, 1974</ref><ref>{{Citar web|url=https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/guerra-do-yom-kippur-e-a-crise-do-petroleo.htm|titulo=Guerra do Yom Kippur e a Crise do Petróleo. Guerra do Yom Kippur|acessodata=2022-07-29|website=História do Mundo|lingua=pt-br}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/guerra-do-yom-kippur-e-a-crise-do-petroleo.htm|titulo=Guerra do Yom Kippur e a Crise do Petróleo. Guerra do Yom Kippur|acessodata=2022-07-29|website=História do Mundo|lingua=pt-br}}</ref>. Como a União Soviética era líder mundial na  produção de petróleo, ela tinha esse recurso de sobra para seu próprio consumo  interno e, sendo assim, sua indústria não foi afetada pela alta do preço de um  recurso que ela não precisaria exportar. Pelo contrário, como ela era uma grande  produtora, passou a exportar petróleo para o resto do mundo a um preço muito  elevado. Alguns sinais problemáticos começaram a aparecer. Comparativamente às  décadas de 1950 e 1960, na década de 1970 houve perda do ritmo produtivo  soviético com uma quase constante diminuição das taxas de crescimento  industrial e agrícola, além da produtividade do trabalho, da renda per capita e do  Produto Interno Bruto (PIB).<ref>{{Citar web|url=https://www.globalsecurity.org/military/world/russia/cccp-history-period-of-stagnation.htm|titulo=1964-1982 - The Period of Stagnation|acessodata=2022-07-29|website=www.globalsecurity.org}}</ref>

[[Ficheiro:Oil_Prices_Since_1861.svg|centro|miniaturadaimagem|600x600px|Preços do petróleo (1861 - 2006)]]

Isso foi agravado pela queda da participação no comércio mundial. O país deixou de exportar principalmente maquinário, meios de transporte e equipamentos, como fazia nos anos 1960, para se concentrar cada vez mais na exportação de petróleo e gás (matérias-primas, portanto), os quais representavam, em 1985, perto de 53% das exportações soviéticas. Entre 1970 e 1980, as exportações soviéticas para o bloco capitalista subiram de pouco menos de 19% das exportações totais para 32%<ref>SSSR, 1987, p. 32</ref>.Os vantajosos lucros obtidos pela exportação de petróleo acabaram “maquiando” esse quadroque não parecia preocupante de imediato.[[Ficheiro:RIAN archive 644460 First stage in the Soviet troop withdrawal from Afghanistan.jpg|miniaturadaimagem|260x260px|Tropas do Exército Vermelho no Afeganistão. A invasão soviética ao país teve um custo material e humano muito alto. ]]O problema é que a economia soviética, altamente centralizada, se concentrou no petróleo e acabou relegando para segundo plano outros setores como indústria de bens de consumo, química fina, computação e etc. Sua economia ficou altamente dependente dos preços internacionais do petróleo. Na mesma época, 60% de suas importações eram basicamente de máquinas e produtos industrializados.<ref>SSSR, 1987, pp. 15-7, 32-3</ref> O país procurava com isso satisfazer suas necessidades mais prementes, segundo as determinações da nomenklatura (a alta burocracia soviética). Resolvia problemas localizados e obtinha produtos importados e receitas imediatas, sem atacar com profundidade os impasses produtivos, o que tornava cada vez mais urgente uma alteração de rumos: <ref name=":1" />

{{Quote|texto=“Comprar trigo no mercado mundial era mais fácil que tentar resolver a aparentemente crescente incapacidade da agricultura soviética de alimentar o povo da URSS. Lubrificar o enferrujado motor da economia com um sistema universal e onipresente de suborno e corrupção era mais fácil que limpá-lo e ressintonizá-lo, quanto mais substituí-lo. Quem sabia o que aconteceria a longo prazo? A curto, parecia mais importante manter os consumidores satisfeitos, ou, de qualquer forma, manter o descontentamento dentro de limites. Daí, provavelmente, na primeira metade da década de 1970, a maioria dos habitantes da URSS estar e sentir-se em melhores condições que em qualquer outra época na memória viva”}}
Alguns historiadores e economistas também argumentam que os gastos do  regime soviético com a Guerra do Afeganistão são diretamente responsáveis por  seu declínio. Porém, os gastos militares correspondentes ao período da guerra  não apresentaram significativo aumento e as taxas de crescimento econômico,  embora também não tivessem se elevado, se mantiveram em uma métrica  constante, quase estagnada. A doutrina coexistência pacífica de Kruschev– baseada, sobretudo, na destruição mútua assegurada – permitiu que a Era  Brejnev diminuísse consideravelmente os gastos militares, após uma redução  palpável da corrida armamentista. Este “corte de gastos” permitiu que mais  dinheiro pudesse ser investido em outros setores, tais como o bem-estar social.

