Sesc Pompeia
Sesc Pompeia | |
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Instalações do prédio | |
Inauguração | 1982 (41 anos) |
Capacidade | 774 lugares[1] |
Geografia | |
País | Brasil |
Cidade | São Paulo |
Coordenadas |
O Sesc Pompeia é um centro de cultura e lazer localizado no bairro Vila Pompéia, no distrito de Perdizes da zona oeste da cidade de São Paulo, que reúne teatros, quadras poliesportivas, piscinas, lanchonetes, restaurantes, espaços de exposições, choperia, oficinas, área de leitura e internet livre, entre outros serviços. Seu projeto arquitetônico foi desenvolvido pela arquiteta Lina Bo Bardi, em 1977. Sua inauguração, em 1982, contou com apresentações de bandas da cena punk de São Paulo na época, como Inocentes, Ratos de Porão, Cólera e Olho Seco.[2]
Arquitetura[editar | editar código-fonte]
Premissas do projeto[editar | editar código-fonte]
Alguns processos construtivos artesanais foram pesquisados e incorporados na reforma da fábrica e na construção dos edifícios: os coletores de águas pluviais da rua interna foram feitos com técnica simples, pouco usuais para a estética moderna; já os mosaicos dos banheiros remetem a construções e artes populares. O espelho d’água com seixos rolados permeia o espaço livre do galpão da fábrica. As peculiaridades americanas, brasileiras, são elementos incorporados ao projeto.
O lugar aberto para apropriação e o processo inventivo é frequentemente invocado pela arquitetura do SESC Pompeia: o teatro dissolve a conformação tradicional do teatro de ópera e pede adaptações para o espaço atípico das peças a serem apresentadas ali. O público sempre enxerga outra parte do público de frente, ao contrário do que ocorre tradicionalmente, em que a plateia encara o artista. Já o artista procura novas formas de expressão e comportamento no palco com duas frentes. Para qual lado deve ele estar voltado? As cadeiras desconfortáveis também provocam o público. A função perturbadora do objeto é encarada não como uma falha de desenho, mas, desde o início, como uma intenção do discurso: “os estofados aparecem nos teatros áulicos das cortes, no setecentos e continuam até hoje no ‘confort’ da sociedade de consumo”, escreve Lina. Ao visitar a Fábrica de Tambores, o lugar onde seria implantado o SESC (1977), a arquiteta Lina Bo Bardi, encontrou uma bela construção, feita com estrutura pioneira no Brasil de concreto armado com vedações em alvenaria. O que mais chamou a atenção da arquiteta, porém, foi o espaço que, durante os finais de semana era povoado por famílias com crianças brincando e jovens se divertindo. A arquiteta, percebendo a espontaneidade e veracidade daquelas atividades, considerou a situação presenciada para o partido do projeto: “Pensei: isso tudo deve continuar assim, com toda esta alegria”.
A velha fábrica, construída a partir de tecnologia importada e sofisticada para a época, haveria, para a arquiteta, de ser reinventada. O projeto do SESC Pompeia propõe a manutenção do espaço livre dos galpões, mas sugere catalisadores das atividades e da vitalidade do lugar: as funções da antiga estrutura seriam reprojetadas e o projeto de tecnologia fabril seria convertido em um projeto moderno. Em todo caso, os usos populares captados por Lina seriam mantidos e permeados por espelhos d’água, lanchonetes, bibliotecas, obras de arte, etc. Para que o terreno pudesse comportar todo o programa previsto para o SESC da Pompeia, com a opção de manter a velha fábrica, seria necessário edificar duas torres no final do lote. Decisão adotada pela arquiteta e que conferiu também aspecto monumental para o complexo.
A implantação[editar | editar código-fonte]
O projeto do SESC Pompeia concretiza a rua interna da fábrica transformando-a num palco para manifestações espontâneas ou para apresentações agendadas. A rua, em declive, perpassa o programa cultural e de serviço, e conduz o visitante para uma área mais reservada, que abriga sobretudo o balneário e o programa de esportes. No interior do lote há um encontro de “vias” de pedestres: a rua principal com a rua construída sobre o Córrego das Águas Pretas. Com essas situações Lina traz o ambiente urbano para dentro do edifício. A rua interna do SESC prolonga o espaço da cidade para o terreno.
