Linha do Sul
A Linha do Sul é uma ferrovia portuguesa que liga a estação de Campolide A, em Lisboa, à estação de Tunes, no Algarve, numa distância total de 273,6 km.
Caracterização
É a segunda linha ferroviária mais importante de Portugal, a seguir à Linha do Norte [carece de fontes], ligando Lisboa a Setúbal, e ambos ao sul do país.
Tráfego de passageiros e material circulante
CP-USGL + CP-Reg + Soflusa + Fertagus | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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(Serviços ferroviários suburbanos de passageiros na Grande Lisboa) Serviços: Cascais (CP) • Sintra (CP) • Azambuja (CP) Sado (CP+Soflusa) • Fertagus • CP Regional (R+IR) (***)
Linhas:
a L.ª Alentejo • c L.ª Cascais • s L.ª Sintra • ẍ C.ª X. (***) Na Linha do Norte (n): há diariamente dois comboios regionais nocturnos que param excepcionalmente em todas as estações e apeadeiros.
Fonte: Página oficial, 2020.06 |
Entre Campolide e Setúbal existe um forte tráfego de comboios suburbanos explorados por uma empresa privada, a Fertagus, que detém até final de 2010 a concessão deste serviço. Os restantes serviços estão a cargo da CP.
Foram realizados, nesta linha, serviços urbanos entre o Barreiro, Setúbal e Praias-Sado, rebocados por locomotivas da Série 1200[1][2]; em Outubro de 1992, estes comboios estavam a ser assegurados por locomotivas da Série 1520.[3] As locomotivas da classe 1200 também rebocaram serviços regionais entre o Barreiro e Funcheira, utilizando a Linha do Sado.[1]
Tráfego de mercadorias
As estações desta Linha mantiveram, ao longo do Século XX, um importante movimento de carga com o Algarve e a Área Metropolitana de Lisboa, com predominância para a Península de Setúbal; as Estações de Santa Clara-Sabóia, Pereiras-Gare, São Marcos da Serra, Setúbal e Alvalade exportaram madeiras e lenhas em grande quantidade[4], enquanto que Setúbal recebeu, do Algarve, farinhas e óleos e peixe, e azeite em embalagens.[5] Outra estação de elevada importância em termos de tráfego de mercadorias foi São Bartolomeu de Messines, aonde se centrava um dos principais núcleos industriais de panificação no Algarve. Por outro lado, esta ligação permitiu um movimento de mercadorias mais célere entre o Algarve e o resto de Portugal, especialmente as áreas portuárias de Setúbal e Lisboa.[6]
História
Antecedentes
Um dos primeiros projectos ferroviários em Portugal foi a apresentação, em 1844, de uma linha entre Lisboa e Alcácer do Sal, de modo a complementar as deficientes ligações rodoviárias e marítimas nesta região.[7] O Caminho de Ferro do Sul tinha como objectivo unir as cidades de Beja e Évora ao Barreiro, aonde existia um porto fluvial com ligação a Lisboa; para a sua construção, foram contratadas duas companhias, tendo a Companhia Nacional dos Caminhos de Ferro ao Sul do Tejo sido responsável pela implementação da via férrea entre o Barreiro e Vendas Novas, enquanto que a Companhia do Sueste deveria continuar a linha a partir de Vendas Novas.[8]
Troço entre o Pinhal Novo e Setúbal
O primeiro troço do que seria, futuramente, a Linha do Sul, foi o Ramal de Setúbal, que fazia a ligação entre o Pinhal Novo, no Caminho de Ferro do Sul, e Setúbal, e que foi inaugurado em 1 de Fevereiro de 1861, pela Companhia Nacional de Caminhos de Ferro ao Sul do Tejo; este troço foi construído, como todas as vias férreas desta Companhia, na bitola de 1,44 metros.[9][10] No mesmo ano, a ligação foi estabelecida até Vendas Novas[11], mas, devido às bitolas utilizadas por ambas as companhias serem diferentes, gerava vários constrangimentos, pois impedia as composições de prosseguirem viagem, forçando o transbordo de passageiros e mercadorias.[12] Para resolver este problema, o governo procurou fundir as duas empresas numa só, sendo a nova companhia responsável por uniformizar as bitolas e continuar as obras; a Companhia Nacional foi, assim, adquirida pelo estado nos finais de 1861, tendo os antigos direitos e imobilizado sido vendidos à Companhia do Sueste em 1864.[13] No ano seguinte, esta empresa começou a alterar a bitola nas antigas linhas da Companhia Nacional, incluindo o Ramal de Setúbal.[14] Dois dos objectivos desta empresa, a serem cumpridos no prazo de 2 anos, foram construir a Estação do Pinhal Novo, e uma nova estação em Setúbal, num local diferente da antiga.[15]
Troço entre Setúbal e Funcheira
Em 1877, o engenheiro e político Sousa Brandão defendeu a continuação da linha de Setúbal até ao Algarve, porque proporcionava uma viagem mais rápida até esta região, a partir de Lisboa, do que o Caminho de Ferro do Sul, que passava por Beja; por outro lado, esta linha seria de fácil construção, apenas se verificando algumas dificuldades na transição do Esteiro da Marateca, e passaria por zonas de elevada produção florestal, mineira e agrícola.[16] O governo iniciou, assim, o planeamento desta linha, tendo o concurso para a sua construção sido aberto por uma lei de 29 de Março de 1883, e outra lei, de 17 de Setembro, ordenou que o estado fizesse a construção do troço entre a estação de Setúbal e a margem do Rio Sado; este prolongamento foi autorizado por uma lei de 14 de Julho de 1899, tendo uma lei, publicada em 12 de Julho de 1901, disponibilizado 40.000$000 para auxiliar no pagamento das despesas deste projecto, e facultado à autarquia de Setúbal os meios para a preparação do terrapleno, aonde iria ser construída a estação fluvial.[16]