Paradoxalmente, a “Era de Ouro da União Soviética” – o momento onde se  desfrutava de maior influencia geopolítica e melhores condições de vida – foi,  justamente o início de seu declínio. Na virada dos anos 80-90 a situação na economia soviética tornou-se crítica<ref>''Popova G. N.'' Ekonomicheskaya istoriya. Parte 1: Programa de trabalho e manual educacional e metódico para seu estudo. — Livro didático para estudantes universitários. — Omsk, Universidade Estadual de Omsk, 2006. — p. 401</ref>. Até  bens essenciais e alimentos desapareceram das prateleiras; no outono de 1989,  pela primeira vez desde a guerra, cupons de açúcar foram introduzidos em  Moscou e, no início de 1991, uma ameaça real de fome em grande escala pairava  sobre o país. A ajuda humanitária alimentar começou a chegar à URSS do  exterior. A essa altura, o governo soviético já havia perdido o controle sobre a economia do estado, como resultado de uma série de razões, que acabaram por  acelerar o colapso da União Soviética para o país.

A produção de bens de consumo era deixada a segundo plano e a qualidade dos  produtos, na maioria das vezes, deixava muito a desejar. Filas eram uma  realidade constante e era necessária uma burocracia vultuosa para se ter acesso  aos bens de consumo mais básicos: “De sacolas de compras nas mãos, os moscovitas fazem fila ao lado de  fora de uma loja para comprar sapatos de boa qualidade. (...) Há algum  tempo, formou-se uma fila durante dois dias, de dez a quinze mil  pessoas ansiosas para comprar tapetes”<ref name=":2" />

O governo de Mikhail Gorbatchev introduziu reformas liberalizantes. Em meados  de novembro de 1986, foi aprovado uma lei que aprovava o trabalho individual  privado. No maio do ano seguinte, outro estatuto foi aprovado, admitindo a  existência de empresas privadas – chamadas juridicamente de “cooperativas” – más pouco funcionou, já que a permissão veio acompanhada de uma série de  restrições e mais burocracias que, na prática, desestimulava o que queria  encorajar.<ref>{{Citar web|ultimo=Araújo|primeiro=Felipe|url=https://www.infoescola.com/uniao-sovietica/perestroika/|titulo=Perestroika|acessodata=2022-07-29|website=InfoEscola|lingua=pt-BR}}</ref>

No ano seguinte, outro passo formal: um novo pacote de medidas foi aprovado,  permitindo uma certa liberdade das empresas tomarem decisões, fixarem decidir  preços e fornecedores sem, necessariamente, uma burocracia elaborada,  enquanto os planos quinquenais seriam apenas indicativos, limitando-se a fixar  índices de produtividade fixados pelas empresas. Porém, essas medidas pouco  surtiram efeito, já que não vieram com uma regulamentação jurídica que previa  a admissão e demissão de trabalhadores, os requisitos para falência, ou um  sistema bancário definido para apoiar a iniciativa privada.<ref name=":0" />

O principal desafio as reformas de Gorbatchev nos anos 80 foi o esgotamento dos  recursos para o desenvolvimento extensivo: matérias-primas naturais, recursos  humanos. O único crescimento econômico possível tornou-se com o uso de  fatores intensivos, usando as conquistas da revolução científica e tecnológica, a  transição para a produção totalmente automatizada e o uso de novas tecnologias.  No entanto, o modelo econômico que existiu nas últimas décadas da URSS não estimulou o interesse das empresas em utilizar as conquistas da revolução  científica e tecnológica. Um maior desenvolvimento econômico foi possível  retornando ao modelo stalinista da economia de comando e informatização total  dos processos econômicos: “Na era das mudanças tempestuosas e dinâmicas, a  economia continuou mantendo sua estrutura arcaica, pesada e altamente  monopolizada, métodos de gestão herdados da fase industrial e um sistema  extremamente primitivo de motivação comportamental. O país, tendo perdido  uma série de etapas importantes (informática, economia de recursos, a  “[[revolução verde]]”), apesar de conquistas inquestionáveis, começou a se mover à  margem da revolução científica e tecnológica. Aprofundou-se o atraso do setor  agrícola, a esfera das comunicações e serviços, educação e medicina. O sistema  de comando administrativo soviético revelou-se absolutamente inadequado para  a revolução científica e tecnológica que estava ocorrendo no mundo”. <ref>Abalkin L. I. O curso de economia transitória. — M., Finstatinform, 1997. — p. 557</ref>

Daron Acemoglu e James Robinson no livro “''Por que as Nações Falham''”  argumenta que a principal razão para o colapso da URSS que no quadro da  economia socialista não foi possível criar um sistema eficaz de incentivos para  aumentar produtividade do trabalho, que não se deveu à imperfeição dos  esquemas de incentivos, que muitos foram testados na URSS, mas ao fato de que  tal sistema é, em princípio, impossível nas condições do monopólio total do PCUS  sobre o poder. Para construir tal sistema, foi necessário abandonar as instituições  econômicas extrativistas, e isso inevitavelmente leva a uma ameaça às  instituições políticas existentes. A tentativa de Gorbachev de enfraquecer essas  instituições levou ao fato de que o PCUS, que era a espinha dorsal do sistema  político, perdeu o monopólio do poder político, após o que o colapso da URSS se  tornou inevitável.<ref>Acemoglu D., Robinson J. "''A. Por que as Nações Falham''". As origens do poder, prosperidade e pobreza (2012). - M.: AST, 2016. - S. 172-184. — 693 p. — <nowiki>ISBN 978-5-17-092736-4</nowiki>.</ref>


=== Colapso ===
=== Colapso ===
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[[Ficheiro:August_1991_coup_-_awaiting_the_counterattack_outside_the_White_House_Moscow_-_panoramio.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|[[Tentativa de golpe de Estado na União Soviética em 1991|Golpe de agosto]] em [[Moscou]], 1991.]]
[[Ficheiro:August_1991_coup_-_awaiting_the_counterattack_outside_the_White_House_Moscow_-_panoramio.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|[[Tentativa de golpe de Estado na União Soviética em 1991|Golpe de agosto]] em [[Moscou]], 1991.]]