As águas do córrego desenham uma área ‘non-aedificandi’ e determinam substancialmente o projeto. Optando por manter os belos galpões da antiga fábrica e reservando o córrego para um deck de madeira que respeita assim as impossibilidades construtivas do terreno, resta a arquiteta construir em duas pequenas áreas separadas pelo fio d’água. O programa extenso exige verticalização e a distância dos dois espaços edificáveis sugere uma solução simples, mas nem por isso menos eficiente e poética, a ocupação do espaço aéreo do córrego por robustas passarelas. O resultado aponta para uma total integração e continuidade dos espaços de atividades e circulação. Sob as passarelas a água mantém-se preservada, ainda que não totalmente aparente ao ar livre, apenas protegida por um deck de piso frio, de madeira. Mesmo dentro do lote, o projeto concebe um espaço extraordinariamente urbano.
A arquitetura e sua apropriação popular[editar | editar código-fonte]
As obras de Lina acreditam no potencial popular de criação e dão voz e espaço para que isso aconteça: os espaços por ela mesmo ditos “feios” e inacabados convidam a serem construídos e reconstruídos, no próprio uso ganharem significados. Os projetos fazem uma apropriação, digestão e proposição de um novo moderno, genuinamente local, brasileiro, a partir da incorporação da “gente”. Esse pensamento permeia a conceituação do vão livre do MASP, em suas grandes manifestações populares; a escada do museu como pequeno palanque ou palco e a forma de exposição das obras no último piso, todas em igualdade, pairando sobre o piso livre. Esse mesmo pensamento dá intensidade e sentido também para o SESC Pompeia.
Importância histórica[editar | editar código-fonte]
Sobre esta obra de Lina e seus desdobramentos no metiê da arquitetura, Luís Antonio Jorge escreve em sua tese de doutorado pela FAUUSP: “Este projeto é um acontecimento para a geração nos anos 80, que reconhecia na obra um ponto de inflexão na história da arquitetura contemporânea; dissonante num contexto marcado pela afasia; extravagante, provocativo e delirante onde só se via repetição; poético e criativo, ocupando um vazio de debates e reflexões. A antiga Fábrica de Tambores da Pompeia tornou-se um marco nos debates sobre revitalização no Brasil, a começar pelos cursos de arquitetura. A opção valorativa da revitalização dos edifícios, e o pensamento sobre formas de intervenção, se não chegaram a ser um trabalho onde a grande maioria dos arquitetos estivesse envolvida profissionalmente, tornou-se mais do que um tema oportuno, uma discussão comum nas escolas de arquitetura, sobretudo nos temas de Trabalhos Finais de Graduação.”
Galeria[editar | editar código-fonte]
Crítica[editar | editar código-fonte]
Em 28 de setembro de 2014, foi publicado na Folha de S.Paulo o resultado da avaliação feita pela equipe do jornal ao visitar os sessenta maiores teatros da cidade de São Paulo. O local foi premiado com três estrelas, uma nota "regular", com o consenso: "Oferece programação diversificada: música, dança, teatro adulto e infantil. A infraestrutura do complexo é boa aliada, já que é possível tomar um café e utilizar o restaurante do espaço antes ou depois da apresentação. Os preços dos ingressos são atrativos, mas o espaçamento entre as poltronas é pequeno, e as cadeiras de madeira bruta podem gerar desconforto se o espetáculo for longo. O local diz que as cadeiras sem estofados são para que o espectador fique desperto e concentrado."[1]
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Arquitetura moderna
- Arquitetura brasileira
- Oscar Niemeyer
- Paulo Mendes da Rocha
- Ranking dos melhores teatros paulistanos da Folha de S.Paulo
Referências
- ↑ a b Fabiana Seragusa e Rafael Balago (28 de setembro de 2014). «Especial avalia os 60 maiores teatros de SP; veja lista com acertos e falhas». Folha de S.Paulo. www1.folha.uol.com.br. Consultado em 5 de janeiro de 2017
- ↑ Lee, Bruno (28 de fevereiro de 2016). «Mãe do Rock». São Paulo: Grupo Folha. Folha de S.Paulo (31.742): Especial Morar - 8
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- BO BARDI, Lina. Lina Bo Bardi. Instituto Lina Bo e P.M.Bardi. Organizador: Marcelo Carvalho Ferraz. 1993. São Paulo.
- JORGE, Luís Antonio. O espaço seco. FAU-USP. Tese de doutorado 1999. São Paulo
- OLIVEIRA, Olívia de. Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura. 2006. Romano Guerra Editora, São Paulo. Editoral Gustavo Gili S.A., Barcelona.