A linha foi inserida na classificação realizada em 27 de Novembro de 1902, tendo o seu ponto inicial sido demarcado no Pinhal Novo, o que provocou alguma polémica.[16] A sua construção foi referida numa proposta de lei de 24 de Abril do ano seguinte, e a lei de 1 de Julho estabeleceu que o traçado deveria passar pelas localidades de Setúbal e Alvalade, tendo a sua construção foi ordenada por uma portaria de 6 de Outubro de 1903; a directriz deste empreendimento foi determinada por uma portaria de 19 de Abril de 1904.[16] Em 1907, foi concluída a linha entre Setúbal e a margem do Rio Sado, aonde foi instalada uma estação fluvial; uma lei de 27 de Outubro de 1909 ordenou que se continuasse a linha até Garvão, tendo o concurso para a empreitada geral sido aberto por um decreto de 6 de Novembro do mesmo ano.[16] O projecto da variante entre Cachofarra e Gâmbia foi apresentado pela Direcção de Sul e Sueste dos Caminhos de Ferro do Estado em 4 de Junho de 1912, tendo sido aprovado por uma portaria de 14 de Junho, que ordenou a construção do troço até Alcácer do Sal.[17]
A construção da Linha do Sado iniciou-se a partir de Garvão, em 11 de Setembro de 1911, tendo o troço até Alvalade entrado ao serviço em 23 de Agosto de 1914, até Lousal em 1 de Agosto do ano seguinte, Canal Caveira no dia 20 de Setembro de 1916, Grândola em 22 de Outubro do mesmo ano, e até à estação provisória de Alcácer do Sal, na margem Sul do Rio Sado, em 14 de Julho de 1918; a inserção definitiva com a Linha do Sul foi instalada na Funcheira, em princípios de 1919.[16] A linha chegou à margem norte do Rio Sado em 25 de Maio de 1920, tendo sido aberta a estação definitiva de Alcácer do Sal e extinta a interface provisória na outra margem; a ligação fez-se, até à inauguração da ponte definitiva, em 1 de Junho de 1925, através de uma ponte de serviço, com muitas restrições.[16][18]
Desastre do Rápido do Algarve
Em 13 de Setembro de 1954, uma composição descarrilou entre o Apeadeiro de Pereiras e a Estação de Santa Clara - Sabóia, provocando entre 29 a 34 vítimas mortais e cerca de 50 feridos.[19]
Século XXI
Nos finais de 2001, já se encontravam a ser realizados os trabalhos de modernização desta Linha, tendo sido entregues à empresa Ferrovias.[1] Em 2004 concluiu-se uma renovação integral e electrificação da ferrovia entre o Pinhal Novo e Tunes permitindo em alguns troços que os serviços Alfa Pendular atinjam velocidades de 220 km/h. Circulam, igualmente, pesados comboios carvoeiros com 2200 toneladas.
Ver também
Referências
- ↑ a b c CONCEIÇÃO, Marcos A. (2001). «Caminhos de Ferro Portugueses: Cambios en la Tracción». Madrid: Revistas Profesionales. Maquetren (em espanhol). 10 (100): 74, 75
- ↑ BRASÃO, Carlos (1995). «Las "Flausinas" en HO o la transformación del modelo ROCO». Madrid: A. G. B., s. l. Maquetren (em espanhol). 4 (36): 26, 28. ISSN 1132-2063
- ↑ «Concurso Fotografico». Maquetren (em espanhol). 3 (21). 26 páginas. 1994
- ↑ Cavaco, 1976:436
- ↑ Cavaco, 1976:438-439
- ↑ Cavaco, 1976:435-438
- ↑ Martins et al, 1996:8, 11
- ↑ Santos, 1995:107
- ↑ «Cronologia: 1844/1874 - Desde o Projecto até ao Fim do 3º Quartel do Séc. XIX». Comboios de Portugal. Consultado em 22 de Março de 2011
- ↑ Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 12
- ↑ Martins et al, 1996:11
- ↑ Santos, 1995:108
- ↑ Santos, 1995:109
- ↑ TORRES, Carlos Manitto (1 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 70 (1683): 75, 76
- ↑ Santos, 1995:113
- ↑ a b c d e f g TORRES, Carlos Manitto (16 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário». Lisboa: Gazeta dos Caminhos de Ferro. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 70 (1684): 91, 92
- ↑ PORTUGAL. Portaria de 14 de Junho de 1912. Ministério do Fomento - Caminhos de Ferro do Estado. Publicado em 18 de Junho de 1912.
- ↑ Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006, p. 62
- ↑ «O Descarrilamento do "Rápido" do Algarve». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 67 (1605): 305, 309. 1 de Novembro de 1954
Bibliografia
- CAVACO, Carminda (1976). O Algarve Oriental. As Vilas, O Campo e o Mar. II. Faro: Gabinete de Planeamento da Região do Algarve. 492 páginas Parâmetro desconhecido
|volumes=
ignorado (|volume=
) sugerido (ajuda) - SANTOS, Luís Filipe Rosa (1995). Os Acessos a Faro e aos Concelhos Limítrofes na Segunda Metade do Séc. XIX. Faro: Câmara Municipal de Faro. 213 páginas
- Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 2006. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
- MARTINS, João Paulo, BRION, Madalena, SOUSA, Miguel de, LEVY, Maurício, AMORIM, Óscar (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. [S.l.]: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
Ligações externas
- «Galeria de fotografias da Linha do Sul, no directório Railfaneurope»
- Álbum “Variante de Alcácer” no Flickr