O golpe de agosto de 1991 praticamente abriu as comportas para o movimento de independência das repúblicas que compunham a União Soviética. As repúblicas do Báltico já tinham tentado separar-se em 1990, mas foram severamente reprimidas. Com o fracasso do golpe, o cenário mudou totalmente. As forças conservadoras estavam derrotadas e quem mandava realmente era Bóris Ieltsin – e não mais Gorbatchev, cujo poder estava completamente esvaziado.

Já no mês seguinte, setembro, as repúblicas da [[Letônia]], [[Estônia]] e [[Lituânia]], uma após a outra, reafirmaram, agora em caráter definitivo, suas declarações de independência. A própria [[Rússia]] foi um dos primeiros países a reconhecer a independência dessas repúblicas. Estava aberto o processo para as outras, que em sua grande maioria também se declararam independentes. Outra consequência importante do golpe foi a suspensão, determinada por Ieltsin em toda a Rússia, das atividades do [[Partido Comunista]], que implicou até mesmo o confisco de seus bens. A [[KGB]], o poderoso serviço secreto soviético, teve sua cúpula dissolvida.

Gorbatchev admitiu a implosão da União Soviética, mas ainda tentou manter o vínculo entre as repúblicas, propondo a assinatura do chamado Tratado da União. Mas suas palavras não tiveram eco, e o processo de separação se tornou irreversível. Em 4 de setembro de 1991, [[Gorbatchev]], como presidente da União Soviética, [[Boris Iéltsin]], na qualidade de presidente da Rússia, e mais os líderes de outras nove repúblicas, em sessão extraordinária do Congresso dos Deputados do Povo, apresentaram um plano de transição para criar um novo Parlamento, um Conselho de Estado e uma Comissão Econômica Inter-Republicana. Embora tentasse estabelecer os parâmetros para uma nova união entre as diversas repúblicas, esse plano, na verdade, significava o desmantelamento formal da estrutura tradicional do poder soviético. De qualquer forma, a proposta acabou sendo aprovada.

Percebendo a importância de Gorbatchev para a estabilidade da nação, naquele momento, Ieltsin prometeu o apoio da República russa ao novo plano. Enquanto isso, os líderes ocidentais também davam sinais de uma clara preferência pela permanência de Gorbatchev no poder, embora demorassem a assumir o compromisso de uma ajuda econômica mais efetiva à União Soviética. O agravamento da situação econômica era justamente o que tornava mais delicada a posição de Gorbatchev. Decididamente, o povo soviético tinha perdido a paciência com os problemas econômicos, que se manifestavam na vida diária de cada cidadão. A desorganização da economia era visível nas prateleiras vazias dos supermercados e nas filas intermináveis para comprar os produtos mais corriqueiros, como sabonete ou farinha de trigo.
[[Imagem:Changes in borders post cold war.png|thumb|Mudanças nas fronteiras nacionais soviéticas após o fim da [[Guerra Fria]]]]
[[Imagem:Changes in borders post cold war.png|thumb|Mudanças nas fronteiras nacionais soviéticas após o fim da [[Guerra Fria]]]]
[[Imagem:USSR Map timeline.gif|thumb|Mapa animado que mostra Estados independentes e mudanças territoriais na União Soviética em ordem cronológica]]
[[Imagem:USSR Map timeline.gif|thumb|Mapa animado que mostra Estados independentes e mudanças territoriais na União Soviética em ordem cronológica]]


Aprovado o plano de mudanças, faltava ainda conseguir a assinatura do Tratado da União com todas as repúblicas. Mas em 1º de dezembro de 1991 a situação se precipitou com a consolidação da independência da Ucrânia, aprovada em plebiscito por 90% da população. Uma semana depois, numa espécie de golpe branco contra Gorbatchev, os presidentes das repúblicas da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, reunidos na cidade de Brest (Bielorrússia), criaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI), decretando o fim da União Soviética. Diante disso, [[James Baker]], secretário de Estado norte-americano, declarou: “O Tratado da União, sonhado pelo presidente Gorbatchev, nunca esteve tão distante. A União Soviética não existe mais”. De fato, em 17 de dezembro Gorbatchev foi comunicado de que a União Soviética desapareceria oficialmente na passagem de Ano Novo. No dia 21 de dezembro, os líderes de 11 das 15 repúblicas soviéticas reuniram-se em [[Almaty|Alma-Ata]], então capital do [[Cazaquistão]], para referendar a decisão da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia e oficializar a criação da Comunidade de Estados Independentes ([[Comunidade dos Estados Independentes|CEI]]) e o fim da [[União Soviética]].

