Linha de Torres Novas a Alcanena
Linha de Torres Novas a Alcanena | |
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Estação de Riachos-Torres Novas-Golegã, em 2009 | |
Informações principais | |
Área de operação | Concelhos de Torres Novas e Alcanena, em Portugal |
Tempo de operação | 1889–1893 |
Interconexão Ferroviária | Linha do Norte, em Riachos-Torres Novas-Golegã |
Especificações da ferrovia | |
Extensão | 21,5 quilómetros |
L.ª de Torres Novas a Alcanena | ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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A Linha de Torres Novas a Alcanena, popularmente conhecida como Rata Cega ou Comboio Menino, foi uma ligação ferroviária entre a Estação de Riachos-Torres Novas-Golegã, na Linha do Norte, e a localidade de Alcanena, em Portugal. O primeiro troço, entre Riachos e Alcanena, abriu em 16 de Maio de 1889, tendo a linha sido totalmente inaugurada em 1 de Fevereiro de 1893.[1] O tráfego foi suspenso em 30 de Junho do mesmo ano.[1]
Caracterização
Via e traçado
A via, de bitola estreita[2], era quase totalmente assente sobre estrada, apenas possuindo alguns desvios em plataforma própria, principalmente para evitar os declives e outras dificuldades nas estradas[3]; a linha totalizava 21,500 quilómetros.[2] Na instalação dos carris, foram, principalmente, aproveitadas a Estrada Distrital 70, e a Estrada Municipal de Torres Novas.[3]
Iniciava-se junto à Estação de Riachos-Torres Novas-Golegã, passava por Riachos, aonde tinha um apeadeiro, atravessava o Rio Almonda numa ponte, e entrava na cidade de Torres Novas.[2] Percorria esta localidade até chegar à Rua das Freiras, aonde tinha a estação, e continuava pela Rua do Teatro até à Travessa do Vasconcellos, descendo, em seguida, pelas Ruas da Portela e de São Pedro.[2] Na zona de Samão, tinha um apeadeiro, que dava acesso a uma importante fábrica de tecidos, e seguia pela estrada até ao sítio de Senhora da Vitória, aonde se fez um desvio em leito próprio para facilitar o acesso ao Alto de Bela Vista, aonde foi instalado outro apeadeiro.[2] Em seguida, passava junto à localidade de Lapas, e tinha um apeadeiro em Ribeira Branca, que também servia a localidade de Ribeira Ruiva, e depois outro no Alto da Ribeira.[2] A partir deste ponto, a linha entrava num leito próprio, para evitar as acentuadas curvas e rampas naquele troço de estrada, voltando à estrada no sítio da Corrente de Ferro.[2] Mais à frente, detinha um apeadeiro para servir a povoação de Barreira Alva, e seguia até ao centro de Zibreira, aonde existia um outro apeadeiro, que também servia as fábricas de tecidos junto à nascente do Rio Almonda.[2] Passava por Videla, aonde detinha uma paragem, que também servia as localidades de Minde e de Porto de Mós, e depois por Gouxaria, aonde tinha outra paragem.[2] Após vencer uma acentuada rampa, a via passava por Ponte do Peral, e continuava a subir até chegar a Alcanena, aonde circulava em leito próprio até à estação terminal, junto à avenida.[2]
Material circulante
O material motor tinha tracção a vapor[1], e eram utilizadas, entre outro material circulante, carruagens de primeira classe.[2]
Serviços
Eram realizados serviços de passageiros e mercadorias, no sistema de tranvia.[2][3]
História
Antecedentes
A modalidade ferroviária da circulação em vias assentes sobre a estrada, foi, ao longo do Século XIX, objecto de desconfiança por parte das altas autoridades das obras públicas em Portugal, não obstante as suas potencialidades e reduzidos custos de exploração; com efeito, além de terem sido colocados vários obstáculos burocráticos, também não eram emitidos os despachos relativos aos inúmeros requerimentos para a instalação de caminhos de ferro deste tipo.[3] Esta situação só começou a mudar nos finais do Século, principalmente com a entrada do Visconde de Chanceleiros e de Tomás Ribeiro para a pasta das obras públicas.[3]
Planeamento, construção e inauguração
Em 17 de Março de 1887, um alvará autorizou o Barão de Matosinhos a construir esta linha; este empresário formou, assim, a Companhia de Caminhos de Ferro de Torres Novas a Alcanena, para a qual trespassou a concessão.[4] Para a construção da linha, foi contratada a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses; o fornecimento do material circulante e as obras metálicas ficaram a cargo da Fabrique Métalurgique Belge, enquanto que a montagem dos equipamentos telefónicos foi realizada pelo industrial Herman.[4]
Em Julho de 1888, as obras já se tinham iniciado, tendo sido instalados, naquela altura, cerca de 7 quilómetros de via.[4] Durante a construção do troço junto ao Apeadeiro de Alto da Ribeira, ocorreu um acidente, que vitimou 9 trabalhadores.[2]
O primeiro troço, ligando Riachos a Torres Novas, foi inaugurado em 16 de Maio de 1889.[1] Em 16 de Novembro de 1892, previa-se que as obras iriam terminar em cerca de uma semana.[5] Em finais de 1892, foram dadas ordens para acelerar as obras, de forma a estarem concluídas em Janeiro do ano seguinte, como estava previsto.[6] A linha foi totalmente inaugurada em 1 de Fevereiro de 1893.[1]
Para a cerimónia de inauguração da linha, em Fevereiro de 1893, foi organizado um serviço especial, para o transporte de convidados, que percorreu toda a linha; à passagem do comboio, foi sendo recebido pelos habitantes nas estações e apeadeiros.[2] A cerimónia terminou em Alcanena, tendo sido acompanhada por música de uma filarmónica.[2]
Esta foi a primeira linha de tranvias a vapor sobre vias assentes em estrada, em Portugal.[3]
Extinção
Em 30 de Junho de 1893, todos os serviços nesta linha foram suspensos[1], prevendo-se, em Julho, que o director da Companhia, o Barão de Matosinhos, iria colocar, no próximo mês, a linha em praça.[7] Uma das razões apontadas para o fracasso deste caminho de ferro foi a crise financeira de 1890, que teve vários efeitos nefastos no transporte ferroviário em Portugal, durante a década seguinte.[8]
Ver também
Referências
- ↑ a b c d e f «Cronologia das Linhas de "Americanos" que existiram em Portugal». Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro. Consultado em 14 de Março de 2012
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o «Há Quarenta anos: A Inauguração da linha da Torres Novas a Alcanena». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 46 (1084): 116, 117. 16 de Fevereiro de 1933
- ↑ a b c d e f «Há 50 anos: Inauguração da linha de Alcanena». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 54 (1323). 132 páginas. 1 de Fevereiro de 1943
- ↑ a b c ESTÁCIO, Emílio Barbosa (16 de Julho de 1966). «Subsídios para a história dos Caminhos de Ferro em Portugal». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 79 (1886). 193 páginas
- ↑ «Há 50 anos». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 54 (1318). 497 páginas. 16 de Novembro de 1942
- ↑ «Há 50 anos». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 53 (1297). 44 páginas. 1 de Janeiro de 1942
- ↑ «Há 50 anos». Lisboa. Gazeta dos Caminhos de Ferro. 54 (1334). 375 páginas. 16 de Julho de 1943
- ↑ «Balanço Ferro-viario». Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (361). 2 páginas. 1 de Janeiro de 1903
Ligações externas