O colapso do poder soviético foi um processo extremamente importante na [[história]] do final do {{séc|XX}}. No entanto, existem discrepâncias na determinação da origem deste desastre. Há diversas opiniões. Nesse sentido, diz-se que a discussão teórica sobre as reais causas do colapso foi marcada por pretensões ideológicas de um ou outro lado, isto é, tanto de analistas [[marxista]]s como [[liberalismo|liberais]].<ref>Harris, 1999, p.180</ref> Vários analistas alegam que a União Soviética na verdade não representa o verdadeiro "[[marxismo]]", mas um [[Estado]] [[Autoritarismo|autoritário]], baseado em um único [[partido]] liderado por uma [[oligarquia]] mais interessada em permanecer no poder do que na transição para o sistema socioeconômico comunista baseado no marxismo e, portanto, sua queda ocorre sem prejuízo destas ideias.<ref>Heilboner, 1990; How, 1990.</ref> Outros marxistas, ignorando os argumentos materiais, argumentam que a queda se deveu à incompetência política dos indivíduos em particular, que nem mesmo a queda da URSS representa um fracasso do marxismo reconhecido nas práticas políticas do Partido Bolchevique e, em particular, na atuação de [[Lenin]].<ref>Perlo 1991:11</ref>


== Legado ==
== Legado ==

Revisão das 19h39min de 29 de julho de 2022

Dissolução da União Soviética
Dissolução da União Soviética
O brasão de armas soviético e as letras "СССР" (em cima) na fachada do Grande Palácio do Kremlin foram substituídos por cinco águias russas de duas cabeças (embaixo) após a dissolução da União Soviética; as águias haviam sido removidas pelos bolcheviques após a revolução.
Participantes Povo da União Soviética
Governo federal
Repúblicas da União Soviética
Repúblicas autônomas
Localização  União Soviética
Data 26 de dezembro de 1991
Resultado Dissolução da União Soviética em 15 repúblicas independentes e criação da CEI

A dissolução da União Soviética ocorreu em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração nº. 142-Н do Soviete Supremo da União Soviética. A declaração reconheceu a independência das antigas repúblicas soviéticas e criou a Comunidade de Estados Independentes (CEI). No dia anterior, o presidente soviético Mikhail Gorbachev, o oitavo e último líder da União Soviética, renunciou, declarou seu cargo extinto e entregou seus poderes - incluindo o controle dos códigos do arsenal nuclear soviético - para o presidente russo, Boris Iéltsin. Naquela noite às 19h32, a bandeira soviética foi baixada do Kremlin de Moscou pela última vez e a substituída pela bandeira russa pré-revolucionária.[1]

Anteriormente, de agosto a dezembro, todas as repúblicas individualmente, incluindo a própria Rússia, se separaram da União. Na semana anterior da dissolução formal da URSS, 15 repúblicas - todas, exceto os Estados bálticos e a Geórgia - assinaram o Protocolo de Alma-Ata estabelecendo formalmente a CEI e declarando que a União Soviética tinha deixado de existir.[2][3] As revoluções de 1989 e a dissolução da URSS também assinalaram o fim da Guerra Fria.

Várias das ex-repúblicas soviéticas têm mantido laços estreitos com a Federação Russa, o Estado sucessor da URSS, e formaram organizações multilaterais, como a Comunidade Econômica Eurasiática, a União da Rússia e Bielorrússia, a União Aduaneira da Eurásia e a União Econômica Eurasiática para reforçar a cooperação econômica e militar. Algumas, no entanto, se distanciaram e se juntaram à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e à União Europeia.

Histórico

Antecedentes

Alemães em pé em cima do Muro de Berlim, na Alemanha Oriental, em 1989, que começaria a ser destruído no dia seguinte
Corrente humana na Lituânia durante a Cadeia Báltica, 23 de agosto de 1989.
Civis armados durante a Revolução Romena. A revolução foi a única derrubada violenta de um Estado comunista no Pacto de Varsóvia.
A contração das economias ex-socialistas depois das Revoluções de 1989

Após a Segunda Guerra Mundial, o crescimento econômico soviético foi rápido o suficiente para dar credibilidade às estimativas de Nikita Kruschev de que o padrão de vida na União Soviética ultrapassaria o dos Estados Unidos antes de 1970, e o capitalismo seria "enterrado"[4] antes do final do século corrente. No entanto, a política de abertura econômica e política levada a cabo por Mikhail Gorbatchev, secretário-geral do Partido Comunista no final dos anos 1980, desencadeou mobilizações pela independência de povos minoritários no país. Sob pressão externa e atravessando uma crise econômica, o governo central concordou com a reorganização do país numa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, conferindo maior poder às administrações locais.

Em agosto de 1991, um golpe de estado depôs Gorbachev por três dias; a linha-dura do Partido Comunista tentou reassumir o controle da URSS e impedir o prosseguimento das reformas. Liderada por Boris Ieltsin, a população revoltosa forçou a volta de Gorbachev ao governo. Em resposta ao golpe, o Partido Comunista soviético foi banido da Rússia pelo então presidente Ieltsin. Após sua restituição, Gorbachev não possuía mais que um poder esvaziado, e o controle da União fora enfraquecido. Em 25 de dezembro de 1991 Gorbachev renunciou à presidência da URSS e em 31 de dezembro todas as funções administrativas do país cessaram de existir.

Na véspera da perestroika, no início de 1980, havia fortes indícios de que alguns aspectos da economia não funcionavam bem:

  1. O fornecimento de energia de base da União Soviética estava em graves dificuldades na década de 1980;[5]
  2. A produção siderúrgica e de petróleo estagnou no período 1980-1984;[6]
  3. Instalações de geração e linhas de transmissão ficaram ultrapassadas e com falta de manutenção, como evidenciado pelas frequentes avarias ou interrupções no fornecimento de energia elétrica (para não mencionar o caso de Chernobil);
  4. O setor agrícola de produção de grãos, adaptado às condições climáticas, não registrou qualquer aumento na década anterior, apesar dos grandes investimentos.[7] O que levou a União Soviética à busca de importações de alimentos, muitas delas de repúblicas satélites, com preço subsidiado, e, assim, o alimento encarecia-se;
  5. Dois terços dos equipamentos de processamento agrícola utilizados na década de 1980 eram inúteis, pois boa parte do mesmo procedia das décadas de 1950 e 1960;[8]
  6. Entre 20% e 50% das culturas de cereais, batata, beterraba e frutas estragava antes de chegar aos distribuidores.[9] Mesmo quando o abastecimento era necessário, os atrasos nas entregas causavam escassez temporária, gerando filas, acúmulo de bens e racionamentos ocasionais;
  7. Entre 1970 e 1987, a produção por unidade de insumo declinou a uma taxa superior a 1% ao ano;[10]
  8. Para resumir a situação nas vésperas da perestroika, todos, começando por Gorbachev, concordavam que o crescimento econômico per capita era igual a zero ou negativo. [11] Tal como explicado por Marvin Harris,[12] é apresentado um quadro ainda mais sombrio da ineficiência da infraestrutura soviética depois de 1970, se subtraem os custos da poluição e destruição ambiental do produto nacional (PIB). Estavam presentes todas as formas imagináveis de poluição e esgotamento de recursos, incluindo as emissões descontroladas de dióxido de enxofre, despejos de resíduos perigosos e nuclear de todos os tipos, intoxicação por erosão do solo do lago Baikal (na opinião de Poiniting 1991, provavelmente o pior desastre ecológico do século XX) e dos mares Negro, Báltico e Cáspio, e a seca devastadora do mar de Aral; [13]
  9. Como explica Feshbach, a expectativa de vida para os homens soviéticos foi diminuindo na véspera da perestroika. [14]

Além de tudo o que precede, o Bloco do Leste foi muito aquém do mundo ocidental capitalista em relação à implementação de inovações de alta tecnologia na produção não militar. Particularmente as telecomunicações e processadores de informação (computadores). Em 1990, ainda mais de 100 000 localidades na URSS não tinham linha telefônica.[15] A economia civil sofreu de falta não apenas de computadores, mas também de robôs industriais, máquinas eletrônicas copiadoras, scanners ópticos e muitos outros instrumentos de processamento de informação que tinham sido impostos à indústria japonesa e à ocidental 15 anos antes. Isto, naturalmente, afetou seriamente a logística.

O mau estado das telecomunicações e tecnologias de processamento de informação não foi acidental. O sistema soviético de estrutura de poder se destinava a intercâmbio rápido de informação não sujeito a censura e/ou supervisão do partido. Sem dúvida, a baixa prioridade dada à criação de uma rede de telefones moderna pode ser interpretada mais como insegurança do Partido Comunista da União Soviética do que falta de conhecimento e recursos técnicos. O mesmo pode ser dito da prática de fechar com cadeado os computadores à disposição das empresas comerciais e estabelecer como um "crime contra o Estado" a posse não autorizada de uma máquina de cópia. O aparato de planejamento central não fez a transição de uma economia em crescimento com base na fabricação de equipamentos pesados para uma economia baseada em altas tecnologias de comunicação e microeletrônica. No Ocidente, essa transição teve lugar na década de 1970, mas a URSS optou por continuar a investir recursos na área de máquinas pesadas.

Outros grandes inconvenientes do sistema de planejamento soviético teriam sido:

  1. Sua máquina burocrática enorme que, como mencionado anteriormente, não tinha meios modernos de gestão (telecomunicações, computadores, eletrônicos);
  2. O problema da alocação de recursos. Nos negócios, os gerentes foram sujeitos a uma fiscalização pelos chefes de gabinete, a fim de assegurar que se encaixassem em uma lista de regras e regulamentos, o que teve várias consequências inesperadas. O montante da ajuda concedida às empresas na forma de bônus de incentivo era determinado pelo número de empregados, o que levou à contratação de um grande número de trabalhadores desnecessários.[16] As cotas de produção foram definidas em termos quantitativos por si só, o que resultou na produção de baixa qualidade. Estes valores puramente quantitativos foram um convite para responder a estas cotas de forma enganosa: "Desde que os salários, bônus e promoções dependiam de terem sido atingidos os objetivos definidos pelo plano, o sistema de planejamento central induzia, ou melhor, distorcia os resultados".[17] Além disso, as empresas muitas vezes incharam suas necessidades de matérias-primas e exigências de investimento, na esperança de ter o suficiente para satisfazer ou exceder as metas quantitativas definidas de produção;
  3. Os orçamentos brandos de que fala Catherine Verdery.[18] Eles foram um meio de não garantir a sobrevivência das empresas mais aptas. Qualquer empresa deficitária recebia recursos para superar os maus momentos. E a gestão sofria com problemas de recursos e acumulação desnecessária, além do emprego e o investimento praticamente desnecessário.

Todos esses fatores ajudaram a moldar uma economia única, que tem se caracterizou pela escassez, longas filas, o acúmulo de trabalhos desnecessários, o personalismo, a corrupção persistente, que chegou a "o empregado que escondeu algo sob o balcão para guardar para seus amigos ou parentes, ou até mesmo para receber suborno".[19] E, como mencionado, a estrutura de poder foi um obstáculo à inovação tecnológica, ou a favor da concorrência. Havia poucas recompensas para diretores de empresas que aplicassem processos de produção novos ou mais eficazes.[20][21]

Outra razão do colapso foi o gigantismo de organizações como a KGB, o exército, o Partido Comunista e o complexo militar-industrial que utilizavam uma enorme porcentagem dos recursos financeiros do país. Estas instituições estavam drenando as finanças: nada era negado ao KGB, ao partido e aos militares. Enquanto isso, a população vivia virtualmente uma existência comparada ao Terceiro mundo.[22]

Colapso

Tanques na Praça Vermelha durante o Golpe de Agosto de 1991
Golpe de agosto em Moscou, 1991.

O golpe de agosto de 1991 praticamente abriu as comportas para o movimento de independência das repúblicas que compunham a União Soviética. As repúblicas do Báltico já tinham tentado separar-se em 1990, mas foram severamente reprimidas. Com o fracasso do golpe, o cenário mudou totalmente. As forças conservadoras estavam derrotadas e quem mandava realmente era Bóris Ieltsin – e não mais Gorbatchev, cujo poder estava completamente esvaziado.

Já no mês seguinte, setembro, as repúblicas da Letônia, Estônia e Lituânia, uma após a outra, reafirmaram, agora em caráter definitivo, suas declarações de independência. A própria Rússia foi um dos primeiros países a reconhecer a independência dessas repúblicas. Estava aberto o processo para as outras, que em sua grande maioria também se declararam independentes. Outra consequência importante do golpe foi a suspensão, determinada por Ieltsin em toda a Rússia, das atividades do Partido Comunista, que implicou até mesmo o confisco de seus bens. A KGB, o poderoso serviço secreto soviético, teve sua cúpula dissolvida.

Gorbatchev admitiu a implosão da União Soviética, mas ainda tentou manter o vínculo entre as repúblicas, propondo a assinatura do chamado Tratado da União. Mas suas palavras não tiveram eco, e o processo de separação se tornou irreversível. Em 4 de setembro de 1991, Gorbatchev, como presidente da União Soviética, Boris Iéltsin, na qualidade de presidente da Rússia, e mais os líderes de outras nove repúblicas, em sessão extraordinária do Congresso dos Deputados do Povo, apresentaram um plano de transição para criar um novo Parlamento, um Conselho de Estado e uma Comissão Econômica Inter-Republicana. Embora tentasse estabelecer os parâmetros para uma nova união entre as diversas repúblicas, esse plano, na verdade, significava o desmantelamento formal da estrutura tradicional do poder soviético. De qualquer forma, a proposta acabou sendo aprovada.

Percebendo a importância de Gorbatchev para a estabilidade da nação, naquele momento, Ieltsin prometeu o apoio da República russa ao novo plano. Enquanto isso, os líderes ocidentais também davam sinais de uma clara preferência pela permanência de Gorbatchev no poder, embora demorassem a assumir o compromisso de uma ajuda econômica mais efetiva à União Soviética. O agravamento da situação econômica era justamente o que tornava mais delicada a posição de Gorbatchev. Decididamente, o povo soviético tinha perdido a paciência com os problemas econômicos, que se manifestavam na vida diária de cada cidadão. A desorganização da economia era visível nas prateleiras vazias dos supermercados e nas filas intermináveis para comprar os produtos mais corriqueiros, como sabonete ou farinha de trigo.

Mudanças nas fronteiras nacionais soviéticas após o fim da Guerra Fria
Mapa animado que mostra Estados independentes e mudanças territoriais na União Soviética em ordem cronológica

Aprovado o plano de mudanças, faltava ainda conseguir a assinatura do Tratado da União com todas as repúblicas. Mas em 1º de dezembro de 1991 a situação se precipitou com a consolidação da independência da Ucrânia, aprovada em plebiscito por 90% da população. Uma semana depois, numa espécie de golpe branco contra Gorbatchev, os presidentes das repúblicas da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, reunidos na cidade de Brest (Bielorrússia), criaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI), decretando o fim da União Soviética. Diante disso, James Baker, secretário de Estado norte-americano, declarou: “O Tratado da União, sonhado pelo presidente Gorbatchev, nunca esteve tão distante. A União Soviética não existe mais”. De fato, em 17 de dezembro Gorbatchev foi comunicado de que a União Soviética desapareceria oficialmente na passagem de Ano Novo. No dia 21 de dezembro, os líderes de 11 das 15 repúblicas soviéticas reuniram-se em Alma-Ata, então capital do Cazaquistão, para referendar a decisão da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia e oficializar a criação da Comunidade de Estados Independentes (CEI) e o fim da União Soviética.

O colapso do poder soviético foi um processo extremamente importante na história do final do século XX. No entanto, existem discrepâncias na determinação da origem deste desastre. Há diversas opiniões. Nesse sentido, diz-se que a discussão teórica sobre as reais causas do colapso foi marcada por pretensões ideológicas de um ou outro lado, isto é, tanto de analistas marxistas como liberais.[23] Vários analistas alegam que a União Soviética na verdade não representa o verdadeiro "marxismo", mas um Estado autoritário, baseado em um único partido liderado por uma oligarquia mais interessada em permanecer no poder do que na transição para o sistema socioeconômico comunista baseado no marxismo e, portanto, sua queda ocorre sem prejuízo destas ideias.[24] Outros marxistas, ignorando os argumentos materiais, argumentam que a queda se deveu à incompetência política dos indivíduos em particular, que nem mesmo a queda da URSS representa um fracasso do marxismo reconhecido nas práticas políticas do Partido Bolchevique e, em particular, na atuação de Lenin.[25]

Legado

Nostalgia

Ver artigo principal: Nostalgia pela União Soviética
Separatistas pró-russos em Donetsk, Ucrânia, comemoram o Dia da Vitória Soviética sobre a Alemanha nazista, 9 de maio de 2018

Na Armênia, 12% dos entrevistados disseram que o colapso da URSS fez bem, enquanto 66% disseram que fez mal. No Quirguistão, 16% dos entrevistados disseram que o colapso da URSS fez bem, enquanto 61% disseram que fez mal.[26] Desde o colapso da URSS, a pesquisa anual do Levada Center mostrou que mais de 50% da população da Rússia lamentou seu colapso, com a única exceção sendo em 2012. Uma pesquisa do Levada Center de 2018 mostrou que 66% dos russos lamentaram a queda da União Soviética.[27] De acordo com uma pesquisa de 2014, 57% dos cidadãos da Rússia lamentaram o colapso da União Soviética, enquanto 30% disseram que não lamentavam. Os idosos tendem a ser mais nostálgicos do que os jovens russos. Cerca de 50% dos entrevistados na Ucrânia em uma pesquisa semelhante realizada em fevereiro de 2005 afirmaram lamentar a desintegração soviética.[28] No entanto, uma pesquisa semelhante realizada em 2016 mostrou apenas 35% dos ucranianos lamentando o colapso da União Soviética e 50% não lamentando isso.[29]

O rompimento dos laços econômicos que se seguiu ao colapso da União Soviética levou a uma grave crise econômica e à queda catastrófica dos padrões de vida nos Estados pós-soviéticos e no antigo Bloco do Leste,[30] que foi ainda pior do que a Grande Depressão.[31][32] A pobreza e a desigualdade econômica aumentaram entre 1988-1989 e 1993-1995, com o índice de Gini aumentando em uma média de 9 pontos para todos nos antigos países socialistas europeus.[33] Mesmo antes da crise financeira na Rússia em 1998, o PIB russo era metade do que tinha sido no início dos anos 1990.[32]

Nas décadas que se seguiram ao fim da Guerra Fria, apenas cinco ou seis dos Estados pós-comunistas estão no caminho de se juntar ao rico Ocidente capitalista, enquanto a maioria está ficando para trás, alguns a tal ponto que levará mais de 50 anos para alcançar onde estavam antes do fim do comunismo.[34][35] Em um estudo de 2001, o economista Steven Rosefielde calculou que houve 3,4 milhões de mortes prematuras na Rússia de 1990 a 1998, que ele atribui em parte à "terapia de choque" que veio com o Consenso de Washington.[36]

No Debate da Cozinha de 1959, Nikita Khrushchev afirmou que os netos do então vice-presidente estadunidense Richard Nixon viveriam sob o comunismo e Nixon afirmou que os netos de Khrushchev viveriam em liberdade. Em uma entrevista de 1992, Nixon comentou que na época do debate, ele tinha certeza de que a afirmação de Khrushchev estava errada, mas Nixon não tinha certeza de que sua própria afirmação estava correta. Nixon disse que os eventos provaram que ele estava realmente certo porque os netos de Khrushchev agora viviam em liberdade, referindo-se ao então recente colapso da União Soviética.[37] O filho de Khrushchev, Sergei Khrushchev, era um cidadão estadunidense naturalizado.

Ex-repúblicas soviéticas

Após setembro de 1991, as 15 repúblicas na União Soviética tornaram-se países independentes (ver mapa abaixo).

Ex-repúblicas soviéticas
Bandeira República Capital Mapa da antiga União Soviética
1 Armênia Erevã
Republics of the Soviet Union
Republics of the Soviet Union
2 Azerbaijão Bacu
3 Bielorrússia Minsque
4 Estônia Talim
5 Geórgia Tiblíssi
6 Cazaquistão Astana
7 Quirguistão Bisqueque
8 Letônia Riga
9 Lituânia Vilnius
10 Moldávia Quixinau
11 Rússia Moscou
12 Tajiquistão Duxambé
13 Turcomenistão Asgabade
14 Ucrânia Kiev
15 Uzbequistão Tasquente

Ver também

Referências

  1. «Gorbachev, Last Soviet Leader, Resigns; U.S. Recognizes Republics' Independence». New York Times. Consultado em 27 de abril de 2015 
  2. «The End of the Soviet Union; Text of Declaration: 'Mutual Recognition' and 'an Equal Basis'». New York Times. 22 de dezembro de 1991. Consultado em 30 de março de 2013 
  3. «Gorbachev, Last Soviet Leader, Resigns; U.S. Recognizes Republics' Independence». New York Times. Consultado em 30 de março de 2013 
  4. ver Khrushchev na Wikiquote
  5. Kuhnert, 1991:493
  6. Kuhnert, 1991:494
  7. FMI 1990:138
  8. FMI 1990:51
  9. Goldman 1987:37
  10. Gregory & Stuart 1990:147
  11. Nove 1989:394
  12. Harris, 1999:180-181>
  13. FMI 1990
  14. Feshbach, 1983
  15. FMI 1990:125
  16. FMI 1990:31
  17. Armstrong, 1989:24
  18. Verdery, 1991:442
  19. Verdery 1991:423
  20. Berliner 1976
  21. Gregory & Stuart 1990:213
  22. Oleg Kalugin (1994). SpyMaster - My 32 years in Intelligence and Espionage against the West (em inglês). Great Britain: Butler and Tanner Ltd. pp. 109 e 110. ISBN 1 85685 071 4 
  23. Harris, 1999, p.180
  24. Heilboner, 1990; How, 1990.
  25. Perlo 1991:11
  26. «Former Soviet Countries See More Harm From Breakup». Gallup. 19 de dezembro de 2013 
  27. Balmforth, Tom (19 de dezembro de 2018). «Russian nostalgia for Soviet Union reaches 13-year high». Reuters. Consultado em 31 de janeiro de 2019 
  28. "Russians, Ukrainians Evoke Soviet Union" Arquivado em 2012-06-16 no Wayback Machine, Angus Reid Global Monitor (01/02/05)
  29. «Динаміка ностальгії за СРСР». ratinggroup.ua 
  30. "Child poverty soars in eastern Europe", BBC News, 11 de outubro de 2000
  31. "What Can Transition Economies Learn from the First Ten Years? A New World Bank Report", Transition Newsletter, World Bank, K-A.kg
  32. a b "Who Lost Russia?", The New York Times, 8 de outubro de 2000
  33. Scheidel, Walter (2017). The Great Leveler: Violence and the History of Inequality from the Stone Age to the Twenty-First Century. [S.l.]: Princeton University Press. p. 222. ISBN 978-0691165028 
  34. Ghodsee, Kristen (2017). Red Hangover: Legacies of Twentieth-Century Communism. [S.l.]: Duke University Press. pp. 63–64. ISBN 978-0822369493 
  35. Milanović, Branko (2015). «After the Wall Fell: The Poor Balance Sheet of the Transition to Capitalism». Challenge. 58 (2): 135–138. doi:10.1080/05775132.2015.1012402 
  36. Rosefielde, Steven (2001). «Premature Deaths: Russia's Radical Economic Transition in Soviet Perspective». Europe-Asia Studies. 53 (8): 1159–1176. doi:10.1080/09668130120093174 
  37. Richard Nixon on "Inside Washington". Inside Washington, Seoul Broadcasting System, Richard V. Allen. 6 de abril de 2015. Em cena em 4:20. Consultado em 25 de maio de 2020 – via Richard Nixon Foundation, YouTube  30 de março de 1992.

Bibliografia

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  • Kuhnert, Caroline [1991]: "More power for the Soviets: Perestroika and energy", Soviet Studies, 43(3): 491-506.
  • Niebuhr, R. Gustav [1991]: "Fatima fever: Did Mary prophesy Soviet goings-on?", Wall Street Jorunal (27 de septiembre), pág. 1.
  • Nove, Alec [1989], An economic history of the USSR, Londres, Penguin Books, pág 394 (hay trad. cast., Historia económica de la Unión Soviética, Madrid, Alianza, 1993)
  • Perlo, Victor [1991]: "The economic and political crisis in the USSR", Political Affairs, 70 (agosto): pág. 10-18.
  • Pointing, Clive [1991]: A Green Story of the World (trad. Historia Verde del Mundo, Paidós).
  • Vedery, Katherine [1991]: "Theorizing socialism: A prologue to the "Transition" ", American Ethnologist, 18 pág. 419-439.

Ligações externas